Fev 27, 2014

Lisboa, 2013

A (In)Capacidade dos Idosos para Gerir a Sua Medicação
ADVINHA, Ana Margarida1; LOPES, Manuel José2; OLIVEIRA-MARTINS Sofia1
1,2 Research Institute for Medicines and Pharmaceutical Sciences, Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa; 3 Escola Superior de Enfermagem de S. João de Deus, Universidade de Évora
Fundamento: Aproximadamente 45% dos idosos são incapazes de tomar os seus medicamentos tal como prescritos (1). Gerir o regime terapêutico constitui um comportamento complexo, que envolve tanto a intenção, como a capacidade para tomar medicamentos. Desta forma, importa distinguir a intenção de tomar a medicação e a capacidade para o fazer, a fim de promover a saúde do indivíduo e o seu envelhecimento ativo (2). A toma crónica de medicamentos representa um processo metódico, que conduz ao hábito quotidiano, e que pode ser afetada por diversos tipos de erros sistemáticos, associados não só ao desconhecimento e iliteracia do doente, mas também à progressiva perda de capacidade funcional (física, cognitiva e sensorial) para gerir a sua medicação (3,4). A diminuição das competências cognitivas (ex. aumento da dificuldade em processar novas informações, como a introdução de um novo medicamento no regime), a diminuição da acuidade visual (ex. dificuldade em ler os rótulos e folhetos informativos constantes nas embalagens) ou a diminuição da destreza manual (ex. dificuldade na abertura de embalagens e extração de medicamentos), repercutem-se significativamente em não adesão (não intencional) e/ou em problemas de saúde decorrentes da ausência ou incorreta administração de medicamentos (2,5,6).
Objetivo: Este estudo tem como principal objetivo avaliar a capacidade dos idosos para gerir a sua medicação, através da aplicação de instrumentos específicos, adaptados (linguística e culturalmente) e validados para a população Portuguesa.
Métodos: Revisões descritiva e sistemática da literatura para identificação dos instrumentos disponíveis a nível internacional e aferição dos resultados obtidos por outros autores; adaptação (linguística e cultural) e validação de três instrumentos de avaliação da capacidade funcional dos idosos para gerir a medicação; e futuramente, avaliação da capacidade da população idosa Portuguesa para gerir a sua medicação, com recurso à aplicação dos instrumentos adaptados e validados (método em delineamento).
Resultados Preliminares: De um total de quinze instrumentos específicos identificados na revisão descritiva da literatura, foram selecionados três, de acordo com as características psicométricas e de aplicação. Destes, um avalia com recurso à medicação real, outro com recurso a uma medicação fictícia e o terceiro engloba uma avaliação integrada recorrendo aos dois cenários. O declínio cognitivo e o aumento da idade surgem como fatores determinantes de incapacidade funcional na gestão da medicação, pelo que, diversos estudos revelam a importância da avaliação da capacidade funcional dos idosos para gerir a sua medicação, sobretudo por esta poder representar um indicador precoce da perda de independência e da necessidade de intervenção.
Considerações Finais e Perspetivas Futuras: O processo de gestão da medicação envolve várias fases, e embora as barreiras envolvidas não sejam facilmente modificáveis, existem estratégias facilitadoras, quer através da intervenção de um profissional de saúde, quer da introdução de dispositivos de apoio, que poderão promover a melhoria do desempenho do idoso nesta tarefa.
Atualmente encontra-se em fase de conclusão a adaptação linguística dos instrumentos a utilizar, à qual se seguirá a adaptação cultural e validação. Encontra-se também a ser delineada a fase de aplicação dos instrumentos para avaliação da capacidade funcional para gerir a medicação, a uma amostra de idosos Portugueses.
Referências Bibliográficas:
1. MacLaughlin EJ, Raehl CL, Treadway AK, Sterling TL, Zoller DP, Bond CA. Assessing medication adherence in the elderly – Which tools to use in clinical practice? Drugs Aging. 2005;22(3):231–55.
2. Lakey SL, Gray SL, Borson S. Assessment of Older Adults’ Knowledge of and Preferences for Medication Management Tools and Support Systems. Ann Pharmacother. 2009;43(6):1011–9.
3. Tordoff J, Simonsen K, Thomson WM, Norris PT. “It’s just routine.” A qualitative study of medicine-taking amongst older people in New Zealand. Pharm World Sci. 2010 Apr;32(2):154–61.
4. Hutchison LC, Jones SK, West DS, Wei JY. Assessment of medication management by community-living elderly persons with two standardized assessment tools: a cross-sectional study. Am J Geriatr Pharmacother. 2006/07/25 ed. 2006;4(2):144–53.
5. Beckman A, Bernsten C, Parker MG, Thorslund M, Fastbom J. The difficulty of opening medicine containers in old age: a population-based study. Pharm World Sci. 2005 Oct;27(5):393–8.
6. Windham BG, Griswold ME, Fried LP, Rubin GS, Xue Q-L, Carlson MC. Impaired vision and the ability to take medications. J Am Geriatr Soc. 2005 Jul;53(7):1179–90.

Acidente Vascular Cerebral e Doença Isquémica Cardíaca no contexto do Envelhecimento
Matilde Rosa; Paulo Nogueira; Andreia Costa
Introdução
O envelhecimento da população é já uma tendência de dimensão mundial, embora seja na Europa que se localiza a maior parte das populações mais envelhecidas do mundo. A este respeito, Portugal não é, assim, um país original, embora tenha envelhecido com uma rapidez assinalável. É certo que, pelo menos a médio prazo, a população de Portugal continuará a envelhecer, o que aliás por si, pode ser entendido como uma tendência desejável, pois os factores que estão na origem deste processo estão ligados, no essencial, a progressos significativos nas condições de vida e saúde da população. Contudo, socialmente, o envelhecimento lança também desafios novos. Entre estes está o aumento de patologias de algum modo associadas à idade, como as doenças cardiovasculares, muitas destas também agravadas por hábitos e estilos de vida das sociedades modernas, como o stresse, o tabagismo, sedentarismo ou até a poluição ambiental. As doenças cardiovasculares constituem a causa de morte mais relevante em toda a Europa, incluindo Portugal, e englobam um vasto conjunto de situações clinicas afetando o sistema circulatório. Apesar da elevada mortalidade associada às doenças cardiovasculares, tem-se verificado, nas últimas duas décadas, uma progressiva diminuição das taxas de mortalidade destas doenças. Inúmeros factores podem estar na causa desta diminuição mas podem realçar-se, por exemplo, a progressiva adoção de medidas preventivas, como a Lei de Cessação Tabágica, a Iniciativa legislativa de redução do conteúdo de sal no pão, ou as frequentes campanhas promovidas por sociedades científicas e outras organizações, visando a adoção hábitos de vida saudáveis.
São inúmeros os estudos que vão de encontro à temática envelhecimento e não menos os que referem as doenças cardiovasculares a ele associadas. Entre as doenças cardiovasculares mais preocupantes na temática envelhecimento, há-que destacar o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e a Doença Isquémica Cardíaca (DIC).
Material e Métodos
Neste artigo, foram analisados tanto a mortalidade como os padrões de morbilidade associados a certas doenças cardiovasculares, dada a importância do estudo de ambos no contexto do envelhecimento. Relativamente à mortalidade, a informação é proveniente do Instituto Nacional de Estatística (INE). Relativamente à morbilidade, os apuramentos para estas estatísticas são obtidos a partir da base de dados dos Grupos de Diagnóstico Homogéneos (GDH). Esta base de dados é anualmente posta à disposição da Direcção-Geral da Saúde (DGS) pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). Os GDH são um sistema de classificação de doentes, onde o conjunto de bens e serviços que cada doente recebe, em função da sua patologia, é registado. Esta base de dados agrupa as patologias de acordo com a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS). Assim, a classificação dos diagnósticos é feita tanto com base nos Grande Grupos da Classificação Internacional de Doenças- 9a Revisão- Modificação Clínica (CID 9 MC) como com base nas Grandes Categorias de Diagnóstico (GCD). É importante notar que a base de dados usada é referente apenas a episódios ocorridos nos hospitais do Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Portugal Continental, pelo que as conclusões tiradas não devem ser generalizadas a todos os doentes nacionais.
Neste trabalho, analisou-se retrospectivamente a morbilidade de certas doenças cardiovasculares, em Portugal Continental, entre 2007 e 2011. Em particular, foi dado ênfase ao Acidente Vascular Cerebral (AVC) e à Doença Isquémica Cardíaca (DIC), pela sua morbilidade e mortalidade associada, no sector idoso. Os indicadores considerados relevantes para este estudo foram a Taxa de Mortalidade Padronizada, o número de utentes saídos e o número de óbitos, por região e grupo etário, com especial foco no grupo etário dos 65 ou mais anos. As respectivas percentagens, de utentes saídos ou óbitos pertencentes ao grupo etário 65 ou mais anos no total dos grupos etários, também foram calculadas. Os indicadores acima referidos referem-se apenas a diagnósticos principais. Todos os cálculos presentes foram realizados utilizando o software estatístico R e a folha de cálculo do Microsoft Excel. No que diz respeito à codificação utilizada, as causas de morte são codificadas segundo a Classificação Internacional de Doenças CID10MC enquanto a morbilidade hospitalar é codificada com base na CID9MC. Em particular, os códigos utilizados para o AVC foram do I61 ao I64 (CID10MC) e do 430 ao 434 (CID9MC); para a DIC utilizaram-se os códigos do I20 ao I25 (CID10MC) e do 410 ao 414 (CID9MC).

Resultados
Relativamente ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), no que diz respeito à sua morbilidade hospitalar, destaca-se um número de utentes saídos com AVC como diagnóstico principal, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que aumentou ligeiramente entre 2007 e 2011. Relativamente a este grupo etário, verificou-se um aumento de 20067, em 2007, para 20513 utentes saídos, em 2011, o que corresponde a 77,1% e 77,4% do total de utentes saídos por AVC, respectivamente. É interessante observar que, enquanto o número de utentes com AVC entre os 65 e os 79 anos diminuiu no intervalo temporal considerado (de 11544 para 10931 utentes), o número de utentes com 80 ou mais anos aumentou de 8523 para 9582. Os óbitos também acompanham esta evolução: o número de óbitos de utentes com AVC entre os 65 e os 79 anos diminuiu ligeiramente no intervalo temporal considerado (de 1538 para 1375 utentes), enquanto que o número de óbitos de utentes com 80 ou mais anos aumentou ligeiramente de 1836 para 1922. Entre 2007 e 2011, os óbitos de utentes mais idosos (65 ou mais anos) com AVC constituíram aproximadamente 85% do total de óbitos de utentes com AVC. É aqui notório o peso que o envelhecimento tem na morbilidade e mortalidade por AVC, pelo que a análise, relativamente ao grupo etário mais idoso, da sua evolução temporal assim como das suas desigualdades inerentes, não só mas também a nível regional, é de extrema importância. A nível regional, os utentes saídos com AVC com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se a do Norte. No total dos 5 anos considerados neste trabalho, a região de Lisboa e Vale do Tejo apresenta aproximadamente 37% do total do Continente, no que se refere a utentes saídos com AVC com 65 ou mais anos. As correspondentes percentagens são 33% para o Norte, 23% para o Centro, sendo o restante distribuído pelas regiões Alentejo e Algarve.
Relativamente à Doença Isquémica Cardíaca (DIC), a sua Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, diminuiu a cada ano tendo o seu valor mais elevado em 2007 (324 por 100 000 habitantes) e o mais baixo em 2011 (247,5 por 100 000 habitantes). Estes números merecem especial atenção sobretudo quando se olha para a Taxa de Mortalidade Padronizada total: entre os 45,0 (2007) e os 34,9 (2011) por 100 000 habitantes. Analisando a morbilidade hospitalar, destaca-se uma evolução com alguns traços idênticos aos manifestados pelo AVC, relativamente a utentes com 65 ou mais anos. Assim, a Doença Isquémica Cardíaca apresenta um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário mais idoso, que diminuiu ligeiramente entre 2007 e 2011. Relativamente a este grupo etário, verificou-se uma diminuição de 19508, em 2007, para 19228 utentes saídos, em 2011, o que corresponde a aproximadamente 60% do total dos utentes saídos cujo diagnóstico principal foi a DIC. É interessante observar, mais uma vez, que enquanto o número de utentes com DIC entre os 65 e os 79 anos diminuiu no intervalo temporal considerado (de 14805 para 13936 utentes), o contrário acontece com os utentes com 80 ou mais anos cujos valores aumentaram de 4703 para 5292. No que diz respeito aos óbitos, os traços evolutivos apresentam-se um tanto diferentes. O número de óbitos de utentes com DIC diminuiu no intervalo temporal considerado, tanto nos utentes entre os 65 e os 79 anos (de 652 para 475 óbitos) como nos utentes com 80 ou mais anos (de 774 para 666 óbitos). Entre 2007 e 2011, em Portugal Continental, os óbitos de utentes mais idosos (65 ou mais anos) com DIC constituíram aproximadamente 88% do total de óbitos de utentes com DIC. É aqui notório o peso que o envelhecimento tem na morbilidade hospitalar de DIC, o que revela um interesse na análise, relativamente ao grupo etário mais idoso, da sua evolução temporal assim como das suas desigualdades inerentes, não só mas também a nível regional. A nível regional, os utentes saídos com DIC com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se a do Norte, tal como acontecera com os doentes cujo diagnóstico principal foi o AVC. No total dos 5 anos considerados neste trabalho, a região de Lisboa e Vale do Tejo apresenta aproximadamente 49% do total do Continente, no que se refere a utentes saídos com DIC com 65 ou mais anos. As correspondentes percentagens são 24% para o Norte, 18% para o Centro, sendo o restante distribuído pelas regiões Alentejo e Algarve.
Conclusões
As doenças cardiovasculares constituem a causa de morte mais relevante em toda a Europa, incluindo Portugal. E, atendendo a que um grande número de doenças cardiovasculares se relaciona com o envelhecimento da população, em particular quando falamos de AVC e DIC, é expectável que o número de pessoas com estas doenças venha a aumentar impondo ao sistema de saúde uma necessidade crescente de cuidados.
Relativamente ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), analisando a sua morbilidade hospitalar, destaca-se um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que aumentou de 20067, em 2007, para 20513, em 2011.Relativamente ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), analisando a sua morbilidade hospitalar, destaca-se um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que aumentou de 20067, em 2007, para 20513, em 2011. É interessante observar que, enquanto o número de utentes com AVC como diagnóstico principa,l entre os 65 e os 79 anos, diminuiu no intervalo temporal considerado, o número correspondente de utentes com 80 ou mais anos aumentou. O número de óbitos de utentes com AVC entre os 65 e os 79 anos diminuiu ligeiramente no intervalo temporal considerado enquanto que o número de óbitos de utentes com 80 ou mais anos aumentou ligeiramente. A nível regional, os utentes saídos com AVC com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se a do Norte. Relativamente à Doença Isquémica Cardíaca (DIC), a sua Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, diminuiu a cada ano atingindo o seu valor mais elevado em 2007 e o mais baixo em 2011. Analisando a morbilidade hospitalar, a Doença Isquémica Cardíaca apresenta um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário mais idoso, que diminuiu ligeiramente de 19508, em 2007, para 19228, em 2011. É ainda relevante referir, mais uma vez, que o número de utentes com DIC entre os 65 e os 79 anos diminuiu e o contrário acontece com os utentes com 80 ou mais anos. No que diz respeito aos óbitos, os traços evolutivos apresentam-se um tanto diferentes: o número de óbitos dos utentes mais idosos com DIC diminuiu no intervalo temporal considerado. A nível regional, os utentes saídos com DIC com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, tal como acontecera com o AVC. É notório o peso que o envelhecimento tem na morbilidade hospitalar das referidas doenças, em particular no AVC e DIC, pelo que é crucial uma análise, relativamente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, da sua evolução temporal assim como das suas desigualdades inerentes. Considera-se crucial adaptar-se o presente a fim de se ter um futuro que vai ao encontro da evolução das doenças cardiovasculares e ao crescente envelhecimento. Contudo, é também preciso olhar para o passado, sobretudo o mais recente, uma vez que, apesar da elevada mortalidade associada às doenças cardiovasculares, tem-se verificado, nas últimas duas décadas, uma progressiva diminuição das taxas de mortalidade destas doenças. Vários factores estão na causa desta diminuição destacando-se a progressiva adoção de estratégias organizativas do Sistema de Saúde para promover hábitos de vida mais saudáveis. Um possível desafio na temática das doenças cardiovasculares e do envelhecimento prende-se também com a existência de programas de incentivo à actividade física das pessoas idosas.
Referências
BARROS, Pedro Pita, 2013, Pela Sua Saúde, Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos ROSA, Maria João Valente, 1996, O Envelhecimento da População Portuguesa, Cadernos Público, no3, Lisboa, BPI
ROSA, Maria João Valente, 2012, O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa, Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos
Direção-Geral da Saúde, Portugal – Doenças Cérebro-Cardiovasculares em números – 2013

VULNERABILIDADES PSICOSSOCIAIS EM COMBATENTES: CONTRIBUIÇÕES PARA A GERONTOLOGIA E ENVELHECIMENTO ATIVO.

António Correia; José Rodrigues. Email: acorreia.ceamps.lc@gmail.com

Resumo
Ao longo dos últimos anos, vários estudos têm sido efetuados em relação ao impacto das experiências traumáticas em combatentes de guerra. A Guerra do Ultramar Português estendeu-se por um período de 13 anos, entre 1961 e 1974, em Angola, Guiné e Moçambique, na qual combateram mais de 800.000 portugueses, dos quais cerca de 9.000 perderam a vida, 30.000 foram evacuadas por ferimentos e mais de 100.000 ficaram doentes e/ou feridos, (cerca de 14.000 deficientes físicos e um número bastante significativo com perturbações psicológicas em consequência dos acontecimentos traumáticos da guerra).
O presente estudo teve como objetivo avaliar as vulnerabilidades psicossociais, numa amostra de antigos combatentes portugueses dos Açores, Ilha Terceira, constituída por 255 veteranos, com idades compreendidas entre 55 e 73 anos (M=63;Dp=4,18).
Na metodologia foram utilizados os seguintes instrumentos de avaliação: Questionário sociodemográfico; PCL-M (acontecimento traumático); ETC (estratégias de coping); SCL-90-R (desajustamento emocional) e Escala de Avaliação da Situação Sociofamiliar de Gijón.
Os resultados mostram a presença de sintomatologia de PSPT, de nível de gravidade ligeiro (53,5%), moderado (41,2%) e grave (5,5%), com uma tendência para os sintomas ligeiros passarem a moderados com o aumento da idade. Ao nível da relação entre a PSPT e as variáveis psicossociais, verificam-se associações estatisticamente significativas entre todas as dimensões da PCL-M (reexperimentação intrusiva, evitamento e embotamento e excitabilidade aumentada) e as dimensões psicopatológicas da ansiedade, depressão, hostilidade, somatização e obsessão e compulsão e com as estratégias de coping de retraimento, adictividade e mudança. O estudo identificou também uma percentagem significativa de 5,8% (n=15) de pessoas mais vulneráveis e em risco social.
Em conclusão, o presente estudo contribuiu para melhorar o conhecimento e a compreensão das vulnerabilidades psicossociais dos combatentes da Ilha Terceira e, face aos resultados, pretende-se encontrar respostas mais adequadas a este tipo de população e às problemáticas apresentadas, nomeadamente a criação de um centro de apoio médico, psicológico e social com respostas específicas para ajudar os combatentes a terem um envelhecimento ativo e com melhor qualidade de vida.
Palavras-chave: Combatentes da Guerra do Ultramar, Vulnerabilidades Psicossociais, Gerontologia, Envelhecimento Ativo

A AVALIAÇÃO FUNCIONAL MULTIDIMENSIONAL NA POPULAÇÃO IDOSA: A UTILIDADE NA DEFINIÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS DE INTERVENÇÃO.

Silva, Sílvia. Email: silviauccoaz@gmail.com. Otero, Gestal. Email: juan.gestal@usc.es. Rodrigues, Rogério. Email: rogerio@esenfc.pt

Objetivos: Identificar a(s) área(s) prioritária(s) para intervir na população idosa (idade igual ou superior a 65 anos) do concelho de São João da Madeira de modo a rentabilizar e coordenar serviços e respostas. Assim, recorreu-se à avaliação multidimensional (áreas funcionais de recursos sociais, recursos económicos, saúde física, saúde mental e actividades de vida diária (AVD)), da população com inscrita nos ficheiros clínicos do Centro de Saúde e residentes no concelho.

Metodologia: Num procedimento aprovado pela Comissão de Ética da Administração Regional de Saúde do Norte, recorreu-se a uma amostra de 269 idosos (N=3846 e n=7%), aleatória e estratificada por género e grupo etário, aos quais foi aplicado o questionário OARS (Older Americans Resources and Services) no domicílio do idosos por entrevistadores treinados. Os dados foram tratados segundo o modelo OARS.
Resultados: São pontuados com limitação grave ou total:
Área de saúde física – 43,1%; grupo etário pior pontuado: ≥ 85 (61,3%) – 50,0% dos homens e 66,7% das mulheres.
Área de saúde mental – 18,3% dos elementos da amostra; grupo etário pior pontuado: ≥ 85 (32,3%) – 38,1% dos homens e 20,0% das mulheres.
Área das AVD – 12,4% dos elementos da amostra; grupo etário pior pontuado: ≥ 85 (54,8%) – 50,0% dos homens e 57,1% das mulheres.
Área dos recursos sociais – 11,8% dos elementos da amostra; grupo etário pior pontuado: 75-84 anos (17,3%) – 20,9% dos homens e 14,5% das mulheres.
Área dos recursos económicos – 26,8% dos elementos da amostra; grupo etário pior pontuado: 75-84 anos (34,7%) – 32,6% dos homens e 36,4% das mulheres.

Conclusões: As áreas pior classificadas e com necessidade de intervenção prioritária são a saúde física e recursos económicos. Destaca-se o grupo etário como factor de distinção em que à medida que a idade aumenta, aumenta também a percentagem de idosos com maior dependência nestas áreas. Os muito idosos (≥ 85) apresentam pior classificação nas áreas de saúde física, saúde mental e AVD e os idosos de 75-84 anos apresentam pior classificação nas áreas de recursos sociais e económicos. Quanto ao género, são pior classificadas as mulheres nas áreas: saúde física, AVD e recursos económicos; estão piores os homens na área da saúde mental e recursos sociais. Definem-se assim as mulheres e as áreas de saúde física e económica como prioritárias para intervir.

A PREPARAÇÃO DO REGRESSO A CASA DA PESSOA IDOSA SUBMETIDA A GASTRECTOMIA E SUA FAMÍLIA – A PARCERIA COMO INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM

Lúcia Jerónimo. Idalina Gomes. Email: luciajeronimo@campus.esel.pt

Resumo
O regresso a casa do cliente hospitalizado requer um planeamento atempado para evitar complicações e readmissões. No cliente idoso submetido a gastrectomia, considerando a especificidade da sua situação, exige-se um envolvimento do próprio e seu cuidador familiar com as equipas de enfermagem, para uma atuação conjunta que permita identificar e responder às necessidades existentes. Baseado nas nas teorias das transições de Meleis e dos Cuidados em Parceria com a Pessoa Idosa de Gomes (2009), elaborou-se um projeto de intervenção com o objetivo de capacitar o cuidador familiar e o idoso gastrectomizado para a preparação do regresso a casa.
Este Projeto realizou-se num Hospital Central em Lisboa, entre Outubro/2012 e Fevereiro/2013. Envolveu 8 idosos submetidos a gastrectomia, e os seus respetivos cuidadores familiares e 39 enfermeiros da equipa de enfermagem. Desenvolveu-se em quatro fases distintas – Diagnóstico de Situação, Planificação, Execução e Avaliação. Os dados foram colhidos por análise documental, observação de práticas e entrevistas, e foram analisados por estatística descritiva e análise de conteúdo.
Como resultados destaca-se o conhecimento que a pessoa idosa e cuidador familiar adquiriram ao longo do internamento (adequação do plano alimentar, conhecimento do regime medicamentoso, conhecimento de sintomatologia associada, cuidados com a ferida operatória, e conhecimento dos possíveis recursos da comunidade). Salienta-se a introdução de novas práticas na equipa de enfermagem asseguradas a todos os clientes – avaliação nutricional, educação estruturada, inclusão do cuidador familiar nos cuidados, a articulação com a rede de cuidados domiciliares e registos de enfermagem individualizados, tendo favorecido a continuidade de intervenções ao longo deste processo.
Conclui-se que a intervenção em parceria é fundamental para um cuidar centrado no cliente, permitindo o conhecimento do cliente e o seu envolvimento na construção de uma ação conjunta que promove a continuidade de intervenções na preparação individualizada do regresso a casa da pessoa idosa e a capacitação do cuidador familiar, possibilitando a continuação do projeto de vida de cada idoso e cuidador familiar.
Sugere-se o desenvolvimento de intervenções de enfermagem pré e pós-operatórias centradas na pessoa idosa e seu cuidador familiar, bem como, a reavaliação nutricional periódica em articulação com o centro de saúde.
Palavras-chave: pessoa idosa/cuidador familiar; intervenções de enfermagem; parceria; regresso a casa.

A TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS DA CIF NA ANCIANIDADE: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO

Ana Taborda; Rosa Silva. Email: anataborda@portugalmail.com

OBJETIVO: Descrever e quantificar o que se tem estudado tendo como objeto de estudo o idoso e a CIF
METODOLOGIA: Estudo bibliométrico, realizado nas bases de dados eletrónicas MEDLINE, CINAHL Plus, Science Direct e Tripdatabase, com texto integral, em português e inglês. Os descritores utilizados foram: international classification of functioning & elderly.
Tendo por base o modelo conceptual da CIF, categorizamos os estudos de acordo com os seguintes componentes:
• Funcionalidade e Incapacidade
• Estrutura e Função corporal
• Atividades de participação
• Fatores contextuais
• Fatores ambientais
• Fatores pessoais

RESULTADOS/CONCLUSÕES
Da pesquisa realizada obtivemos 92 artigos, e destes, 39 apresentavam texto integral, sendo estes o nosso corpo de análise.
Após uma primeira leitura verificamos que todos os componentes da CIF têm sido explorados, havendo, contudo, um predomínio de estudos relacionados com a estrutura e função corporal, como é o caso das quedas, mobilidade e desempenho físico, por exemplo.

ACESSIBILIDADE AOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS E QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS

Alexandrina de Jesus Serra Lobo (PhD). Email: damiaolobo@gmail.com

A acessibilidade aos cuidados de saúde é uma área prioritária das atuais politicas, um verdadeiro determinante da saúde e, consequentemente, um potenciador de redução de desigualdades, apresentando-se como um aspeto essencial para a melhoria da QV dos indivíduos (Campos et al., 2008; Campinho, 2005). Segundo Furtado e Pereira (2010), o acesso não pode ser visto apenas no sentido da oferta/disponibilidade de cuidados, devem também ser considerados outros condicionantes, eventuais barreiras que possam limitar o cidadão ao seu potencial de saúde, nomeadamente: geográficos; demográficos; económicos; sociais ou culturais. Importa assim, analisar-se a relação entre o acesso aos cuidados de saúde e a qualidade de vida (QV), tendo em conta que o processo de envelhecimento encerra inúmeras alterações na vida das pessoas, afectando-lhes a funcionalidade e mobilidade (Rodrigues et al., 2007). Objetivos: caracterizar a acessibilidade e a perceção de QV dos idosos do ACES ATB; verificar se existe relação entre a acessibilidade e a QV.
Metodologia: realizou-se um estudo transversal, descritivo-correlacional, numa amostra de intencional de 359 idosos dos cuidados de saúde primários, do ACES Alto Tâmega e Barroso (ACeS ATB). Na recolha de dados aplicou-se um inquérito sob a forma de entrevista, com 3 partes: caracterização sociodemográfica; avaliação do nível de acessibilidade (através de indicadores, tais como o tipo de transporte utilizado, o tempo e as despesas necessários à deslocação, os recursos de estacionamento e transportes públicos) e perceção da QV através do SF-36 (Ferreira, 1999). Para o tratamento de dados recorreu-se ao SPSS.
Resultados: a maioria dos sujeitos em estudo apresenta o 1º ciclo do ensino básico, são casados, têm um rendimento mensal médio de 200 a 450 euros, tendo trabalhado no sector primário, durante a actividade profissional. Recorrem ao centro de saúde entre 3 a 6 vezes por ano, principalmente pelo motivo de doença. Em média, demoram entre 15 a 30 minutos e gastam entre 5 a 10 euros na deslocação ao centro de saúde. As mulheres usam mais os transportes públicos (27,5% versus 24,7%) e os homens o transporte próprio (39,1% versus 20,7%). Pela análise das correlações verifica-se que existe uma correlação negativa e significativa da QV, com o tempo e o dinheiro gasto na deslocação.
Conclusão: os nossos resultados sustentam que a QV relacionada com a saúde não se reduz a uma evidência orgânica, está em grande parte relacionada com a acessibilidade aos cuidados de sáude, para além das características de cada contexto sociocultural, aos significados que cada indivíduo atribui à sua condição e processo de vida.

“ANTES DE MORRER, EU QUERO…”: O ENVELHECIMENTO COMO UM PROCESSO ATIVO, ONDE OS SUJEITOS ESCOLHEM E PARTICIPAM NAS POLÍTICAS QUE AFETAM O SEU BEM ESTAR.

Alexandra Neves.
Email: neves.xana@gmail.com

Resumo: Nas sociedades atuais, a institucionalização dos adultos idosos é a opção mais recorrente, quando os filhos deste grupo etário não têm condições de cuidar a tempo inteiro dos seus pais. Esta institucionalização nem sempre é feita por forma a envolver a vontade e o desejo do idoso, revestindo-se esta mudança de uma perda de identidade e de pertença que lança o idoso num processo doloroso.
O presente estudo propôs identificar, compreender e conhecer os desejos de um grupo de 11 idosos, utilizadores do Centro Social e Paroquial dos Pousos, sobre o que pretendiam realizar antes de morrerem.
Tratou-se de um estudo qualitativo, realizado a partir das narrativas dos idosos entrevistados.
Os resultados (desejos) são muito semelhantes dentro do grupo analisado, refletindo uma homogeneidade cuja explicação pode estar relacionada com o facto de todos partilharem os mesmos contextos e trajetórias de vida. Os desejos mais expressos encontraram-se relacionados com a família e a algumas visitas a determinados locais, apontando estes para atividades de lazer e atividades com a família.
Com este estudo identificou-se e quantificou-se atividades com base nas motivações de cada sujeito, tanto através de um Plano de Atividades como através de um Plano Ocupacional.

