Adherence to the compression stocking as a measure to prevent recurrence of venous leg ulcers
La adhesión a medias de compresión como una medida para prevenir la recurrencia de la úlcera venosa de la pierna
Autores:
Marisa Gomes: Enfermeira UCSP do Lumiar, Equipa de Cuidados Continuados Integrados, Pós Graduada em Gestão de Feridas Crónicas
Tereza Costa: Enfermeira USF Magnólia, Pós Graduada em Gestão de Feridas Crónicas
Corresponding Author: enf.marisagomes@gmail.com
Resumo
As úlceras de perna são uma condição crónica com impacto a nível mundial afectando a população idosa apresentando um ciclo contínuo de cicatrização e recidiva. A prevenção da recorrência de úlceras de perna subsiste no uso de meias de compressão.
A adesão ao regime terapêutico é um foco de atenção dos enfermeiros e uma necessidade em cuidados de enfermagem, com particular relevância no âmbito da gestão e tratamento de doenças crónicas. A não adesão por parte de um doente representa um enorme peso nos gastos com a saúde e tem grande impacto na qualidade de vida dos doentes. Os motivos para a não adesão são múltiplos.
Existe um conjunto de intervenções eficazes promotoras da adesão nesta área, mas ainda não se pode afirmar com evidência científica, quais as mais eficazes, sendo necessário e urgente mais estudos nesta área.
A proximidade com os doentes, a natureza da relação de cuidados, proporcionam aos enfermeiros uma excelente oportunidade de monitorizar a adesão, diagnosticar a não adesão, planear e implementar intervenções que efectivamente ajudem as pessoas a integrar o regime terapêutico nos seus hábitos diários.
Objectivo: descrever estudos de intervenção em enfermagem que conduzam a uma alteração na adesão ao regime terapêutico no que concerne ao uso da meia de compressão e que simultaneamente descrevam os factores que condicionam a adesão da pessoa com história prévia de úlcera de perna de origem venosa na prevenção da recidiva.
Desenho: Revisão sistemática da literatura
Questão: “ Em utentes com história prévia de úlcera de perna venosa (P), de que forma os enfermeiros podem promover a adesão do uso de meia de compressão (I) enquanto medida de prevenção de recidiva (O)?”
Metodologia: foram incluídos nesta revisão sistemática da literatura 6 estudos, resultantes de pesquisa realizada na base de dados electrónica EBSCOhost, onde foram avaliadas as intervenções de enfermagem que promovam a adesão ao uso da meia de compressão como medida de prevenção de recidiva de úlcera venosa. Foi utilizada a metodologia PICO.
Resultados: a adesão ao uso da meia de compressão como forma de prevenção da recorrência da úlcera de perna venosa encontra obstáculos distintos, sendo os mais referidos os custo económico, o desconforto na sua utilização, questões estéticas, dificuldade na sua colocação/remoção e o conhecimento inadequado sobre a patologia e importância do seu uso. De forma a ultrapassar estes obstáculos são referidas diversas intervenções as quais se prendem com o acompanhamento do doente, a sua educação e capacitação, fomentando assim uma maior adesão ao regime terapêutico.
Conclusões: os enfermeiros detêm um papel primordial na promoção da adesão ao regime terapêutico e para tal, devem desenvolver intervenções adequadas com o objectivo de envolver o doente no seu processo de saúde/doença e de o capacitar a tomar decisões informadas.
Descritores: adherence, venous leg ulcer, compression therapy e nurs*.
Abstract
Problem: Leg ulcers are a chronic condition with broad and worldwide impact affecting mainly the elderly population presenting a continuous cycle of healing and recurrence for decades. The prevention of recurrent leg ulcers remains in the use of compression stockings and adherence to this method showed that has affected the recurrence rate.
Adherence to the therapeutic method is an important focus and a need for nurses in nursing care, with particular relevance for the management and treatment of chronic diseases. Non-adherence by a patient poses a huge burden on health spending and has a major impact on patients’ quality of life and in the world economy, as it is a key generator of frustration in care professional. The reasons for non-adherence are multiple.
There is a range of effective interventions that promote adherence in this area, but still can not say with scientific evidence, which are the most effective, being necessary and urgent more research in this area.
The proximity to patients, the nature of the relationship of care, provide to nurses an excellent opportunity to monitor adherence, to diagnose non-adherence, planning and implementing interventions that actually help people to integrate the therapeutic method into their daily habits.
