Mar 11, 2013

_______________________________________________________________

NURSING OUTCOME IN THE PERSON WITH NONINVASIVE VENTILATION AT HOME

RESULTADOS SENSIBLES EN LA ATENCIÓN DE ENFERMERÍA EN LA PERSONA SOMETIDA A VENTILACIÓN NO INVASIVA EN CASA

_______________________________________________________________

AUTORES: Ana Correia, Clara Freitas, Cláudia Pereira, Fátima Ferreira

RESUMO

Objetivo: Demonstrar os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem à pessoa com VNI no domicílio.

Metodologia: Efetuada pesquisa na EBSCO (na CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, British Nursing Index). Foram procurados artigos em texto integral (Janeiro / 2012), publicados entre 2002 e 2011. Foi utilizado o método de PI[C]O e selecionados 10 artigos do total de 98 encontrados.

Resultados: Foram identificados indicadores de necessidades de cuidados que poderão condicionar a adesão à VNI no domicílio a que foram associados variáveis de resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem como: controle de sintomas, segurança / ocorrências adversas, apoio psicológico, utilização dos serviços de saúde, gestão do regime terapêutico e qualidade de vida.

Conclusões: O doente submetido a VNI devidamente apoiado pelos enfermeiros, resolve melhor as complicações inerentes ao tratamento refletindo-se na redução de internamentos hospitalares assim como uma maior estabilização clínica e melhor qualidade de vida no domicílio.

Implicações na prática profissional: Necessidade de formação inicial e contínua dos enfermeiros.

Palavras-chave: Ventilação mecânica não Invasiva (VNI), Resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem, Cuidados de Enfermagem.

_______________________________________________________________

ABSTRACT

Objective: To demonstrate the results sensitive to nursing care to people with NIV at home.

Methodology: The research was carried out in EBSCO (CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, British Nursing Index). Articles were searched in full text (January/2012), published between 2002 and 2011. We used the method of PI [C]O and selected 10 items of total 98.

Results: Indicators of care needs that may restrict the adherence to the NIV at home were identified and associated with nursing outcome variables such as symptom management, adverse patient outcomes, psychological support, healthcare utilization, management of therapeutic regimen and quality of life.

Conclusions: The patient receiving NIV duly supported by nurses, best solves adverse outcomes of the treatment being reflected in reduced hospital admissions and greater clinical stability and better quality of life at home.

 Implications for practice: The need for initial and continuing training of nurses.

 Keywords: Noninvasive mechanical ventilation (NIV), Nursing Outcome and Nursing Care.

_______________________________________________________________

INTRODUÇÃO

A ventilação não invasiva tem um papel cada vez mais importante quer em patologia aguda, quer na doença respiratória crónica (Ferreira, 2009). Evita a entubação endotraqueal e consequentemente os riscos associados, como por exemplo lesões da via aérea e pneumonias (Prado, 2008).

 Por ser fácil de instituir e de retirar, pode ser efetuada fora de uma unidade de cuidados intensivos, levando assim a uma diminuição do tempo de internamento hospitalar, da mortalidade e uma diminuição dos custos (Ferreira, 2009). O seu uso em doentes crónicos demonstrou benefícios fisiológicos que levaram à diminuição de necessidade de hospitalização e aumento da sobrevivência (Chang, 2010).

De acordo com a Canadian Thoracic Society (2011) os cuidados de saúde continuam a evoluir, sendo mais sofisticados, permitindo utilizar a tecnologia médica fora do ambiente hospitalar tradicional. Fatores como as preferências do doente e família, tecnologia de fácil manuseamento, escassez de camas a nível de internamento e a pressão económica sobre orçamentos hospitalares têm influenciado a transição de cuidados hospitalares para os cuidados na comunidade.

Em Portugal, o Relatório de Situação de Cuidados de Saúde Respiratórios Domiciliários publicado em 2010 refere que as doenças respiratórias crónicas graves, as perturbações respiratórias do sono e as doenças neuromusculares afetam mais de um milhão de doentes, sendo que no controlo clínico destas doenças estão indicadas a oxigenoterapia e ventiloterapia domiciliárias. A despesa do Sistema Nacional de Saúde com os Cuidados Respiratórios Domiciliários é da ordem dos 55,5 milhões de euros anuais, sendo que mais de 50% deste valor é referente à ventiloterapia. Os estudos disponíveis indicam claramente que a adesão dos doentes é muito baixa em virtude da falta de esclarecimento e supervisão. São vários os fatores descritos associados à tolerância e consequente adesão à VNI (Schneider et al, 2006) e por isso, tal como no doente agudo tratado em meio hospitalar, o doente com VNI no domicílio necessita de monitorização de parâmetros clínicos, supervisão por parte de profissionais e formação contínua (Prado, 2008).

Quando se iniciou o uso da VNI, a sua implementação era realizada exclusivamente por médicos. No entanto, mais recentemente a Enfermagem tem vindo a assumir um papel de grande responsabilidade na gestão deste tratamento (Rose e Gerdtz, 2009). Considera-se primordial que os enfermeiros que cuidam destes doentes tenham conhecimento sobre como implementar o tratamento, avaliar a monitorização e sucesso da intervenção (Jarvis, 2006). Transmitir competência, empatia e cuidado com profissionalismo facilita a adesão à terapêutica através da diminuição do stresse, do aumento da cooperação e motivação do doente (Pertab, 2009).