OS MUITO IDOSOS: A METODOLOGIA OARS/QAFMI EM INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA

Rogério Manuel Clemente Rodrigues. Sílvia Manuela Dias Tavares da Silva. Sandrina Sofia da Silva Crespo. Cristiana Filipa Ribeiro da Silva. Email: rogerio@esenfc.pt

Objectivo:
Avaliar a funcionalidade e a utilização e necessidade sentida de serviços, de saúde e de apoio social, pelos muito idosos do concelho de Coimbra.
Metodologia:
Estudo quantitativo, descritivo-correlacional, com dimensão temporal do tipo transversal.
A população alvo (N≈16474) é constituída pelos indivíduos com idade ≥75 anos, residentes no Concelho de Coimbra (Sub-Região de Saúde de Coimbra).
A amostra, probabilística e estratificada (por idade e género), foi obtida a partir dos dados da população total fornecidos pelos Centros de Saúde/Extensões/Unidades de Saúde Familiar, procurando atingir 7% da população (n=1153).
O instrumento de recolha de dados é o Questionário de Avaliação Funcional Multidimensional para Idosos (QAFMI), versão portuguesa do Older Americans Resources and Services (OARS). É considerado um dos mais adequados instrumentos de avaliação multidimensional disponível para avaliar a capacidade funcional de idosos.
Resultados:
Esta metodologia foi desenvolvida para avaliar a capacidade funcional em cinco áreas centrais da qualidade de vida do idoso: recursos sociais, recursos económicos, saúde mental, saúde física e actividades de vida diária.
Centrando-nos no somatório das piores classificações (recursos fortemente e totalmente insatisfatórios), para o género, grupo etário e total da amostra, verificamos que:
– A pontuação segundo o modelo OARS/QAFMI para a área de recursos sociais revela quanto ao género, uma classificação de 6,4% para os homens e 16,1% para as mulheres. Por grupos etários encontramos 13,6% no grupo de 75-84 anos e 9,9% no grupo ≥85 anos. Para o total da amostra são 12,6%;
– Na área de recursos económicos, as mulheres são pior classificadas (16,6% contra 11,6% nos homens). No grupo ≥85 anos encontramos 22,0% e no de 75-84 anos 11,9%. No total são 14,8%;
– Na área de saúde mental as mulheres são pior classificadas com 19,6% (9,5% nos homens). O grupo ≥85 anos apresenta 23,7% e o de 75-84 anos 12,7%. No total são assim classificados 15,9%;
– A área de saúde física apresenta os valores percentuais mais elevados de incapacidade (40,5% nos homens e 48,4% nas mulheres). O grupo ≥85 anos 57,5% e o de 75-84 anos 40,7%. Globalmente são 45,5%.
– Quanto às atividades de vida diárias (AVD) são pior classificadas as mulheres (27,3% contra 17,1% dos homens). Os de ≥85 anos são pior classificados (46,1% contra 14,3% dos de 75-84 anos). Para o total da amostra encontramos 23,5% com esta classificação.
Conclusão:
Da aplicação desta metodologia emergem resultados que nos mostram a necessidade de intervenção, em todas as áreas, nomeadamente ao nível da saúde mental, saúde física e AVD. Particular atenção deve ser dirigida às mulheres. A informação recolhida e as possibilidades de cruzamento de dados poderão permitir o encontro, e a conjugação de esforços, de profissionais, e serviços, de saúde e sociais.

CICLOS DE RECUPERAÇÃO COMO PROPOSTA DE ATENÇÃO À POPULAÇÃO IDOSA ACOMETIDA POR AFEÇÕES NEUROLÓGICAS E FÍSICAS, NOMEADAMENTE, O AVC E FRATURAS/ARTROPLASTIAS.

Rafaela Almeida. Email: rafaela.almeida@geridade.com

OBJETIVO – Apresentar uma proposta de atendimento, definidos por ciclos de recuperação nas áreas neurológica e ortopédica, em residência especializada e direcionada à população idosa.
METODOLOGIA – A avaliação inicial do idoso é feita em conjunto pela equipa multidisciplinar, que depois de analisar cuidadosamente os dados recolhidos, propõe uma recuperação num horizonte temporal limitado. A alta dos nossos serviços será proposta quando a equipa considerar que se atingiu o limite máximo de recuperação.
A proposta centra-se no internamento durante um período mínimo de 30 dias, que visa, de maneira intensiva, a reabilitação das capacidades físicas e funcionais do idoso, num ambiente adaptado às suas necessidades.
Dispondo de uma equipa multidisciplinar composta por profissionais das áreas da Medicina, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Terapia da Fala, Enfermagem, Psicologia e Animação Sociocultural, pretende-se que cada utente tenha um plano específico e totalmente adaptado às suas necessidades físico-funcionais e ao seu potencial de recuperação.
Procuramos investir na aprendizagem e acreditamos que o esforço da equipa técnica poderá proporcionar um acompanhamento individualizado, com foco nas necessidades e especificidades de cada utente.
RESULTADOS – O ano de 2013 tem sido dedicado à realização de estudos que nos ajudem a comprovar a eficácia do projeto e que orientem as alterações necessárias de modo a irmos ao encontro das necessidades desta faixa etária.
CONCLUSÃO – O envelhecimento demográfico há muito que desperta nos profissionais e nas instituições a busca pelo desenvolvimento e o aprimoramento de iniciativas capazes de colmatar todas as necessidades da população que está a envelhecer. Tais necessidades são de naturezas variadas e exigem cada vez mais profissionais preparados e capazes de prestar serviços de qualidade e que estejam totalmente direcionados às especificidades desta faixa etária. A Casa Azul procura desenvolver de maneira individualizada um acompanhamento especializado à população em causa.
Prevê-se alcançar resultados que se revelem animadores, de modo a consolidarmos a proposta de oferta de um acompanhamento especializado e totalmente adaptado as necessidades e especificidades da população de mais idade.

DESENVOLVER COMPETÊNCIAS NO ÂMBITO GERONTOLÓGICO DIRECCIONADA A AUXILIARES DE ACÇÃO MÉDICA: – UMA EXPERIÊNCIA DA ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM S. FRANCISCO DAS MISERICÓRDIAS (ESESFM) E O LAR DR. VIRGÍLIO LOPES (LVL).
Maria de Jesus Costa. Email: marjecosta2010@gmail.com

Objetivo: Munir as auxiliares de acção médica deste Lar com competências que lhes permitam uma abordagem global na sua prática de cuidados à pessoa idosa.
Metodologia: A elaboração de um programa de formação deve sedimentar-se numa avaliação de diagnóstica prévia, com o objectivo de fazer o levantamento das necessidades, de forma a poder validar a importância da acção formativa para os destinatários. De acordo com as duas Instituições ESESFM e o LVL iniciou-se com um conjunto de reuniões devidamente planeadas que permitiram, ter um maior conhecimento da realidade vivida na instituição de idosos e realizar um diagnóstico da situação relativa à intervenção formativa a concretizar com o grupo profissional em causa, o que permitiu determinar as necessidades formativas das referidas auxiliares.
Deste encontro foi decidido:

• A formação seria realizada numa parceria entre as duas Instituições;
• Existiria uma docente da ESESFM com a responsabilidade da conceptualização e organização da intervenção formativa;
• As acções de formação seriam desenvolvidas por duas docentes da ESESFM e um elemento da direcção da instituição de idosos.

Após a administração dos conteúdos teóricos passamos aos aspetos relativos à avaliação da intervenção implementada.
Resultados: Através de uma grelha de observação ” avaliação de competências” e uma entrevista estruturada, previamente testadas que permitiu identificar se o conhecimento teórico tinha sido integrado e posto em prática, o que nos permitiu constatar uma mudança de comportamentos que se apoiava no conhecimento adquirido assim como a necessidade de colmatar algumas lacunas no que respeita à mobilização dos respectivos conhecimentos.
Conclusão: Enquanto profissionais e formadores na área da Saúde, é nossa preocupação conhecer as necessidades reais do país, no que respeita à formação destes cuidadores que prestam cuidados às pessoas idosas em particular, as que se encontram institucionalizadas e dotarmos este grupo de cuidadores com um corpo de conhecimentos específicos. Nesta sequência não podemos deixar de referir a nossa preocupação relativamente à iliteracia destes profissionais sobre o processo de envelhecimento e as principais dimensões da abordagem à pessoa idosa.
A formação contribui, ainda, para o desenvolvimento pessoal e profissional dos cuidadores, melhorando inevitavelmente o desempenho organizacional, o bem-estar da pessoa idosa que se espelha em qualidade de vida, em cuidados menos complexos e menor dispêndio económico para a instituição e para as próprias famílias.

EFEITOS DE UM PROGRAMA DE EXERCÍCIO MULTICOMPONENTE SOBRE AS FUNÇÕES FÍSICAS E COGNITIVAS DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS COM DOENÇA DE

ALZHEIMER

Arnaldina Sampaio. Elisa Marques. Joana Carvalho. Jorge Mota. Email: arnaldina@gmail.com

Resumo: À medida que a população mundial envelhece a uma velocidade quase exponencial e a prevalência de demências aumenta consequentemente, torna-se cada vez mais relevante encontrar estratégias e meios para atenuar o declínio das funções cognitivas e físicas dos idosos com Doença de Alzheimer (DA).
O objetivo deste estudo foi investigar o efeito de um programa de intervenção de exercício físico multicomponente na função cognitiva, variáveis antropométricas e de aptidão física, em idosos com DA.
A amostra foi constituída por 32 idosos institucionalizados com diagnóstico clínico de DA, com idades entre 84,34 ± 5,9 anos de idade, com demência leve e moderada, que foram divididos em dois grupos: o grupo experimental (GE, n=16) e o grupo controle (GC, n=16). O GE participou de um programa de exercício multicomponente supervisionado, (incluindo exercícios aeróbios, força e resistência muscular, flexibilidade e exercícios posturais) 1h/dia , duas vezes por semana, durante seis meses. Os participantes do GC mantiveram suas atividades diárias regulares durante o mesmo período. Função cognitiva (MMSE), variáveis antropométricas (IMC e perímetro de cintura) e de aptidão física (Fitness Senior Test), foram avaliadas antes (M1), após 3 meses (M2) e no final (M3) do programa de intervenção.
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, nos testes de aptidão física, variáveis antropométricas e na função cognitiva, entre os grupos, na avaliação inicial. A ANOVA de duas entradas (grupo e tempo), com medições repetidas de um fator (tempo), revelou interações significativas entre grupo e tempo nas funções cognitivas, no perímetro de cintura, força dos membros inferiores e membros superiores, agilidade, resistência aeróbia, flexibilidade dos membros inferiores e membros superiores. Assim, a diferença na resposta, entre os grupos, foi evidente ao longo do tempo para estas variáveis. Observou-se ainda, uma diminuição estatisticamente significativa do perímetro de cintura, uma melhoria nos testes de aptidão física entre M1 e M3, e um aumento significativo no MMSE entre M1 e M2 no GE. A função cognitiva e força de membros superiores diminuíram significativamente ao longo do tempo (M1 vs M3) no GC. Não foram observadas alterações do IMC em ambos os grupos. Não ocorreu nenhum efeito adverso devido à aplicação do programa de intervenção.
Estes resultados permitiram verificar que o exercício multicomponente pode ser um elemento importante na promoção e manutenção da saúde, permitindo melhores resultados na aptidão física e cognitiva, por parte do GE em comparação com indivíduos inativos. Este estudo sugere que os programas de exercícios multicomponentes podem ser uma estratégia não-farmacológica importante para atenuar o declínio das funções físicas e cognitivas em pacientes com DA institucionalizados.

ENVELHECIMENTO ACTIVO

Silvia Noruegas; Carla Calça; Susete Manguinhas; Marisa Afonso; Carina de Jesus; Florinda Recto. Email: silcrisnor@gmail.com

Objetivos: Manter/Melhorar a funcionalidade dos idosos; Manter/Melhorar a capacidade cognitiva dos idosos; Prevenir a ocorrência de quedas; Sensibilizar para a aquisição de estilos de vida saudáveis e participação ativa dos idosos nos cuidados de saúde e na sociedade em geral.
Metodologia: O projeto decorreu de Maio a Dezembro de 2012, tendo como grupo alvo neste projeto 60 idosos institucionalizados, auxiliares/técnicos/responsáveis em Lares de Idosos e/ou Centro de Dia de IPSS da cidade de Estremoz ( X; Y e Z).
Os idosos foram avaliados ao inicio e no final do projeto com várias escalas: índice de Katz (avaliar a capacidade física e funcional); Mini Mental State; Time get up; Chair stand test (avaliar a funcionalidade); SF12v2 (avaliar a perceção do seu estado de saúde).
Pretendeu-se realizar várias atividades, nomeadamente:
– Aplicar e avaliar resultado de escalas utilizadas;
– Atividades e estratégias de prevenção de doenças e de fatores comportamentais;
– Atividades que promovam desenvolvimento cognitivo, a relação comunicacional e a promoção da relação interpessoal;
– Atividades e estratégias que promovam a atividade física, a promoção da saúde oral e prevenção de problemas relacionados;
– Atividades de promoção de atividades intergeracionais ;
– Atividades de formação aos auxiliares, que lhes permitam adquirir conhecimentos e competências para promover envelhecimento ativo.
Resultados: Foram alvo deste projeto 60 idosos, sendo para a análise dos dados apenas contabilizados 36.
Cerca de 15 idosos pertenciam ao Lar X, 12 ao Lar Y e 9 ao Lar Z. A grande maioria é do género feminino (27). O maior número de idosos encontra-se na faixa etária dos 80 aos 89 anos (21).
Quanto ao Índice de Katz podemos referir que 14 idosos melhoraram; 12 idosos mantiveram e 10 idosos pioraram. Relacionando os valores do Mini Mental State á entrada e á saída, 16 idosos pioraram, 15 idosos melhoraram e 5 idosos mantiveram os mesmos valores.
Comparativamente aos resultados do Time get up and go, podemos concluir que 86% dos idosos mantiveram ou melhoram a sua funcionalidade.
Comparativamente aos resultados do Chair Stand test , podemos concluir que 89% dos idosos mantiveram ou melhoram a sua funcionalidade.
Relativamente á perceção da qualidade de vida relacionada com a saúde, podemos verificar o valor médio 34,3, tendo estes valores aumentado um pouco sendo o valor o valor médio á saída de 36,2.
Relativamente ao MCS á entrada o valor medio é de 49,2, tendo o valor medio á saída diminuído (48,7).
Relativamente às atividades desenvolvidas, estas incidiram sobre a apresentação do projeto, á aplicação de escalas á entrada e á saída; classe de gerontomobilidade; atividades cognitivas; atividades de promoção do auto estima; saúde oral; prevenção de quedas e alimentação saudável.
Conclusões: Relativamente aos indicadores e metas de execução, todos os indicadores foram atingidos.

ENVELHECIMENTO COGNITIVO USUAL VS PATOLÓGICO – O PAPEL DA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

Joana Barata Tavares, João Serras, Clara Loureiro, Joana Morgado, Carolina Maruta, Jorge Campos, Isabel Pavão Martins. Email: joanactavares@hotmail.com

Introdução: O envelhecimento cognitivo não é idêntico em todos os indivíduos e a distinção entre o envelhecimento considerado usual e aquele que é considerado patológico é bastante difícil de definir.
A neuroimagem é um campo da medicina que permite a avaliação estrutural do cérebro e o seu uso em projectos de investigação neuropsicológica tem assumido nos últimos anos cada vez mais importância.
Objectivo: Correlacionar performance cognitiva com a atrofia cerebral global e segmentar em imagens de ressonância magnética crânio-encefálica numa coorte de indivíduos idosos da comunidade.
Metodologia: Recrutamento prospetivo de 130 sujeitos dos Cuidados de Saúde Primários Portugueses com mais de 50 anos, sem história de patologia cerebral conhecida. A informação clínica foi obtida junto dos respectivos médicos e avaliações neuropsicológicas foram efectuadas.
Os sujeitos realizaram um estudo de ressonância magnética num aparelho 3Tesla, tendo posteriormente sido aplicadas escalas de avaliação neuroimagiológicas: atrofia global cortical (GCA), Koedam e atrofia mesial temporal (MTA).
Resultados: Mais de metade dos sujeitos avaliados (65%) apresentava algum grau de atrofia cerebral (avaliada por GCA), no entanto, esta apenas era severa (“knife-blade”) em 2,5%. Foi observada maior prevalência de atrofia parietal (20%), avaliada pela escala de Koedam, do que de atrofia mesial temporal (4%), avaliada por MTA, sendo maior a correlação da primeira com o resultado da avaliação de Mini Mental State Exam.
Conclusão: Classicamente a atrofia mesial temporal associa-se à doença de Alzheimer mas estudos recentes indicam a presença de atrofia do precuneus (parte do lobo parietal) em fases precoces de doentes de Alzheimer. O que este estudo vem demonstrar é que numa população comunitária, sem patologia cerebral conhecida, existe maior prevalência de atrofia parietal do que temporal e a primeira correlaciona-se mais com declínio cognitivo.
No futuro, a avaliação visual do cérebro, com focalização em áreas de atrofia segmentar, poderá tornar-se mais específica para predizer quais os sujeitos normais que irão evoluir para Alzheimer.

ENVELHECIMENTO, PSICOLOGIA POSITIVA E BOAS PRÁTICAS

Maria A. Veiga d’Araújo. Email: jardimmaria@gmail.com

O envelhecimento humano é um processo contínuo e comum a todo o indivíduo. Tem início na concepção e termina na morte (Vaillant, 2003). É um processo ao longo do qual perdas e ganhos decorrem e concorrem entre si (Baltes & Baltes, 1986). Em determinado momento, as primeiras tendem a superar os segundos. Baltes e Baltes (1986) propõem o Modelo da Selecção, Optimização e Compensação e sugerem que, até certo ponto, é possível compensar as perdas e manter bons níveis de satisfação com a vida. A Psicologia Positiva ajuda os indivíduos a manter o foco na superação das perdas, contribuindo para uma vida mais prazerosa. O contributo desta área do saber verifica-se através do estudo de conceitos como a Esperança, a Gratidão, o Flow, a Escuta Activa Construtiva, a Espiritualidade, as Emoções Positivas, as Relações Positivas, entre outros. Estes e outros modelos descritos nesta investigação apontam, assim, para factores diversos que poderão contribuir para um processo de envelhecimento positivo. Nessa linha, foi criado um programa de intervenção: o Chá das Quartas (CQ). Este programa tem vindo a decorrer nos últimos três anos, no Alentejo, para um grupo de mulheres com idades muito avançadas, em quem se fazia notar a solidão. O presente estudo sobre o CQ tem os seguintes objectivos: a) identificar factores de felicidade percebidos pelas participantes; e b) explicitar as boas práticas que parecem ter mais impacto na promoção do bem-estar das mulheres. Na presente comunicação procura-se partilhar os resultados referentes ao segundo objectivo. Nesta investigação, assente no método de estudo de caso, a recolha de dados foi feita através da aplicação de questionários e de cartas de gratidão redigidas pelas participantes. Para a análise dos dados, recorreu-se à análise de conteúdo e à estatística descritiva – usando, por isso, uma abordagem de métodos mistos. Os dados revelam um impacto positivo do CQ ao nível do bem-estar individual, relacional e colectivo, que se verifica no aumento dos índices de gratidão e felicidade das participantes ao longo do projecto, na valorização dos novos momentos de convívio por parte das idosas, e no maior envolvimento das mulheres na comunidade através da participação em eventos comunitários de relevo, entre outros resultados. Estes resultados foram possíveis de alcançar de forma continuada dadas as características estruturais e processuais deste projecto: as boas práticas que aqui se identificam e partilham.

ESTIMULACIÓN COGNITIVA Y CALIDAD DE VIDA: LOGROS EN EL ÁMBITO GERONTOLÓGICO DEL S.XXI

Sandra Fernández Prado, Mónica Antelo Martelo, Joaquim Parra Marujo, Manuel Gandoy Crego y J. Manuel Mayán Santos. Email: sandrafdezprado@gmail.com

Objetivos
Se pretende extraer resultados de un trabajo de estimulación cognitiva, que se desarrolla con personas mayores del entorno gallego. Además de poder recoger estas aportaciones de las funciones cognitivas, se ha querido observar la influencia en la percepción de la calidad de vida experimentada por los sujetos experimentales de este trabajo.
Metodología
Se ha llevado a cabo el diseño de un Programa de Estimulación Cognitiva, gracias al respaldo de Servicios Sociales del ayuntamiento de Caldas de Reis, en Pontevedra, que ha trabajado conjuntamente con el Programa de Doctorado en Gerontología de la Universidad de Santiago de Compostela.
Se ha procedido al conocimiento mediante administración de pruebas Pre-test de los sujetos experimentales con una batería de pruebas homologadas y estandarizadas (Mini Examen Cognoscitivo de Lobo, Test Conductual de Memoria de Rivermead (RBMT) y Escala CUBRECAVI de calidad de vida). Se ha implantado el citado programa y, a medida que ha evolucionado el mismo, se ha ido evaluando periódicamente a los sujetos. Este conocimiento longitudinal nos ha permitido conocer datos acerca de las aportaciones del trabajo cognitivo en el conjunto de las funcionalidades cognitivas y además, hemos podido conocer, cómo ha influido esta experiencia en la percepción expresada de su calidad de vida.
Resultados
Tras el análisis estadístico, mediante SPSS, hayamos aportaciones significativas de la estimulación cognitiva a las capacidades cognitivas de los sujetos, de la misma forma que la percepción de la calidad de vida se ha visto modificada en muchas de las variables que la componen.
Conclusiones
Los datos recogidos nos hacen pensar y afirmar que los programas de estimulación cognitiva no son solamente útiles herramientas de reforzamiento cognitivo para las personas mayores sino importantes mecanismos de refuerzo a tener en cuenta en la visión global de la calidad de vida en la fase de envejecimiento.
Mediante estas investigaciones esperamos responder a las necesidades de las personas mayores de ahora y del futuro, para conseguir mejoras en su funcionalidad cognitiva y mejorar también su calidad de vida, que es otro importante objetivo de las intervenciones gerontológicas: conseguir cantidad y calidad en el envejecimiento.

GRÃ-PARENTALIDADE E RELAÇÕES INTERGERACIONAIS NO CONTEXTO DAS SOCIEDADES OCIDENTAIS CONTEMPORÂNEAS: REVISÃO DA LITERATURA.

Isabel Margarida Marques Monteiro Dias Mendes. Rogério Manuel Clemente Rodrigues. Zaida de Aguiar Sá Azeredo. Email: isabelmendes@esenfc.pt

Resumo:
Introdução: Na actualidade a esfera familiar evidencia uma pluralidade de configurações, como as famílias de idosos e as famílias com idosos.
Outra característica marcante dessa diversidade é a família longeva, traduzindo-se como um fenómeno novo e apresentando a coexistência de várias gerações.
Face ao número cada vez maior de indivíduos a alcançar idades cada vez mais avançadas, origina-se por um lado, potencialmente, uma maior convivência intergeracional e acentua-se, por outro, a importância cada vez maior da solidariedade entre as gerações.
Nesse contexto, identificamos as relações intergeracionais como algo benéfico, que pode ser estimulado com a perspectiva de um enriquecimento mútuo, através da partilha de conhecimentos e da abertura para o diálogo entre as gerações.
Objectivo: Rever o conceito de grã-parentalidade nas sociedades ocidentais contemporâneas e o seu significado nas relações intergeracionais-
Método: Revisão da literatura com recurso a bases de dados B-On, Academic Google, e Pub-Med. A pesquisa foi limitada a artigos publicados entre 2000-2012 nas línguas Portuguesa, Espanhola, Inglesa e Francesa.
Resultados: 45 estudos foram selecionados a partir de 2710 artigos das bases de dados. Os principais temas comuns encontrados foram: o papel dos avós como um equilíbrio familiar entre gerações, com padrões de interação de proximidade, a proximidade emocional e apoio social; maior influência dos avós maternos no estabelecimento e manutenção dos laços intergeracionais. Por último, os avós trazem o sentido de identidade intergeracional no seio familiar, positivamente relacionada com o bem-estar de todos os membros.
Conclusão: Nas sociedades contemporâneas a grã-parentalidade surge como o elo de ligação sensível entre as diferentes gerações, sendo o relacionamento intergeracional uma oportunidade para a promoção de um envelhecimento saudável e um desenvolvimento saudável dos mais jovens, visando uma sociedade para todas as idades.

HABITAÇÃO PARA IDOSOS EM LISBOA: DE COLECTIVA A ASSISTIDA. O CASO DE ALVALADE

Antonio da Silva F. Carvalho. Email:a.carvalho@zonmail.pt

A população portuguesa (e mundial) está a envelhecer a um ritmo muito acelerado — Lisboa era já em 2001 a capital europeia da UE15 mais envelhecida, realidade que se agravou desde então.Esta tendência demográfica de quase inversão da pirâmide demográfica significa que é urgente encontrar uma solução habitacional para os idosos, que constituem o único grupo etário em crescimento. Significa também que as cidades serão progressivamente habitadas por mais idosos, pelo que o quotidiano urbano (em espaços públicos e privados, livres ou construídos) será cada vez mais condicionado pelas restrições dos mais velhos, em termos de acessibilidades ou outros aspectos funcionais.
Objectivo: Para evitar a panaceia da institucionalização em lares de idosos, é urgente propor um novo paradigma habitacional para as pessoas mais velhas: envelhecer em casa.
Metodologia: Sendo Lisboa maioritariamente constituída por edifícios de apartamentos, estudou-se o funcionamento e características das “residências assistidas” de diferentes iniciativas (privada, estatal, IPSS) e dimensões (grande, média e pequena).
Desse estudo retiraram-se ensinamentos que permitissem a sua aplicação aos edifícios normais de habitação colectiva, transformando-os desse modo em edifícios-residência, onde os moradores possam naturalmente envelhecer, em apartamento adaptados ou adaptáveis às diferentes etapas da vida.
Seguidamente estudaram-se edifícios de apartamentos cujas características permitissem encontrar soluções aplicáveis ou extrapoláveis para outros conjuntos habitacionais.
Para cada um dos edifícios existentes que foram seleccionados desenvolveu-se um projecto de adaptação do edifício e dos apartamentos de modo que, com intervenções e custos mínimos, permitisse a sua conversão em condomínio assistido.
Resultados: O Bairro de Alvalade, pela repetição sistemática dos seus edifícios-tipo, permitiu seleccionar seis casos concretos para aplicação de diferentes soluções, no sentido de que passem a funcionar como condomínios assistidos para os seus moradores envelhecidos, evitando (ou adiando) a sua institucionalização.
As soluções projectadas para estes seis edifícios têm a possibilidade inerente de replicação, podendo ser aplicadas a dezenas de edifícios, centenas de apartamentos e milhares de moradores, apenas no Bairro de Alvalade.
Conclusão: Com os modelos de intervenção propostos caso a caso, verificam-se vantagens habitacionais, humanas e urbanas: ganham-se apartamentos mais flexíveis, adaptáveis às diversas fases da vida; os moradores podem envelhecer em casa e no bairro, na companhia de vizinhos e comerciantes que conhecem e em quem confiam; torna-se mais fácil e cómodo para os familiares manterem as rotinas das visitas à casa de sempre; os espaços exteriores públicos tornam-se mais amigos dos idosos (e como tal amigos de todos), com acessibilidade universal; o convívio intergeracional é promovido, dentro de casa, no edifício e no bairro; a flexibilidade do novo modelo permite a renovação natural das gerações dos seus habitantes e novamente o seu envelhecimento em casa, sem segregação edificativa nem estigmatização social — a cidade envelhece e renova-se continuamente.

IDEAL SÉNIOR

Fernanda Oliveira: Email: fernanda.oliveira@misericordiagolega.pt

O projeto “Residencias Senior- Nossa Senhora das Misericórdias” foi criado tendo por base os objetivos/desenvolvimento da instituição, tanto a nível de infraestruturas como a nível de objetivos de intervenção que o Serviço Social sente a necessidade de intervir. O “Ideal Sénior”, foi projetado a fim de ser uma resposta social personalizada para uma população específica.
Há cerca de 13 anos, altura em que esta resposta foi criada, a realidade social em termos da problemática do envelhecimento ativo, nomeadamente no distrito de Santarém, mostra a necessidade sentida pela população em encontrar respostas de apoio alternativas às valências de internamento tradicionais. E, por isso, são procuradas por pessoas com idades menores (65 anos) com a motivação de querer poder assegurar segurança e conforto para um futuro próximo.
Esta resposta Social nasceu em 1999 designada por SENIOR RESIDENCE, inicialmente construídas apenas quatro moradias. Atualmente este complexo dispõe de 24 residências integradas numa ampla zona ajardinada e de lazer, sendo que as ultimas oito são de construção recente, em finais do ano 2012.
Para pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, portadoras de características pessoais, culturais e socioeconómicas é por vezes muito difícil encontrar locais com grande privacidade e estimuladoras de autonomia.
A Misericórdia passou assim a ter esta valência, criou espaços “confortáveis e seguros” para fazer face ás necessidades/expectativas da população/comunidade em que os utentes podem usufruir de “cuidados de um lar” na privacidade de uma residência, em plena Vila da Golegã.
As moradias deste complexo são compostas por um quarto, uma instalação sanitária com apoios técnicos, uma sala e uma cozinha, cada utente tem direito a um lugar no parque de estacionamento. Todas estas residências são decoradas pelo residente (ou seus familiares), para que a pessoa se sinta num espaço “seu”, único e confortável, e que reflita as características da sua própria identidade, hábitos e costumes.
A resposta projetada pretende proporcionar um espaço “ideal” com serviços permanentes e adequados às necessidades das pessoas seniores, contribuir para a estimulação de um processo de envelhecimento ativo com autonomia, assim foram criadas condições que permitam preservar e incentivar a estabilidade do suporte familiar quando existente, bem como potenciar a integração social. Este apoio é sempre prestado em regime de apoio domiciliário, isto é todos os serviços são prestados nas residências, por uma equipa preparada e especializada.
Tem como Princípios subjacentes á intervenção desta resposta social a Qualidade, eficiência, humanização e respeito pela singularidade de cada um, Interdisciplinaridade, Avaliação “holística” integral das necessidades dos residentes, Promoção e Manutenção da funcionalidade e da autonomia, Participação e co-responsabilização do residente ou seu familiar, na elaboração do plano de cuidados.

INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM EM IDOSOS EM RISCO OU VÍTIMAS DE ABUSO E NEGLIGÊNCIA

Flávia Danielli Martins Lima. Email: fdmlima@gmail.com

Objetivo:
Identificar intervenções de enfermagem essenciais na prevenção e detecção do abuso e negligência contra idosos.
Com a finalidade de atingir o objetivo proposto por esta revisão da literatura, formulou-se a seguinte questão de investigação: Em relação aos idosos em risco ou vítimas de abuso e negligência, quais intervenções de enfermagem são essenciais na prevenção e detecção desses maus-tratos?
Metodologia:
Desenvolveu-se de acordo com o método PICO, cuja questão estruturada e adaptada foi: P(population)- Idosos; I(Interventions)- Intervenções de Enfermagem; O (outcomes)- Detecção e prevenção do abuso e negligência.
A pesquisa foi efetuada nas bases de dados MEDLINE e CINAHL através de palavras-chave e sinônimos com base na questão PICO. Os estudos foram selecionados obedecendo critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos.
Os estudos foram selecionados de acordo com os critérios estabelecidos e, após o cruzamento das palavras-chave e obtenção dos registos nas bases de dados e eliminados os duplicados, triaram-se os mesmos por título e abstract, de forma a reduzir o número de artigos potencialmente elegíveis.
Resultados:
Utilizaram-se 8 artigos para análise dos dados. Todos foram realizados em países desenvolvidos e, relativamente aos níveis de evidência dos estudos obteve-se apenas níveis IV e V, impedindo que os resultados analisados e considerados atinjam o nível mais elevado de evidência científica, caracterizado pelos ensaios clínicos aleatorizados- randomized clinical trials (RCT). Os estudos focalizam principalmente na percepção dos enfermeiros relativamente ao abuso contra idosos. As intervenções de enfermagem são citadas como importantes, no entanto são limitadas pela falta de formação destes profissionais, dificultando, assim, a avaliação clínica dos idosos e possíveis intervenções.
Conclusão
As intervenções de enfermagem são citadas como importantes na prevenção e detecção do abuso e negligência dos idosos, no entanto, os estudos mostram que são pouco estruturadas e existe limitação destes profissionais devido à falta de formação na área.

MAIS MOVIMENTO, MAIS SAÚDE: PREVENÇÃO DE COMPORTAMENTOS SEDENTÁRIOS NA POPULAÇÃO IDOSA FRÁGIL – ESTUDO PILOTO

Roxo, S.; Araújo, N.; Nascimento, C. ; Gomes da Silva, M. Email: susanaroxo_570@hotmail.com

Introdução: Os estilos de vida sedentários representam um risco para a população idosa, pelo seu impacto no declínio funcional. Promover a atividade física parece ser uma estratégia efetiva na minimização dos efeitos negativos do sedentarismo, contudo a adesão a programas de exercícios estruturados é reduzida a longo prazo, particularmente neste grupo de pessoas. Objectivo: Prevenir estilos de vida sedentários e aumentar os níveis de atividade física de pessoas idosas frágeis, não institucionalizadas. Métodos: Cinco pessoas com idades compreendidas entre os 70 e os 80 anos participaram neste programa. Foram avaliadas a auto-percepção das barreiras à prática da atividade física, o conhecimento da importância da prática da atividade física, os padrões de atividade física e o conhecimento da família/cuidadores informais sobre a importância da atividade física. O programa teve a duração de 12 semanas e incluiu uma sessão educacional em grupo e outra sessão de acompanhamento individual no domicilio, semanalmente. Resultados: No final do programa, os participantes auto-percepcionavam menos barreiras à prática de atividade física, o seu conhecimento sobre a atividade e seus benefícios aumentou, assim como aumentou a frequência com que praticaram atividade física de intensidade moderada, nas suas rotinas diárias (numa base seminal). Discussão: Os resultados obtidos sugerem que o tempo despendido em atividades sedentárias diminuiu e aumentou o tempo utilizado em atividade física de intensidade moderada. Apesar das 12 semanas terem possibilitado o estabelecimento de uma relação de confiança entre o fisioterapeuta e os participantes, este tempo parece ter sido insuficiente para introduzir mudanças profundas nas rotinas diárias. Este grupo tem uma percepção singular das barreiras ao aumento da intensidade de determinadas atividades nas suas rotinas. Programas futuros devem ter em consideração o impacto sócio-cultural, social, económico assim como as características individuais.
Conclusão: Intervenções para prevenir comportamentos sedentários e promover a atividade física, baseadas nas rotinas das pessoas parecem ser benéficas. Contudo é necessário levar a cabo ouros projetos que permitam uma análise mais aprofundada das implicações e respectivos benefícios de saúde.
Este projeto foi implementado com o apoio do ”Centro Comunitário de São Sebastião – Setúbal.

MONTES ISOLADOS

Autores: Carla Calça. Email: carlamsrc@gmail.com

Objetivos: Caraterização de idosos frágeis e vulneráveis que vivem em montes isolados, no concelho de Estremoz, com dificuldade de acesso aos cuidados de saúde.
Metodologia: A amostra foi constituída por 158 indivíduos com idades superiores ou igual a 65 anos (dos quais 2 têm idades inferiores mas incluídos no estudo por necessidade de cuidados), que residem em lugares isolados no concelho de Estremoz.
A recolha de dados decorreu entre Setembro a Dezembro de 2011, sendo aplicado o Instrumento de Avaliação Integrada (IAI) da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e Documento de Colheita de Dados elaborado pela equipa.
Estabelecidos protocolos entre a UCC Estremoz e diversos parceiros da comunidade, nomeadamente Câmara Municipal de Estremoz, Guarda Nacional Republicana Estremoz, Instituto Segurança Social, IP – Centro Distrital Segurança Social Évora e ONG Médicos do Mundo.
Atividades: Reunião entre os parceiros para definir protocolo e assinar. Recolha dados pessoais, como nome, profissão, documentos identificativos, agregado familiar, existência de cuidador principal, necessidade de cuidados de terceiros, tipo de apoios recebidos, avaliação social, antecedentes pessoais, alergias, medicação atual. Aplicado o Instrumento de Avaliação Integrada. Avaliado sistema tegumentar (pele e mucosas). Verificado estado vacinal através do Boletim de Vacinas. Executados cuidados de enfermagem após diagnóstico das necessidades (promoção e prevenção, encaminhamento, informativos, curativos). Programadas novas visitas domiciliarias quando o idoso é considerado frágil ou vulnerável. Estabelecido o roteiro do UMS semanalmente, de acordo com as zonas geográficas a visitar e com os idosos vulneráveis, programados para nova visita domiciliária. Reunião no final do dia para discutir avaliações e ajustar critérios de continuidade. Apresentado na reunião da Rede Social do Concelho de Estremoz o projeto a todos os parceiros. Divulgado o projeto às restantes Unidades funcionais de Saúde de Estremoz, população e meios comunicação.
Resultados:
Os resultados adquiridos revelam que o grupo etário é representado maioritariamente por indivíduos dos 71 aos 80 anos, 58%.
As queixas de saúde identificadas pela população como sentidas e valorizadas, a principal são a Tensão Arterial Elevada, 33%, seguido do grupo de idosos que referem Sem Problemas de Saúde, 20%, não valoriza qualquer problema de saúde. Quanto ao estado nutricional 76% da população apresenta peso Adequado, relativamente à capacidade física (Autonomia Física) 89% dos indivíduos são totalmente independentes e na escala da funcionalidade (Autonomia Instrumental) 68% mantêm totalmente independentes.
As queixas emocionais (ansiedade, nervoso, triste e deprimido) prevalecem os indivíduos sem queixas, 56% e 53%.
Conclusões:
Podemos concluir que os idosos que vivem em lugares isolados são maioritariamente independentes, continuam com atividade física, não valorizam os problemas de saúde e consideram as alterações que ocorrem como normais do processo de envelhecimento

NÚCLEO DE INTERVENÇÃO AOS IDOSOS E FAMÍLIAS EM RISCO

Patrícia Maria Menezes Pinto. Email: patriciapinto123@hotmail.com

O envelhecimento da população é um proeminente fenómeno mundial. A intensidade do crescimento da população “mais idosa”, considerada de 80 anos e mais, tem-se elevado progressivamente e o aumento da expectativa de vida pode elevar a incidência de enfermidades crónicas não transmissíveis e incapacitantes no idoso, com possíveis alterações na dependência física, cognitiva e emocional, que podem comprometer sua autonomia, o que gera maior demanda de cuidados permanentes por parte do grupo familiar cuidador.
A globalização e industrialização levaram nos paises mais desenvolvidos a transformação da familia tradicional (horizontal) noutros tipos novos de familia (com redução dos seus membros-vertical), o que diminui os cuidados informais e demanda a necessidade de cuidadores informais.
Esta limitação das familias verticais leva a que haja um aumento de pressões no sistema nacional de saúde para aprovisionamento de cuidadores formais de cuidado a longo termo ou suporte suplemantar ou treino para cuidadores informais em famílias verticais (WHO).
No ambiente familiar, a função de cuidador tende a ser assumida por uma única pessoa, denominada “cuidador principal”, que assume a responsabilidade pelo cuidado, sem contar, na maioria das vezes, com a ajuda de outro membro da família ou de profissionais capacitados. O cuidador informal expõe-se a uma série de situações stressantes, como o peso das tarefas e as doenças advindas das exigências do trabalho e das características do idoso. Além disso, faltam-lhe informações, além de apoio físico, psicológico e financeiro para enfrentar o quotidiano do cuidar ( Rodrigues e outros, 2012). No exercício de papéis, a mudança é angustiante, em virtude do envolvimento afetivo entre o idoso e a família, a diminuição do tempo de relacionamento com amigos e com a vizinhança, a solidão, a sobrecarga do processo de cuidar e a frustração por não conseguir colocar em prática seus próprios projetos de vida fazem parte das perturbações que, em determinado momento, podem causar stresse no cuidador. Avaliar e identificar a sobrecarga do cuidador é um aspecto importante para o cuidado com o idoso, porquanto, o excesso de sobrecarga pode comprometer a qualidade do cuidado e interferir nas relações familiares, nomeadamente podendo levar a situações de violência contra o idoso. A violência contra o idoso pode ser classificada em violência física, sexual, psicológica, economica, institucional, abandono/negligência e autonegligência. A violência intrafamiliar é caracterizada pela ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física e psicológica, ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um integrante do núcleo familiar. Observa-se um aumento do número de idosos que vivenciam o processo de doença crónica e incapacitante, o que os torna mais vulneráveis a situação de maus-tratos.
Entretanto, muitas formas de violência não chegam oficialmente ao conhecimento institucional, o que configura a subnotificação e, consequentemente, prejudica a fidedignidade das informações a respeito dessa realidade. A escassez de informação quanto aos agredidos e agressores é uma situação delicada, principalmente porque os idosos, de modo geral, não denunciam abusos e agressões sofridas, em função do constrangimento e do medo de repressão por parte dos seus cuidadores, que são frequentemente os próprios agressores. Explicitar a violência intrafamiliar contra o idoso dentro ou fora do ambiente domiciliar suscita da atenção básica de saúde uma organização que permita identificar e propor ações que abarquem a resolução dessa problemática.

O IDOSO INSTITUCIONALIZADO NA COMUNIDADE

Zaida Azeredo. Email: zaida.azeredo@gmail.com

Com o envelhecimento da população e a diminuição do número de elementos por agregado, bem como o aumento das doenças cronico-degenerativas , nomeadamente das demências , as instituições na comunidade , como por exemplo lares, tornam-se indispensáveis á prestação de cuidados a idosos e grande idosos.
Reflectir sobre o idoso institucionalizado e oo ambiente social que o rodeia.
Um idoso institucionalizado vê, muitas vezes, o seu mundo restringido aos elementos da instituição, aos outros utentes e à rede social que mantém girando todas as suas emoções neste ambiente.
As autoras fazem uma reflexão sobre esta relação.

O PASSAR DOS ANOS NA PRISÃO: A RECLUSÃO VISTA POR MULHERES IDOSAS

Adriana Silva. Helena Machado. Email: rosa.adriana.dias.silva@gmail.com

Resumo: Portugal atravessa nos tempos de hoje um processo de envelhecimento da população. Os Censos realizados em 2011 vieram evidenciar essa mesma realidade, uma vez que 2 milhões dos portugueses contam com mais de 65 anos, representando já cerca de 19% do total da população. A população prisional não é imune a este fenómeno: nas últimas duas décadas, a literatura internacional no domínio dos estudos prisionais, mas também em áreas como a saúde pública e a administração da justiça, tem vindo a evidenciar questões específicas relacionadas com o progressivo aumento do encarceramento de reclusos mais velhos. Em Portugal, nos últimos tempos, algumas notícias veiculadas na Imprensa têm conferir alguma visibilidade a esta realidade. Contudo, são ainda escassos os estudos científicos sobre esta matéria e inexistentes as políticas institucionais direcionadas para as necessidades e características específicas deste grupo social.
Esta comunicação enquadra-se numa investigação realizada no âmbito do Doutoramento em Sociologia, da Universidade do Minho, que tem como principal finalidade perceber os impactos do envelhecimento durante o cumprimento de penas privativas de liberdade, a partir das narrativas construídas em contexto de entrevista, por mulheres com mais de 50 anos de idade.
Partindo de um conjunto de entrevistas realizadas com mulheres no Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo, nesta comunicação almeja-se compreender de que forma a idade pode condicionar a forma como vivem o tempo de reclusão assim como as suas expectativas futuras de reinserção na sociedade. Os resultados mostram-nos que o cumprimento da pena é encarado como um tempo perdido e irrecuperável. De igual forma, a idade condiciona a maneira como as reclusas veem o seu futuro, sendo este minado pelo medo de morrer na prisão e pelas incertezas projetadas para a vida no exterior.

QUALIDADE DE VIDA APÓS ARTROPLASTIAS EM DOENTE SÉNIOR

Carlos José Martinez Evangelista. Email: ce.cortopedica@gmail.com

Sumário Executivo: A qualidade de vida não deves estar dependente da idade, esta, por si só não deve ser limitante ou impeditiva.

O autor com a realização de artroplastia, anca ou joelho,permitiu a liberdade, independência, e a reintrudução social de pessoas que até aqui estavam condenadas pela sociedade, pelas suas artrose e pela sua limitação funcional.

Hoje são membros efectivos da família,e da sociedade, pela simples razão que alguém se preocupou com o seu bem estar.

QUALIDADE DE VIDA E UTILIZAÇÃO DA INTERNET PELA POPULAÇÃO IDOSA

Mafalda da Silva Oliveira & Jean Martin Rabot. Email: mafaldasilvoliveira@gmail.com

Resumo: O aumento exponencial do envelhecimento demográfico, em Portugal, é bem real. Este facto social tem evidenciado diversas consequências do processo de envelhecimento: desde casos de exclusão social, isolamento social até casos de estados depressivos e consequentemente de qualidade de vida em decréscimo. No entanto, temos assistido a algumas mudanças no estilo de vida dos idosos, bastante voltado para uma vida equilibrada e saudável. Uma aposta para este efeito é o recurso às novas tecnologias, particularmente à Internet, que permite que os idosos mantenham um elevado grau de independência e dignidade, para além de poderem manter contacto com amigos e familiares mais distantes.
Assim sendo, no âmbito do nosso doutoramento em Ciências da Comunicação, encontramo-nos a desenvolver uma investigação que pretende averiguar se a Internet pode ser um meio que beneficie o processo de envelhecimento, ao melhorar a qualidade de vida do idoso durante este mesmo processo.
Para tentar alcançar este mesmo objetivo, teremos duas grandes fases no que concerne à componente empírica: numa primeira fase, será aplicado um inquérito por questionário online, de caracter exploratório e descritivo, em que se tentará identificar características dos seniornautas, através dos seus usos e gratificações, bem como da sua qualidade de vida; e numa segunda fase, para perceber se a qualidade vida é afetada pelo uso da Internet ou não, irão ser inquiridos não utilizadores da Internet sobre a sua qualidade de vida, para assim se obter um estudo de carácter comparativo. Porque o nosso estudo se caracteriza por ser um estudo com uma metodologia mista, quantitativo e qualitativo, irão também ser realizadas entrevistas semi-estruturadas a idosos utilizadores da Internet, de forma a aprofundar algumas questões abordadas no inquérito por questionário.
No final da investigação, e como ainda está numa fase de aplicação dos instrumentos de recolha de dados, não tendo ainda resultados concretos, é expectável vir a mostrar a importância da utilização da Internet na melhoria da qualidade da população idosa, nomeadamente no que diz respeito ao incremento de relações sociais e à consequente diminuição do isolamento social; à luta contra a exclusão social; à adoção de uma vida mais saudável e ativa, com a aquisição e à atualização constante de conhecimentos, evitando uma vida rotineira. Para além destes mesmos resultados, será ainda expectável obter dados que possam levar a assumir que o número de “seniornautas” em Portugal se encontra em plena expansão. Por fim, é nosso intuito que os resultados desta investigação sejam benéficos para a implementação de boas práticas de qualidade de vida para a população idosa, e como tal, optaremos por apresentar, de forma dinâmica, os resultados da mesma em várias situações, tanto em lares de terceira idade, colóquios e workshops relacionados com a temática em estudo, bem como em Universidades de Terceira Idade.

REATIVA: UM PROJETO DE PROMOÇÃO DE UM ENVELHECIMENTO ATIVO

Helena Loureiro. Aida Mendes. Ana Fernandes. Ana Camarneiro. António Fonseca. Manuel Teixeira Veríssimo. Maria Madalena Carvalho. Margarida Silva. Rogério Rodrigues. Ana Pedreiro. Email: hloureiro@esenfc.pt

Introdução
O crescente envelhecimento populacional coloca um dos maiores desafios de sempre às sociedades contemporâneas: proporcionar aos cidadãos a oportunidade de vivência de um envelhecimento ativo (WHO, 2002). Este desafio é influenciado por diversos determinantes, bem como pela vivência de diferentes acontecimentos transicionais que ocorrem na meia-idade. A aposentação constitui um desses acontecimentos que, constituindo-se como um processo contínuo de adaptação à mudança (Fonseca, 2011), expõe os indivíduos e famílias a um particular estado de vulnerabilidade (Loureiro, Fonseca e Veríssimo; 2012). Na inexistência de um programa de intervenção especificamente construído para a minimização deste efeito, urge a sua construção num dos contextos de cuidados de saúde onde a sua implementação poderá ser maximizada: o contexto dos Cuidados de Saúde Primários.
Objetivos
O projeto ‘REATIVA’ tem como objetivo: a construção de um programa de intervenção em saúde, a ser implementado em contexto de cuidados de saúde primários, que vise preservar o mais elevado nível de saúde biopsicossocial em indivíduos e famílias que se encontram numa fase do ciclo vital da meia-idade e que vivenciam um processo de adaptação à reforma, com vista a promover um envelhecimento ativo.
Metodologia
O projeto terá a duração de 2 anos.
O primeiro ano envolverá quatro momentos complementares que visam aceder a um amplo conhecimento do fenómeno em estudo, por forma a construir um protótipo de um programa, promotor de um envelhecimento saudável, a ser aplicado em indivíduos e famílias de meia-idade: 1º) Realização de Focus Group, constituídos por indivíduos reformados há menos de 5 anos; 2º) Realização de Entrevistas semiestruturadas a indivíduos que percecionaram dificuldades na adaptação à reforma e aos seus cônjuges; 3º) Execução de um Painel de Peritos para discussão dos resultados (obtidos nos momentos anteriores); 4º) Elaboração do protótipo do programa.
O segundo ano corresponderá à implementação do programa, efetuada em três momentos: 1º) Ensaio do protótipo, 2º) Aferição da estrutura em grupo teste; 3º) Medição da eficiência do programa (GC1xGC2xGE).
Conclusões
Este projeto destaca-se pelo seu carácter inovador no contexto dos Cuidados de Saúde Primários, não apenas pela multidisciplinariedade da equipa que o integra (e.g. Medicina, Enfermagem, Psicologia, Sociologia) mas também por ter como objetivo central a construção de um programa de intervenção em saúde comunitária, assente numa filosofia de promoção da sistémica familiar, que até ao momento é inexistente. Preconiza-se que este programa venha a ser responsável por um incremento da qualidade de envelhecimento nas comunidades, onde venha a ser implementado.

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE VIDA

Paula Cristina C. Marques de Azevedo; Claudia Ribeiro da Cunha. Email: paulacazevedo@gmail.com

Objetivo: Perceber se as abordagens narrativas têm um impacto positivo na qualidade de vida do sénior, nomeadamente no que diz respeito à estimulação cognitiva, autoestima, autoconhecimento, identidade (identidade para si, identidade para os outros), valores próprios e compreensão multifacetada sobre si próprio, bem como da sua relação com os diferentes contextos em que se insere.
Metodologia: Abordagens narrativas (centram a atenção na pessoa, na sua experiência e percurso de vida e, desta forma, esta toma consciência dos seus próprios projetos) com grupo experimental a decorrer na Universidade Sénior Contemporânea do Porto.
Resultados esperados:
– promover uma vida ativa e saudável na idade maior;
– potenciar o aumento da qualidade de vida na idade maior;
– potenciar a transmissão de conhecimentos em diferentes áreas do saber para as gerações mais novas e o aumento do seu sentido de responsabilização (intergeracionalidade);
– valorizar e fortalecer histórias de vida, laços, relações e referências que se vão constituindo como pilares essenciais no âmbito cultural;
– ao recordar a história de vida, o sénior estará a estimular, ativamente, a sua memória e as suas emoções e fica com um trabalho escrito que também pode partilhar e/ou oferecer a familiares e amigos;
Conclusão:
Uma vez que o trabalho no âmbito das histórias de vida ainda está a decorrer, não podemos avançar já com as conclusões.
No entanto, pelo tempo já decorrido, podemos adiantar que tem um impacto significativo na autoestima e autoconhecimento.

A PESSOA IDOSA HOSPITALIZADA: QUAL O CONHECIMENTO E ATITUDES DOS/AS ENFERMEIROS/AS PORTUGUESES?

João Tavares. Email: enf.joaotavares@hotmail.com

Introdução: Em Portugal as últimas décadas têm sido marcadas por um rápido envelhecimento demográfico. Este fenómeno implica uma maior procura de cuidados de saúde para satisfazer as necessidades das pessoas idosas (PI). As projecções demográficas prevêem um aumento significativo de PI que irão necessitar de internamento hospitalar. No entanto, a formação dos/as enfermeiros/as sobre o cuidado geriátrico tem-se mostrado insuficiente. Esta lacuna formativa tem um impacto considerável no conhecimento e atitudes destes profissionais, afetando a qualidade do cuidado às PI hospitalizadas.
Objectivos: Objectivou-se: i) explorar o conhecimento e as atitudes dos/as enfermeiros/as em relação a quatro síndromes geriátricas (úlceras de pressão, incontinência urinária, uso de contenções e distúrbios do sono) em hospitais portugueses, e ii) avaliar a influência das características sócio-demográficas, profissionais e dos hospitais no conhecimento e nas atitudes geriátricas dos/as enfermeiros/as.
Metodologia: Estudo de abordagem quantitativa, do tipo exploratória-descritiva, transversal, prospectivo e correlacional. A amostra foi constituída por 1068 enfermeiros/as de cinco hospitais (da região norte e centro do país). Na análise dos dados utilizou-se a ANOVA unilateral e o teste de Tukey HSD (nas comparações múltiplas). O nível de significância considerado foi de 5%.
Resultados: A média em relação ao conhecimento e às atitudes foi de 0,41 ± 0,15 e 0,40 ± 0,21, respectivamente (variando de 0 a 1). Considerando as síndromes geriáticas em estudo, os/as enfermeiros/as demonstraram conhecimento insuficiente e atitudes negativas em relação ao cuidado às PI hospitalizas. Os/as enfermeiros/as a trabalhar em hospitais universitários demonstraram um nível de conhecimento significativamente superior relativamente aos colegas dos centros hospitalares. Encontraram-se diferenças estatisticamente significativas entre as atitudes dos/as enfermeiros/as e o tipo de hospital e unidade, região do país, suporte formativo dos hospitais, auto-avaliação do conhecimento e percepção da sobrecarga no cuidado às pessoas idosas hospitalizadas. As atitudes mais positivas foram reportadas por enfermeiros/as: dos centros hospitalares, nos serviços de medicina e cirurgia, da região norte do país, em instituições que suportem a sua formação, que auto-avaliam o seu conhecimento como elevado e com menor percepção de sobrecarga no cuidado às PI hospitalizadas.
Conclusão: Os resultados deste estudo reforçam a necessidade de promover, aumentar e melhorar o conhecimento e as atitudes dos/as enfermeiros/as no cuidado às PI hospitalizadas e a implementação de guidelines baseadas nos dados na sua prática profissional.

Sexualidade na Terceira idade: Estudo de caso. O uso do biograma.

Ana Catarina dos Santos Gabadinho. Email: ana.catarinagabadinho@gmail.com

Resumo: Esta comunicação tem como principal objetivo partilhar um conjunto de reflexões sobre o envelhecimento e a temática da sexualidade, atribuindo especial enfoque à Terceira idade e, a partir daí, contribuir para alterar a visão de que a vida sexual ativa é uma prerrogativa dos jovens. Quem se encontra nesta fase da vida, Terceira idade, precisa viver a sua vida e a sua sexualidade livremente e com dignidade. Reconhecendo a necessidade de melhor conhecer e esclarecer as questões da sexualidade na Terceira idade desenvolveu-se o estudo aprofundado de dois casos, a Maria e o Manuel com 71 e 72 anos respetivamente. Neste âmbito tenta-se dar resposta às seguintes questões: (i) Como é que a Maria e o Manuel percecionam a sua sexualidade? (ii) Como a vivenciam? (iii) Quais os fatores que interferem na vivência da sua sexualidade?. Para aceder à informação recorreu-se a diversos instrumentos, tais como: entrevistas exploratórias, conversas informais e diário de campo. Relativamente à apresentação dos resultados e análise dos mesmos procedeu-se a uma análise de conteúdo das entrevistas, tendo em conta as 5 dimensões da sexualidade, biológica, psicológica, sensual, erótica e cultural, à elaboração de quadros cronológicos de eventos e respetivos biogramas, individuais e outro em que se apresentam uma simultaneidade de eventos entre os biogramas dos dois casos, e narrativas biográficas. Particularmente, neste estudo de investigação destacam-se os biogramas (Tinoco & Pinto, 2001; Sá & Almeida, 2004), por constituírem uma representação visual dos diversos eventos ocorridos ao longo da vida da Maria e do Manuel, e por se apresentarem como instrumentos de excelência para mapear as suas trajetórias de vida. Um dos eventos comum a ambos os casos corresponde à intimidade entre ambos. Independentemente dos dois possuírem condicionantes físicos e biológicos, fibromialgia, no caso da Maria, e disfunção erétil, no caso do Manuel, que lhes impedem de usufruírem de uma relação sexual, ambos reconstruiram a sua sexualidade. O facto de recorrem à masturbação mútua como forma de colmatar a ausência de relação coital é um sinal revelador não só de à-vontade um para com o outro, mas também de não quererem comprometer a realização e necessidade fisiológica de cada um. A Maria e o Manuel trazem até nós a visão que é possível repensar e redescobrir a sexualidade na “idade madura”, mesmo quando existem limitações como as decorrentes do aparecimento da fibromialgia e da disfunção erétil.

SOFRIMENTO NA DOENÇA CRÓNICA – REVISÃO DA LITERATURA

Susana Batista; Rosa Martins. Email: supais@hotmail.com

Introdução: De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, estima-se que até ao ano de 2050, o número de idosos irá quadruplicar, tal como a necessidade de prestação de cuidados a longo prazo. Podemos prever assim uma maior afluência de população idosa aos hospitais portugueses portadores de doença crónica, o que nos traz novos desafios. No contexto de doença crónica, parece-nos consensual afirmar que o sofrimento é uma realidade vivida e compete ao enfermeiro facilitar a adaptação do doente e família à nova condição. Que formas de sofrimento são experienciadas pelas pessoas portadoras de patologia crónica?
Objetivo: Conhecer os resultados dos estudos que foram produzidos nos últimos 5 anos sobre a temática do sofrimento e a ajuda prestada pelos Enfermeiros.
Material e métodos: Para a concretização do nosso objetivo efetuámos uma revisão da literatura em bases dados referenciais. Os artigos foram analisados tendo em conta os objetivos, participantes, momentos de recolha de dados, instrumentos utilizados, resultados obtidos considerando as variáveis que possam integrar a vivência do sofrimento na doença crónica.
Resultados: Observou-se no que se reporta ao sofrimento na doença crónica, uma produção limitada, tendo sido analisados 11 artigos de periódicos e dissertações de mestrado em língua portuguesa 5 artigos de periódicos internacionais em língua inglesa. As metodologias utilizadas são do tipo qualitativo e quantitativo.
Conclusão: Os resultados dos estudos incluídos abordam a temática do sofrimento em várias perspetivas: sofrimento físico relacionado com a dimensão biológica da doença; sofrimento psicológico que se confronta com as possibilidades de cura; sofrimento sócio relacional manifestado essencialmente pela ausência de apoio familiar/social, problemas económicos e solidão; sofrimento existencial com a procura de sentido de vida, espiritualidade e prática religiosa; experiências positivas de sofrimento; estratégias de adaptação e expectativas futuras. Mostram ainda que a ajuda dos Enfermeiros é fundamental uma vez que a doença crónica implica mudança de estilo de vida que pode conduzir a uma luta interior silenciosa. É necessário que a intervenção de enfermagem vá ao encontro das necessidades espirituais de modo a facilitar a procura de equilíbrio e significado de experiências de vida, no entanto é identificada falta de investimento nesta área. É também salientada a necessidade de cuidar com compaixão e de integrar os cuidados paliativos no cuidado ao idoso com doença crónica com vista na melhoria da sua qualidade de vida. Em conclusão, torna-se fundamental para a prática de enfermagem a compreensão desta problemática uma vez que pode permitir potenciar ganhos em saúde, garantindo à pessoa com doença crónica um processo de transição saudável.