Objective: To describe studies of nursing interventions that lead to a change in adherence to the therapeutic method with respect to the use of compression stocking and simultaneously describe the factors that influence the accession of the person with a history of leg ulcer of venous origin in preventing relapse.
Design: Systematic review of literature
Question: “In patients with a history of venous leg ulcer (P), how nurses can promote adhesion to the use of compression stocking (I) as a measure of prevention of relapse (O)?”
Methodology: were included in this systematic review of the literature 6 studies resulting from research performed in the electronic database of EBSCOhost, in where we evaluate the nursing interventions that promote adherence to the use of compression stocking as a measure of prevention of recurrent venous ulcers. It was used a PICO methodology.
Results: adherence to the use of compression stocking as a way of preventing recurrence of venous leg ulcer have found distinct obstacles, as the most referred the economic cost, discomfort in its use, aesthetic issues, difficulty in its placement / removal and the inappropriate knowledge about the pathology and the importance of its use. In order to overcome these obstacles there are referred various interventions that are related with the monitoring of the patient, their education and capacity, promoting thereby a greater adherence to the therapeutic method.
Conclusions: the nurses have a key role in promoting adherence to the therapeutic method and should develop appropriate interventions with the goal of involving the patient in his health/disease process and capacitate him of making informed decisions.
Descriptors: adherence, venous leg ulcer, compression therapy e nurs*.
INTRODUÇÃO
Esta revisão sistemática da literatura justifica-se no sentido de clarificar e identificar simultaneamente quais os factores que condicionam a adesão ao uso da meia de compressão e identificar as intervenções de enfermagem que permitam adequar a melhor estratégia para cada pessoa individualmente, contribuindo para a correcta gestão da recorrência de úlcera de perna venosa e a adesão à meia de compressão.
1 – DEFINIÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DA PROBLEMÁTICA
A Úlcera de Perna pode ser definida como uma ulceração abaixo do joelho em qualquer parte da perna, incluindo o pé, (Moffatt & Morrison, 1994).
A generalidade dos estudos indica que cerca de 70% de todas as Úlceras de Perna são de origem venosa, 10-20% de origem arterial e 10-15% de etiologia mista (Moffat & Morrison, 1994 – citado por Furtado, K (2003).
A terapia compressiva tem um papel fundamental na taxa de cicatrização das úlceras venosas pois a taxa de cicatrização pode duplicar ou até triplicar com a sua aplicação (Effective Health Care, 1997, citado por Moffat, Parsh e Klark, 2010).
A terapia compressiva é o tratamento de eleição nas úlceras de etiologia venosa.
A principal indicação para as meias de compressão consiste na prevenção da recorrência de úlceras ou o desenvolvimento de edema, que pode predispor o doente a desenvolver uma úlcera recorrente.
A adesão ao uso de meias de compressão mostrou afectar a taxa de recorrência (Erikson et al, 1995).
Os programas efectivos de recorrência devem constituir parte integral de todos os serviços de Úlceras de Perna. As abordagens criativas a este aspecto incluem o desenvolvimento de “clubes de perna”, que incentivam a participação do doente e o acompanhamento a longo prazo num ambiente relaxado (Fassiadis et al 2000).
A adesão é definida como: “A medida em que o comportamento de uma pessoa – tomar a medicação, seguir uma dieta e/ou executar alterações ao estilo de vida, corresponde às recomendações acordadas de um prestador de cuidados de saúde.” (Ordem dos Enfermeiros, 2009).
O fenómeno da adesão ao regime terapêutico tem sido uma preocupação dos enfermeiros e uma área de atenção, tal como foi descrito pelos mandatos sociais e pela matriz profissional e conceptual da prática de enfermagem (Ordem dos Enfermeiros, 2003).
O enfermeiro, então, faz o diagnóstico, prescreve e implementa intervenções autónomas que vão ao encontro das necessidades específicas daquela pessoa. Deste modo, provoca uma diferença para a vida da pessoa, através do cuidar, ao possibilitar a mobilização dos seus recursos interiores, que dão sentido às suas expectativas de saúde e à sua vida (Wolf, 1989, Kérouac et al., 1996).
Segundo a CIPE do International Council of Nurses (ICN), Versão Beta 2 (2003), a adesão é definida como “…um tipo de gestão de regime terapêutico com as características específicas: desempenhar actividades para satisfazer as exigências terapêuticas dos cuidados de saúde; aceitação do decurso de tratamento prescrito como prestador de cuidado ou apoiante…” (CIPE, 2003).