De acordo com Prado (2008), o doente crónico com VNI apresenta menos exacerbações agudas e menos internamentos, tem maior capacidade de resposta a exacerbações e melhor qualidade de vida. O Relatório de Situação (2010) supracitado acrescenta que estes doentes têm melhor integração familiar e social, e ao mesmo tempo permite uma importante redução de custos hospitalares. A Canadian Thoracic Society (2011) acrescenta ainda que o uso da VNI no domicílio tem aumentado a qualidade de vida destes doentes.

Neste contexto consideramos primordial a realização desta Revisão Sistemática de Literatura de forma a permitir uma reflexão sobre esta problemática. A nossa experiência profissional tem-nos mostrado que muitos dos doentes com VNI domiciliária de longa duração quando são internados apresentam várias dificuldades que condicionam a adesão e o uso correto do tratamento, dificuldades estas que se prendem com condições socioeconómicas dos doentes e familiares, como por exemplo as condições habitacionais, apoio de familiares, dificuldade de acesso aos cuidados de saúde quer primários, quer diferenciados. Existe também por parte das empresas fornecedoras dos equipamentos uma escassez de informação e de manutenção dos mesmos, apesar de todas facultarem um acesso telefónico gratuito no sentido de esclarecimento de dúvidas. Durante a nossa experiência de visita domiciliária de enfermagem deparámo-nos com uma elevada taxa de analfabetismo e idades superiores a 65 anos o que condicionava a exposição de dúvidas tanto aos técnicos como aos enfermeiros (enfermeiro da visita domiciliária respiratória e enfermeiro do Centro de Saúde da área de residência do doente). Estas dúvidas consistiam essencialmente no manuseamento do equipamento, higiene e manutenção do mesmo e complicações inerentes à VNI, pelo que se verificava a necessidade de realizar ensinos à pessoa e cuidador.

Face ao exposto pretendemos com esta Revisão Sistemática da Literatura demonstrar os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem à pessoa com VNI no domicílio.

CONCEITOS

Segundo Esquinas (2011, p.47),

“Ventilação mecânica não invasiva (VMNI) corresponde à aplicação de suporte ventilatório através de máscara ou de outra interface sem recurso a via aérea artificial invasiva, nomeadamente tubo endotraqueal ou de traqueostomia”.

Segundo Doran (2011),

Resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem são definidos como cuidados de enfermagem direcionados para as necessidades das pessoas ou grupo, nos seus determinantes da saúde, que têm por base fatores organizacionais, de experiência, e o nível de conhecimento elevado, com impacto direto no estado funcional, auto cuidado, controle de sintomas, segurança/ocorrência adversas e satisfação do cliente. Desenvolvem-se na mesma estrutura de qualidade proposta por Donabedian (2003) e está relacionada com variáveis do cliente (idade, género, educação, tipo e adversidade da doença e co morbilidades) variáveis dos enfermeiros (nível de ensino, experiencia, rácios, organização e carga de trabalho). Este processo engloba as ações independentes (intervenções de enfermagem) e ações interdependentes (comunicação em equipa, coordenação de casos e sua gestão).

Segundo Dalpezzo (2009),

Cuidados de Enfermagem consistem na prestação de cuidados com segurança, qualidade, ética e colaboração através de um processo individualizado, o qual é planeado e concebido com base nas melhores evidências disponíveis, cujos resultados nos doentes se revelam positivos, em relação à otimização da saúde, redução dos sintomas ou na preparação de uma morte pacífica.

METODOLOGIA

Para delimitar um vasto campo de hipóteses inerentes à problemática da VNI e a responder ao objetivo delineado, elaborou-se a seguinte questão de partida, que atende aos critérios do formato PICO (Melny e Fineout-Overholt, 2005): Em relação à pessoa submetida a VNI (Population), quais as variáveis de resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem (Outcomes), com a visitação domiciliária (Intervention)?

Por conseguinte, ao se definir o objeto alvo de estudo e ao se pretender uma compreensão mais ampla deste fenómeno foi levada a cabo uma pesquisa em base de dados eletrónica, na EBSCO em geral e, em particular na CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, British Nursing Index). As palavras-chave orientadoras utilizadas foram (Positive Pressure Ventilation OR Continuous Positive Airway Pressure OR noninvasive ventilation) AND (nursing intervention OR nursing OR nurse) AND (HOME care services OR HOME care services OR NURSING care facilities).

Guyatt e Rennie (2002), consideram que as revisões sistemáticas da literatura devem considerar a evidência dos últimos 5 anos, no entanto consideramos o período temporal de 10 anos pelo facto da maior abrangência face ao conhecimento existente sobre a matéria em análise. Para avaliarmos os níveis de evidência utilizamos seis níveis de evidência: Nível I: revisões sistemáticas (meta análises/ linhas de orientação para a prática clínica com base em revisões sistemáticas), Nível II: estudo experimental, Nível III: estudos quasi experimentais, Nível IV: estudos não experimentais, Nível V: estudo qualitativo/ revisões sistemáticas da literatura sem meta análise, Nível VI: opiniões de autoridades respeitadas/ painéis de consenso (Capezuti, 2008; Guyatt, e Rennie, 2002).

Como critérios de inclusão privilegiaram-se os artigos com base na problemática das pessoas submetidas a VNI, com recurso a metodologia qualitativa e/ou quantitativa ou revisão sistemática da literatura, que clarificassem quais os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem. Nos critérios de exclusão inseriram-se todos os artigos repetidos nas bases de dados, com data anterior a 2002 e todos aqueles sem correlação com o objeto de estudo. O percurso metodológico levado a cabo encontra-se exemplificado na seguinte figura.