SOFRIMENTO NA DOENÇA CRÓNICA – REVISÃO DA LITERATURA

Susana Batista; Rosa Martins. Email: supais@hotmail.com

Introdução: De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, estima-se que até ao ano de 2050, o número de idosos irá quadruplicar, tal como a necessidade de prestação de cuidados a longo prazo. Podemos prever assim uma maior afluência de população idosa aos hospitais portugueses portadores de doença crónica, o que nos traz novos desafios. No contexto de doença crónica, parece-nos consensual afirmar que o sofrimento é uma realidade vivida e compete ao enfermeiro facilitar a adaptação do doente e família à nova condição. Que formas de sofrimento são experienciadas pelas pessoas portadoras de patologia crónica?
Objetivo: Conhecer os resultados dos estudos que foram produzidos nos últimos 5 anos sobre a temática do sofrimento e a ajuda prestada pelos Enfermeiros.
Material e métodos: Para a concretização do nosso objetivo efetuámos uma revisão da literatura em bases dados referenciais. Os artigos foram analisados tendo em conta os objetivos, participantes, momentos de recolha de dados, instrumentos utilizados, resultados obtidos considerando as variáveis que possam integrar a vivência do sofrimento na doença crónica.
Resultados: Observou-se no que se reporta ao sofrimento na doença crónica, uma produção limitada, tendo sido analisados 11 artigos de periódicos e dissertações de mestrado em língua portuguesa 5 artigos de periódicos internacionais em língua inglesa. As metodologias utilizadas são do tipo qualitativo e quantitativo.
Conclusão: Os resultados dos estudos incluídos abordam a temática do sofrimento em várias perspetivas: sofrimento físico relacionado com a dimensão biológica da doença; sofrimento psicológico que se confronta com as possibilidades de cura; sofrimento sócio relacional manifestado essencialmente pela ausência de apoio familiar/social, problemas económicos e solidão; sofrimento existencial com a procura de sentido de vida, espiritualidade e prática religiosa; experiências positivas de sofrimento; estratégias de adaptação e expectativas futuras. Mostram ainda que a ajuda dos Enfermeiros é fundamental uma vez que a doença crónica implica mudança de estilo de vida que pode conduzir a uma luta interior silenciosa. É necessário que a intervenção de enfermagem vá ao encontro das necessidades espirituais de modo a facilitar a procura de equilíbrio e significado de experiências de vida, no entanto é identificada falta de investimento nesta área. É também salientada a necessidade de cuidar com compaixão e de integrar os cuidados paliativos no cuidado ao idoso com doença crónica com vista na melhoria da sua qualidade de vida. Em conclusão, torna-se fundamental para a prática de enfermagem a compreensão desta problemática uma vez que pode permitir potenciar ganhos em saúde, garantindo à pessoa com doença crónica um processo de transição saudável.

UMA VIDA, MUITAS VOLTAS, MUITAS HISTÓRIAS: OS SABERES DA PESSOA IDOSA NA PROMOÇÃO DO SEU BEM ESTAR E DA LITERACIA CIENTÍFICA DAS CRIANÇAS

Dolores Estrela Alveirinho, Helena Margarida Tomás, Margarida Afonso, Paula Esteves e Raquel Correia. Email: helenatomas@ipcb.pt

OBJETIVO: Defendendo-se a ideia de que “Nunca é tarde para aprender, nunca é tarde para ensinar” pretende-se com esta comunicação dar a conhecer e analisar o impacto de uma prática educativa desenvolvida a partir dos saberes de pessoas idosas no âmbito das atividades do Ciência, Tradição e Cultura – Centro de Recursos de Ideias e Materiais da Escola Superior de Educação de Castelo Branco (CT&C do IPCB/ESE).
METODOLOGIA: Predominantemente qualitativa, decorreu em duas fases: 1ª) Recolha de histórias de vida de pessoas idosas, por um estudante do curso de Serviço Social; 2ª) Planificação de ateliês com base na informação recolhida sobre tradições e sua implementação com crianças, por estudantes do curso de Educação Básica, para exploração científica dessas tradições.
Foram selecionadas 6 pessoas idosas do género feminino, institucionalizadas e provenientes do meio rural, cujas histórias de vida, recolhidas ao longo de 3 entrevistas, revelaram aspetos profissionais ligados a tradições que foram objeto de análise de conteúdo. A avaliação dos ateliês implementados foi realizada através de dados recolhidos da análise de conteúdo de desenhos e de grelhas de observação das crianças e das reflexões dos estudantes.
Participaram cerca de 120 crianças do pré-escolar e do 1º CEB, 1 futuro assistente social e 12 futuros educadores de infância/professores.
RESULTADOS: O trabalho de reminiscência permitiu às pessoas idosas reativar episódios do passado pessoal, relembrando conhecimentos e vivências ligados às tradições, e contribuiu para as ajudar a manter a sua própria identidade e aumentar a sua autoestima. Quanto às crianças, à futura assistente social e aos futuros educadores de infância/professores o ganho foi também muito positivo. Ficaram a conhecer mais e melhor sobre saberes ancestrais, os quais contribuem de forma muito determinante para a preservação e valorização da sua identidade cultural. Ao CT&C coube o papel de “movimentar a engrenagem” entre os saberes dos seniores, as práticas dos estudantes e o fazer ciência com crianças.
CONCLUSÃO: A prática, desenvolvida a partir do reconhecimento do importante papel educativo que as narrativas de pessoas idosas têm, permitiu a aproximação de gerações e o estabelecimento de um diálogo entre os saberes das pessoas idosas e os da escola, contribuindo para promover o bem-estar das pessoas idosas, a literacia científica das crianças e o desenvolvimento de boas práticas dos futuros profissionais, numa lógica de efetiva complementaridade.

UNIDADE ORTOPEDIA GERIÁTRICA

Carlos José Martinez evangelista. Email: ce.cortopedica@gmail.com

Sumário Executivo: O autor apresenta o seu trabalho nos últimos 4 anos relativo à 1 unidade de ortopedia geriatrica em Portugal no Hospital de Santana, onde se privilegia a qualidade de bem servir quem de nós precisa, falamos dos doentes de grande idade, seniores, que com um projecto multidisciplinar, lhes permite reintegrar a sociedade depois de um acidente , queda , do qual resultou uma fractura , e que a decisão terapêutica foi e é fundamental para a sua reinserção social. Plena de valores , plena de funcionalidade e de apoio ao grupo familiar. Assim uma fractura do colo fémur não implica , degradação, letargia,internamento num lar. Uma fractura pode ser o continuar de vida com mais querer, com mais bem estar. Tudo depende da decisão e da equipa ,que vocacionada para o efeito, presta cuidados muitidisciplinares e de primeira linha.
O projecto sendo inédito, merecia divulgação e alargamento a todas as unidades hospitalares.

O TOQUE

Maria Aucineia Ferreira. Email: mariaaucineia@gmail.com

Quero em primeiro lugar agradecer esta oportunidade para transmitir as minhas ideias e experiências de vida com os mais idosos.
Iniciei minha carreira profissional através da licenciatura em Educação Física e, posteriormente, a especialização em Gerontologia-Clínica, Saúde Mental, Aperfeiçoamento em Atividade Física para Pessoas Especiais e atualmente Cuidados Paliativos.
Ao longo deste percurso, a partir do meu trabalho de voluntariado e estágio com pessoas na faixa etária acima dos 75 anos, aprimorei meus conhecimentos e enriqueci minha condição humana, pois aprendi muito com os idosos.
Percebi nessas pessoas – que na sua maioria vivem sozinhas – que carregam consigo uma vida cheia de histórias, cheia de silêncio, onde o passado não é notado e a sua imagem é ignorada… Acabam por se tornar frios por querer ser ouvidos e não ter com quem falar…
Existe na sociedade um sentimento de incapacidade de resposta e simplesmente um não saber “estar” com eles, fazer-se presente por alguns instantes, por alguns momentos preciosos.
A minha resposta a este dilema é simples: AMAR! Simplesmente amar…
Ao longo dos anos estudei o Envelhecimento desde o nascer até o processo da Retrogénese, mas na maioria das vezes esta intervenção destinava-se a população da 3ª idade, esquecendo-se dos mais necessitados, aqueles que valentemente passaram dos 75, 80 anos.
A partir daí passei a dedicar o meu trabalho e coração a estas pessoas e espero poder passar um bom exemplo para que os mais jovens e adultos, nas suas diferentes áreas profissionais ou de interesse possam também contribuir com o que sabem, porque para fazer um idoso feliz, não é preciso palavras; basta um pequeno “TOQUE” que o fará sentir o calor do seu amor através da sua pele.
Certa vez, numa instituição na região de Oeiras, havia um idoso cadeirante que já não falava e não tinha mais vontade de viver. Estava constantemente de cabeça inclinada a pensar… em “nada”? Fui ao encontro dele e toquei o seu rosto com o dorso das minhas mãos. Ele levantou a cabeça muito lentamente, olhou para mim e sorriu com os olhos cheios de lágrimas…
O que importa é a nossa persistência em buscar dia melhor para aquele que esta distante. Aprendendo com a dor e com as lágrimas, aprendemos a felicidade, pois são elas que fortalecem nosso espírito e nos mostram o quanto sorrir e viver em paz é importante.
No fundo, toda a sociedade pode ajudar mais os idosos, com um simples “TOQUE”, é capaz de transmitir carinho, dedicação e amor pelo outro.

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL E DOENÇA ISQUÉMICA CARDÍACA NO CONTEXTO DO ENVELHECIMENTO
Matilde Rosa; Paulo Nogueira; Andreia Costa matilderosa@dgs.pt; paulo.nogueira@dgs.pt; andreiasilva@dgs.pt

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS NO CONTEXTO DO ENVELHECIMENTO
Matilde Rosa; Andreia Costa; Cristina Bárbara; Elisabete Gomes; Paulo Nogueira. matilderosa@dgs.pt; paulo.nogueira@dgs.pt; andreiasilva@dgs.pt

TERAPIA VIRTUAL PARA TRATAMENTO DE NOMEAÇÃO DE PALAVRAS
Alberto Abad; AnnaPompili; Pedro Fialho; Isabel Trancoso. alberto.abad@l2f.inesc-id.pt

QUALIDADE DE VIDA E (IN)CAPACIDADE FUNCIONAL DE ADULTOS IDOSOS PORTUGUESES
Catarina Isabel Mendes Portela cimportela@gmail.com

ESTADO NUTRICIONAL E AVALIAÇÃO GERIÁTRICA GLOBAL INTEGRADA

Marisa Cebola; Amália Botelho marisa.cebola@estesl.ipl.pt

A (IN)CAPACIDADE DOS IDOSOS PARA GERIR A SUA MEDICAÇÃO
Ana Margarida Advinha; Manuel José Lopes; Sofia de Oliveira Martins ana.advinha@gmail.com

Terapia Virtual para Tratamento de Nomeação de Palavras

Alberto Abad, Anna Pompili, Pedro Fialho e Isabel Trancoso L2F – Laboratório de sistemas de Língua Falada, INESC-ID Lisboa Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
José Fonseca, Gabriela Leal, Luisa Farrajota e Isabel Pavão Martins Laboratório de Estudos de Linguagem, Fac. de Medicina da Univ. Lisboa

A afasia é uma perturbação de linguagem resultante de uma lesão cerebral que compromete vários aspectos da comunicação, nomeadamente a expressão oral, a compreensão de linguagem, a leitura e a escrita. Uma das causas mais frequentes são os Acidentes Vasculares Cerebrais que atingem predominantemente idosos com mais de 65 anos, sendo que apenas um terço dos episódios ocorre antes dos 55 anos. De facto, o número de pessoas que sofrem acidentes vasculares cerebrais aumentou nas últimas décadas, estimando que em cada ano existam na EU 500.000 novos casos e 100.000 recorrências, das quais um terço apresentam alterações de linguagem. Um sintoma comum aos vários tipos de afasia é a dificuldade dos pacientes em se recordarem do nome dos objectos ou acções, apesar de saberem o que são e para que servem. Normalmente, a recuperação pode ser feita através de terapia da fala, fazendo exercícios de nomeação. No entanto, a frequência e a intensidade da terapia são factores chave na recuperação das funcionalidades de comunicação. O desenvolvimento de métodos automáticos de terapia surge assim como resposta a este problema, no qual as tecnologias da língua podem desempenhar um papel fundamental.
A VITHEA é uma plataforma on-line projectada para agir como um “terapeuta virtual” para o tratamento de pacientes afásicos. Concretamente, o sistema integra a tecnologia de reconhecimento automático de fala para proporcionar exercícios de nomeação para pacientes cuja capacidade de nomeação se perdeu ou ficou bastante reduzida. A solução adoptada é baseada numa abordagem que detecta a palavra-chave, de modo a validar a correcção do que foi dito pelo paciente. O programa fornece um feedback tanto escrito como oral, através de mensagens de voz produzidas por um agente animado usando um sintetizador de fala. A aplicação permite a fácil adição de novos exercícios de terapia, e fornece ferramentas para os terapeutas monitorizarem remotamente a recuperação dos pacientes. Esta flexibilidade permite a adaptação dos exercícios a vários perfis de pacientes, de forma a aumentar a sua motivação.
A plataforma VITHEA é o resultado do esforço conjunto do Laboratório de sistemas de Língua Falada do INESC-ID (L2F) e do Laboratório de Estudos de Linguagem da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (LEL), no contexto das actividades de um projecto financiado pela FCT, concluído no início de 2013. A expansão para plataformas móveis (Android) e para adaptar a outras doenças que afectam os idosos é um dos objectivos desta equipa multidisciplinar em futuros projectos. Mais informações estão disponíveis em http://www.vithea.org.

Qualidade de Vida e (In)Capacidade Funcional de Adultos Idosos Portugueses

Catarina Isabel Mendes Portela
Resumo: O presente estudo teve como principal objectivo a determinação das relações existentes entre a qualidade de vida (QdV) e a (in)capacidade funcional, numa amostra de adultos idosos portugueses (N = 51). Adicionalmente, pretendeu-se analisar o impacto de outras variáveis na QdV e na funcionalidade dos sujeitos idosos, tais como a situação de vida, o funcionamento cognitivo, a sintomatologia depressiva, a percepção subjectiva de saúde e a idade. Os resultados desta investigação confirmaram a relação entre QdV e funcionalidade, sendo estatisticamente significativa a relação entre a faceta Participação Social do WHOQOL-OLD e o resultado global do IAFAI; assim como na faceta Autonomia, a qual manifestou alguma relação com a capacidade funcional, apesar de não ser significativa. Deste modo, concluímos que uma capacidade funcional comprometida manifesta-se negativamente na QdV, através do impacto na capacidade dos sujeitos para participarem em actividades de vida diária (AVD), especialmente na comunidade (Participação Social) e, também, de viverem de forma autónoma e tomarem decisões (Autonomia). Ainda, o presente estudo permitiu constatar que: a situação de vida permite diferenciar os sujeitos, em termos de QdV e de capacidade funcional (com os sujeitos institucionalizados a apresentar menor qualidade de vida e maior comprometimento da funcionalidade, comparativamente aos da comunidade); a presença de sintomatologia depressiva, um funcionamento cognitivo empobrecido e a percepção subjectiva de saúde (dimensão Doente), estão associados a uma capacidade funcional comprometida; por fim, não se observou um maior comprometimento funcional significativo associado ao avançar da idade, ao contrário do que é observado na literatura.
Palavras – chave: Qualidade de vida, adultos idosos, (in)capacidade funcional.

Abstract: The main aim of this study was to determine the relation between quality of life (QoL) and functional (in)capacity in a sample of old adults (N = 51). Additionally, it was intended to define the impact of other variables in QoL and functionality of old adults, such as situation of life, cognitive functioning, depressive symptomatology, subjective perception of health and age. The results of this investigation confirm the relation between QoL and functionality, namely, with a statistically significative correlation between the WHOQOL-OLD’s Social Participation facet and the global result in IAFAI, with a statistically significant correlation; as well as on the facet Autonomy, which manifested some relation with functional capacity, even though it was not significant. Thus, we deduce that an impaired functional capacity manifests in a negative way in QoL, through the impact on the subjects’ capacity to participate in activities of daily living (ADL), especially in community (Social Participation) as well as through their capacity to live in a autonomous way and taking decisions (Autonomy). Further, this study enabled to explore that: the situation of life variable differentiated subjects in terms of QoL and functional capacity (with institutionalizated ones presenting lower QoL and lower functional capacity); depressive symptomatology, poor cognitive functioning and subjective perception of health (dimension Ill) are associated with disability; lastly, we perceived that functionality does not decrease significantly with aging, contrary to what is reported in the literature.
Key Words: Quality of life, elderly, functional (in)capacity.

Estado Nutricional e Avaliação Geriátrica Global Integrada – uma abordagem de deteção de vulnerabilidade na pessoa idosa

Marisa Baeta Cebola1, Amália Botelho2
1
2
– Faculdade de Ciências Médicas – Área de Ensino e Investigação de Medicina Clínica – Universidade Nova de Lisboa
Correspondência: Marisa Cebola –– Av. D. João II Lote 4.69.01, 1990-096 Lisboa –
marisa.cebola@estesl.ipl.pt
O processo de senescência, origina alterações a nível dos sistemas e órgãos, nomeadamente, sistema visual, sensorial,1 gastrointestinal2 e musculo esquelético que condicionam não só a selecção e preparação dos alimentos, bem como paladar, digestão e absorção, e aquisição dos alimentos, contribuindo para a prática de um padrão alimentar monótono e aporte desequilibrado de nutrientes fundamentais ao organismo.
O processo de senescência deve ser encarado como uma síndrome geriátrico, em que há diminuição da massa isenta de gordura – sarcopénia3 e aumento da massa gorda – sarcobesidade,4 nas quais o papel da dietética e nutrição é fundamental. A perda progressiva da massa magra corporal, da função muscular5 e redução da densidade óssea,6,7 é responsável, entre outras, pelo aumento de quedas8 enquanto que o aumento e redistribuição de massa gorda, predispõe para o aumento do risco de desenvolvimento ou agravamento de doenças crónicas, nomeadamente hipertensão arterial doença cardio e cerebrovascular, diabetes mellitus e hiperlipidémias.9
Os profissionais de saúde não estão ainda devidamente alertados para a deteção atempada de situações de risco nutricional/desnutrição na pessoa idosa e para o síndrome geriátrico, sendo imprescindível criar estratégias para a diminuição da prevalência da desnutrição a nível das instituições e promoção da avaliação geriátrica global integrada.
Desde 2005 que a European Nutrition for Health Alliance (ENHA)10 adverte que a desnutrição na pessoa idosa é considerada um problema de saúde pública, que permanece em grande parte por diagnosticar e por tratar. Está descrito que a sua
– Área Científica de Dietética – Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa

prevalência ronda os 40% a nível de instituições hospitalares, 40% em unidades residenciais e cerca de 5 a 10% na pessoa idosa que reside no próprio domicílio ou com os familiares.11,12 A desnutrição, quando associada a situações de doença é frequentemente responsabilizada pelo aumento da morbilidade, aumento dos gastos em saúde, diminuição da qualidade de vida e aumento da mortalidade na população em geral e com maior relevância na população idosa.13 As situações de desnutrição na pessoa idosa, podem ser responsáveis por alterações a nível da composição corporal e da função, nomeadamente: 1) perda ponderal; 2) diminuição da massa magra com consequente deterioração da função respiratória e aumento do risco de desenvolvimento de infeções respiratórias, aumento de quedas; 3) alteração da função cardíaca; 4) diminuição da resposta imunitária, com aumento da prevalência de infeção; 5) diminuição do poder de cicatrização, com consequente aumento do risco de desenvolvimento de úlceras de pressão; 6) sensação de cansaço generalizado, com diminuição do apetite; alterações psicossociais, que podem conduzir a estados de depressão e de isolamento social.14-19 Podem também estar na origem do aumento da necessidade de cuidados de saúde e sociais, e pela diminuição dos resultados clínicos espetáveis, com consequente aumento do tempo de internamento e da mortalidade.20,21 Mundialmente, têm sido propostas guidelines para a identificação do risco/ avaliação nutricional, bem como medidas para a sua prevenção e tratamento. A nível europeu a ENHA, está a unir esforços para que sejam implementadas políticas a nível europeu em relação à desnutrição.22 Estas entidades acreditam que uma intervenção nutricional adequada e devidamente planeada deve ser parte integrante das políticas de saúde e da prestação de cuidados de saúde.23
Avaliação Geriátrica Global Integrada, surge como uma forma de responder à necessidade de definição de estratégias com foco na deteção de situações de doença aguda/ crónica mais prevalentes, e deve integrar um conjunto diverso de valências profissionais, com o objetivo de promover a saúde, autonomia, independência e qualidade de vida.24 Constitui desejavelmente uma prática multidimensional, sistemática, de caracterização do estado clínico, nutricional, funcional, qualidade de vida e aspetos sociais, na pessoa idosa.25
A nível internacional, Avaliação Geriátrica Global Integrada não é uma temática nova, ela já foi relatada por vários autores em diversos estudos científicos, reveladores da sua consistência como abordagem estruturada e aplicada, das quais ilustramos alguns dos que são marcantes.
Entre os pioneiros destaca-se Rubenstein e colaboradores, 26 1979, ao publicaram um estudo em que relataram a realidade de uma unidade de avaliação geriátrica de ambulatório, no Sepulveda VA Medical Center em Los Angeles USA. Ao utilizarem
uma abordagem multidisciplinar verificaram que conseguiam detetar atempadamente complicações da doença, administravam menos fármacos, e melhoravam a independência, diminuindo a exigência dos cuidados de saúde. Os autores concluíram sobre a importância da avaliação geriátrica global e apontaram a necessidade da elaboração de mais estudos desta natureza.26
Epstein e colaboradores,27 1987 os resultados de um estudo também pioneiro, efetuado em 104 unidades geriátricas, numa amostra de 542 doentes. Os autores consideraram a abordagem multiprofissional teve um benéfico para os doentes, no entanto, consideraram ser necessário a realização de mais estudos, em que fosse que avaliado o binómio custo-eficácia.28
Stuck e colaboradores,29 1993, publicaram uma meta-análise de 28 estudos com uma amostra total de 4.959 indivíduos. Os autores concluíram que a Avaliação Geriátrica Global Integrada teve um efeito positivo significativo na mortalidade, na autonomia e nas funções física e cognitiva dos indivíduos, realçando-se a sua importância e aplicabilidade.29
Ellis e colaboradores,30 2011 publicaram uma meta-análise de 20 estudos controlados randomizados com um n total de 10.427 idosos hospitalizados, em que ficou demonstrada a vantagem da sua utilização na prática clínica ou em outras unidades próprias para a pessoa idosa. Ficou também patente a noção do benefício em relação à mortalidade a curto prazo e à função física e cognitiva, e evidenciada a sobrevida de média duração e com residência no domicílio. Os autores concluem que, perante a evidência da utilidade destas equipas, o desafio para o futuro será a sua implementação e a publicação de mais estudos sobre a sua eficiência.30
Em Portugal, nas estruturas da Rede Nacional de Cuidados Continuados, é aplicado um instrumento padronizado de avaliação que contempla a Avaliação Geriátrica Global Integrada. A sua utilização na caracterização dos indivíduos em trabalhos de tese de mestrado e doutoramento é uma realidade.31-33 Aguardamos que esta sua aplicação sistemática a nível assistencial, seja alvo de uma análise de natureza investigacional.34 O Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, desenvolveu um documento em que frisa a importância da Avaliação Geriátrica Global, qual a população alvo e quais os instrumentos a serem utilizados para a avaliação das dimensões em que as pessoas idosas tendem a ser deficitárias, nomeadamente a nível físico, mental, funcional e social.35 São eles: Estado Funcional: Actividades Básicas de Vida Diária36 (Escala de Katz) e Atividades Instrumentais de Vida Diária37 (Escala de Lawton & Brody); Marcha: Classificação Funcional da Marcha de Holden;38 Estado Afectivo: Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage – versão 15 itens39;
Estado Cognitivo: Mini-Mental State Examination (MMSE) de Folstein;40 Estado Nutricinonal: Mini-Nutritional Assessment.41,42 A primeira Consulta de Geriatria portuguesa a utilizar a avaliação geriátrica global foi da responsabilidade do Professor Doutor Gorjão Clara, em que a sua equipa era constituída por um médico, enfermeiro, psicólogo, dietista/nutricionista, fisioterapeuta, farmacêutico e assistente social, na perspetiva de responder às necessidades dos utentes da área de influência do Centro Hospitalar Lisboa Norte, incluindo a eventualidade de apoio domiciliário.
Em 2013, a Professora Doutora Amália Botelho, introduziu uma unidade curricular opcional na licenciatura em medicina da Faculdade de Ciências Médicas de Universidade Nova de Lisboa, em que delineou o ensino e aprendizagem da Avaliação Geriátrica Global Integrada em pessoas idosas institucionalizadas em unidades hospitalares, cuidados continuados, e lares, bem como a sua aplicabilidade em centros de saúde.
A realidade relatada por todos os profissionais de saúde envolvidos na Avaliação Geriátrica Global Integrada traduz que a sua prática constitui um método eficaz na redução da morbilidade e mortalidade da pessoa idosa. A sua prática é formalmente recomendável, devendo ser aplicada por equipas multiprofissionais, de acordo com a diversidade de competências necessárias e disponíveis.
A nível das unidades hospitalares, cuidados continuados, lares e centros de saúde, recomenda-se que a Avaliação Geriátrica Global Integrada seja protocolada como rotina para a prática assistencial, sob registo único. Esta avaliação deveria ser realizada idealmente na admissão, ou o mais precoce possível (24 horas, 48 horas ou até às 72 horas) uma vez que a precocidade da avaliação e intervenção potencia os resultados favoráveis.10

Referências Bibliográficas
1Boyce JM, Shone GR. Effects of ageing on smell and taste. Postgrad Med J 2006;82:239–241.
2Schiffman SS. Intensification of Sensory Properties of Foods for the Elderly. J. Nutr. 2000; 130(suppl 4):927–30S.
3Cruz-Jentoft AJ, Baeyens JP, Bauer JM, Boirie Y, Cederholmt, Landif et al. Sarcopenia: European consensus on definition and diagnosis. Report of the European Working Group on Sarcopenia in Older People. Age and Ageing 2010; 39: 412–423.)
4Chung JY, Kang HT, Lee DC, Lee HR, Lee YJ. Body composition and its association with cardiometabolic risk factors in the elderly: A focus on sarcopenic obesity Archives of Gerontology and Geriatrics 56 (2013) 270–278.)
5Cederholm T, Cruz-Jentoft AJ, Maggi S. Sarcopenia and fragility fractures. Eur J Phys Rehabil Med. 2013 Feb;49(1):111-7.
6Baez-Franceschi D, Morley JE. Pathophysiology of catabolism in undernourished elderly patients. Gerontol Geriatr 1999;32:112-9.
7Boirie Y. Physiopathological machanism of sarcopenia. The Journal of Nutrition, Health & Aging. 2009; Volume 13, Number 8.
8Christopher S. Fry, Erin L. Glynn, Micah J. Drummond, Kyle L. Timmerman, Satoshi Fujita, Takashi Abe, Shaheen Dhanani, Elena Volpi, and Blake B. Rasmussen. Blood flow restriction exercise stimulates mTORC1 signaling and muscle protein synthesis in older men. J Appl Physiol 108: 1199–1209, 2010.
9Hughes VA. Malnutrition and ageing. Postgrad Med J 2006;82:2–8.
10http://www.european-nutrition.org/index.php/malnutrition – acedido a 10 de outubro de 2013.
11Visvanathan R. Under-Nutrition in Older People: A Serious and Growing Global Problem. J Postgrad Med 2003; 49: 352-60.

12Compan B, di Castri A, Plaze JM, Arnaud-Battandier F. Epidemiological study of malnutrition in elderly patients in acute, sub-acute and long-term care using the MNA. J Nutr Health Aging 1999;3:146-51.
13Beck AM, Balkna SUN, Fuerst P, Hasunen K, Jones L, Keller U, Melchior J-C, Mikkelsen BE, Schauder P, Sivonen L, Zinck O, ÒIEN H, Ovesen L. Food and nutritional care in hospitals: how to prevent undernutrition report and guidelines from the Council of Europe. Clinical Nutrition (2001) 20(5): 455±460.
14Kelly IE, Tessier S, Cahill A, Morris SE, Crumley A, MacLaughlin D, Mckee RF, Lean MEJ. Stil Hungry in hospital: Identifying malnutrition in acute hospital admissions. Q J Med 2000; 93:93-98.
15Hrnciarikova D, Juraskova B, Zadak Z, Hronek M. Present State of Evaluating Malnutrition in the Elderly – Analysing Indicators. Biomed Pap Med Fac Univ Palacky Olomouc Czech Repub. 2006, 150(2):217–221.
16Villareal DT, Apovian CM, Kushner RF, Klein S. Obesity in older adults: technical review and position statement of the American Society of Nutrition and NAASO, The Obesity Society. Am J Clin Nutr 2005 Nov; 82:923-34.
17Lammes E. Nutrition, energy metabolism and body composition in the frail elderly. Karolinska Institute Department of Laboratory Medicine 2007.
18Elia M. Obesity in the elderly. Obes Res 2001 Nov; 9 Suppl 4: 244S-8S.
19Hughes VA, Frontera WR, Roubeoff R, Evans WJ, Singh MAF. Longitudinal changes in body composition in older men and women: role of body weight change and physical activity. Am J Clin Nutr 2002 Aug; 76:473-81.
20Elia M. Guidelines for detection and manegement of Malnutrition. Malnutrition Advisory Group (MAG), Standing Committee of BAPEN, Maidenhead. 2000.
21Meijers MMJ, Hlfens JGR, Wilson L, Schols MGAJ. Estimating the costs associated with malnutrition in Dutch nursing homes. Am J Clin Nutr. 2012;31:65-68.
22http://www.european-nutrition.org/index.php/about – 24 de novembro de 2013.