2 – METODOLOGIA
2.1 – Objectivos
Nesta revisão da literatura descreveremos estudos empíricos de intervenção em enfermagem que conduzam a uma alteração na adesão ao regime terapêutico no que concerne ao uso de meia de compressão e que simultaneamente descrevam os factores que condicionam a adesão da pessoa com história prévia de úlcera de perna venosa na prevenção de recidiva.
2.2 – Métodos de pesquisa e procedimentos
A questão deste trabalho foi elaborada segundo o esquema PICO.
“ Em utentes com história prévia de úlcera de perna venosa (P), de que forma os enfermeiros podem promover a adesão do uso de meia de compressão (I) enquanto medida de prevenção de recidiva (O)?”
O esquema de referência PICO, elaborado por Sackett et al (1997) é um método útil para formular questões mais focalizadas. Exige-se um pensamento cuidadoso ao decidir o quão geral ou específica, deve ser cada parte da questão.
Este método permitiu a definição dos critérios de inclusão e exclusão dos estudos primários na revisão da literatura (Quadro 1).
Quadro 1 – Critérios para a formulação da questão de Investigação
Palavras-chave | ||||
P | Participantes | Quem foi estudado? | Doentes com úlcera de perna venosa cicatrizada, homens ou mulheres, adultos ou idosos. | |
I | Intervenções | O que foi feito? | Intervenções de enfermagem na promoção da adesão do doente, no que respeita ao uso da meia de compressão, como forma de prevenir uma recidiva. | adherence |
venous leg ulcer
compression therapy
nurs*.CComparaçõesPodem existir ou não OOutcomesResultados/efeitos ou consequênciasAdesão ao uso da meia de compressão por parte dos doentes com história prévia de úlcera de perna
2.3 – Estratégias de pesquisa da literatura
A revisão da literatura foi feita no dia 18 de Junho de 2012 e a pesquisa incidiu sobretudo na base de dados da EBSCOhost:: CINAHL Plus with Full Text (193 artigos); MEDLINE with Full Text (57 artigos); Academic Search Complete (85 artigos); Cochrane Database of Systematic Reviews (1 artigo); Database ofr Abstracts of Reviews of Effects (1 artigo).
Foi também feita pesquisa na base de dados da EWMA, na ICC e na Scotish Intercollegiate Guidelines Network (SIGN) e em livros de referência na área.
A estratégia da pesquisa na base de dados foi através dos preditores: adherence, venous leg ulcer, compression therapy e nurs*.
Foram encontrados 270 artigos, tendo sido seleccionados 6 artigos através de um conjunto de critérios de inclusão e exclusão que estão presentes no Quadro 2.
Apenas foram considerados os artigos completos publicados entre 1990 e 2012.
Quadro 2 – Critérios para a inclusão/exclusão de estudos/artigos
Critérios de selecção | Critérios inclusão | Critérios de exclusão |
Participantes | Doentes, homens e mulheres, adultos e idosos, com úlcera de perna de origem venosa cicatrizada | Doentes com úlcera de perna de origem arterial ou mista, sem indicação para terapia compressiva |
Intervenções | Intervenções do enfermeiro perante doentes com úlcera de perna cicatrizada. |
Ensinos relativos à prevenção da recidiva, através do uso da meia de compressão.Intervenções dirigidas à pessoa com história de úlcera de perna, desenvolvidas exclusivamente por outros grupos profissionais.
Intervenções dirigidas a pessoas com úlcera de perna por cicatrizar e que fazem tratamento com terapia compressiva.DesenhoTodo o tipo de artigosTodos os resultados da pesquisa que não apresentem o tipo de estudos dos critérios de inclusão.
3 – ANÁLISE DOS DADOS
A escala de níveis de evidência utilizada para classificar a metodologia de cada estudo, foi a de GUYATT & RENNIE (2002), com seis níveis de evidência.
Dos 6 artigos seleccionados, 2 são de nível de evidência IV, 1 de nível de evidência I, 1 de nível de evidência VII, 2 de nível de evidência VI
Quadro 4 – Intervenções de enfermagem que promovem a adesão ao uso da meia de compressão e os seus factores condicionantes nos 6 artigos seleccionados.