Fig.1

De seguida são apresentados os 10 artigos selecionados que constituíram o substrato para a elaboração da discussão e respetivas conclusões.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Q.1

DISCUSÃO DOS RESULTADOS

Como resultado da análise dos artigos anteriormente referenciados é possível denotar que os doentes submetidos a VNI apresentam necessidades de cuidados que poderão condicionar a sua adesão no domicílio e que consideramos passíveis de associar a seis das variáveis identificadas por Doran (2011): controle de sintomas, segurança / ocorrências adversas, apoio psicológico, utilização dos serviços de saúde, gestão do regime terapêutico e qualidade de vida.

Na gestão do regime terapêutico, a seleção do interface utilizado na VNI é considerada por Schneider et al (2006) num estudo prospectivo e randomizado, um dos fatores mais importantes associados à adesão ao tratamento, sua tolerância e eficácia. O mesmo autor salienta que a interação entre enfermeiro e doente é um fator determinante no sucesso da VNI. Stoltzfus (2006) acrescenta que o enfermeiro, em colaboração com a equipa multidisciplinar deve avaliar o tipo de máscara que o doente poderá tolerar melhor. De Silva (2009) baseado em Shee e Green (2003) afirma que a máscara facial é geralmente a mais utilizada. No entanto os doentes reportam sentir desconforto e claustrofobia, que segundo Pertab (2009) pode levar a angústia, o que não acontece com a máscara nasal, permitindo um maior controle pessoal. Segundo Stoltzfus (2006) a máscara nasal permite falar ou vomitar sem risco de aspiração. Maciel, Silva e Teixeira (2009) citando Gonçalves e Pinto (2008) acrescenta que a máscara nasal é mais confortável permitindo expelir secreções, implicando a necessidade de colaboração do doente.

De Silva (2009) citando Hore (2002) refere que a máscara nasal é mais adequada a doentes com barba ou bigode, característica que pode aumentar a probabilidade de fuga de ar no uso da máscara facial. Contudo o seu uso é limitado em doentes com obstrução nasal (Antonelli e Conti, 2000 citado por De Silva, 2009).

A secura nasal e oral e a congestão nasal são complicações também mencionadas por Pertab (2009) e Rose e Gerdtz et al (2009), que podem ser solucionadas através de descongestionantes nasais e humidificação no ventilador. No entanto, Pertab (2009) considera que o uso da humidificação pode aumentar as fugas de ar tornando a VNI menos eficiente. Ainda a British Thoracic Society sugere que a humidificação deve ser usada com precaução porque interfere com os parâmetros do ventilador (De Silva, 2009).

Independentemente do interface usado, o ajuste da máscara deve considerar o conforto do doente, a redução de complicações, como a necrose da pele e controle de outros sintomas (De Silva, 2009 citando Hill, 2004).

De facto, a complicação mais referenciada pelos autores consultados prende-se com a possibilidade de ocorrer ulceração nasal (Pertab, 2009; De Silva, 2009;Rose e Gerdtz, 2009; Stoltzfus, 2006). Barbosa e Marques (2003) numa revisão sistemática de literatura, refere que esta é a complicação mais séria ocorrendo em aproximadamente 8 a 10% dos doentes. A maioria destes autores refere que esta complicação pode ser prevenida/tratada com apósito hidrocolóide, sendo que alguns também referem a importância da alternância dos pontos de pressão da máscara. Uma das causas referenciadas por Rose e Gerdtz (2009) para a ocorrência de ulceração nasal é a necessidade de apertar as tiras de fixação da máscara para que o ajuste seja eficiente com redução de fugas de ar. O facto de esta não ser corrigida está associado à ocorrência de conjuntivite e irritação ocular também descrita por Stoltzfus (2006).

Para Pertab (2009), numa revisão sistemática da literatura a distensão gástrica surge como uma das complicações associadas ao uso da VNI. Stoltzfus (2006) no seu estudo atribui a distensão gástrica e vómitos a elevadas pressões, podendo conduzir à broncoaspiração também referida por Barbosa e Marques (2003). Segundo Jarvis (2006), é importante informar os doentes como retirar rapidamente a máscara em caso de necessidade de vomitar. O mesmo autor refere ainda a possibilidade de recorrer ao uso de antieméticos na presença de náuseas.

Na sua revisão sistemática de literatura, Jarvis (2006) citando Sawkins (2001) alerta para outras complicações que incluem a desidratação e desnutrição. O mesmo autor refere um estudo de 1993 em que 25% dos pacientes com DPOC sofriam de desnutrição atribuída a numerosos fatores. A nutrição dos pacientes é considerada por este autor uma área fundamental dos cuidados de enfermagem que incluem intervenções como encorajar o paciente a comer às horas da refeição e remover a máscara nestes períodos, e se necessário, utilizar oxigénio por sonda nasal.

Sundling et al (2009) num estudo qualitativo alerta para a necessidade de o doente e cuidador terem conhecimentos técnicos sobre o manuseamento do ventilador, uma vez que situações não previstas podem levar a momentos de stresse. Maciel, Silva e Teixeira (2009) e Barbosa e Marques (2003) referem a importância de promover a correta manutenção e higiene do equipamento.

De acordo com Eng (2006) o envolvimento do doente nas decisões sobre o tratamento é considerado um fator importante na adesão ao mesmo. A informação e apoio psicológico ao doente e cuidador são considerados primordiais para reduzir a ansiedade e conseguir a autonomia do doente (Pertab, 2009), melhorando a sua qualidade de vida.