23 http://www.european- nutrition.org/images/uploads/Nutrition_is_a_basic_need_flyer.pdf – acedido a 24 novembro de 2012.
24Stuck AE, Siu AL, Wieland GD, Adams J, Rubenstein LZ. Comprehensive geriatric assessment: a meta-analysis of controlled trials. Lancet 1993;342:1032-6.
25Stuck AE, Siu AL, Wieland GD, Adams J, Rubenstein LZ. Comprehensive geriatric assessment: a meta-analysis of controlled trials. Lancet 1993;342:1032-6.
26Rubenstein LZ, Abrass IB, Kane RL. Improved care for patients on a new geriatric evaluation unit. J Am Geriatric Soc 1981. 29(11):531-6.
27Epstein AM, Hall JA, Besdine R, et al. The emergence of geriatric assessment units. The “new technology of geriatrics”. Ann Intern Med 1987, 106:299-303.
28Epstein AM, Hall JA, Besdine R, et al. The emergence of geriatric assessment units. The “new technology of geriatrics”. Ann Intern Med 1987, 106:299-303.
29Stuck AE, Siu AL, Wieland GD, Adams J, Rubenstein LZ. Comprehensive geriatric assessment: a meta-analysis of controlled trials. Lancet 1993;342:1032-6.
30Ellis G, Whitehead MA, Robinson D, O’Neill D, Langhorne P. Comprehensive geriatric assessment for older adults admitted to hospital: meta-analysis of randomised controlled trials. BMJ 2011;343:d6553.
31Henriques A. Adesão ao regime medicamentoso em idosos na comunidade. Eficácia das intervenções de enfermagem. Curso doutoral de Enfermagem, Universidade de Lisboa, Julho 2011.
32Costa, A. A família cuidadora perante a dependência do seu familiar idoso. Mestrado em Saúde e Envelhecimento, Setembro de 2012.
33Fontes AP. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, um Modelo Multidimensional e Multideterminado da Funcionalidade em Idosos Assistidos na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Tese de doutoramento, no 3o ano de trabalhos, Faculdade de Ciências Médicas.
34Botelho A. (2011) Fernandes L, Pereira MG, Pinto LC, Firmino H, Leuschner A. (Eds.) Jornadas de Gerontopsiquiatria. “Método de Avaliação Biopsicossocial – um instrumento de deteção em saúde”. 1aEdição. Pp. 87-89. Águeda. Editora Associação de Psico Geriatria.
35 http://www.spmi.pt/docs_nucleos/GERMI_36.pdf – acedido 24 de novembro de 2013.
36Katz S, Ford AB, Moskowitz RW, et al. Studies of illness in the aged. The index of ADL A standardized measure of biological and psychosocial function. JAMA 1963, 185:914-9.
37Lawton MP, Brody EM. Assessment of older people: self-maintaining and instrumental activities of daily living. Gerontologist 1969, 9:179-86.
38Holden MK, Gill KM, Magliozzi MR. Gait assessment for neurologically impaired patients. Standards for outcome assessment. Phys Ther 1986, 66:1530-9.
39Yesavage JA, Sheikh JI. Geriatric Depression Scale (GDS): Recent evidence and development of a shorter version. Clinical Gerontologist 1986, 5:165-73.
40Folstein MF, Folstein SE, McHugh PR. Mini-mental state. A practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. Journal of psychiatric research. 1975, 12:189–98.
41Rubenstein LZ, Harker JO, Salva A, et al. Screening for Undernutrition in Geriatric Practice: Developing the Short-Form Mini Nutritional Assessment (MNA®-SF). J. Geront 2001, 56:M366-72.
42Kaiser MJ, Bauer JM, Ramsch C, et al. Validation of the Mini Nutritional Assessment Short-Form (MNA®-SF): A practical tool for identification of nutritional status. J Nutr Health Aging 2009, 13:782-8.

Doenças Respiratórias no contexto do Envelhecimento

Matilde Rosa; Andreia Costa; Cristina Bárbara; Elisabete Gomes; Paulo Nogueira

Introdução
Vivemos actualmente, em média, mais tempo que os nossos avós, mas também há cada vez menos nascimentos. Daqui resulta o envelhecimento da população. O envelhecimento da população é já uma tendência de dimensão mundial, embora seja na Europa que se localiza a maior parte das populações mais envelhecidas do mundo. A este respeito, Portugal não é, assim, um país original, embora tenha envelhecido com uma rapidez assinalável. É certo que, pelo menos a médio prazo, a população de Portugal continuará a envelhecer, o que aliás por si, pode ser entendido como uma tendência desejável, pois os factores que estão na origem deste processo estão ligados, no essencial, a progressos significativos nas condições de vida e saúde da população. Contudo, socialmente, o envelhecimento lança também desafios novos. Entre estes está o aumento de patologias de algum modo associadas à idade, como as doenças respiratórias, muitas destas também agravadas por hábitos e estilos de vida das sociedades modernas, como o stresse, o tabagismo, sedentarismo ou até a poluição ambiental.
São inúmeros os estudos que vão de encontro à temática envelhecimento. Mas são menos aqueles que focam o sector idoso na área das doenças respiratórias. O estudo das doenças respiratórias é essencial uma vez que Portugal está a confrontar-se, nos últimos anos, com um aumento do número destas doenças, situação que impõe uma necessidade crescente de cuidados. Não só o seu crescente número é preocupante como a respectiva mortalidade também o é, pois estas doenças constituem a terceira principal causa de morte em Portugal. No que diz respeito à mortalidade hospitalar, estas doenças ocupam o primeiro lugar.
Atendendo a que um grande número de doenças respiratórias se relaciona com o envelhecimento da população é expectável que o número de pessoas com doença respiratória venha a aumentar impondo ao sistema de saúde uma necessidade crescente de cuidados respiratórios. Uma análise geral da morbilidade hospitalar revela que as doenças Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), pneumonias bacterianas e fibrose pulmonar merecem especial destaque para análise, sobretudo a nível do grupo etário idoso, devido ao seu número elevado de casos.

Material e Métodos

Neste artigo, foram analisados tanto a mortalidade como os padrões de morbilidade associados a certas doenças respiratórias, dada a importância do estudo de ambos no contexto do envelhecimento. Relativamente à mortalidade, a informação é proveniente do Instituto Nacional de Estatística (INE). Relativamente à morbilidade, os apuramentos para estas estatísticas são obtidos a partir da base de dados dos Grupos de Diagnóstico Homogéneos (GDH). Esta base de dados é anualmente posta à disposição da Direcção-Geral da Saúde (DGS) pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). Os GDH são um sistema de classificação de doentes, onde o conjunto de bens e serviços que cada doente recebe, em função da sua patologia, é registado. Esta base de dados agrupa as patologias de acordo com a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS). Assim, a classificação dos diagnósticos é feita tanto com base nos Grande Grupos da Classificação Internacional de Doenças- 9a Revisão-Modificação Clínica (CID 9 MC) como com base nas Grandes Categorias de Diagnóstico (GCD). É importante notar que a base de dados usada é referente apenas a episódios ocorridos nos hospitais do Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Portugal Continental, pelo que as conclusões tiradas não devem ser generalizadas a todos os doentes nacionais. Refere-se, para este trabalho, a publicação da DGS “Portugal – Doenças Respiratórias em números – 2013”, de onde foram extraídos os dados e algumas reflexões. Neste trabalho, analisou-se retrospectivamente a morbilidade de certas doenças respiratórias, em Portugal Continental, entre 2007 e 2011. Em particular, foi dado ênfase às doenças DPOC, pneumonias bacterianas e fibrose pulmonar, devido ao seu número elevado de casos, sobretudo a nível do grupo etário idoso.
Os indicadores considerados relevantes para este estudo foram a Taxa de Mortalidade Padronizada, o número de utentes saídos e o número de óbitos, por região e grupo etário, com especial foco no grupo etário dos 65 ou mais anos. As respectivas percentagens, de utentes saídos ou óbitos pertencentes ao grupo etário 65 ou mais anos no total dos grupos etários, também foram calculadas. Os indicadores acima referidos referem-se apenas a diagnósticos principais.
Todos os cálculos presentes foram realizados utilizando o software estatístico R e a folha de cálculo do Microsoft Excel. No que diz respeito à codificação utilizada, as causas de morte são codificadas segundo a Classificação Internacional de Doenças CID10MC enquanto a morbilidade hospitalar é codificada com base na CID9MC. Em particular, os códigos utilizados para a DPOC foram 491.2 a 492.8 e 496 (CID9MC); para a fibrose pulmonar foram J60-J70; J84.1; J84.8; J84.9 (CID10MC) e 495, 500 a 508 e 515 a 516 (CID9MC); para a pneumonia foram J12-J18 (CID10MC); para as pneumonias bacterianas foram 481 a 486 e 513.0 (CID9MC).
Resultados
Relativamente à fibrose pulmonar, a sua Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, aumentou consideravelmente de 25,9, em 2007, para 30,2, em 2010. Estes números merecem especial atenção sobretudo quando se olha para a Taxa de Mortalidade Padronizada total: que se situa nos 4 por 100 000 habitantes. Analisando a morbilidade hospitalar, destaca-se um número de utentes saídos por fibrose pulmonar, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, a aumentar de 2007 para 2011. Relativamente a este grupo etário, verificou-se um aumento de 1492, em 2007, para 2465 utentes saídos, em 2011, o que corresponde a 72% e 77% do total de utentes saídos por fibrose pulmonar, respectivamente. O número de óbitos de utentes com 65 ou mais anos também aumentou consideravelmente neste intervalo temporal, de 499, em 2007, para 869, em 2011, correspondendo a 88% e 90% do total de óbitos por fibrose pulmonar. Estes valores, tanto relativamente aos utentes saídos como aos respectivos óbitos, são mais elevados no grupo etário dos 80 ou mais anos do que no dos 65 aos 79 anos. É aqui notório o peso que o envelhecimento tem na morbilidade hospitalar da fibrose pulmonar, pelo que a análise, relativamente ao grupo etário mais idoso, da sua evolução temporal assim como das suas desigualdades inerentes, não só mas também a nível regional, é de extrema importância. A nível regional, os utentes saídos por fibrose pulmonar com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde do Norte, seguindo-se Lisboa e Vale do Tejo. No total dos 5 anos considerados neste trabalho, a região do Norte apresenta aproximadamente 35% do total do Continente, no que se refere a utentes saídos por fibrose pulmonar com 65 ou mais anos. As correspondentes percentagens são 34% para Lisboa e Vale do Tejo, 24% para o Centro, sendo o restante distribuído pelas regiões Alentejo e Algarve.
No que diz respeito à DPOC, observa-se um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que diminuiu de 2007 para 2011. Relativamente a este grupo etário, verificou-se uma diminuição de 7112, em 2007, para 6687 utentes saídos, em 2011, o que corresponde a 80% e 78% do total de utentes saídos por DPOC, respectivamente. O número de óbitos dos utentes mais idosos aumentou de 2007 a 2009 (de 578 para 643, respectivamente) sendo que começou a diminuir a partir deste ano, atingindo os 549 óbitos em 2011. Comparando-se os sub-grupos etários dentro do grupo dos 65 ou mais anos, pode ver-se que o grupo dos 65 aos 79 anos apresenta mais utentes saídos por DPOC que o dos 80 ou mais anos. Este facto inverte-se quando se fala do indicador óbitos. A nível regional, tanto os utentes saídos por DPOC com 65 ou mais anos como os correspondentes óbitos são mais comuns na Região de Saúde Norte, seguindo-se Lisboa e Vale do Tejo. Entre 2007 e 2011, a região do Norte apresenta aproximadamente 38% do total do Continente, no que se refere a utentes saídos por DPOC com 65 ou mais anos. As correspondentes percentagens são 30% para Lisboa e Vale do Tejo, 26% para o Centro, sendo o restante distribuído pelas regiões Alentejo e Algarve. Relativamente à pneumonia, a sua Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, é extremamente elevada apesar de ter diminuído entre 2009 e 2010 (de 202,4 para 192,9, respectivamente). Estes números revelam- se preocupantes sobretudo quando se olha para a Taxa de Mortalidade Padronizada total: entre os 23,5 e os 25,5 por 100 000 habitantes.
. Analisando a morbilidade hospitalar, verifica- se que as pneumonias bacterianas são mais comuns do que as virais no que diz respeito ao grupo etário mais idoso. Assim, só este tipo de pneumonias é merecedor de destaque no contexto da análise da morbilidade hospitalar, em particular no contexto do envelhecimento. Esta doença apresenta valores consideravelmente mais elevados que as outras consideradas neste trabalho. E, preocupantemente, estes valores, relativos a utentes com 65 ou mais anos, aumentaram consideravelmente de 2007 a 2011: passando 25140 utentes para 31935. Estes valores correspondem a aproximadamente 69% e 74% do total de utentes saídos por pneumonias bacterianas, respectivamente. Paralelamente, o número de óbitos relativos a utentes com 65 ou mais anos também aumentou neste intervalo temporal, de 6192, em 2007, para 7833, em 2011. Estes valores, tanto relativamente aos utentes saídos como aos respectivos óbitos, são mais elevados no grupo etário dos 80 ou mais anos do que no dos 65 aos 79 anos. Mais uma vez se nota o peso que o envelhecimento tem na morbilidade hospitalar das doenças respiratórias, em particular na de pneumonias bacterianas. A nível regional, ao contrário do verificado para as doenças anteriormente descritas, tanto os utentes saídos com 65 ou mais anos como os correspondentes óbitos são mais comuns na Região de Saúde Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se a Região de Saúde do Norte. Entre 2007 e 2011, a região Lisboa e Vale do Tejo apresenta uma percentagem de utentes saídos (com 65 ou mais anos por pneumonias bacterianas) em relação ao total do continente de 34%. As correspondentes percentagens são 30% para o Norte, 29% para o Centro, sendo o restante distribuído pelas regiões Alentejo e Algarve.

Conclusões
O trabalho apresentado permite caracterizar a patologia respiratória a par com o aumento do número de pessoas com 65 ou mais anos, em particular de 80 ou mais anos, que se tem verificado em Portugal. Paralelamente, no nosso país, a mortalidade por doenças respiratórias constitui a terceira principal causa de morte, não evidenciando uma tendência decrescente nos últimos anos. Atendendo a que um grande número de doenças respiratórias se relaciona com o envelhecimento da população é expectável que o número de pessoas com doença respiratória venha a aumentar impondo ao sistema de saúde uma necessidade crescente de cuidados respiratórios. Algumas doenças respiratórias merecem especial reflexão, sobretudo na área do envelhecimento, dado os seus elevados valores. Entre elas está a fibrose pulmonar, cuja Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, aumentou consideravelmente de 25,9, em 2007, para 30,2, em 2010. Estes números merecem especial atenção sobretudo quando se olha para a Taxa de Mortalidade Padronizada total. No contexto da morbilidade hospitalar, deparamo-nos com um número de utentes saídos por fibrose pulmonar, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que aumentou de 2007 para 2011. Paralelamente, o número de óbitos também aumentou consideravelmente neste intervalo temporal.. A nível regional, os utentes saídos por fibrose pulmonar com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde Norte, seguindo-se Lisboa e Vale do Tejo. O mesmo facto se verifica quando se analisa a distribuição geográfica dos casos de DPOC. Quando se analisa esta última doença, depara-se com um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que diminuiu de 2007 para 2011. Por último, a pneumonia apresenta uma Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, extremamente elevada apesar de ter diminuído entre 2009 e 2010. Estes números revelam-se preocupantes sobretudo quando se olha para a Taxa de Mortalidade Padronizada total. A nível da morbilidade hospitalar, verifica-se que as pneumonias bacterianas são mais comuns do que as virais no que diz respeito ao grupo etário mais idoso. Assim, só este tipo de pneumonias irá ser destacado no contexto da análise da morbilidade hospitalar, reforçado na temática envelhecimento. Esta doença apresenta valores consideravelmente mais elevados que as outras consideradas neste trabalho. E, preocupantemente, estes valores, relativos a utentes com 65 ou mais anos, aumentaram consideravelmente de 2007 a 2011. Paralelamente, o número de óbitos de utentes com 65 ou mais anos também aumentou notavelmente neste intervalo temporal. A
nível regional, ao contrário do verificado para as doenças anteriormente descritas, tanto os utentes saídos com 65 ou mais anos como os correspondentes óbitos são mais comuns na Região de Saúde Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se a Região de Saúde do Norte. É notório o peso que o envelhecimento tem na morbilidade hospitalar das referidas doenças, em particular nas pneumonias bacterianas, pelo que a análise, relativamente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, da sua evolução temporal assim como das suas desigualdades inerentes, não só mas também a nível regional, é de extrema importância.
Em suma, é sabido que as pessoas vivem mais tempo, mas é importante que o façam com qualidade. Sabemos hoje muito mais que no passado em relação a comportamentos de risco, pelo que o nosso quotidiano deve passar por adoptar estilos de vida saudáveis. Mas seria importante irmos um pouco mais longe no nosso raciocínio crítico, nomeadamente poderá equacionar-se, perante novos desafios como o aumento de patologias respiratórias, outras respostas de organização menos centralizadas de oferta de cuidados orientadas para problemas de saúde que afectam de modo cada vez mais expressivo o quotidiano da vida de cada um.
Referências
BARROS, Pedro Pita, 2013, Pela Sua Saúde, Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos
ROSA, Maria João Valente, 1996, O Envelhecimento da População Portuguesa, Cadernos Público, no3, Lisboa, BPI
ROSA, Maria João Valente, 2012, O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa, Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos
Direção-Geral da Saúde, Portugal – Doenças Respiratórias em números – 2013

Read More
Mai 20, 2013

ADOPT A STRATEGY IN CARE TO THE ELDERLY FOR THE PROMOTION OF FUNCTIONAL CAPACITY DURING HOSPITALIZATION

ADOPTAR UNA ESTRATEGIA EN LA ATENCIÓN A LAS PERSONAS MAYORES PARA EL FOMENTO DE LA CAPACIDAD FUNCIONAL EN HOSPITALIZACIÓN

Autores

Luís Filipe Lopes Vieira1

1 Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica – Área Específica: Pessoa Idosa, MsC, Centro Hospitalar Lisboa Norte

Corresponding author: luislvieira@gmail.com

 

 Resumo:

O envelhecimento da população conduz ao aumento da prevalência de doenças crónicas. Envelhecer é um processo inevitável que se traduz numa redução da capacidade orgânica e funcional não decorrente de acidente ou doença. O declínio funcional é geralmente associado a diversos fatores como a evolução natural da doença, a falta de apoio social, fatores comportamentais, a não adesão medicamentosa, dieta e estilos de vida.

É necessária a avaliação da capacidade funcional logo na admissão e direcionar os cuidados não só para a doença mas também para a prevenção do declínio funcional. Torna-se essencial estar desperto para depressão geriátrica, para as alterações das atividades de vida, entre as quais os hábitos relacionados com a alimentação, os cuidados de reabilitação física, o envolvimento da família ou cuidador, e o planeamento atempado da alta. O Enfermeiro assume especial importância na promoção e implementação destes cuidados, sendo o profissional de saúde que mais tempo passa com a pessoa idosa, conhece as suas capacidades e a forma como as potenciar.

PALAVRAS-CHAVE: Pessoa idosa; hospitalização; capacidade funcional

 ADOPT A STRATEGY IN CARE TO THE ELDERLY FOR THE PROMOTION OF FUNCTIONAL CAPACITY DURING HOSPITALIZATION

 Summary:

Population aging leads to increased prevalence of chronic diseases. Aging is an inevitable process that leads to a reduction in organic and functional capacity is not due to accident or illness. The functional decline is usually associated with several factors such as the natural evolution of the disease, lack of social support, behavioral factors, nonadherence with medication, diet and lifestyle

It is necessary to assess functional capacity immediately upon admission and direct care, not only for disease but also for the prevention of functional decline. It is essential to be awake for geriatric depression, changes to life activities, including the habits related to nutrition, physical rehabilitation care, involvement of family or caregiver, planning and timely discharge. The nurse assumes special importance in the promotion and implementation of care, and the health care professional who spends more time with the elderly, know their capabilities and how the leverage.

KEYWORDS: Elder, hospitalization, functional capacity

O envelhecimento traduz-se num risco crescente de deficiência, o avançar da idade encontra-se associado à doença, à incapacidade e à fragilidade. Isto significa que as práticas devem concentrar-se no que a pessoa idosa pode e realmente quer fazer, e não em estereótipos pré definidos. Embora as mudanças na fisiologia façam parte do envelhecimento, a evidência acumulada mostra que muitos dos processos da doença podem ser modificadas e minimizados através de intervenções educativas e preventivas. A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo foi a revisão da literatura científica da prática baseada na evidência, alicerçada em bases de dados e organismos internacionais tais como: Hartford Institute for Geriatric Nursing, National Institute on Aging, Nurses Improving Care for Healthsystem Eldres (NICHE), National Guideline Clearinghouse™ (NGC), National Institute for Health and clinical Excellence (NHS) e Ebscohost. No contexto de aprofundar conhecimentos sobre o cuidar à pessoa idosa.

A reabilitação tem de abraçar todas as atividades diárias da pessoa idosa e deve centrar-se em três aspetos principais: reforçar e manter a qualidade de vida; restabelecer a atividade física, psicológica e social, e reconhecer o seu potencial de saúde e prevenção da doença. Esta deve procurar maximizar o cumprimento dos papéis e independência no seu ambiente, dentro das limitações impostas pela patologia (THOMAS, V., [et al] 2009).

O enfermeiro tem um papel indispensável na reabilitação da pessoa idosa, no entanto tem sido desvalorizado e permanece mal definido. Este deve tentar melhorar a mobilidade, promovendo a atividade motora e sensitiva, compreender os sintomas sem significado do ponto de vista da pessoa idosa. Ajudar a adaptar-se às alterações na função, incorporar as perspetivas dos cuidadores e familiares na adaptação às mudanças. Deve compreender e respeitar as estratégias já utilizadas pela pessoa idosa, sugerir práticas para reduzir a tensão, stress e ansiedade, incluindo terapias complementares, se necessário e possível. Fornecer apoio em todos os aspetos da tomada de decisão e sempre que necessário facilitar o acesso aos sistemas de apoio para a pessoa idosa e todos os outros cuidadores e familiares. É importante estar desperto para as diferentes perspetivas culturais e necessidades.

Torna-se essencial registar a história de vida anterior e rotinas, realizar avaliações de saúde mental, necessárias para uma compreensão da capacidade da pessoa idosa se adaptar e se necessário fornecer uma série de atividades para diminuir o estado confusional, otimizando o funcionamento mental. Aumentar a autonomia é imprescindível para o estado cognitivo. Espiritualmente o enfermeiro deverá garantir que a pessoa é capaz de manter contacto com seu mundo social, facilitar a continuidade de todas as atividades religiosas e espirituais (THOMAS, V., [et al] 2009).

A reabilitação é um processo permanente em que se trabalha com a família, a equipa de reabilitação e a sociedade para atingir o seu nível ótimo de funcionamento, com o objetivo de prevenir complicações secundárias, promovendo a máxima independência, a manutenção da dignidade e promoção da qualidade de vida.

Deve promover-se a continuidade dos cuidados, nomeadamente motivar o idoso para o auto cuidado, englobar a pessoa idosa na tomada de decisões, ensinar as habilidades que podem melhorar a sua qualidade de vida, manter uma atividade física adequada evitando a deterioração, ouvir com vista a avaliar o sucesso dos cuidados e ser empático.

O enfermeiro envolve-se em diferentes tipos de funções quando trabalha com a pessoa idosos. As funções de apoio, incluem, prestar apoio psicossocial e emocional, ajudando no auxílio de transição da vida, realçando estilos de vida e relacionamentos, facilitando a auto expressão e a garantir a sensibilidade cultural. Funções restaurativas, destinadas a potenciar a independência e a capacidade funcional, impedindo a sua deterioração e ou deficiência e melhorar a qualidade de vida. Isto é feito através de um foco na reabilitação, que maximiza o potencial da pessoa idosa para a independência, incluindo a avaliação de competências e realização de elementos essenciais do cuidado. As funções educativas envolvem o ensino do auto cuidado. A reabilitação tem como objetivo maximizar a satisfação da pessoa idosa de forma equilibrada atendendo às limitações impostas pela patologia e deficiência (THOMAS, V., [et al] 2009).

O processo de adaptação é importante, pois geralmente a pessoa idosa que necessita de reabilitação encontra-se numa grande crise de identidade, ou estão em luto pela perda ou interrupção de habilidades físicas, emocionais e cognitivas. O papel do enfermeiro é ser parceiro, oferecer apoio pessoal e experiência prática, para que a pessoa idosa siga o seu próprio percurso de vida. O envelhecimento humano gera progressivas modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas que, se associadas ao aparecimento de doenças crónicas e degenerativas, podem acelerar o declínio funcional do indivíduo idoso. Essas alterações comprometem a capacidade funcional do idoso a ponto de impedir o auto cuidado, tornando-o, muitas vezes, completamente dependente (CARVALHO, G., [et al] 2007).

As alterações do envelhecimento são parcialmente responsáveis pelo aumento do risco de desenvolvimento de problemas de saúde na população idosa estando na base da diminuição da capacidade funcional. A sinalização de condições para uma avaliação mais aprofundada permite ao enfermeiro implementar intervenções preventivas e terapêuticas (FULMER, T, 1991; 2007).

Nos EUA a Nurses Improving Care for Health System Elders (NICHE) desenvolveu em 1990 um de instrumento que designou “SPICES”.

O “SPICES” é um acrónimo para as síndromes mais comuns de intervenção de enfermagem à pessoa idosa. É um instrumento eficiente e eficaz de obtenção de informações necessárias para evitar alterações de saúde e consequentemente declínio funcional. São medidas pró-activas centradas em seis pontos comuns: S Sleep disorders, (problemas com o sono); P Problems with eating and feeding, (problemas com a alimentação e alimentar-se); I Incontinence (incontinência urinária e fecal); C Confusion (estado confusional); E Evidence of fall (perigo de quedas) e S Skin breakdown (integridade cutânea) (FULMER, T. 2007).

A perturbação do sono é comum durante o internamento hospitalar e mais comum ainda na pessoa idosa. O stress do internamento, o despertar para os cuidados de rotina, a dor, os efeitos dos medicamentos, as mudanças no ambiente e o ruído podem comprometer ainda mais o sono durante a hospitalização. Deve ser feito um esforço para criar um bom ambiente para o sono da pessoa idosa. As medidas podem incluir a minimização da conversa nos corredores e na sala de enfermagem durante as horas de sono e limitar as intervenções de enfermagem durante este tempo, por exemplo, adiar medição da tensão arterial, se a pessoa idosa está clinicamente estável (TRANMER, J., [et al] 2003).

O padrão nutricional é importante na avaliação da pessoa idosa. Num estudo realizado nos EUA, 20% dos idosos foram hospitalizados por desnutrição. O baixo índice de massa corporal e a desnutrição têm sido repetidamente associados a maiores taxas de mortalidade na pessoa idosa. Estes problemas podem ser mais evidentes em idosos emagrecidos ou incapazes de se alimentar (GUIGOZ, Y., [et al] 2002).

Existe também uma associação estreita entre a dor mal controlada e a rejeição aos alimentos e, entre a fome e uma sensação física de bem-estar. A capacidade de se alimentar é uma atividade básica do dia-a-dia. A pessoa idosa hospitalizada tem muitas vezes dificuldades de ordem prática quando se alimentam: a mesa de cabeceira está fora do alcance; os utensílios são difíceis de usar; a comida está fria ou são incapazes de se posicionar (ST-ARNAUD-MCKENZIE, D., [et al] 2004). É necessário fornecer proteínas e calorias suficientes para assegurar a ingestão adequada. Deve-se incluir as preferências pessoais do idoso na dieta e proporcionar à pessoa idosa aquando da alta o apoio dos serviços da comunidade se necessário (EDINGTON, J., [et al] 2004; GRAF, C. 2006).

A incontinência, quer vesical quer intestinal, na pessoa idosa hospitalizada, pode variar em intensidade e resultar em delírio ou demência. Pode ter origem na redução da atividade funcional por motivo de doença, nos medicamentos que interferem com a capacidade de detetar a plenitude da bexiga ou nas perturbações da marcha que resultam em dificuldade para se deslocar à casa de banho. A incontinência urinária está associada à diminuição do bem-estar físico e ao aumento do tempo de internamento (ANPALAHAN, M. & GIBSON, S., 2008).

A confusão temporária ou mais prolongada, afeta um número elevado de idosos hospitalizados. Um estudo realizado a nível hospitalar, mostrou que quase um terço das pessoas idosas com idade superior a 70 anos apresenta delírium nas primeiras 24 horas após a admissão. Comer, dormir, dosagens dos medicamentos e horários, podem provocar desorientação da pessoa idosa num ambiente estranho. Deve-se avaliar o estado confusional da pessoa idosa numa tentativa de impedir a sua ocorrência, e intervir precocemente para reverter e atenuar o receio do que esta condição pode provocar (EDLUND, A., [et al] 2006).

É importante a identificam-se fatores de risco por vezes associados a quedas da pessoa idosa hospitalizada: a confusão; a instabilidade da marcha; a incontinência ou frequência urinária; e a administração de medicação sedativa e hipnóticos. É imprescindível identificar a pessoa idosa com história anterior de quedas e se necessário tomar medidas que visem a prevenção ou a sua anulação. Se a pessoa idosa que não tem história de quedas cai no hospital, a avaliação e o tratamento devem-se centrar na identificação de possíveis causas iatrogénicas (FONDA, D., [et al] 2006).

A perda da integridade cutânea constitui também uma das razões de perda da capacidade funcional. As úlceras de pele, nomeadamente as úlceras de pressão podem ser fatais na pessoa idosa. As úlceras na pessoa idosa imobilizada são provocadas por diminuição da pressão arterial que provoca necrose tecidular. Os principais fatores de risco são: a idade avançada; a imobilidade; a neuropatia, (que pode interferir com a deteção da dor); má nutrição, deficiência cognitiva, (impedindo o auto cuidado, ou o reconhecimento de problemas), a fricção na roupa da cama e a incontinência urinária (resultando no aumento da humidade nas áreas de proeminências ósseas). Estas condições fornecem quase de imediato necessidades de intervenção na pessoa idosa (FULMER, T. 2007).

A avaliação pelo SPICES quando feita regularmente pode sinalizar necessidades e contribuir para a prevenção e tratamento de doenças comuns (FULMER, T. 2007).

Para maximizar a capacidade funcional e prevenir o seu declínio devem ser mantidas as rotinas diárias do idoso, (ajuda a manter a atividade física, cognitiva e social), incentivar a marcha, alargar ou flexibilizar o horário das visitas, se possível incentivar a leitura do jornal. É também importante esclarecer a pessoa idosa, familiares e cuidadores acerca da importância da promoção da independência e alertá-los para as consequências do declínio funcional, promovendo o ensino.

O declínio funcional pode ser é reversível se associado a doença aguda e, pode-se prevenir através de estratégias direcionadas para o exercício físico, (mantendo uma amplitude de movimentos, flexibilidade e funcionalidade) nutrição, controlo da dor e socialização (SIEGLER, E., [et al] 2002; TUCKER, D., [et al] 2004; VASS, M., [et al] 2005).

É também importante diminuir o tempo de repouso no leito, tendo em atenção as restrições físicas (sondas vesicais, nasogástricas, etc.), a medicação, especialmente medicamentos psicoativos, em doses geriátricas, avaliar e tratar a dor. Deve-se promover precocemente a recuperação da função inicial, (se possível), através de consulta precoce de medicina física e reabilitação, nutrição e ensinos (KRESEVIC, D., [et al] 1998).