Artigo | Intervenções de enfermagem que promovem a adesão ao uso da meia de compressão | Factores condicionantes ao uso da meia de compressão |
Encouraging Patient Adherence to Therapeutic Graduated Compression Therapy in Venous Disease: A Limited Literature Review | Estabelecer uma relação empática com o doente; |
Identificar o nível individual do doente relativamente à sua prontidão/motivação para a mudança;
Identificar as limitações físicas que dificultam a adesão ao uso das meias de compressão;
Encorajar a participação do doente no processo partilhado de tomada de decisão;
Avaliar o nível de conhecimento do doente e a necessidade/desejo de mais informação;
Definir um plano de educação individualizado;
Promover o apoio social através do envolvimento da família e dos recursos comunitários no tratamento;Custo económico
Aparência estética
Desconforto
Dificuldade na colocação das meias de compressãoA review of the factors influencing nonrecurrence of venous leg ulcers
Custo económico
Aparência estética
Desconforto
Crenças em saúde
Suporte familiar
Conhecimentos inadequados
Reacções alérgicasPreventing venous ulcerationDisponibilizar informação detalhada sobre o uso de meias de compressão;
Permitir aos doentes escolherem a cor das meias de compressão, tecido e presença de biqueira aberta ou fechada;
Avaliar a capacidade dos doentes para calçarem as meias de compressão;
Aconselhar o uso de um “forro” de algodão por baixo da meia de compressão como forma de evitar as reacções alérgicas
Acompanhamento regular;
Planear cuidados de saúde num ambiente social e não num contexto clínico pode facilitar a socialização;Não percepção da cronicidade do problema
Desconforto
Dificuldade na colocação das meias de compressão
Presença de reacções alérgicas a algum componente das meias de compressão
Isolamento social
The impact of psychosocial factors on adherence to compression therapy to prevent recurrence of venous leg ulcersGarantir que o doente possui o conhecimento adequado e entende as razões que justificam as actividades de auto-cuidado recomendadas;
Assegurar uma educação do doente e conhecimentos adequados à sua condição clínica
Reavaliar o nível de conhecimento do doente durante as visitas de acompanhamento antes de efectuar sessões de educação para a saúde
Avaliar níveis de depressão e auto-eficácia do doente aquando do planeamento das actividades de auto-cuidado;
Identificar as crenças de saúde do doente;
Garantir que o doente possui as ajudas técnicas apropriadas para o auxiliar na colocação/remoção das meias de compressão, providenciando assistência para aqueles que dela necessitem.
Conhecimento inadequado acerca da causa da sua condição clínica;
Elevados índices de depressão;
Baixos índices de auto-eficácia;
Dificuldade na colocação/remoção das meias de compressão pressão
Crença na ineficácia do uso das meias de compressão como medida preventiva da recorrência de úlcera venosa
Aspectos estéticos da imagem corporal
A quantidade de tempo dispendido na colocação/remoção das meias
Necessidade de usar sacos de plástico para tomar banhoStockings and the Prevention of recurrent venous ulcersExplicar ao doente a importância do uso contínuo das meias de compressão
Custo económico das meias de compressão
Esquecimento das instruções
Dificuldade na colocação/remoção das meias
-“Muito quentes”Management of chronic venous leg ulcers: a national clinical guideline Scotish Intercollegiate Guidelines Network (SIGN) (2010)Alterar a marca comercial das meias mantendo a mesma classe de compressão;
Informar os doentes que é provável que o uso da meia de compressão seja necessário indefinidamente.
Explicar ao doente que as meias de compressão se encontram disponíveis mediante receita médica e garantir que estes estão cientes da importância do seu uso durante o dia, logo após a cicatrização da úlcera.Dor
Desconforto
Ausência de conselhos úteis para o quotidiano
Crenças em saúde ao nível do uso de meia de compressão.
4 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
“Apresentar os resultados consiste em acompanhar o texto narrativo de quadros e figuras que ilustram os principais resultados obtidos com as diferentes análises utilizadas.” (Fortin, 1999)
O sucesso no tratamento de pessoas com Úlcera de perna está associado com a motivação. Por outro lado, a não adesão ao tratamento de muitos doentes com Úlcera de perna de origem venosa está relacionado com a presença de dor, o desconforto, a desmotivação, o isolamento social, insuficiente apoio social e a ausência de um estilo de vida saudável, que é repetidamente enfatizado pelos profissionais de saúde, especialmente pelos enfermeiros.