O sucesso da VNI depende de uma equipa treinada e experiente (Maciel, Silva e Teixeira, 2009), contribuindo para a redução do número de internamentos hospitalares (Eng, 2006), diminuição de mortalidade e morbilidade (Rose e Gerdtz, 2009) e diminuição de gastos hospitalares (Stoltzfus, 2006; Barbosa e Marques, 2003). Pertab (2009) considera essencial a relação e comunicação entre enfermeiro e doente e Barbosa e Marques (2003) acrescenta que o enfermeiro desempenha um papel importante na prevenção e resolução de complicações.

Tendo por base as variáveis definidas por Doran (2011) e considerando as necessidades de cuidados identificadas anteriormente, podemos inferir os resultados identificados no seguinte quadro:

Fig.2

CONCLUSÃO

Tendo por base o nosso objeto de estudo, realizámos uma análise dos artigos selecionados que nos remetem para os indicadores de necessidades, sendo resolvidos através de intervenções que se traduzem em resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem.

Os artigos selecionados dão relevo à intervenção de enfermagem, associando o sucesso da VNI ao treino, experiencia e formação destes profissionais de saúde, pelo que a estes se exige uma prática profissional baseada na evidência e em linhas de orientação que elevem os cuidados prestados ao doente a um nível de excelência.

Como vimos anteriormente, o enfermeiro desempenha um papel importante na prevenção e resolução de complicações associadas à VNI, ação que no domicílio só é possível através de ensinos adequados e envolvimento do doente na gestão do seu tratamento. Tendo em conta que os doentes do foro respiratório são muito ansiosos e receiam sempre o pior, é importante que o enfermeiro estabeleça uma relação de empatia e demonstre competência no que diz respeito ao tratamento com VNI. Conseguindo a cooperação e motivação do doente, mais facilmente o sucesso da VNI será atingido.

Face ao exposto, um doente submetido a VNI devidamente apoiado pelos enfermeiros, resolve melhor as complicações inerentes ao tratamento refletindo-se na redução de internamentos hospitalares assim como uma maior estabilização clínica e melhor qualidade de vida no domicílio.

Implicações na Prática Profissional

Tendo em conta o crescente número de doentes com doenças respiratórias crónicas, o recurso à VNI fazendo parte do seu tratamento também tenderá a aumentar.

Consideramos ser importante a realização de novos estudos que evidenciem a necessidade de apoio destes doentes no domicílio, por enfermeiros e ainda a formação específica destes profissionais nesta área.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Barbosa, A.L.; Marques I.R. (2003).  Ventilação Não-Invasiva: implicações para a prática de enfermagem. Revista de Enfermagem. UNISA,  4,  32-36.Acedido em 01 Fevereiro de 2012. Disponível em: http://www.unisa.br/graduacao/biologicas/enfer/revista/arquivos/2003-07.pdf

Canadian Thoracic Society.(2011). Home Mechanical Ventilation – A Canadian Thoracic Society clinical practice guideline.Acedido em 21 Fevereiro 2012. Disponível em http://www.respiratoryguidelines.ca/sites/all/files/2011_CTS_HMV_Guideline.pdf

Capezuti, E. [et al] (2008).  Evidence-based geriatric nursing protocols for best practice. 3º ed. New York:  Springer Publishing Company

 Chang, AY. et al (2010). Long-term community non-invasive ventilation.Internal Medicine Journal, 40, 11, 764-771. Retrieved from Medline with Full Text

Comissão Nacional Para Os Cuidados Respiratórios Domiciliários (2010). Relatório de Situação de Cuidados de Saúde Respiratórios Domiciliários. Acedido em 01 de Fevereiro de 2012. Disponível em http://www.min-saude.pt/NR/rdonlyres/F70B9B60-56D1-4DCF-B1C1-D83E7586D32F/0/CNCRD_REL1_23_05_2011_vfinal.pdf

Dalpezzo NK. (2009). Nursing care: a concept analysis. Nursing Forum 44, 4, 256-264. Retrieved from CINAHL Plus with Full Text

De Silva, SJ. (2009). Delivering non-invasive respiratory support to patients in hospital. Nursing Standard,23, 37, 35-39. Retrieved Academic Search Complete

Doran, D.M. ( 2011). Nursing Outcomes- the state of the science. 2ª ed. Canadá: Jones & Bartlett Learning

Eng, D. (2006). Management guidelines for motor neurone disease patients on non-invasive ventilation at home.Palliative Medicine, 20, 69-79. Retrieved from MEDLINE with Full Text

Esquinas, A.M. (2011). Princípios da Ventilação Mecânica Não Invasiva – Do hospital ao Domicílio.Espanha: Dr António M. Esquinas Rodríguez.

Ferreira, S. et al (2009). Ventilação não invasiva. Revista Portuguesa de Pneumologia. 15, 4, 655-667.

Guyatt G.H., Rennie D. (2002).Users’ Guides to the Medical Literature: A Manual for Evidence-based clinical practice. Chicago: American Medical Association.

Jarvis, H. (2006).  Exploring the evidence base of the use of non-invasive ventilation. British Journal Of Nursing, 15, 14, 756-759. Retrieved from Medline with Full Text.