O declínio funcional na pessoa idosa hospitalizada pode ter consequências devastadoras. É um resultado comum da cascata de dependência em que a pessoa idosa sofre as mudanças do envelhecimento, fazendo com que o repouso no leito ou imobilidade resulte em alterações fisiológicas irreversíveis, com maus resultados na alta. Horários de passeio de rotina, atividades de prevenção à privação sensorial e alta hospitalar oportuna estão entre as intervenções que podem ajudar a prevenir o declínio funcional (GRAF, C. 2006).

O cuidador principal ou familiar da pessoa idosa deverá ser orientado sobre as vantagens das estratégias de intervenção e ter conhecimento sobre as causas do declínio funcional relacionadas com as condições agudas e crónicas da patologia. Dever-se-á também, fomentar o ensino para abordar as necessidades de cuidados de prevenção de quedas, lesões e complicações mais comuns proporcionando a curto prazo cuidados especializados de fisioterapia e a longo prazo ajustar os cuidados necessários para prevenção de quedas. No regresso ao domicílio torna-se necessário realizar as adaptações necessárias para manter a segurança e independência, incluindo dispositivos de apoio e adaptações no domicílio. A pessoa idosa, como parte integrante deste processo, deverá ser estimulada a alcançar a maior independência, o nível funcional possível e a melhor qualidade de vida. Os enfermeiros devem estar atentos à avaliação e identificação da pessoa idosa suscetível de apresentar declínio funcional (KRESEVIC, D., [et al] 1998).

A avaliação da capacidade funcional deve ser integrada nos cuidados, devendo esta ser registada no processo de enfermagem, tal com as intervenções, metas e resultados esperados. Deve-se também promover estratégias de prevenção e reparação da capacidade funcional.

Atendendo a estes factos o enfermeiro tem um papel fundamental na qualidade de vida, pois forma um vinculo forte com a pessoa idosa hospitalizada, melhorando situação de saúde e promovendo um envelhecimento bem sucedido.

Os cuidados de enfermagem à pessoa idosa devem ter como finalidade manter e valorizar a autonomia. Para isso, é necessário avaliar o grau de dependência e instituir medidas direcionadas para atingir o maior nível possível de independência funcional e autonomia. É essencial uma avaliação multidimensional da pessoa idosa centrada problemas atuais ou potenciais e individualizados para cada idoso.

É importante comunicar com a pessoa idosa, constituindo um papel de destaque e confiabilidade, pois deverá romper as barreiras impostas por limitações de fala, audição, confusão mental e diferenças culturais (CASTRO, M. & FIGUEIREDO, N., 2009).

Torna-se necessário registar-se o estado funcional recente ou o declínio progressivo devendo ser avaliado ao longo do tempo para validar a sua evolução. Nesse sentido, o plano de cuidados deverá ser atualizado e se necessário reajustado ao longo do internamento. A avaliação funcional inclui um processo sistemático de identificação de habilidades físicas na pessoa idosa a precisar de ajuda. Os instrumentos de avaliação padronizados funcionais são utilizados como uma linguagem comum para comunicar o estado funcional entre os prestadores de cuidados. A súbita mudança do estado funcional poderá indicar o início de uma doença aguda ou exacerbação de uma doença crónica. Esta avaliação funcional deve feita com base em escalas de avaliação da capacidade funcional (CASSEL, C. 2004; KRESEVIC, D. 2008).

Estas escalas devem ser eficientes, de fácil interpretação e aplicação, com a finalidade de proporcionar informações úteis e quantificáveis que devem ser englobados na história da pessoa idosa e incorporadas nas rotinas diárias, tendo como base as avaliações (GRAF, C. 2006).

A introdução de um sistema de avaliação funcional baixa a incidência e prevalência de declínio funcional, contribuindo para a diminuição da morbilidade e da mortalidade (KRESEVIC, D. 2008). Os métodos para a avaliação funcional estruturada, consiste na observação direta (testes de desempenho) e questionários, sistematizados por meio de escalas que aferem os principais componentes da dimensão (PAIXÃO, C. & REICHENHEIM, M., 2005).

É também importante a comunicação interdisciplinar sobre estado funcional, alterações e expectativas de evolução, promovendo reuniões de equipa multidisciplinar, incluindo a pessoa idosa e familiares, sempre que possível (KRESEVIC, D., [et al] 1998).

Recomenda-se uma abordagem de cuidados que vai além do registo da história clínica e os sinais vitais para observar as mudanças na pessoa idosa mas sim o estado mental, funcional, nutricional e suporte social (AMELLA, E. 2004).

A avaliação geriátrica global é um sistema de diagnóstico que aborda a área médica, funcional e psicossocial. Tem como objetivo detetar prematuramente potenciais deficiências, traçar tratamentos terapêuticos adaptados e monitorizar a progressão do declínio funcional a longo prazo. É importante que a avaliação abranja além da história e exame físico, a análise da marcha, do equilíbrio e da capacidade funcional, ou seja, a capacidade para exercer as AVD’s (FREITAS, E., [et al 2002).

A utilização de instrumentos de avaliação tem importantes implicações na qualidade de vida da pessoa idosa, uma vez que facilita ações preventivas, assistenciais e de reabilitação. Estas ações contribuem para um processo de envelhecimento com maior esperança de vida saudável e uma tentativa de recuperação ou manutenção da capacidade funcional (ROSA, T., [et al] 2003).

A escala da Avaliação Breve do Estado Mental (MMS), elaborada por Folstein [et al] em 1975, é provavelmente dos testes mais utilizados mundialmente quando se pretende uma avaliação da função cognitiva ou rastrear quadros demenciais. Pode ser usado isoladamente ou incorporado a instrumentos mais amplos (LOURENÇO, R. & VERAS, R. 2006). Permite avaliar o estado cognitivo em função da escolaridade da pessoa, tendo a vantagem de ser relativamente simples de realizar. Está validado para Portugal pelo Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demência (MENDONÇA, A., [et al] 2008).

É importante a avaliação de presença de sintomatologia depressiva utilizando a Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15). Os transtornos do humor são uma das patologias psiquiátricas mais comuns na pessoa idosa, são responsáveis pela perda de autonomia e agravamento de quadros patológicos pré-existentes. Em 1983, Yesavage e colaboradores desenvolveram e validaram um instrumento de triagem para a depressão designado de Escala de Depressão Geriátrica (GDS). A depressão é o problema de saúde mental mais comum na terceira idade, no entanto por vezes associa-se, de forma errada, que os sintomas depressivos fazem parte do envelhecimento (FERRARI, J. & DALACORTE, R., 2007). Está validada internacionalmente e amplamente utilizadas na avaliação geriátrica global e de domínio público, auxiliando a determinar a necessidade de tratamento (ADELMAN, D., [et al] 2003).

O Índice de Barthel avalia o nível de independência da pessoa na realização de dez atividades básicas de vida: alimentação; banho; cuidados pessoais; vestir; transferências; deslocação; subir e descer escadas; uso dos sanitários; controlo da bexiga e controlo intestinal (MAHONEY, F. e BARTHEL, D., 1965). Encontra-se também validado para Portugal (MELO, M. G. 2010).

A Mini Avaliação Nutricional (MAN) é uma ferramenta de controlo e avaliação que pode ser utilizada para identificar pessoas idosas com risco de desnutrição. Consiste num questionário de rápida realização. A prevalência da desnutrição é ainda maior na pessoa idosa com deficiência cognitiva e está associada com o declínio cognitivo (FALLON, C. 2002). A pessoa idosa desnutrida quando é hospitalizada tende a permanecer mais tempo internada, a apresentar mais complicações e correr maior risco de morbilidade e mortalidade do que aqueles que se encontram num estado nutricional normal (KAGANSKY, N., [et al] 2005).

Foi desenvolvido pela Nestlé e por uma equipa de geriátras, sendo uma das poucas ferramentas de controlo validadas para a pessoa idosa. Tem sido bem validada em estudos internacionais nos mais diversos ambientes e está validado para Portugal.

A capacidade de marcha é um parâmetro a avaliar na capacidade funcional. Existem vários testes para a avaliação da marcha no entanto podem tornar-se complicados e a sua avaliação ser morosa. A observação direta de como um individuo sai da cama, se senta numa cadeira, fica de pé e caminha uma pequena distância de forma equilibrada, com ou sem ajuda é importante para obter uma avaliação segura.

O teste levanta e ande (get up and go) pode ser aplicado pelos enfermeiros para avaliar a forma de marcha durante as atividades de vida diária na pessoa idosa (MEZEY, M., [et al] 2006). Apresentado em 1986, tem como objetivo a avaliação do equilíbrio e marcha na pessoa idosa. Aproximadamente metades das quedas que envolvem a pessoa idosa têm fatores extrínsecos, tais como pisos escorregadios ou existência de tapetes junto do leito. O resultado da outra metade dos acidentes envolve fatores intrínsecos tais como a fraqueza dos membros inferiores, falta de equilíbrio, distúrbios da marcha, efeitos da medicação, baixa visão ou doença aguda (MEZEY, M., [et al] 2006). Apesar de não existir validação para Portugal é indicado para a pessoa idosa hospitalizada podendo adaptar-se à população idosa portuguesa

Na avaliação da capacidade funcional é também importante a avaliação das atividades Instrumentais de Vida Diária (KRESEVIC, D. 2008).

A Escala de Lawton e Brody (Escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária), foi desenvolvida por Lawton e Brody em 1969 para avaliar as AVD mais complexas, necessárias para viver na comunidade. Competência em habilidades, tais como compras, cozinhar e gestão de finanças é necessário para uma vida independente. É uma escala bastante utilizada e pode ser realizada em 10 a 15 minutos. A escala pode fornecer um sistema de alerta precoce de declínio funcional ou sinalizar a necessidade de uma avaliação mais aprofundada. Hospitalização, mobilidade reduzida e outros factores podem diminuir rapidamente a capacidade de realizar atividades essenciais para uma vida independente e, os efeitos podem ser permanentes (GRAF, C. 2008). Esta escala foi também validada para Portugal pelo Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demência, (MENDONÇA, A., [et al] 2008).

CONCLUSÃO

O envelhecimento faz parte natural do ciclo da vida. É, pois, desejável que seja vivido de forma saudável. O estado funcional na pessoa idosa é um processo dinâmico, o que torna necessário ser avaliado em momentos diferentes para determinar a sua evolução. Assume especial relevância a avaliação inicial da pessoa idosa quando da admissão em ambiente hospitalar. Esta avaliação é de grande importância no planeamento e execução individualizada dos cuidados de enfermagem.

É fundamental uma avaliação geriátrica eficiente e completa, incidindo na capacidade funcional.

O “SPICES” constitui um bom instrumento, pois permite detetar situações que, se corrigidas atempadamente, contribuem para a sua manutenção ou pelo menos para a prevenção do seu declínio funcional. A solidão, a perda de papéis sociais, a sensação de inutilidade e a imobilidade são fatores que contribuem para a instalação de quadros depressivos. Assim, torna-se prioritário a apreciação da depressão geriátrica. Este registo, em ambiente hospitalar, deverá ser realizado o mais precoce possível, permitindo a sua referenciação e encaminhamento e direcionamento dos cuidados de enfermagem logo na admissão. É importante também o controlo da dor persistente. A dor afeta de um modo global todas as atividade de vida, com especial incidência a mobilidade, o sono e a alimentação.

Pode-se concluir também que é de especial destaque a supervisão das refeições da pessoa idosa, se possível a personalização dos hábitos alimentares para manter um padrão alimentar adequado. É indispensável o início precoce de reabilitação física para poder potenciar a capacidade de mobilização que a pessoa idosa ainda possui.

A alta hospitalar deverá ser iniciada atempadamente e programada em equipa multidisciplinar, com o reforço dos ensinos e envolvendo a família/cuidador principal nos cuidados. Os cuidados de enfermagem geriátricos devem-se centrar na qualidade de vida da pessoa idosa, estimulando uma capacidade funcional real e espectável, sem falsas esperanças nem ilusões. O Enfermeiro como promotor dos cuidados de saúde e que mais tempo passa com a pessoa idosa, assume um papel importante na manutenção e maximização da atividade funcional. Neste sentido é primordial que esteja desperto para esta problemática, pois por vezes basta uma avaliação inicial mais profunda ou uma observação mais perspicaz para se intervir precocemente sobre a pessoa idosa, promovendo cuidados de saúde mais individualizados e com a finalidade de maximizar a capacidade funcional ou pelo menos diminuir a perda dessa capacidade.

 BIBLIOGRAFIA

ADELMAN, D., [et al] (2002). Allergic & Immunologic Disorders. In TIERNEY, L. M. J. [et al] – Current Medical Diagnosis & Treatment. New York: Lange Medical Books/McGraw-Hill. 42º Edição. 759-782. ISBN: 0071395938.

AMELLA, E. (2004). Presentation of illness in older adults. American Journal of Nursing. 104(10), 40-51.

ANPALAHAN, M., & GIBSON S. (2008). Geriatric syndromes as predictors of adverse outcomes of hospitalization. Internal Medicine Journal. 38(1), 16-23.

CARVALHO, G., [et al] (2007). Análise comparativa da avaliação funcional do paciente geriátrico institucionalizado por meio dos protocolos de Katz e Tinetti. Revista Digital – Buenos Aires. 12(114). [em linha]. Acedido em 2012/11/09. Disponível em http://www.efdeportes.com/efd114/avaliacao-funcional-do-paciente-geriatrico-institucionaliza dohtm.

CASSEL, C. (2004). Caring for the hospitalized elderly: Current best practice and new horizons. Geriatrics: A vital core of hospital medicine. A special supplement to The Hospitalist. 2-3.

CASTRO, M. & FIGUEIREDO, N. (2009). O estado da arte sobre cuidado ao idoso: diagnóstico da produção científica em enfermagem. Physis: Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro. 19(3), 743-759. ISSN 0103-7331.

EDINGTON, J., [et al] (2004). A prospective randominzed controlled trial of nutritional supplementation in malnourished elderly in the community: Clinical and health economic outcomes. Clinical Nutrition. 23(2), 195-204.

EDLUND, A., [et al] (2006). Delirium in older patients admitted to general internal medicine. Journal of Geriatric Psychiatry and Neurology. 19(2), 83-90.

FALLON, C. (2002). Nutritional status of community dwelling subjects attending a memory clinic. Journal of Nutrition Health Aging. 6(Supp 21).

FERRARI, J. & DALACORTE, R. (2007). Uso da Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage para avaliar a prevalência de depressão em idosos hospitalizados. Scientia Medica. Porto Alegre. 17(1), 3-8.

FONDA, D., [et al] (2006). Sustained reduction in serious fall-related injuries in older people in hospital. The Medical Journal of Australia. 184(8), 379-382.

FREITAS, E., [et al] (2002). Parâmetros Clínicos do Envelhecimento e Avaliação Geriátrica Global. In: FREITA, Elizabete V., [et al] – Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan. 609-617. ISBN 9788527707497.

FULMER, T. (1991). The Geriatric Nurse Specialist Role: A New Model. Nursing Management. .22(3), 91-93.

FULMER, T. (2007). How to Try This: Fulmer SPICES American Journal of Nursing. 107(10), 40-48.

GRAF, C. (2008). The Lawton – Instrumental Activities of Daily Living Scale. American Journal of Nursing. 108(4), 52-62.

GRAF, C. (2006). Functional decline in hospitalized older adults. American Journal of Nursing. 106(1), 58-67.

GUIGOZ, Y., [et al] (2002). Identifying the elderly at risk for malnutrition. The Mini Nutritional Assessment. Clinics in Geriatric Medicine. 18(4), 737-757.

KAGANSKY, N., [et al] (2005). Poor nutritional habits are predictors of poor outcomes in very old hospitalized patients. American Journal Clinic Nutrition. 82, 784-791.

KRESEVIC, D. (2008). FUNCTION: Nursing Standard of Practice Protocol: Assessment of Function in Acute Care. Hartford Institute for Geriatric. [em linha]. Acedido em 2012/11/10. Disponível em http://consultgerirn.org/topics /function/want_to_know_more.

KRESEVIC, D., (1998). A patient-centered model of acute care for elders. Nursing Clinics of North America. 3(33), 515-527.

LOURENÇO, R. & VERAS, R. (2006). Mini-Exame do Estado Mental: características psicométricas em idosos ambulatoriais. Revista de Saúde Publica. São Paulo. 40(4), 712-719. ISSN 0034-8910.

MAHONEY, F. & BARTHEL, D. (1965). Functional evaluation :the Barthel. In Maryland State Medical Journal. 14, 61-65.

MELO, M. G. (2010), Alimentação em doentes de alzheimer: capacidade funcional e aspectos associados. Tese de Mestrado, Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Médicas.

MENDONÇA, A., [et al] 2008). Escalas e Testes na Demência – Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demência. 2ª Edição. Lisboa.

MEZEY, M.; [et al] (2006). Protocolos em Enfermagem Geriátrica. 2ª Ed.. São Paulo: Andrei. ISBN: 85-7476-333-0

PAIXÃO, C. & REICHENHEIM, M. (2005). Uma revisão sobre instrumentos de avaliação do estado funcional do idoso. Caderno Saúde Pública. Rio de Janeiro. 21(1), 7-19.

ROSA, T., [et al] (2003). Factores determinantes da capacidade funcional entre idosos. Revista de Saúde Publica. São Paulo. 37(1), 40-48. ISSN 0034-8910.

SIEGLER, E., [et al] (2002). Optimal staffing for acute care of the elderly (ACE) units. Geriatric Nursing. 23(3), 152–155.

ST-ARNAUD-MCKENZIE, D., [et al] (2004). Hunger and aversion: drives that influence food intake of hospitalized geriatric patients. Journal of Gerontology; Medical Sciences. 59(12), 1304-1309.

THOMAS, V., [et al] (2009). Maximising independence – The role of the nurse in supporting the rehabilitation of the older people. Royal College of Nursing. London. ISBN978-1-904114-77-2.

TRANMER, J. E., [et al] (2003). The sleep experience of medical and surgical patients. Clinical Nursing Research. 12(2), 159-173.

TUCKER, D.; [et al] (2004). Walking and wellness: A collaborative program to maintain mobility in hospitalized older adults. Geritaric Nursing. 25(4), 242-245.

VASS, M., [et al] (2005). Feasible model for prevention of functional decline in older people: Municipality-randomized controlled trial. Journal of the American Geriatrics Society. 53(4), 563-568.

Read More
Jul 26, 2012

NURSE CARE INTERVENTION AND CLINICAL RISK MANAGEMENT IN INTEGRATED CONTINOUS CARE UNITS: A THEORETICAL AND CONCEPTUAL REFLECTING

AUTORES: Ângela Sousa Silvério, Benedicte Freitas da Silva, Patrícia Martins Benito, Susana Lourenço Santos, Pedro Bernardes Lucas

RESUMO

Este artigo propõe uma Reflexão Teórica e Conceptual acerca da intervenção do enfermeiro na gestão do risco clínico nas Unidades de Cuidados Continuados Integrados (UCCI). Os objectivos prendem-se com a identificação e a fundamentação das intervenções do enfermeiro neste âmbito.

No enquadramento teórico abordam-se o Modelo de Adaptação de Roy (MAR), de Callista Roy, o erro em enfermagem, a segurança do cliente, as Unidades de Cuidados Continuados Integrados e o processo de gestão do risco clínico.

A possibilidade do enfermeiro assumir cargos de gestão nas Unidades de Cuidados Continuados Integrados – resposta recente do sistema de saúde português – é uma oportunidade para amplificar a sua área de intervenção, valorizando-se ainda mais a profissão.

Utilizando o processo de gestão do risco clínico, o enfermeiro contribui para a prevenção de infecções, prevenção de quedas, prevenção de úlceras de pressão e de erros medicamentosos, assim como avaliação do risco de quedas e de úlceras de pressão.

Concluiu-se que o papel do enfermeiro é fundamental na supervisão e monitorização de todas as etapas do processo de gestão do risco clínico, sendo um mediador da comunicação e um elo de ligação entre todos os intervenientes, promovendo a excelência da qualidade dos cuidados de enfermagem prestados nas UCCI.

Palavras-chave: gestão do risco clínico, erro, segurança do cliente, qualidade, unidades de cuidados continuados integrados, cuidado de enfermagem, enfermeiro gestor do risco clínico e Modelo de Adaptação de Roy.

ABSTRACT

This paper exposes a theoretical and conceptual reflecting about nurse care intervention and clinical risk management in Integrated Continuous Care Units. The aims were to identify and ground nurse interventions on risk management under the scope of the National Integrated Healthcare Network – Units (Portugal).

Within the nursing care topic, the Roy Adaptation Model, by Callista Roy, was focused, as it systematically addresses the outcomes of care, subscribing with the objectives of clinical risk management. The topics of error in nursing and patient safety were developed to understand the importance of the theme under the nursing intervention sphere. The National Integrated Healthcare Network – Units and the process of clinical risk management were approached in order to understand their organization and the context in which these interventions take place.

The possibility of a nurse to assume a management position in the Integrated Continuous Care Units, a recent development in the Portuguese national healthcare system, opens an area of opportunity and visibility for their intervention. The clinical risk management process can be applied in the various quality indicators, such as, prevention of falling or prevention of pressure ulcer, and their evaluation, as well as in the prevention of medication errors and prevention of infection.

Concluding, the nurse role in the implementation, supervision and monitoring of all stages of the clinical risk management process assumes a crucial and unique importance. The nurse has the potential to be the link between all of the actors in this process, promoting excellence in the quality of healthcare on the Integrated Continuous Care Units.

Key-words: risk management, clinical risk, error, patient safety, quality, Integrated Continuous Care Units, nursing care, nurse risk manager and Roy Adaptation Model.

Introdução

Em Portugal, tem surgido uma mudança no perfil de morbilidades, que exige intervenções de saúde e/ou de apoio social prestados de uma forma continuada, sequencial e intersectorial, com o intuito de promover a autonomia do cliente através da melhoria da sua capacidade funcional, por meio de acções de reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social do cliente em situação de dependência (PORTUGAL, 2007). Neste sentido, tornam-se prioritários os cuidados continuados integrados, que oferecem resposta às alterações demográficas e sociais existentes, principalmente, ao nível da população idosa dependente.

A qualidade e segurança são factores-chave na criação de sistemas de saúde acessíveis, efectivos e eficazes, o que é aplicável também às Unidades de Cuidados Continuados Integrados (UCCI). Um serviço de saúde de qualidade é aquele que organiza os recursos eficazmente, indo ao encontro das necessidades de saúde dos que mais precisam de cuidados preventivos e curativos, de forma segura e sem perdas acrescidas, não só na qualidade de atendimento como também na capacidade para alcançar elevados níveis de fiabilidade e garantia de serviço. A fim de garantir elevados padrões de qualidade na área da saúde, foram desenvolvidos sistemas de acreditação, que têm como meta a melhoria do seu desempenho.

Um gestor de risco é um elemento-chave da organização, capaz de dinamizar a área e de conferir credibilidade e autenticidade ao programa de gestão do risco em vigor. São assim auferidas visibilidade e liderança, através da possível actuação em vários campos de acção, destacando-se a identificação e análise das áreas problemáticas, com consequente criação de medidas dirigidas especificamente para a prevenção e para o controlo do risco clínico. São passíveis de realização actividades ao nível do financiamento do risco, interacção com o departamento jurídico, gestão das reclamações, administração do processo de gestão do risco, gestão e análise da informação referente à exposição ao risco e participação na formulação e alteração da política organizacional. Todas as actividades desenvolvidas devem ser integradas na filosofia da organização de saúde, respondendo às suas necessidades (GONÇALVES, 2008).

Considerando os estatutos da Ordem dos Enfermeiros e o Código Deontológico, o enfermeiro tem o dever de exercer a profissão com os adequados conhecimentos científicos e técnicos, adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviços de enfermagem. Apenas através de uma abordagem abrangente e transparente do erro é possível promover a segurança do cliente, prestando-lhe cuidados de qualidade.

O Modelo de Adaptação de Roy, de Callista Roy, revela a responsabilidade do enfermeiro em termos da promoção da segurança e da qualidade, ao avaliar os estímulos, ao estabelecer intervenções e ao proceder à sua aplicação e avaliação.

Os enfermeiros são os profissionais que mais tempo passam junto dos clientes, tornando evidente que os cuidados de enfermagem estão inevitavelmente envolvidos na sua segurança, seja como factores protectores ou ameaçadores (PORTUGAL, 2009). Neste sentido importa compreender de que forma o enfermeiro pode intervir na prevenção da ocorrência de erros, nas UCCI. As UCCI englobam unidades de internamento e unidades de ambulatório. No contexto deste trabalho, o termo UCCI refere-se unicamente a unidades de internamento, uma vez que as de ambulatório possuem características díspares das últimas e não existem ainda em Portugal.

A pertinência deste tema relaciona-se com o facto de os cuidados continuados integrados serem uma resposta recente no sistema de saúde português e um elo de ligação (terceiro nível de cuidados) entre os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares. Além disso, o enfermeiro tem tido cada vez mais um papel preponderante nesta área, assumindo cargos de liderança nas UCCI, o que amplifica e dignifica a sua actuação. Pretende este trabalho, também, contribuir para esta sensibilização.

A prestação de cuidados de saúde, pela sua complexidade e pelas actividades que desenvolve, comporta consequentemente um grau de risco ponderável. No entanto, é fundamental assegurar ao cliente a maior segurança possível, o que confere à gestão do risco uma importância inestimável e incontornável.

METODOLOGIA

Na sequência de uma prévia pesquisa na literatura foi formulada a seguinte pergunta de investigação, o que permitiu definir os critérios de inclusão/exclusão de estudos primários na revisão sistemática: Qual a intervenção do enfermeiro na gestão do risco clínico nas unidades de cuidados continuados integrados?

O objectivo geral desta reflexão teórica e conceptual é compreender a intervenção do enfermeiro na gestão do risco clínico nas unidades de cuidados continuados integrados em Portugal e os objectivos específicos são identificar e fundamentar as intervenções do enfermeiro na gestão do risco clínico nas unidades de cuidados continuados integrados.

Os critérios de inclusão utilizados privilegiam as revisões sistemáticas da literatura, livros e publicações redigidos em Inglês, Português e Espanhol, por esta ordem de preferência; possuam delimitação temporal inferior a 10 anos, excepto no caso dos autores de referência de anos precedentes, que poderão também ser incluídos; contenham documentos referentes ao contexto de internamento; estejam disponíveis integralmente; e abranjam as seguintes áreas do conhecimento: Enfermagem, Psicologia, Gestão, Políticas de Saúde, Sociologia e Investigação.

Os critérios de exclusão abrangem os estudos que não obedecem aos critérios de significância (importância que o artigo tem para o tema em estudo, para os clientes, para a enfermagem enquanto profissão e ciência e para a gestão do risco clínico), exequibilidade (disponibilidade ou recursos para desenvolver a pesquisa) e testabilidade (a formulação do problema deve ser mensurável tanto por métodos quantitativos como qualitativos). Excluíram-se também todos os artigos pagos e documentos relacionados com as unidades de ambulatório (outra tipologia da Rede), uma vez que, apesar de estarem contempladas na legislação em vigor, ainda não foram criadas em Portugal.

A revisão bibliográfica resultou da pesquisa electrónica na EBSCO e na B-On, bases de dados disponíveis na intranet da ESEL. Segundo Craig e Smith (2004), as bases de dados a serem utilizadas em pesquisas na área das ciências de enfermagem são: Medical Literature Online (MEDLINE®); Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL); Cochrane Central Register of Controlled Trials; Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR); Database of Abstracts of Reviews of Effects (DARE); Psychology and Behavioral Sciences Collection (HTA); MedicLatina; E-Journals; Nursing & Allied Health Collection: Comprehensive; ScienceDirect (Elsevier) e Cochrane Methodology Register (CNR).

Os autores e as organizações de referência nacional e internacional para uma pesquisa bibliográfica específica são (segundo a ordem de pesquisa): Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados (UMCCI), World Health Organization (WHO), Canadian Nurses Association (CNA), National Patient Safety Foundation (NPSF), International Council of Nurses (ICN), Direcção-Geral da Saúde (DGS), Ordem dos Enfermeiros (OE), José Fragata, Jacinto Oliveira, International Organization for Standardization (ISO), Federation of European Risk Management Associations (FERMA), American Society for Healthcare Risk Management (ASHRM), Association of Insurance and Risk Managers (AIRMIC), The Public Risk Management Association (ALARM), The Institute of Risk Management (IRM), Institute of Medicine (IOM), James Reason, Callista Roy e The Joint Commission.

 Na Tabela 1 estão esquematizados os principais aspectos da questão de pesquisa, de acordo com a mnemónica PICOD.

 

CUIDADO DE ENFERMAGEM E SEGURANÇA DO CLIENTE

A Enfermagem tem conquistado uma posição preponderante na comunidade científica da saúde, evoluindo não só na complexificação e dignificação da profissão mas também na qualidade e eficácia da prestação de cuidados. Expõem-se os principais conceitos do Modelo de Adaptação de Roy, a fim de obter uma melhor compreensão acerca da sua relação com a gestão do risco clínico. Pretende-se ainda clarificar os vários tipos de erro que aumentam a probabilidade de risco associado e o seu significado na segurança do cliente e na qualidade dos cuidados de enfermagem.

Cuidado de Enfermagem segundo o Modelo de Adaptação de Roy

Com o intuito de clarificar o conceito de cuidados de enfermagem, foi seleccionado o Modelo de Adaptação de Roy (MAR), desenvolvido por Callista Roy. A selecção deste modelo prende-se com o facto de o MAR apresentar características teleológicas – teoria de resultado, direccionada para os fins. A pessoa, a família, a comunidade ou a sociedade são considerados, neste modelo, os receptores dos cuidados de enfermagem sendo, cada um deles, um sistema adaptativo holístico. Assim, o alvo dos cuidados de enfermagem, enquanto sistema aberto, está em constante interacção com o ambiente, promovendo e submetendo-se a trocas de informação, matéria e energia (ROY e ANDREWS, 2001). A fim de clarificar o modelo supracitado, foi elaborado um mapa de conceitos, que espelha e relaciona os diversos componentes do mesmo (fig. 1).

A intervenção do enfermeiro na gestão do risco clínico nas UCCI enquadra-se no MAR, uma vez que este pretende promover a adaptação do indivíduo a estímulos que possam alterar o seu estado, melhorando consequentemente a sua interacção com o meio ambiente. À semelhança do MAR, que apresenta características teleológicas, na gestão do risco clínico a avaliação do enfermeiro foca-se nos resultados que pretende obter, sabendo, à partida, que os caminhos que levam à ocorrência de erros e eventos adversos nem sempre são claros e evidentes. Assim, cabe ao enfermeiro: avaliar os estímulos (identificação do contexto) que podem desencadear respostas ineficazes (identificação e análise das áreas de risco); planear intervenções (tratamento do risco – consideração de técnicas alternativas de gestão do risco, selecção da melhor ou melhores técnicas/procedimentos de gestão do risco); aplicá-las (tratamento do risco – implementação das técnicas seleccionadas); e avaliar as respostas comportamentais do sistema (monitorização e revisão do programa de gestão de risco).