Na Austrália e em outros países foi introduzido um novo conceito de prestação de cuidados a pessoas com Úlcera de perna activa ou cicatrizada que assenta na criação de espaços (Leg Clubs), onde enfermeiros com formação especifica na área da Úlcera de perna, promovem a interacção social entre pessoas com o mesmo tipo de Úlcera, avaliam o suporte necessário a cada individuo, fazem formação destes doentes no sentido do auto-cuidado e gestão de caso, efectuam o respectivo tratamento e acompanhamento contínuo.
É consensual em toda a bibliografia revista que o uso de meias de compressão é a pedra basilar na prevenção de recorrência de úlcera venosa.
Verifica-se que os preditores utilizados na pesquisa bibliográfica nesta temática não são consensuais dado que alguns autores optam por descrever o conceito adesão ao regime terapêutico através dos termos adherence/non-adherence, compliance/non-compliance, concordance/non-concordance e mais recentemente através do termo coherence.
Após a análise dos diversos estudos, foram identificados múltiplos factores condicionantes da adesão do doente ao regime terapêutico (uso de meia de compressão): Custo económico; Aparência estética; Desconforto; Dificuldade na colocação das meias de compressão; Conhecimentos inadequados; Reacções alérgicas; Crenças em saúde.
Após leitura dos diversos estudos constata-se a multiplicidade de intervenções de enfermagem passíveis de serem implementadas de acordo com as condicionantes identificadas. Contudo, em nenhum dos estudos encontrados surge testada a eficácia das mesmas, sendo que a maioria das intervenções propostas baseia-se na opinião de peritos ou remete para estratégias fundamentadas nas teorias de mudança de comportamento e pesquisa existente no âmbito da adesão terapêutica.
5 – LIMITAÇÕES DESTA REVISÃO
Consideramos que na realização de uma revisão da literatura, ou estudo de investigação, a experiência do investigador se torna num factor importantíssimo para o seu desenvolvimento. Por conseguinte, temos plena percepção que a inexperiência se tornou uma limitação, pois as questões teóricas são equacionadas e reflectidas com o desenvolvimento da prática e vice-versa.
No decorrer da análise da qualidade da evidência seleccionada para esta revisão, verificou-se que as amostras dos vários estudos seleccionados eram pouco representativas o que interfere na validação das intervenções identificadas. Para além disso, em alguns dos estudos a colheita de dados foi realizada por meio de entrevista o que implica possibilidade de viés de resposta.
Outra grande dificuldade identificada prende-se com o facto de nenhum estudo apresentar evidência clara quanto ao sucesso da aplicação das intervenções identificadas na promoção da adesão ao uso da meia de compressão, o que condiciona a validade das conclusões obtidas e remete para a necessidade de maior investigação nesta área.
Por último importa salientar o facto de todos os estudos seleccionados terem sido realizados no estrangeiro, o que dificulta a verificação da validade das condicionantes e intervenções identificadas no contexto português.
6 – IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA
O alicerce dos cuidados de enfermagem aos doentes com úlcera de perna activa ou cicatrizada, tem como base o estabelecimento de uma relação terapêutica que permita a colheita de informação detalhada sobre o doente e núcleo envolvente, dos problemas que percepciona como seus e o nível de afecção das suas actividades de vida diárias.
Para uma intervenção de enfermagem estruturada e efectivamente centrada na pessoa é, em primeira instância, fundamental mobilizar competências no âmbito da comunicação eficaz e relação interpessoal, que criam um ambiente caloroso propício à individualização de cuidados.
A promoção de mecanismos de adaptação revelou-se essencial para lidar com a situação de crise, induzida pela doença, com particular destaque para a auto eficácia e motivação, que permitiu enfrentar a nova situação mais como um desafio, do que como uma ameaça. A existência de apoio social foi o aspecto mais referido pelas pessoas como primordial no seu processo de adaptação, prestado tanto por pessoas significativas, como pelo contacto com pessoas em situação similar (grupos de auto-ajuda) ou pelo enfermeiro.
De acordo com os dados apresentados nos vários estudos, a promoção da adesão relativa ao uso de meia de compressão deverão constituir um objectivo fundamental nas políticas de saúde, nomeadamente estratégias de prevenção e educação para a saúde neste âmbito.
Os resultados da pesquisa realizada poderão fundamentar as decisões, acções e interacções com o doente que usa meia de compressão, promovendo o comportamento desejado que é a adesão ao regime terapêutico.
Verificamos que perante os diversos factores condicionantes da adesão à terapia compressiva identificados, os quais se relacionam com as várias esferas do doente, a actuação do enfermeiro provavelmente terá que ser mais inovadora, tentando encontrar novas estratégias, intervenções e disponibilidade de recursos que simplifiquem o regime terapêutico e aumente desta forma as taxas de adesão.