Maciel, Aline Gonçalves; Silva, Faviane Gonçalves; Teixeira, Valéria Cristina Alves (2009). Ventilação Mecânica Não invasiva – O Papel da Assistência em Enfermagem. Acedido em 01 Fevereiro 2012. Disponível em: http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_22061/artigo_sobre_ventila%C3%87%C3%83o_mec%C3%82nica_n%C3%83o_invasiva:_o_papel_da_assist%C3%8Ancia_em_enfermagem

Melnyk, B.; Fineout-Overholt, E. (2005).Outcomes and implementation strategies from the first U.S. Evidence-based leadership. 2(3), p113-121;

Pertab, D. (2009). Principles of non-invasive ventilation: a critical review of practice issues. British Journal of Nursing, 18, 16, 1004-1008. Retrieved from Academic Search Complete

Prado, A. et al. (2008). Asistencia ventilatoria no invasive en pediatría. Revista Chilena de Pediatria, 79, 6, 580-592. Retrieved from MedicLatina

Rose, L., & Gerdtz, M. (2009). Review of non-invasive ventilation in the emergency department: clinical considerations and management priorities. Journal Of Clinical Nursing, 18,23, 3216-3224. Retrieved from Academic Search Complete database

Schneider, E. et al. (2006). Comparison of tolerance of facemask vs. Mouthpiece for non-invasive ventilation. Anaesthesia, 61, 1,20-23 Retrieved from Medline with Full Text

Stoltzfus S. (2006). The role of noninvasive ventilation: CPAP and BiPAP in the treatment of congestive heart failure. Dimensions Of Critical Care Nursing,  25,2, 65-70. Retrieved from CINAHL Plus with Full Text.

Sundling, IM. et al (2009). Patients with ALS and caregivers’ experiences of non-invasive home ventilation. Advances in Physiotherapy, 11, 114-120. Retrieved from CINAHL Plus with Full Text

Read More

Prevenção e controlo de quedas

Dez 29, 2011

Artigo Investigação

Prevenção e controlo de quedas na Pessoa idosa institucionalizada em Lar – Avaliação de risco sistematizada através da aplicação da Escala de Avaliação de Risco de Queda de Morse, Teste Get Up and Go e Timed Get Up and Go

Elderly fall prevention in nursing home context – Systematic fall risk assessment using Morse Scale, Get Up and Go and Timed Get Up and Go tests

Autores: Ferrão Sónia, Henriques Adriana, Fontes Rui

Ferrão Sónia: Mestre em Saúde Comunitária, Mestre em Enfermagem,Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica vertente Pessoa Idosa, Doutoranda em Enfermagem na UCP. sonia.ferrao@esel.pt
Henriques Adriana: Enfermeira, Mestre em Epidemiologia, Doutorada em Enfermagem, Professora coordenadora do Departamento de Enfermagem de Saúde Comunitária na ESEL.
Fontes Rui: Enfermeiro. Director Técnico do Lar de Idosos do SBSI/SAMS. Presidente da Associação Amigos da Grande Idade. Formador IEFP e docente convidado da Universidade Fernando Pessoa.

 

RESUMO

Introdução: O presente artigo apresenta e discute alguns resultados obtidos durante a realização de um projecto de prevenção e controlo de quedas em contexto de lar de idosos, numa instituição com capacidade para 100 residentes, em que se se implementou a avaliação sistematizada de risco de queda através da aplicação da escala adaptada de Morse, e se aplicaram os testes Get Up and Go e Timed Get Up and Go seguidos de intervenção personalizada a 49 residentes.
Metodologia: Baseado na metodologia de projecto, implementou-se a aplicação da Escala de Avaliação de Risco de Queda de Morse a todos os residentes pelo seu enfermeiro de referência (n=74). Paralelamente à aplicação da escala de Morse realizou-se uma avaliação e intervenção personalizadas através da aplicação dos testes Get Up and Go e Timed Get Up and Go (n=49).
Resultados: Através da implementação do projecto, a avaliação de risco de queda com a aplicação da Escala de Avaliação de Risco de Queda de Morse passou a ser feita a todos os residentes pelo seu enfermeiro de referência. Constatou-se que cerca de um terço dos residentes apresentava elevado risco de queda. Dos 64 residentes avaliados para realização do teste Get Up and Go, 23% não tinham critério para realização do mesmo por estarem acamados ou em cadeira de rodas. Dos 49 residentes que realizaram o teste, 29,9% demoraram mais de 20 segundos a completá-lo tendo indicação para avaliação multidisciplinar posterior. Os residentes de alto risco foram referenciados aos diferentes técnicos da equipa para avaliação e intervenções individualizadas multifactoriais. Foi nomeado um enfermeiro de referência na prevenção e controlo de quedas no contexto, e criada uma comissão interdisciplinar de acompanhamento do projecto. Conclusões: A avaliação de risco de quedas nos residentes, acompanhada de intervenções dirigidas a cada indivíduo e tendo em conta os diferentes tipos de quedas (acidentais, fisiológicas previsíveis e fisiológicas não previsíveis) constitui uma abordagem sistematizada e diferenciada na prevenção e controlo de quedas na Pessoa Idosa institucionalizada em lar.
Descritores: Acidentes por quedas; Pessoa idosa; Avaliação de risco; Enfermagem Geriátrica.