Através competência técnica, o enfermeiro é o elemento mais indicado para intervir ao nível dos estímulos (focal, contextual e/ou residual), que podem incluir a probabilidade de ocorrência de risco para a saúde do cliente.

O Erro

Para se falar da gestão do risco é imprescindível clarificar o conceito de erro, uma vez que a percentagem de risco de determinado fenómeno é calculada a partir da probabilidade de ocorrência do erro (MANSOA, 2010). Segundo Fragata (2009), o erro caracteriza-se por um desvio de um resultado em relação a um plano pré-estabelecido ou o uso de um plano errado para atingir um dado objectivo.

Os erros apresentam carácter intencional e podem ocorrer por comissão (EC), quando são provocados por uma acção, ou por omissão (EO), quando são resultantes de uma não-acção (INSTITUTE OF MEDICINE, 2000). Podem ser classificados consoante a fase do processo de enfermagem em que ocorrem, como erros de planeamento, erros de execução, erros de comunicação e erros por violação de procedimentos (MANSOA, 2010). Ainda segundo Fragata (2008), os erros podem ser de diversos tipos: honestos, negligentes, humanos e de sistema. Neste artigo serão focados apenas os últimos dois.

Os erros humanos são directamente cometidos por humanos e repercutem-se no final do sistema. Estes podem alterar os resultados pretendidos e comprometer a performance, sendo as causas atribuíveis à acção individual de humanos (FRAGATA, 2008). Os erros humanos, potenciados por falhas existentes no sistema, podem ser resultantes de lapsos ou enganos. Os erros de sistema ocorrem em consequência de variações do mesmo, não podendo ser atribuída responsabilidade à acção de um profissional. São antes o resultado de um mau desenho organizacional do sistema.

Podem ainda emergir eventos adversos prejuízos resultantes de uma intervenção clínica – que segundo Fragata (2008, p.82) “não implicam erros ou atitudes negligentes, podem ser evitáveis, causando danos físicos ou meros transtornos de fluxo de tratamento com perdas de eficácia”. Segundo este autor, os eventos adversos podem ser de três tipos: incidentes, acidentes e near misses. Os incidentes podem traduzir-se em danos ou prejuízos minor, sem consequências de relevo, provocando transtornos de fluxo mas não comprometendo os resultados esperados. Por sua vez os acidentes ou podem ser traduzidos em danos ou prejuízos major, com consequências permanentes e que comprometem definitivamente os resultados pretendidos (FRAGATA, 2008; IOM, 2000). Os near misses – incidentes que foram evitados – são fundamentais nas organizações, uma vez que permitem desde logo identificar o trajecto para a ocorrência de acidentes e adoptar medidas para os prevenir (FRAGATA, 2008).

 Gestão do Risco Clínico

A incidência de eventos adversos – causa importante do sofrimento humano, que poderia ser evitável – é um desafio para a qualidade dos cuidados e um instrumento de perda financeira e de custos por parte dos serviços de saúde, o que implica um maior empenho dos sistemas de saúde para prevenir os eventos adversos e aumentar, desta forma, a segurança do cliente e a qualidade dos cuidados (WHA, 2002; ORDEM DOS ENFERMEIROS, 2006).

A CNA (2003) define segurança do cliente como a prevenção de actos inseguros no sistema de saúde. Para a enfermagem deve significar estar sob o cuidado de um profissional de saúde que, de acordo com o consentimento do cliente, o ajuda a atingir um nível óptimo de saúde ao mesmo tempo que assegura todas as acções necessárias para prevenir ou minimizar o erro. Para a Ordem dos Enfermeiros, “a segurança dos clientes deve ser a preocupação, o objectivo e a obrigação prática de todos os enfermeiros, com vista à protecção dos direitos dos clientes a cuidados seguros bem como da sua dignidade” (ORDEM DOS ENFERMEIROS, 2011, p. 2).

A necessidade do desenvolvimento de uma cultura de segurança é imprescindível para que o cliente se sinta seguro em aceder aos cuidados de saúde de uma determinada instituição. Na ocorrência de um evento adverso, os clientes têm o direito de saber quando este sucede durante a prestação de cuidados, para que possam obter o tratamento adequado o mais depressa possível (CNA, 2003). Segundo este autor (2003, p. 2), “a criação de uma cultura aberta de notificação de eventos adversos e near misses e a divulgação dos eventos adversos ao cliente e sua família são necessários para suportar uma boa prática clínica e para desenvolver um sistema de segurança do cliente”. Neste sentido, constata-se uma importância crescente atribuída à segurança do cliente, de forma a prestar cuidados de enfermagem seguros, tanto na perspectiva do enfermeiro como na perspectiva do cliente.

A gestão do risco clínico deve ser parte integrante da cultura organizacional de cada organização, uma vez que só o carácter universal desta permite capacitá-la para eliminar e sustentar as lacunas existentes nas defesas, através das quais a trajectória de um acidente tem que passar (REASON, 1998). A gestão do risco clínico pressupõe um compromisso dos gestores de topo e uma participação activa de todos os profissionais implicados neste processo. Estes são princípios essenciais para uma gestão eficaz do risco clínico e estão em concordância com as normas internacionais da ISO/DIS 31000 de 2008 (Risk managementPrinciples and guidelines on implementation).

Segundo Oliveira (2005, p. 13), os objectivos da gestão do risco (clínico e não clínico) são:

       “desenvolver e implementar processos para identificar e hierarquizar os riscos; estabelecer sistemas que permitam lidar com os riscos identificados, eliminando-os ou reduzindo-os a um nível aceitável; reduzir o efeito directo e consequente e o custo de incidentes que ainda possam ocorrer, através da criação de medidas de apoio efectivas; proteger o hospital e respectivo pessoal de responsabilidades legais”.

 As vantagens da cultura de segurança, de acordo com a gestão do risco clínico, apontadas por Oliveira (2005) são designadamente: melhoria da comunicação entre todos os intervenientes (gestores de topo, enfermeiros, clientes e familiares); promoção do trabalho em equipa de qualidade superior, definindo as responsabilidades dos profissionais de saúde; optimização da articulação interprofissional; criação e articulação de guidelines e protocolos de actuação explícitos na formação e no desenvolvimento de competências, na melhoria da informação dada ao cliente, no despiste precoce de complicações e na definição dos critérios de admissão.

A implementação de uma eficaz gestão do risco clínico implica a criação de “(…) mecanismos formais capazes de avaliar a efectividade das estratégias, dos planos e dos processos da gestão do risco” (OLIVEIRA, 2005, p. 13). Implica, igualmente, o desenvolvimento e a implementação de “(…) mecanismos formais para a participação imediata de todos os incidentes, para avaliação das consequências potenciais, para a investigação das causas e para a identificação de falhas no sistema, sem atribuição de culpa” (OLIVEIRA, 2005, p. 13).

Segundo este autor (2005), as áreas de intervenção mais comuns na gestão do risco clínico em Portugal são: a comunicação e o consentimento informado, a supervisão de pessoal inexperiente, o conteúdo e a organização do processo clínico, os procedimentos do bloco operatório, a falta de tempo para a prestação de cuidados, as acções com base em resultados radiológicos ou laboratoriais, a acção que ultrapassa o nível de competência de quem age, os estagiários e o pessoal recém-formado.

The Institute of Risk Management define risco como a combinação da probabilidade de ocorrência de um evento e das suas consequências (AIRMIC, ALARM e IRM, 2002). De acordo com Fragata (2008, p. 41), “por risco entende-se a probabilidade de ocorrência de um qualquer evento adverso”; segundo Amaro e Duarte (2007, p. 4), risco define-se como “a probabilidade de ocorrência de um perigo que provoque danos”.

A natureza do risco é ampla e, de acordo com a sua origem, pode ser classificada em risco clínico e risco não clínico, que inclui risco biológico, físico, químico, psicossocial, estratégico, operacional e financeiro (AMARO e DUARTE, 2007; AIRMIC, ALARM e IRM, 2002). No tema em estudo optou-se pela gestão do risco clínico, pois é a natureza do risco associada à prática directa e indirecta dos cuidados de enfermagem. Risco clínico define-se por

          “todo o risco associado à acção directa ou indirecta dos profissionais de saúde que trabalham para o doente, resultante da ausência/deficiência de políticas e acções organizativas na prestação de cuidados de saúde (médicos, enfermeiros e técnicos de saúde). Acarreta a ocorrência de acontecimentos adversos, decorrentes da actividade clínica, que determinem os danos na saúde física (psicológica dos doentes/utentes e na imagem do Hospital” (AMARO e DUARTE, 2007, p. 4).

O processo de gestão do risco pode ser definido como um conjunto de procedimentos e de objectivos pré-definidos, com o intuito de promover uma cultura de segurança nas organizações de saúde (ISO/DIS 31000, 2008). Segundo McCaffrey e Hagg-Rickert (2004, p. 100-101),

          “variado é o campo de intervenção da gestão do risco, centrando-se contudo na protecção da organização perante potenciais perdas. As áreas de intervenção são variadas, incluindo os riscos relacionados com os clientes, os profissionais, o equipamento e infra-estruturas, financeiros, entre outros.

 De acordo com a International Organization for Standardization (2008), este processo é composto pelas seguintes etapas (fig. 2):

  1. Definição do contexto, que identifica o enquadramento estratégico e organizacional, de forma a garantir coerência e consistência em todo o processo de gestão do risco;
  2. Avaliação dos riscos, que inclui a identificação do risco, a sua análise e estimativa;

2.1 – Identificação dos riscos internos e externos associados à prestação de cuidados, ao serviço, organização, utentes e colaboradores;

2.2 – Desenvolvimento de um processo sistemático de análise e caracterização (método quantitativo e/ou qualitativo) dos riscos;

2.3 – Desenvolvimento de um processo de estimativa dos riscos, no qual se procede à comparação face aos critérios de aceitabilidade e estabelece as prioridades de acção;

3. Tratamento do risco, no qual se desenvolvem planos de acção para o controlo e minimização do mesmo.

Unidades de Cuidados Continuados Integrados

As UCCI são uma das tipologias da RNCCI e integram as unidades de internamento e as unidades de ambulatório. Este artigo foca-se essencialmente nas unidades de internamento por ser a única tipologia na qual se prestam cuidados de enfermagem permanentes. Aos cuidados de enfermagem permanentes corresponde o máximo investimento possível em horas de cuidados, devido ao máximo potencial de recuperação e de capacitação da autonomia do cliente (PORTUGAL, 2009). As unidades de internamento são as unidades de convalescença, as unidades de média duração e reabilitação, as unidades de longa duração e manutenção e unidades de cuidados paliativos.

Institui-se no modelo de intervenção integrado e/ou articulado da saúde e da segurança social, tendo sido criada com o desígnio de responder às novas necessidades de saúde e sociais dos portugueses, decorrentes da diminuição da natalidade e da mortalidade, do progressivo envelhecimento da população e do aumento da esperança média de vida, segundo a legislação em vigor. Consequentemente, verifica-se um aumento da prevalência de doenças crónicas e incapacitantes e a emergência de carências ao nível social dos cuidados continuados integrados.

À semelhança do que se verifica em Portugal, a reforma de saúde da Catalunha afastou-se de um sistema biomédico paternalista para um sistema de auto-cuidado, conferindo maior visibilidade ao cuidado de enfermagem (CATALUNYA, 2010). Os clientes passam a ser parceiros nos cuidados e co-responsabilizados na tomada de decisões através da capacitação e do consentimento informado. Os tipos de cuidados do SNS são semelhantes aos serviços prestados na Catalunha, como, por exemplo, os cuidados de saúde primários, cuidados especializados, cuidados domiciliários, cuidados paliativos, cuidados de saúde mental e aditivos, cuidados à pessoa dependente e os cuidados integrados. O conjunto de serviços e a permanência contínua confere ao enfermeiro o perfil profissional “melhor colocado para responder aos objectivos e atribuições das unidades de média e de longa duração, especificamente no que respeita à coordenação destas unidades” (PORTUGAL, 2009, p. 8).

A Intervenção do Enfermeiro na Gestão do Risco Clínico nas Unidades de Cuidados Continuados Integrados

No âmbito da gestão do risco clínico, os enfermeiros na Rede visam designadamente: identificar situações de risco potencial e de crise e analisar, propor e implementar soluções para os problemas encontrados; contribuir para a gestão de casos e monitorização da continuidade e qualidade dos cuidados; identificar as lacunas ou constrangimentos e realizar planos de intervenção para os suprir, com a finalidade de melhorar a qualidade dos cuidados prestados à pessoa dependente, família e cuidadores informais; contribuir para a criação do processo clínico, através dos registos de enfermagem traduzindo, deste modo, as práticas dos enfermeiros e os resultados de saúde sensíveis aos cuidados de enfermagem (PORTUGAL, 2009).

Uma vez que o enfermeiro, segundo a legislação em vigor, pode assumir o cargo de director das Unidades de Média Duração e Reabilitação e das Unidades de Longa Duração e Manutenção, torna-se pertinente clarificar a sua intervenção na implementação e supervisão de todas as etapas do processo de gestão do risco clínico, tendo por base as guidelines de referência a nível internacional. Além do mais, o processo de gestão do risco está inerente à prática de enfermagem e é um elemento fundamental nas intervenções (REYNOLDY, 2009). De acordo com AIRMIC, ALARM e IRM (2010), as principais funções do enfermeiro na gestão do risco clínico passam por desenvolver, implementar e actualizar a cultura de gestão do risco, documentar a política e estrutura interna, coordenar e controlar as actividades e reunir os relatórios sobre a gestão do risco para apresentar à direcção da organização.

 Etapas do Processo de Gestão do Risco nas Unidades de Cuidados Continuados Integrados

1. Comunicação

O desenvolvimento de planos e estratégias centrais de comunicação orientam adequadamente a interacção de acordo com o contexto da UCCI. Sem estas estratégias não existe uma compreensão coerente entre todos os intervenientes (profissionais e clientes), sobre o processo de comunicação e, consequentemente, sobre o processo de gestão do risco clínico. As intervenções de enfermagem associadas a esta etapa são (AIRMIC, ALARM e IRM, 2002; ASHRM 2006; AUSTRALIA, 2005; ISO/DIS 31000, 2008):

  • Definir objectivos precisos, claros e exequíveis para a comunicação entre todos os intervenientes da UCCI (enfermeiros, equipa multidisciplinar e clientes);
  • Desenvolver micro-estratégias de comunicação a serem utilizadas no processo de gestão do risco clínico, especificando orientações adequadas para cada situação;
  • Seleccionar os enfermeiros internos e externos à UCCI com o perfil adequado para desempenhar funções no grupo de intervenientes e interessados e no grupo de especialistas e peritos, com a finalidade de garantir a satisfação e a motivação de todos;
  • Identificar quais os princípios e perspectivas a serem considerados em todo o processo no contexto da UCCI, para uniformizar os pilares onde são tomadas as decisões;
  • Desenvolver processos através dos quais é avaliada a eficácia das estratégias de comunicação, com o intuito de optimizar o seu funcionamento;
  • Desenvolver planos e estratégias de comunicação, entre os enfermeiros e os clientes, sobre os riscos e os erros associados aos cuidados de enfermagem, as suas consequências e medidas adoptadas para minimizar ou prevenir os danos. A forma como os eventos adversos, erros, acidentes ou incidentes são comunicados aos clientes é crucial para o desfecho da situação, porque influencia a resposta e a preferência destes por determinada instituição de saúde. O objectivo da comunicação aberta com o cliente é minimizar os danos e encontrar a melhor resolução do problema para todos os intervenientes (JONHSTONE e KANITSAKI, 2006; JONHSTONE, 2008);
  • Desenvolver planos e estratégias de comunicação, entre os enfermeiros, sobre os riscos clínicos, as suas consequências e as medidas a adoptar em cada etapa do processo, a fim de evitá-los. Uma comunicação efectiva em todas as etapas é imprescindível para implementar correctamente o processo de gestão do risco clínico e para compreender os pilares nos quais assentam as decisões que são tomadas e porque devem ser tomadas. A comunicação é igualmente imprescindível entre os enfermeiros para discussões de casos e julgamentos clínicos associados a riscos clínicos, erros e eventos adversos. Cada profissional tem uma perspectiva diferente da situação dependendo da sua formação, conhecimentos na área, competências e personalidade, o que influencia o julgamento e a tomada de decisão (ISO/DIS 31000, 2008; SCHAAG et al, [s.d.]).

 2. Definição do Contexto

Nesta etapa do processo, as intervenções de enfermagem são cruciais pois influenciam as normas e os padrões das etapas subsequentes. As intervenções associadas são (AIRMIC, ALARM e IRM, 2002; AUSTRALIA, 2005; ISO/DIS 31000, 2008; VERBANO e TURRA, 2010):

  • Definir parâmetros de contexto precisos, tais como metas, objectivos, competências, responsabilidades, estratégias, projectos, métodos de recolhas de dados e actividades das UCCI, nos quais o processo de gestão do risco clínico deve ser implementado. As decisões nas etapas seguintes são tomadas de acordo com o contexto definido;
  • Definir os campos de acção do processo de gestão do risco clínico, os limites e as suas áreas de intervenção e de implementação, com o intuito de não expor a UCCI a ameaças em campos de acção por si não abrangidos;
  • Definir a relação entre os diferentes projectos e actividades da UCCI, de forma a estabelecer prioridades de actuação e de intervenção ao longo do processo;
  • Definir metodologias de identificação e avaliação do risco a serem implementadas nas etapas posteriores para uma avaliação credível, fidedigna e sistemática dos riscos clínicos;
  • Identificar e compreender a cultura operacional das UCCI como estratégia para o estabelecimento do contexto. Esta intervenção ajuda a garantir a eficácia da implementação do processo de gestão do risco clínico;
  • Identificar os estudos necessários à UCCI, a sua extensão, os objectivos e os recursos necessários para a sua concretização. Estes estudos, tal como o efectuado através da análise da Grelha de Acompanhamento à Unidade, permitem avaliar o estado actual da UCCI e delinear acções para melhorar a qualidade e a segurança do cliente.

 3. Identificação do Risco

A intervenção do enfermeiro na identificação do risco visa criar uma lista de riscos clínicos, erros e eventos adversos para posterior análise. Os riscos não identificados nesta etapa não serão analisados, constituindo uma ameaça para a UCCI, o que justifica a importância das intervenções de enfermagem, nomeadamente (AIRMIC, ALARM e IRM, 2002, 2010; AUSTRALIA, 2005; ISO/DIS 31000, 2008; VERBANO e TURRA, 2010):

  • Recorrer a fontes e técnicas de identificação do risco clínico, de erros e de eventos adversos. Estas permitem recolher dados sobre características dos erros e dos riscos que, de outro modo, seriam difíceis de identificar. Segundo Bellandi (2007), as fontes para identificar eventos adversos e near misses são a notificação de acidentes (estratégia mais frequente de identificação do risco), a revisão dos registos de enfermagem e as prescrições não cumpridas. O registo de notificação de incidentes faz parte do programa de gestão do risco clínico e auxilia o enfermeiro gestor do risco a desenvolver: formações acerca dos procedimentos mais frequentes que originam risco e a melhor forma de os evitar; e a desenvolver treino em relação a tais procedimentos (SCHAAG et al, [s.d.]). De acordo com Bellandi (2007), as fontes de identificação de acidentes e incidentes são as reclamações, as sugestões e as notícias. Ainda segundo AIRMIC, ALARM e IRM (2002, 2010), as técnicas de identificação do risco são: brainstorming; questionários; estudos que analisam cada processo decorrente dos cuidados de enfermagem e que descrevem os factores internos e externos que influenciam os mesmos; análises comparativas entre diferentes projectos; análise de possíveis cenários; workshops de avaliação de riscos clínicos; investigação de incidentes; auditorias; e inspecções;
  • Implementar e monitorizar mecanismos de recolha de dados, ou seja, monitorizar todo o processo de recolha de dados sobre os erros e os riscos clínicos, de acordo com as fontes e técnicas seleccionadas pela UCCI, com a finalidade de garantir e melhorar a sua credibilidade e eficácia;
  • Identificar os potenciais riscos clínicos e erros associados à prestação de cuidados de enfermagem (eventos adversos, falhas activas e latentes, near misses, acidentes, incidentes, eventos adversos). A sua identificação permite orientar e seleccionar as estratégias adequadas para a etapa seguinte com vista a tratar, prevenir ou minimizar os danos.

 4. Análise do risco

Após a identificação dos riscos é necessário proceder à sua análise, no sentido de se obterem dados que permitam tomar decisões quanto ao seu tratamento. Desta forma, cabe ao enfermeiro responsável pela gestão do risco clínico (AIRMIC, ALARM e IRM, 2002, 2010; AUSTRALIA, 2005; ISO/DIS 31000, 2008; VERBANO e TURRA, 2010):

  • Avaliar as técnicas e os procedimentos de controlo do risco clínico e avaliar a sua validade e fiabilidade, sendo o primeiro passo na análise do risco clínico. Permite não só identificar falhas e oportunidades para o erro das técnicas e procedimentos de controlo, como também estabelecer mecanismos para melhorar os procedimentos de controlo e reduzir a probabilidade de erro;
  • Efectuar uma análise preliminar a todos os riscos clínicos, de modo a eliminar os riscos com baixo impacto ou aceitáveis de uma análise profunda e sistemática. A eliminação dos riscos clínicos deve ser documentada e fundamentada, por exemplo, na folha de análise do risco para manter a fidelidade desta etapa e de todo o processo;
  • Compreender a origem dos riscos clínicos de forma a eliminar não só todas as suas causas, como também as suas consequências;
  • Compreender as consequências dos riscos, quer nas ameaças que representam, quer nas oportunidades que proporcionam. Segundo AIRMIC, ALARM e IRM (2002, 2010), as ameaças e as oportunidades podem ser classificadas em altas, médias e baixas.
  • Seleccionar o tipo de análise do risco mais adequado (quantitativo, semi-quantitativo ou qualitativo) para estimar os riscos clínicos e avaliar as suas consequências e a sua probabilidade de ocorrência. O tipo de análise seleccionado deve ser adequado aos dados recolhidos nas etapas anteriores.
  • Implementar métodos e técnicas de análise de riscos, como por exemplo (AIRMIC, ALARM e IRM, 2002, 2010; VERBANO e TURRA, 2010).

O resultado do processo de análise de riscos pode ser utilizado para gerar um perfil dos riscos que classifica cada um segundo a sua importância e fornece uma ferramenta para determinar a prioridade dos esforços de tratamento. Este perfil classifica cada risco identificado, de modo a dar uma ideia da sua importância relativa.

 5. Avaliação do risco

Identificados e analisados os riscos existentes na UCCI, procede-se à sua avaliação, comparando os critérios de aceitabilidade e estabelecendo as prioridades de acção. Assim, as intervenções do enfermeiro são (AIRMIC, ALARM e IRM, 2002, 2010; AUSTRALIA, 2005; ISO/DIS 31000, 2008; BELLANDI, 2007; VERBANO e TURRA, 2010):

  • Comparar os riscos clínicos existentes a partir dos critérios de aceitabilidade aplicados na UCCI e seleccionar os riscos que devem ser tratados (os critérios aplicados podem ser clínicos, operacionais, técnicos, financeiros, legais, sociais e humanitários), de forma a adequar os procedimentos de enfermagem e o contexto em que são praticados ao respectivo risco;
  • Estabelecer prioridades de acção consoante o nível de risco existente para, posteriormente, serem sujeitos ao seu tratamento;
  • Verificar se os resultados da acção serão satisfatórios. Caso não sejam, é necessária nova Análise/Avaliação dos riscos, a partir da revisão ou possível redefinição do contexto.

 6. Tratamento do risco

Esta etapa envolve um processo cíclico no qual o risco clínico é submetido a um tratamento para ficar de acordo com os critérios da UCCI, com a finalidade de ser considerado um risco aceitável. A intervenção do enfermeiro no tratamento do risco passa por (AIRMIC, ALARM e IRM, 2002, 2010; ASHRM 2006; AUSTRALIA, 2005; ISO/DIS 31000, 2008; BELLANDI, 2007; VERBANO e TURRA, 2010):

  • Evitar o risco, através da decisão de não iniciar ou não continuar uma actividade que contém um risco inaceitável; escolher uma actividade alternativa que implica menor risco; ou adoptar uma metodologia alternativa ou um processo menos arriscado para prosseguir com a actividade desejada. Se a UCCI estiver bem equipada (recursos humanos e materiais) para gerir o risco sem causar dano, deve adoptar um processo de gestão do risco e práticas de trabalho apropriadas ao mesmo e, assim, prosseguir com a actividade;
  • Decidir iniciar ou dar continuidade a um procedimento de enfermagem susceptível de criar ou aumentar o risco. Se não for possível ou se for muito dispendioso, poderá reduzir-se ou transferir o risco para outros parceiros (enfermeiros ou outras instituições). Manter determinado risco clínico exige uma fundamentação, monitorização e um plano de contingência para o mesmo;
  • Remover o nível e/ou as consequências do risco, através de medidas de controlo. Estas medidas de controlo incluem a revisão dos protocolos de procedimentos existentes, bem como o treino e formação dos profissionais da UCCI;
  • Partilhar o risco com outra parte ou partes. Esta partilha ou transferência surge pela solicitação de ajuda a um profissional/parceiro mais experiente para gerir o respectivo risco;
  • Definir planos de tratamento do risco. O enfermeiro gestor do risco clínico deve estabelecer planos de acção, nos quais são identificados os métodos de tratamento do risco clínico, incluindo as responsabilidades individuais, os mecanismos de acção e os resultados esperados.

A selecção da opção mais adequada para tratamento do risco depende do balanço entre os custos e os esforços da implementação e os benefícios da mesma. No entanto, nem todos os riscos são plausíveis de serem tratados. Por exemplo, os riscos com elevada consequência negativa, mas que ocorrem raramente, não são economicamente sustentáveis para serem tratados. Se os recursos existentes para o tratamento são escassos, o plano de tratamento deve identificar claramente a ordem de tratamento de riscos que deve ser implementada (ISO/DIS 31000, 2008).

Para o sucesso do tratamento, este deve ter uma monitorização constante, a fim de evitar a implementação de um plano de tratamento ineficaz que, eventualmente, possa originar riscos. O plano de tratamento do risco, segundo a ISO/DIS 31000 (2008) deve incluir: benefícios esperados, medidas de desempenho e restrições, pessoas responsáveis pela aprovação e pela execução do plano, acções propostas; relatórios e requisitos de monitorização, recursos necessários e calendário e agenda.

O plano de tratamento do risco deve ser integrado no processo da organização e discutido com a equipa multidisciplinar. Esta discussão gera um momento de aprendizagem entre os intervenientes. Segundo Bellandi (2007), é essencial a partilha dos resultados obtidos, através de uma comunicação eficiente e de um conhecimento partilhado, de forma a criar um círculo de aprendizagem entre os profissionais da UCCI.

7. Monitorização e Revisão

A monitorização e revisão fazem parte do processo de gestão do risco clínico e são transversais a todas as etapas. Assim, a intervenção do enfermeiro neste âmbito, segundo a ISO/DIS 31000 (2008), passa por:

  • Analisar e aprender a partir da observação de procedimentos, mudanças e tendências no âmbito da gestão do risco clínico, de forma a melhorar a performance profissional e a elevar a qualidade na prestação de cuidados de enfermagem;
  • Detectar alterações no contexto interno e externo da UCCI, nomeadamente, mudanças ao nível do risco clínico que podem requerer uma revisão das prioridades no tratamento do risco;
  • Garantir a efectividade do funcionamento das medidas de controlo (normas e protocolos de actuação) e tratamento do risco, na sua concepção e operacionalização para evitar falhas e corrigir as lacunas;
  • Identificar riscos emergentes. O enfermeiro deve estar desperto para qualquer risco clínico que surja, para tratá-lo de imediato com a finalidade de prevenir e minimizar os erros.

Os resultados da monitorização e revisão podem ser registados interna ou externamente, o que permitirá o controlo da qualidade e a optimização da implementação do processo de gestão do risco.

Segundo a American Society for Healthcare Risk Management (2006) (ASHRM), existem seis grandes áreas de actuação do enfermeiro gestor do risco: prevenção/redução das perdas, gestão das reclamações, financiamento do risco, cumprimento da regulamentação/acreditação, operações e bioética. A prevenção/redução de perdas inclui aspectos relacionados com a identificação de riscos, prevenção e redução das mesmas. Neste âmbito, alguns exemplos de actividades que o enfermeiro gestor do risco clínico pode desenvolver nas UCCI são (SEDWICK, 2004, citado por GONÇALVES, 2008):

  • Elaborar relatórios estatísticos e qualitativos sobre gestão do risco clínico;
  • Desenvolver meios que promovam a identificação do risco, de forma informal ou formal, por parte de todos os profissionais da UCCI, principalmente com os enfermeiros.

No âmbito da gestão de reclamações, o mesmo autor sugere as seguintes intervenções:

  • Implementar estratégias e actividades de gestão específicas para reclamações, com possibilidade de autorização/aprovação de acordos;
  • Desenvolver normas e procedimentos para a gestão e resolução de reclamações, em conformidade com a legislação;
  • Assegurar que a administração é mantida informada sobre casos de alta exposição ao risco e de reclamações agregadas, incluindo o seu impacto no programa de financiamento de riscos.

De acordo com Sedwick (2004), citado por Gonçalves (2008), na área do financiamento do risco, ao nível das perdas financeiras, uma das actividades do enfermeiro gestor do risco clínico passa por:

  • Monitorizar as aplicações financeiras e/ou os seus riscos associados, avaliando-se a organização como um todo para determinar se está devidamente coberta pelos seguros.

Outra das áreas identificadas pela ASHRM é o cumprimento da regulamentação/acreditação, que é relativo ao cumprimento legal dos requisitos relacionados com o processo de acreditação e com as disposições legais do país. Assim, todas as actividades desenvolvidas devem estar de acordo com o cumprimento de legislação específica.

Na área das operações, alguns exemplos das actividades desenvolvidas pelo enfermeiro (SEDWICK, 2004, citado por GONÇALVES, 2008) são:

  • Treinar e supervisionar os colaboradores na gestão do risco clínico;
  • Coordenar e administrar vários departamentos da gestão do risco clínico.