7 – IMPLICAÇÕES PARA A INVESTIGAÇÃO
Parece ser necessário continuar a investigar nesta área com amostras maiores, em estudos longitudinais e determinar se as intervenções de enfermagem realmente utilizadas são efectivas na adesão a este regime terapêutico.
Os estudos poderão recair em ensaios rigorosos sobre as intervenções de enfermagem promotoras do uso de meia de compressão para a prevenção da recidiva de úlcera venosa e a sua efectividade, avaliação do impacto da educação do doente sobre a adesão, a manutenção dos cuidados e a relação com a recidiva.
Recomenda-se assim, que se estude a eficácia das intervenções de diferentes tipos e as comparem entre si. As futuras investigações devem ter em conta, para além da avaliação da adesão, a concordância do doente com o regime terapêutico, os resultados de saúde e a avaliação dos custos assim como a realização do follow-up.
Também poderão ser desenvolvidos estudos de comparação de resultados entre as intervenções de enfermagem em pessoas que aderem ao uso de meia de compressão em comparação com aquelas que não.
Os estudos que vierem a ser realizados devem não só medir a adesão mas identificar as consequências da não adesão, nomeadamente em termos de complicações da doença e recidiva, assim como a qualidade de vida.
Os estudos de intervenção nesta área devem comparar estratégias de intervenção e considerar a possibilidade de utilização de estratégias inovadoras ou pouco estudadas, de modo a constituírem estudos que, com metodologia semelhante e amostras representativas, permitam resultados que possam vir a ter uma maior consistência para a utilização de uma prática baseada em evidência científica de elevado nível.
Espera-se que os estudos futuros possam a vir a contribuir para o aumento da adesão ao uso de meia de compressão e assim contribuir para os resultados positivos na saúde do doente.
8 – CONCLUSÃO
Quando o percurso desenvolvido espelha um sentido em que o núcleo central do estudo foi o ser humano enquanto percursor de um fenómeno, assim como, a forma como este se integra no seu ambiente, as conclusões terão sempre como principal objectivo o estímulo para a formulação de novas questões de investigação.
– Que conhecimentos tem o ser humano sobre os cuidados de saúde, que promovem a sua adesão aos diferentes regimes terapêuticos?
– Que competências deve desenvolver o enfermeiro para promover a adesão do ser humano aos diferentes regimes terapêuticos?
Estas questões sugerem uma melhor compreensão do fenómeno da adesão, para assim podermos, enquanto enfermeiros, desenvolver conhecimentos nesta área e sermos promotores da adesão aos diferentes regimes terapêuticos, junto do ser humano.
Verificou-se que a qualidade metodológica dos estudos incluídos é essencial numa revisão e necessita de ser julgado de modo a não ser enviesado.
O fenómeno da adesão tem sido difícil de estudar, porque são muitas as variáveis envolvidas e não são facilmente mensuráveis, uma vez que estão relacionadas na sua maioria com crenças e factores pessoais.
Os profissionais de saúde a nível individual já têm o potencial de fazer melhorias drásticas na vida dos doentes e das suas famílias, bem como reduzir o enorme impacto do sofrimento associado à Úlcera de perna.
A relação com os profissionais de saúde influencia a adesão porque estes têm, não só um papel de apoio mas também educativo, nomeadamente na transmissão de informação relativa à doença (Lo, 1999; Enriquez et al., 2004).
A qualidade desta interacção é, talvez, o motivo mais marcante na adesão (De Geest et al., 1994); Lo, 1999; OMS, 2001; Enriquez et al., 2004), porque dificilmente o doente seguirá um regime terapêutico se não conhecer ou confiar no profissional (Arrazola e tal., 2002).
Uma relação de confiança promove e aceita a expressão tanto dos sentimentos positivos como dos negativos (Watson, 1995), sendo indispensável que o doente tenha confiança no profissional de saúde, mas também implica que este tenha confiança nas capacidades e competências do doente para aderir ao regime terapêutico.
Sabemos que nenhum trabalho está acabado e que outras pesquisas serão necessárias para o alcance dos nossos objectivos, porém, acreditamos que lançamos a semente, que a terra é fértil e cabe a nós cuidar para que venham frutos.
Se nossos sonhos são altos, devemos sempre olhar para eles e procurar alcançá-los…
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