ABSTRACT

Introduction: This paper presents and discusses some results obtained during the development of a falls prevention project in nursing home context in which it was implemented a systematic assessment of falling risk through the Morse scale, and applied the Get Up and Go test and Timed Get Up and Go in an institution with a capacity of 100 residents.
Methodology: Based on project methodology, we implemented the application of the rating Morse scale to all residents by their reference nurse. In parallel to Morse scale application it was held a personalized assessment and intervention by applying the Get Up and Go test and Timed Get Up and Go.
Results: Through the implementation of the project, the fall risk assessment the trough Morse Scale began to be made to all residents by their reference nurse. It was found that about a third of residents had high risk of falling. Of the 64 residents evaluated for performing the Get Up and Go test, 23% had no discretion to perform the same because they were bedridden or wheelchair, and from the 49 residents who performed the test 29.9% took more than 20 seconds to complete it, with further indication for multidisciplinary assessment. It was appointed a falls prevention reference nurse in the context, and created an interdisciplinary commission for monitoring the project.
Conclusions: A systematic fall risk assessment in residents, followed by interventions targeted to each individual and taking into account the different types of falls is an efficient and differentiated approach in fall prevention and in institutionalized elderly in the home.
Keywords: Accidental falls, Elderly, Risk Assessment, Geriatric Nursing.

INTRODUÇÃO

As quedas são a principal causa de morte por trauma nas pessoas com 65 ou mais anos, podendo conduzir a outras consequências graves como fracturas de fémur, traumatismos cranianos e lesões de
tecidos moles (NICE, 2004; NCPS, 2004; Rubenstein, 2006; Morse, 2009).

Em Portugal, estima-se que as quedas sejam responsáveis por cerca de 70% dos acidentes em pessoas idosas, ocorrendo maioritariamente no domicílio, quer seja privado ou instituição, considerando-se uma causa importante de internamento hospitalar e mortalidade nesta população (DGS, 2010).

Frequentemente as quedas constituem um dos motivos de institucionalização da pessoa idosa em lar, quer pelas suas consequências, recorrência, ou mesmo pelo medo de cair. Apesar disso, a sua incidência não é menor neste contexto, sendo considerado que os lares são as instituições onde ocorrem mais quedas (Morse, 2009). Ainda que se estime que apenas 5% do total das pessoas idosas residam em lares, cerca de 20% da totalidade de quedas ocorre em idosos institucionalizados em lar (Rubbenstein, 1997; NCPS, 2004).

As quedas nas pessoas idosas institucionalizadas em lares para além de mais frequentes, têm habitualmente consequências mais graves quando comparadas às que ocorrem nas pessoas idosas a viver em casa, pelas características dos residentes em lares, habitualmente mais velhos, com maior número de co-morbilidades e pior estado funcional (Sorensen et al, 2006).

A prevalência de quedas constitui assim um problema significativo nesta população, tendo sido inclusivamente apontada como um dos indicadores de qualidade sensíveis aos cuidados de enfermagem definidos internacionalmente para os lares de idosos (Zimmerman, 2003; Rantz, 2004; Wiener et al, 2007).

Para além de tentar prevenir a ocorrência da queda, é da responsabilidade dos enfermeiros reduzir a taxa de lesão o máximo possível, sendo um importante indicador de monitorização de quedas a
nível institucional (Morse, 2009).

Embora a responsabilidade da prevenção de quedas não seja exclusiva dos enfermeiros, os programas de prevenção e controlo de quedas são habitualmente liderados por estes. As instituições devem ter uma enfermeira especialista como supervisora da implementação do programa de prevenção e controlo de quedas, com responsabilidades que incluem: preparação de estruturas de registo e monitorização de queda, compra e distribuição de equipamento de protecção para quedas, formação do pessoal (e treino de pessoal recentemente contratado), avaliação dos utentes com elevado risco ou que sofreram de queda para identificação de intervenções apropriadas, coordenar a avaliação de risco e reuniões multidisciplinares de intervenção, articulação com os serviços de limpeza e manutenção, monitorização contínua do projecto, incluindo a preparação de relatórios e feedback à administração e equipa (Morse, 2009).

Um dos componentes dos programas de prevenção e controlo de quedas é a avaliação de risco e intervenção concordante com a mesma. Classicamente, dividem-se os factores de risco de queda em intrínsecos e extrínsecos e antecipáveis ou não antecipáveis existindo diferentes abordagens para cada um deles (NCPS, 2004; NICE, 2004; Morse, 2009). Os factores de risco intrínsecos incluem a história recente de quedas, incontinência, alteração cognitiva, alterações de mobilidade, força e equilíbrio, tonturas, hipotensão postural, idade acima de 65 anos, osteoporose e estado de saúde globalmente deficitário (NCPS, 2004; Nice, 2004). Os factores de risco extrínsecos são aqueles que estão presentes no ambiente, como sejam obstáculos ou desníveis difíceis de transpor, iluminação inadequada, espaços de transição mal assinalados, piso escorregadio, entre outros (CDC, 2002; NICE, 2004; NCPS, 2004; Morse, 2009).

Morse (2009) classificou as quedas em acidentais, fisiológicas antecipáveis e fisiológicas não antecipáveis. Segundo a mesma autora, as quedas fisiológicas antecipáveis constituem 78% do total das quedas, ocorrendo em pessoas que são identificadas pela escala de avaliação de risco que concebeu como em risco de queda por apresentarem factores como história prévia de quedas, alteração na marcha, terapêutica intravenosa, e necessidade de utilização de dispositivos auxiliares de marcha (Morse, 2009).

Entidades como o National Center for Patient Safety (NCPS; 2004) recomendam a escala de Morse como instrumento de avaliação de risco adequado para os lares de idosos. Esta escala consiste num instrumento que visa triar de forma rápida (entre 1 a 3 minutos) as pessoas que estão em risco de cair, e assim permitir a implementação imediata de estratégias de intervenção preventivas e
protectoras, bem como a monitorização do risco de queda durante a institucionalização.