Ainda na área das operações, é essencial ter presente a delegação de funções. À prática de enfermagem está subjacente a delegação de funções, o que pode influenciar a probabilidade de ocorrência do risco clínico, bem como a sua gestão. Para uma apropriada delegação de funções, o enfermeiro gestor do risco clínico deve elaborar uma descrição de cada papel dos elementos da equipa, principalmente, a distinção de papéis entre os auxiliares de acção médica e os enfermeiros da equipa de cada UCCI. Cabe também ao enfermeiro gestor a implementação de mecanismos de validação de competências e definição das mesmas, consoante as características do contexto. Se cada elemento da equipa de enfermagem souber o que pode delegar, este conhecimento será repercutido numa melhor gestão de tempo e, consequentemente, numa melhoria de cuidados prestados ao cliente. Por isso, o investimento nas competências profissionais da equipa possibilita a diminuição do risco clínico nas UCCI (SCHAAG et al, [s.d.]).

Por último, no âmbito da bioética, o enfermeiro gestor do risco clínico deve zelar pelas práticas do exercício profissional e actuar de acordo com o Código Deontológico do Enfermeiro e com todos os princípios a ele subjacentes.

De forma a dar visibilidade ao que é efectuado ao nível da gestão do risco nas organizações, The Joint Commission tem um papel essencial no que diz respeito à acreditação. É uma organização independente, sem fins lucrativos que acredita e certifica instituições e programas de saúde nos Estados Unidos da América (EUA). Em colaboração com os profissionais de saúde tem como missão melhorar os cuidados prestados através da avaliação das instituições de saúde e incentivar a prestação de cuidados de qualidade e de excelência, de uma forma segura e eficaz. Com o objectivo de melhorar a segurança do cliente, The Joint Commission cria, em 2010, um conjunto de metas nacionais que colmatam as falhas identificadas nas organizações de saúde. As principais metas e respectivas intervenções de enfermagem, associadas aos riscos clínicos identificados com maior frequência nos EUA no âmbito do long-term care são (THE JOINT COMMISSION, 2010; SCHAAG et al, [s.d.]):

  • Melhorar a exactidão da identificação do cliente, utilizando duas formas distintas de identificação, como por exemplo, o nome e a data de nascimento. A adopção deste procedimento, em todas as intervenções, permite evitar erros resultantes da identificação incorrecta do cliente;
  • Prevenir infecções através do cumprimento de guidelines para lavagem das mãos e controlo de infecção. A transmissão de agentes infecciosos deve ser prevenida pelos enfermeiros através da adesão a estas campanhas. Cabe aos enfermeiros orientar os clientes quanto às estratégias de prevenção de agentes multi-resistentes, como por exemplo, os programas de vigilância de microorganismos multi-resistentes, na etapa de avaliação do risco;
  • Prevenir quedas no contexto da instituição, através da avaliação dos clientes com maior risco de queda (adopção de uma escala de avaliação seleccionada pelo serviço) e consequente adopção de medidas preventivas, quer para evitar a queda, quer para a prevenção de danos, caso se verifique. Esta avaliação deve considerar o histórico do cliente relativamente às quedas, aos consumos de álcool e de medicamentos, à avaliação da marcha e do equilíbrio, à utilização de dispositivos auxiliares de marcha e às condições físicas do serviço. Os enfermeiros devem apostar na formação sobre prevenção de quedas, capacitar os clientes e famílias para estratégias de prevenção e, ainda, avaliar todo o processo, actividades e intervenções implementadas para a sua redução;
  • Prevenir úlceras de pressão através da avaliação periódica do seu risco e adopção de medidas preventivas adequadas ao nível do mesmo. O enfermeiro deve também criar um plano de cuidados para identificação e prevenção do risco de úlcera de pressão; avaliar os utentes quanto ao seu risco no momento da admissão; utilizar instrumentos cientificamente válidos para avaliação do risco, tais como escala de Braden ou escala de Norton; estabelecer um intervalo entre as aplicações das escalas; manter e melhorar a tolerância dos tecidos à pressão, com o intuito de prevenir soluções de continuidade; proteger os clientes contra as forças de fricção; e orientar os pares e as famílias para a identificação e prevenção de úlceras de pressão;
  • Prevenir a ocorrência do suicídio em clientes de maior risco: avaliar o risco de suicídio, identificando as características do cliente e do ambiente que aumentam este; seleccionar todas as intervenções de segurança adequadas ao cliente; na alta, providenciar informação ao cliente e à família sobre a prevenção do suicídio;
  • Melhorar a segurança na preparação e administração de medicamentos, nomeadamente os anticoagulantes. As estratégias apontadas pela The Joint Commission para atingir esta meta incluem apenas anticoagulantes para o tratamento de algumas patologias, tais como trombose venosa profunda e embolismo pulmonar, excluindo os anticoagulantes para fins profilácticos. A diminuição dos danos causados por esta terapêutica requer educação para a saúde, treino instruído e supervisionado por um enfermeiro, que, de preferência, mantenha uma relação terapêutica com o cliente. É necessário garantir a sua compreensão sobre os riscos desta terapêutica, as precauções necessárias e a necessidade de monitorizar regularmente o INR (International Normalized Ratio). Para reduzir o risco de ocorrência de erro na preparação e administração de anticoagulantes, o enfermeiro deve orientar-se por protocolos aprovados e actualizados pela UCCI;
  • Melhorar a comunicação entre os enfermeiros, através da divulgação oportuna dos resultados de exames auxiliares de diagnósticos (EAD) ao cliente. A comunicação poderá ser optimizada através da definição de resultados críticos, identificação do profissional responsável pelos EAD, implementação de procedimentos que giram eficazmente os EAD, dos resultados críticos e da avaliação das oportunidades de transmissão destes resultados;
  • Implementar um sistema de registos clínicos no sistema de documentação. O registo, inserido num sistema de documentação da UCCI, permite dar visibilidade à qualidade do cuidado prestado. Assim, os principais objectivos de um sistema de documentação são: assegurar a qualidade dos cuidados prestados; cumprir os requisitos preconizados na legislação; efectuar uma avaliação acerca dos custos do cuidado; obter e manter uma acreditação voluntária e gerir o risco.

O enfermeiro gestor do risco clínico deve assegurar que a qualidade do cuidado de enfermagem prestado é desenvolvido, tendo por base o custo dos serviços prestados e a sua efectividade. Além disso, o enfermeiro é o elo entre a prática de cuidados e a melhor forma de gerir essa prática, uma vez que tem contacto directo com ambas. A sua intervenção em todas as etapas do processo de gestão do risco clínico, tendo em consideração as orientações internacionais de instituições de acreditação, como The Joint Commission, promove a imagem e a qualidade da UCCI. O enfermeiro deve comunicar as suas expectativas para que a equipa multidisciplinar seja: razoável e prudente em situações idênticas; capaz de aplicar os procedimentos preconizados nos protocolos e as guidelines existentes; competente na prática e zeloso na obtenção de conhecimento; capaz de comunicar claramente e de pedir por ajuda sempre que necessário (SCHAAG et al, [ ]).

O processo de gestão do risco clínico é indissociável da intervenção do enfermeiro. À semelhança do processo de enfermagem que cria um plano de cuidados, o processo de gestão do risco clínico cria um plano de tratamento do risco sem o qual este não seria correctamente prevenido, tratado e minimizado.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 A gestão do risco clínico é ainda uma área recente e desconhecida para maioria dos profissionais de saúde portugueses, sendo premente apostar na formação e sensibilização dos profissionais, nas organizações de saúde, sobre a pertinência e impacto da gestão do risco clínico nas políticas de qualidade instituídas. O enfermeiro gestor do risco desempenha um papel fundamental ao contribuir decisivamente para o seu sucesso, sendo esta uma oportunidade para ampliar a sua área de intervenção.

Tal como a gestão do risco clínico, onde importa prevenir ou controlar o risco através da implementação de uma cultura de segurança, o Modelo de Adaptação de Roy reforça a importância de que o enfermeiro se deve focar nos resultados pretendidos, controlando ao máximo todos os estímulos do ambiente, no sentido de evitar ou reduzir os riscos e a ocorrência de erros.

A abordagem da intervenção do enfermeiro na gestão do risco clínico nas UCCI permitiu realçar a crescente importância dada actualmente aos cuidados continuados integrados como o terceiro nível de cuidados do Sistema de Saúde Português. Cabe aos enfermeiros tomarem posse das oportunidades que daí advêm, sendo a gestão do risco um exemplo de uma função na qual se podem destacar, contribuindo para a maior visibilidade da profissão.

O enfermeiro gestor do risco clínico pode assumir um papel exclusivo na implementação, supervisão e monitorização de todas as etapas do processo de gestão do risco clínico, sendo um mediador da comunicação e um elo de ligação entre todos os intervenientes, em todas as etapas do processo. Através da metodologia do processo de gestão do risco clínico. De acordo com as metas de qualidade criadas, em 2011, pela The Joint Commission, para a segurança do cliente, o processo pode ser aplicado nos cuidados continuados integrados, como por exemplo, na prevenção de infecção, na prevenção do suicídio e na melhoria da preparação e administração de terapêutica. Estas recomendações, emanadas por organizações de referência a nível internacional, são transversais a todas as instituições de saúde e, apesar de não estarem descritas para as UCCI, podem ser transpostas para as mesmas.

No seguimento do Plano de Formação para o ano 2010, publicado no Relatório de Monitorização do Desenvolvimento e da Actividade da RNCCI, sugere-se que mais formações sejam ministradas e dirigidas aos profissionais das unidades de internamento na área da gestão do risco clínico em cuidados continuados integrados. Tendo-se atribuído, no ano transacto, apenas uma acção de formação sobre este tema, sugere-se que seja facultada maior número de horas de formação a um maior número de profissionais, por ser uma área que acresce valor e qualidade aos recursos humanos da Rede.

É necessário que mais estudos sejam realizados na área, uma vez que existe grande disponibilidade heurística e pouca literatura que relacione a intervenção do enfermeiro na gestão do risco clínico nas UCCI. Estas unidades estão a auferir destaque na área da saúde, sendo necessário investigar mais sobre este tema, na perspectiva das ciências de enfermagem.

A concretização deste artigo, cujo tema tem particular interesse para os autores, tornou-se uma experiência cheia de aprendizagens. Compreender que a intervenção do enfermeiro não se resume apenas à prestação de cuidados, mas também à gestão desses cuidados e que esse papel pode ser de extrema importância na sociedade, foi sem dúvida dos maiores contributos. Permitiu compreender que é possível e que compensa investir na formação ao longo da vida, apostando em novas áreas, sempre na tentativa de levar a enfermagem para caminhos a explorar.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AIRMIC; ALARM; IRM (2002) – A Risk Management Standard. [s.l]: AIRMIC, ALARM, IRM.

AIRMIC; ALARM; IRM (2010) – A structured approach to Enterprise Risk Management (ERM) and Requirements of ISO 31000. [s.l]: AIRMIC, ALARM, IRM.

AMARO, Luís; DUARTE, Pedro (2007) – Metodologia de avaliação de riscos do Hospital Garcia de Orta, EPE. Versão: 4. Hospital Garcia de Orta.

ASHRM (2006) – Monograph Enterprise risk management, acedido a 23 de Maio de 2011, disponível em http://www.hospitalconnect.com/hospitalconnect_app/search/ashrm_results.jsp?client=ASHRM_FRONTEND&proxystylesheet=ASHRM_FRONTEND&output=xml_no_dtd&filter=0&oe=ISO-8859-1&q=risk+management&site=ASHRM&submit=Go

AUSTRALIA. Department of Health Government of Western Australia (2005) – Information series nº 8: Clinical Risk Management Guidelines for the Western Australian Health System. East Perth Western Australia [s.n].

BELLANDI, Tommaso; ALBOLINO, T.; TOMASSINI, C.R. (2007) – How to create a safety culture in the healthcare system: the experience of the Tuscany Region. Theoretical Issues in Ergonomics Science. [s.l]. Vol. 8, nº. 5 (Setembro-Outubro). Págs. 495-597.

CANADIAN NURSES ASSOCIATION (2003) – Position Statement – Patient Safety. Otawa: Canadian Nurses Association: [ ].

CATALUNYA. Generalitat de Catalunya Department de Salut. Servei Català de la Salut. [2010] – La Reforma de la salut pública a Catalunya. Catalynia: CatSalut.

CATALUNYA. Generalitat de Catalunya Department de Salut. Servei Català de la Salut (2010) – The health care system in Catalonia: evolution and strategic orientation from the perspective of the Catalan Health Service. Catalynia: CatSalut.

CRAIG, Jean V.; SMITH, Rosalind L. (2004) – Prática Baseada na Evidência: manual para enfermeiros. Loures: Lusociência.

DECRETO-LEI N.º 104/98. Diário da República – I Série-A. N.º 93 (21-04-1998). Págs. 1739-1746.

DECRETO-LEI N.º 161/1996. Diário da República – I série-A. N.º 205 (04-09-1996). Págs. 2959-2962.

DECRETO-LEI N.º 101/2006. Diário da República – I Série-A. N.º 109 (06-07-2006). Págs. 3856-3865.

DECRETO-LEI N.º 111/2009. Diário da República – 1ª Série. N.º180 (16-09-2009). Págs. 2528-6550.

FERNANDES, Artur (2000) – Qualidade de serviço: pela gestão estratégica. Cascais: Editora Pergaminho.

FRAGATA, José et al (2008) – Risco clínico: complexidade e performance. Coimbra: Edições Almedina.

FRAGATA, José (2009) – Gestão do Risco. In: PORTUGAL. Ministério da Saúde. Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo – Governação dos Hospitais – conclusões de um grupo de trabalho da ARSLVT. Lisboa: ARSLVT, I.P. (2009). Págs. 16-18.

GONÇALVES, Vânia (2008) – Gestão do risco nas organizações de saúde: percepção dos profissionais face ao papel do gestor de risco. ISCTE Business School.

INSTITUTE OF MEDICINE (2000) – To err is human: building a safer health system. National Academy Press. Washington: IOM.

ISO/DIS 31000 (2008) – Risk Management – Principles and Guidelines.

JONHSTONE, Megan-Jane (2008) – Clinical risk management and the ethics of open disclosure – Part. I benefits and risk to patient safety. Australian Emergency Nursing Journal. Vol. 11, nº. 2 (Fevereiro). Págs. 88-94.

JOHNSTONE, Megan-Jane; KANITSAKI, Olga (2006) – The ethics and practical importance of defining, distinguishing and disclosing nursing errors: A discussion paper. International Journal of Nursing Studies. Inglaterra. Vol. 43, n.º3. Págs. 367-376.

MANSOA, Ana (2010) – O erro nos cuidados de enfermagem a indivíduos internados numa unidade de cuidados intensivos. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa. Dissertação para obtenção do grau de mestre.

MCCAFFREY, Jane J.; HAGG-RICKERT, Sheila (2004) – Development of a Risk Management Program. 4ª ed., Chicago: American Society for Healthcare Risk Management.

NOGUEIRA, M.J. de Abreu. Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados (2009) – Cuidados Continuados Desafios.

NUNES, Lucília – Perspectiva ética da gestão do risco: caminhos para cuidados seguros. Documento sem data. Acedido em: [19/04/2011] disponível em: http://lnunes.no.sapo.pt/adescoberta_files/PerspectivaEticaRisco_cuidados%20seguros_LN.pdf

OLIVEIRA, Jacinto (2005) – Gestão do risco hospitalar – perspectiva multiprofissional. Ordem dos Enfermeiros. Lisboa. N.º 19 (Dezembro 2005). Págs. 12-15.

ORDEM DOS ENFERMEIROS (2006) – Parecer do Conselho Jurisdicional – Tomada de Posição sobre a Segurança do Cliente. Ordem dos Enfermeiros.

ORDEM DOS ENFERMEIROS (2011) – Parecer do Conselho Jurisdicional 248 – Condições do Exercício. Ordem dos Enfermeiros.

PORTUGAL. Direcção Geral de Saúde (2009) – Elementos estatísticos – Informação geral – Saúde 2007. Lisboa.

PORTUGAL. Ministério da Saúde. Missão para os Cuidados de Saúde Primários (2007) – Cuidados Continuados Integrados nos Cuidados de Saúde Primários. Carteira de Serviços. Lisboa.

PORTUGAL. Ordem dos Enfermeiros. Conselho de Enfermagem (2009) – Rede Nacional de Cuidado Continuados Integrados: referencial do enfermeiro. Disponível em: http://www.ordemenfermeiros.pt/documentosoficiais/Documents/RNCCI%20-%20v.FINAL%20Referencial%20do%20Enfermeiro%20-%20Abril%202009.pdf.

REASON, James (1998) – Achieving a safe culture: Theory and practice. Work & Stress, Vol.12, nº 3. Págs. 293-306

REASON, James (1999) – Safety paradoxes and safety culture. International Journal of Injury Control and Safety Promotion, Vol.7, nº 1 (15 de Novembro). Págs. 3-14.

REASON, James; SASOU, Kunihide (1999) – Team errors: definition and taxonomy. Reliability Engineering and System Safety, Vol.65. Págs. 1-9.

REYNOLDY, Joanne (2009) – Undertaking risk management in community nursing pratice. Journal of Community Nursing. s.l. Vol. 23, nº11. Págs. 24-28.

ROY, Callista; ANDREWS, Harther (2001) – Teoria da Enfermagem: o modelo de adaptação de Roy. Lisboa: Instituto Piaget.

SCHAAG, Helen A. et al – The Role of The Nurse Manager on Maintaining Quality and Managing Risk. The Nursing Risk management Series – The Rewards and Risks of the Functional Aspects of Nursing Education, Information and Management. Article 4. [s.d.].

THE JOINT COMMISSION (2010) – Accreditation Program: Hospital – National Patient Safety Goals. USA: The Joint Commission.

THE JOINT COMMISSION (2010) – Accreditation Program: Long Term Care – National Patient Safety Goals. USA: The Joint Commission.

THE JOINT COMMISSION (2010) – Accreditation Program: Medicare/Medicaid Long Term Care – National Patient Safety Goals. USA: The Joint Commission.

THEROUX, Rosemary (2006) – How to Bring Evidence Into Your Practice. AWHONN Lifelines. Vol. 10, nº 10. p. 244-249.

VERBANO, Chiara; TURRA, Federica (2010) – A human factors and reliability approachto clinical risk management: evidence from italian cases. Safety Science. [s.l]. Vol. 48, nº. 8. (June 2010). Págs. 625-639.

WORLD HEALTH ASSEMBLY, 55, [s.l], (2002) – Quality of care: patient safety.

WORDL HEALTH ORGANIZATION (2008) – World Alliance for Patient Safety. Forward Programme 2008-2009. Geneva: World Health Organization.

Read More

Percepção do estado de saúde da pessoa idosa institucionalizada

Dez 28, 2011

Artigo Original

Percepção do estado de saúde da pessoa idosa institucionalizada

Perceived health status of institutionalized elderly

Autora: Zélia Ferreira

Zélia Ferreira: Licenciada em Enfermagem; Mestre em Saúde e Envelhecimento. Corresponding author: zeliapatricia@portugalmail.pt

RESUMO
Ao refletir sobre os fenómenos demográficos da população, emerge subtilmente a noção que a população tende a envelhecer, este fenómeno estende-se para além das fronteiras de um país (Portugal), e adquire uma dimensão europeia e mundial.
É perante esta realidade que todos os profissionais de saúde devem estar sensibilizados para prestar cuidados a pessoas neste estadio da vida, de tal modo que a sua intervenção seja global, humana e digna de resposta às necessidades destes indivíduos.
Neste artigo, é feita uma breve exposição de um estudo realizado com um grupo de idosos institucionalizados. Este estudo teve como principal objectivo: avaliar a percepção do estado de saúde da pessoa idosa institucionalizada. Foram recolhidos dados através de uma caracterização sócio-demográfica, através do Mini Mental State e através do Questionário de auto-avaliação da saúde e do bem-estar físico (de Fonseca e Paúl, 1999). Os dados obtidos foram trabalhados numa perspectiva de estatística descritiva e estatística inferencial.
A expetativa dos resultados alcançados num estudo, é o motor de motivação para quem o elabora, e neste trabalho foi uma constante. Os resultados obtidos permitem afirmar que: a maioria dos indivíduos que participaram no estudo designa a sua saúde em geral como “aceitável” ou “fraca” e relacionam a percepção do seu estado de saúde com a
saúde dos seus pares, nomeadamente quando se reportam aos itens relacionados com aspectos físicos.
Palavras-chave: percepção, saúde, idoso, institucionalização

INTRODUÇÃO

O investimento no estudo da “Saúde e Envelhecimento” faz todo o sentido quando, no início do século XXI, a sociedade se depara com uma população envelhecida.

O facto de um ser vivo envelhecer faz com que ocorram mudanças, ao longo do ciclo de vida e o ser humano não é excepção. Daí que ocorram alterações nas diversas dimensões que o compõem: biopsicossocioculturais.

Dada a caracterização actual da população mundial e nacional (portuguesa) e uma projecção, não muito longínqua, que indica um aumento considerável da população idosa, importa perceber a dinâmica e a concepção da pessoa idosa numa visão holística, onde a saúde ganha um lugar de destaque.

A saúde, não é só uma inquietude dos profissionais de saúde que trabalham com pessoas envelhecidas, mas é também um dos principais objectos de preocupação dos próprios idosos, uma vez que o aumento da sua fragilidade está marcado, existe uma diminuição da sua capacidade funcional e, por conseguinte, o aumento da sua dependência.

O cuidar ao ser humano fundamenta-se nos conhecimentos científicos sobre o processo de viver/envelhecer. Os conhecimentos que dão base ao cuidar das pessoas que envelhecem incluem o entendimento das necessidades, das adaptações e das mudanças que ocorrem ao longo do ciclo de vida. É importante e prioritário saber quais as necessidades sentidas em cuidados face à doença e às perdas de funcionalidade e autonomia, daí ser tão relevante escutar a palavra das próprias pessoas que possuem a vivência de estar institucionalizadas.

Na mesma linha de pensamento, é de extrema pertinência aprofundar os conhecimentos nesta área, uma vez que os profissionais de saúde têm um papel bastante importante para que as pessoas vivam a sua velhice de forma feliz, equilibrada e consistente. Isto não só nos momentos onde a doença está presente, mas também quando a prevenção é fundamental, independentemente do seu contexto ambiental. A percepção que a própria pessoa tem do seu estado de saúde, é um aspecto elementar a ter em conta na tomada de decisão no âmbito da intervenção em saúde. Isto quando se pretende ter uma melhoria da intervenção tendo em conta as características das pessoas, grupos, ou comunidade, não obstante os contextos onde estão inseridas e as suas necessidades.

Com a realização deste estudo espera-se contribuir para desmistificar o estereótipo de lar de idosos enquanto “gueto social” para pessoas idosas. Pretende-se também que os resultados deste estudo venham a contribuir para uma intervenção mais adequada dos profissionais de saúde que trabalham com as pessoas neste contexto, promovendo uma intervenção mais assertiva e congruente, no sentido de tornar a prestação de cuidados a pessoas idosas nas instituições mais individualizada e promotora da qualidade de vida.

É pertinente estudar os fenómenos relacionados com a saúde dentro deste tipo de instituições porque dada a expansão destes contextos sociais, em função das alterações demográficas e consequentes alterações sociais, é crucial reflectir e pensar nesta realidade como uma resposta aceitável e satisfatória para todos os intervenientes, quer para os próprios idosos, quer para a respectiva família e para a instituição.

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo descritivo de nível I, correlacional, analítico, transversal e com uma abordagem metodológica quantitativa.

Foram enunciadas as seguintes hipóteses:
1. Existe relação entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas e os dados sócio – demográficos?
2. Existe relação entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas e a saúde dos seus pares (outras pessoas do mesmo género e da mesma idade)?
3. Existe relação entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas e os hábitos de vida, nomeadamente, hábitos alcoólicos e hábitos tabágicos?
4. Existe relação entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas e a presença de determinados colaboradores numa instituição, nomeadamente, Director Técnico,
Assistentes Operacionais, Enfermeiro, Médico, Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Técnico de Nutrição e Animador Sócio–Cultural?

Tendo em conta o referencial teórico, e uma vez que estudou um fenómeno numa determinada população, com as suas características específicas, foram definidas as seguintes variáveis :
· Sócio – demográficas e profissionais: género; idade; estado civil; tempo de residência na instituição; habilitações literárias; actividade profissional (antes de situação de reforma) e motivo de institucionalização.
· Deterioração cognitiva – este parâmetro poderia ser utilizado como uma variável, no entanto foi unicamente utilizado para selecção mais precisa dos intervenientes do
estudo.
· Percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas: saúde física; actividade física e mental; condição física; sono; audição; visão; consumo de tabaco e consumo de álcool.

Foram recolhidos dados, utilizando os seguintes instrumentos:
· Caracterização da população – alvo: Com este instrumento, criado para o efeito, pretende-se conhecer as características sócio – demográficas de toda a população – alvo do estudo. Daqui obtêm-se informações relacionadas com a capacidade de lotação das instituições, a idade máxima e mínima dos residentes, divisão por género e por estado civil.
· Questionário de auto-avaliação da saúde e do bem-estar físico: A aplicação do Questionário de Auto-Avaliação da Saúde e do Bem-Estar Físico de Fonseca e Paul (1999) tem como objectivo avaliar os índices de saúde percebida em grupos de indivíduos com idade avançada, com competência associada ao processo de envelhecimento. Estudo piloto sobre envelhecimento, versando os seguintes indicadores relativos à saúde e ao estilo de vida: (i) Saúde física, (ii) Actividade física e mental, (iii) Condição física, (iv) Sono, (v) Audição, (vi) Visão, (vii) Consumo de tabaco, (viii) Consumo de álcool. (Fonseca e Paul, 2004).
O meio onde se desenvolverá este estudo será em instituições denominadas por “lares de idosos”, enquanto resposta social, em que os indivíduos idosos permanecem na instituição numa lógica de alojamento colectivo definitivo.

As instituições que deram alçadas a este estudo são aquelas que se enquadram nos seguintes requisitos:
· Conferir alojamento colectivo aos seus residentes, de cariz definitivo;
· Estar localizado no concelho de Santarém, independentemente do tipo de natureza jurídica. No concelho de Santarém existe uma instituição de carácter público, sete de carácter privado e três Institutos Privados de Solidariedade Social;
· Possuir alvará de funcionamento actualizado, segundo o Instituto da Segurança Social – Centro Distrital de Santarém.

A técnica de amostragem é inteiramente não probabílistica por conveniência.

A população passível de ser estudada pertence a 9 instituições distintas, deste conjunto 62 indivíduos fazem parte da instituição de cariz público, 155 indivíduos das instituições de cariz privado e 120 indivíduos de Instituições Privadas de Solidariedade Social.

No seu total esta população é constituída por 337 indivíduos, 234 são do sexo feminino e 103 são do sexo masculino.

A constituição da amostra passou por incluir as pessoas que residam em lares de idosos (anteriormente descritos) e que:
· Tenham mais de 65 anos;
· Aceitem participar no estudo deliberadamente (consentimento assinado);
· Residam na instituição há mais de 6 meses;
· Sem defeito cognitivo;

RESULTADOS

A amostra foi constituída por 75 indivíduos, com média de idades a rondar os 83,2 anos, em que 36% são do género masculino, 57,3% são viúvos e 25,3% são casados. Deste conjunto, 60% tem instrução primária. Da amostra 12,6% das pessoas estão institucionalizadas há 6 meses e a “dificuldade em auto-cuidar-se” é o principal motivo pelo qual foram para a instituição, e na sua maioria, foram para a instituição por iniciativa própria.

O tratamento dos dados foi feito através da análise dos dados obtidos pela estatística descritiva utilizando como suporte informático o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 17.0 para o Windows.

Uma vez que seria demasiado extensa toda a informação obtida, aqui apenas se faz alusão aos dados obtidos no Questionário de auto-avaliação da saúde e do bem-estar físico (Fonseca e Paúl, 1999), referente ao item “saúde física”, embora este tratamento tenha sido feito para todos os itens que a compõem. (Tabela nº 1)

Neste estudo, as hipóteses foram testadas por correlação bivariada (com o recurso ao coeficiente de correlação de Spearman).

A tabela nº 2 expõe as variáveis que se correlacionam entre si.

DISCUSSÃO

Em investigação nem sempre os resultados que são esperados são os que se obtêm efectivamente, porém há que perceber a realidade com base nos valores estatísticos obtidos, sustentada pelo referencial teórico.

O objectivo deste estudo foi avaliar a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas, tendo em conta os objectivos específicos é possível apresentar as seguintes conclusões:
· A grande maioria da amostra designa como “aceitável” ou “fraca” a sua percepção da saúde, em geral;
· Neste caso, os dados sócio–demográficos não têm relação com a percepção do estado de saúde destas pessoas, ao contrário do que nos é dito pelos autores, possivelmente este facto dever-se à homogeneidade que caracteriza a amostra, devido à institucionalização destas pessoas;
· Existe relação significativa entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas e a saúde dos seus pares, essencialmente quando se abordam itens relacionados com aspectos físicos. Há que referir que os intervenientes do estudo quando se pronunciam sobre a própria saúde os resultados tendem para uma dimensão mais negativa, mas quando se compraram com outros (da mesma idade e do mesmo sexo) percepcionam-se numa medida mais positiva;
· No que concerne aos hábitos de vida, não existe relação entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas e os hábitos alcoólicos e os hábitos tabágicos;
· Não existe relação entre as instituições que participaram no estudo e a percepção da saúde das pessoas idosas institucionalizadas.

CONSIDERAÇÃO FINAL

É importante ter em conta que os idosos de hoje são diferentes dos idosos das gerações anteriores e os futuros idosos terão outras especificidades em comparação com os idosos actuais, e é com base neste raciocínio que faz sentido investigar e investir no conhecimento directamente relacionado com a Gerontologia.

REFERÊNCIAS

GUERREIRO et al – Avaliação breve do estado mental in Guerreiro, Garcia & Mendonça, Escalas e testes na demência. Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demência (2003);
FONSECA e PAUL – “Saúde percebida e passagem à reforma” in Psicologia, Saúde & Doenças, Vol. 5, Nº 1 (2004);
PAUL et al – “EXCELSA – Estudo piloto sobre o envelhecimento humano em Portugal” in Psicologia: Teoria, Investigação e Prática, Vol. 2, Centro de Estudos em Educação e Psicologia, Universidade do Minho (2001);

TABELAS

Read More