Outras formas de avaliação de risco de queda são propostas na literatura, como o caso teste Get Up and Go e Timed Get Up and Go, recomendadas para a identificação dos factores de risco intrínsecos e extrínsecos para quedas (Wall et al, 2000; Kimbell, 2001), consistindo numa avaliação mais detalhada do indivíduo permitindo avaliar a marcha equilíbrio, calçado e vestuário, visão, entre outros.

Devido à etiologia multifactorial das quedas e à complexidade da Pessoa Idosa institucionalizada em lar, considera-se que as melhores práticas neste contexto são a correcta identificação de risco de queda e implementação de estratégias de intervenção individualizadas, multifactoriais e multidisciplinares (NICE, 2004; Gillespie et al., 2008; ACSQHC, 2009; AGS, 2010).

METODOLOGIA

Adoptou-se a metodologia de projecto, sendo fases de execução, monitorização e encerramento baseadas no que Morse (2009) recomenda para o sucesso da implementação de um programa de prevenção e controlo de quedas.

Avaliação de risco de queda através da escala de Morse
Não tendo sido encontrada nenhuma publicação relativa à tradução, adaptação e validação da referida escala para português, e não constar nenhuma versão portuguesa na última publicação da autora (Morse; 2009), foi iniciado um processo de adaptação da escala para utilização no contexto clínico do projecto. A autora foi contactada, autorizando a utilização da escala e enviando recomendações para a sua utilização que foram seguidas no projecto.

De seguida procedeu-se ao processo de tradução com recurso a dois peritos e posteriormente a escala foi apresentada aos enfermeiros da equipa, sendo discutidas as possíveis dúvidas que alguns
itens pudessem suscitar e obtido consenso acerca do significado dos termos a utilizar.

Tal como a autora recomenda, foram fornecidas instruções escritas de preenchimento a todos os elementos da equipa de enfermagem, ficou um exemplar do seu livro disponível para consulta no lar,
num local conhecido por todos os elementos e consideraram-se os scores 0-24 baixo risco, 25-44 médio risco e 45 ou mais risco elevado.

A primeira fase de aplicação da escala de avaliação de risco de queda na população residente permitiu a familiarização da equipa com a escala, para que se identificassem dificuldades de aplicação, exequibilidade da implementação da mesma, entre outros. Assim sendo, solicitou-se a cada enfermeiro que preenchesse a avaliação de risco de queda de todos os residentes por quem estivesse responsável, tendo-se acompanhado este processo. Durante esta fase questionaram-se quais as principais dificuldades de preenchimento, da avaliação dos itens necessários e o que pensavam os enfermeiros sobre o tempo de preenchimento da escala.

No que concerne ao instrumento, os enfermeiros, de uma maneira geral, consideraram-no de rápido e fácil preenchimento, sendo as principais dificuldades referentes à diferenciação entre marcha comprometida e frágil e o significado de estado mental no instrumento. Para que essas dificuldades fossem ultrapassadas e não comprometessem a avaliação efectuada, foram feitas algumas avaliações em conjunto com discussão de dúvidas e dificuldades.

Todos os enfermeiros realizaram a avaliação de risco dos residentes que lhes estavam atribuídos. Essa informação foi recolhida, e depois de tratada foi discutida na reunião de equipa divulgando-se os resultados obtidos e confrontando-os com o que literatura descreve.

Teste Get Up and Go e Timed Get Up and Go
Condições de realização do teste:
Espaço físico: O teste foi realizado no gabinete médico e no ginásio quando estes se encontravam disponíveis, de forma a garantir as condições de realização do teste e intervenção posterior.

Equipamento utilizado: Cadeira (altura aproximadamente 46cm e braços 65cm); Fita métrica; Cronómetro; Pino de ginásio; Folhas de avaliação.

Sequência da avaliação: Inicialmente foi divulgada a avaliação e intervenção com a ajuda da equipa de enfermagem, solicitando a participação dos residentes. Posteriormente, os residentes eram
abordados individualmente fornecendo-se informação breve acerca da avaliação e intervenção a realizar, e combinava-se com os interessados a hora e local das mesmas.

As avaliações eram feitas individualmente ou em grupo, designadamente no caso de casais, de acordo com a preferência dos residentes.

Inicialmente era recolhida alguma informação que permitia conhecer melhor cada residente, nomeadamente a idade, estado civil, com quem reside no lar, história de quedas, problemas urinários,
hipotensão ortostática, tipo de antecedentes pessoais e terapêutica habitual. O tempo que demorava esta fase dependia da interacção com cada residente. Muitos residentes colocavam de imediato questões, ou o tipo de informação que partilhavam servia de base para o início da intervenção, nomeadamente a história de quedas anteriores, onde se exploravam as circunstâncias, local, factores precipitantes, entre outros.

De seguida era fornecida uma explicação mais detalhada do teste com demonstração da sua realização, incentivando-se a colocação de dúvidas.

Após a explicação e demonstração, cada residente realizava dois testes, um primeiro com tempo (timed get up and go) e outro sem tempo para permitir uma avaliação mais detalhada.

No timed get up and go cronometrava-se o tempo despendido na tarefa de levantar-se da cadeira (a partir da posição encostada) sem apoio das mãos se possível, andar três metros até ao pino colocado no solo, girar e voltar no mesmo percurso, sentando-se novamente com as costas apoiadas no encosto da cadeira. A instrução dada aos idosos foi que executassem a tarefa de forma segura de acordo com o seu ritmo habitual. Considerou-se até 10 segundos o tempo normal para a realização da tarefa por adultos saudáveis; de 10,1 a 20 segundos os limites normais de tempo para idosos frágeis ou pessoa com deficiência e mais de 20 segundos um valor indicativo da necessidade de avaliação e intervenção
mais aprofundadas.

No segundo teste, pedia-se à pessoa para sentar-se na cadeira com as costas apoiadas, levantar-se sem utilizar os braços como apoio (se possível), fechar os olhos durante uns segundos enquanto se mantém em pé no mesmo local, permanecer em pé enquanto se empurra ligeiramente o tórax, andar até ao marcador no chão e parar completamente, rodar e voltar à cadeira, sentando-se sem utilizar os apoios dos braços. À medida que se observava o residente fazer cada passo eram preenchidos os tópicos que constavam na folha de avaliação.

As avaliações realizadas foram discutidas posteriormente com a equipa de cuidados quanto ao processo e resultados.

RESULTADOS

Escala de Avaliação de Risco de Quedas de Morse
Avaliaram-se um total de 74 residentes com idades compreendidas entre 67 e 99 anos, sendo a média de 83,69 ± 6,958 (dp). A maioria dos residentes tinha 75 ou mais anos (87,8%) e 70,3% dos residentes eram mulheres. Relativamente ao estado civil, 56,9% dos residentes eram viúvos, 34,7% casados, 5,5% divorciados/separados e 2,8% solteiros. Quanto à partilha de quarto ou apartamento no lar, 32,4% dos residentes estavam em quartos individuais, 31% acompanhados do cônjuge e 36,6% partilhavam o quarto com outro residente.

A distribuição dos residentes pelo tempo de residência no lar encontra-se na tabela 1.

Através da aplicação da escala de avaliação de risco de Morse verificou-se que 44,3% dos residentes foram classificados de baixo risco, 21,4% de médio risco e 34,3% de alto risco.
As avaliações foram inicialmente realizadas em papel, e posteriormente introduziu-se a escala nos processos informatizados dos residentes, tendo sido criado um sistema de alerta para os residentes de alto risco.

Definiu-se em equipa a avaliação de todos os residentes aquando a admissão, transferência, ocorrência de queda, alteração do estado de saúde e reavaliações periódicas tendo em conta a avaliação anterior.

Os residentes de alto risco foram sinalizados aos elementos da equipa multidisciplinar, nomeadamente fisioterapeuta de referência e terapeuta ocupacional para avaliação e intervenção multifactoriais.

Teste Get Up and Go e Timed Get Up and Go

A aplicação do teste Get Up and Go permitiu a observação da pessoa a interagir com o ambiente, sendo possível identificar a utilização de vestuário e calçado (in)adequados, défices de visão e a presença de alterações da marcha, possibilitando identificar áreas de possível intervenção nas respostas não adaptáveis. Efectivamente, para além dos aspectos relacionados com a marcha, força de membros, equilíbrio, era igualmente observado e discutido o tipo de calçado e vestuário utilizados habitualmente pelos residentes, alterações visuais e forma de correcção, hipotensão ortostática, entre outros. Estes aspectos eram alvo de discussão visando a promoção de respostas adaptáveis. Os obstáculos existentes nas áreas privadas (quarto ou apartamento) eram também abordados nesta interacção.

Esta intervenção com os residentes permitiu a promoção de respostas adaptáveis de cada indivíduo ao ambiente, e promovendo a sua acção sobre o mesmo. Neste contexto, nos residentes que participaram na aplicação do teste Get Up and Go, e consequente intervenção dirigida à prevenção de quedas, foi possível trabalhar alguns estímulos contextuais visando respostas adaptáveis,
que pela constante mudança no ambiente, não são focais, mas que podem ter um papel importante na ocorrência de quedas, como os obstáculos no quarto, tipo de roupa e calçado, entre outros.

Os resultados do teste Get Up and Go e respectivas orientações foram discutidos com a equipa de cuidados. No total foram avaliados 64 residentes. Na tabela 2 encontram-se os resultados do Timed Get Up and Go.

Nos residentes avaliados com critério para realizar os testes, 29,9% demoraram mais de 20 segundos a realizar o Timed Get Up and Go. Dentre os residentes que demoraram mais de 20 segundos a
completar o teste (n=16), 62,5% destes foram sinalizados como alto risco aquando a aplicação da escala de Morse, 25% avaliados em médio risco e 12,5% em baixo risco.

Ao contrário da escala de Morse que é um instrumento simples e rápido de preencher, a realização deste teste implica maior consumo de tempo e algumas condições em termos de espaço físico e equipamento,tendo sido considerado que não seria viável integrá-lo na prática habitual de cuidados pela equipa a todos os residentes. Ficou então acordado na equipa que seria útil fazer essa avaliação em caso de ocorrência de queda e aos residentes considerados de alto risco, como auxilio na avaliação mais detalhada de factores de risco intrínsecos e extrínsecos.

Para dar continuidade ao projecto e assegurar a articulação entre os diferentes técnicos da equipa, foi nomeado um enfermeiro de referência na prevenção e controlo de quedas no contexto. Este
elemento ficou responsável por supervisionar a continuação da avaliação de risco a todos os residentes, encaminhar os residentes de alto risco aos diferentes técnicos de referência, monitorizar o registo de ocorrência de quedas, realizar a avaliação do ambiente anualmente e supervisionar a manutenção de equipamento feita pelo auxiliar responsável.

Foi ainda criada uma comissão multidisciplinar de acompanhamento do projecto para fazer a actualização das actividades relacionadas com o projecto, das dificuldades sentidas e formas de as
contornar, dinamizar actividades em equipa como a discussão de casos e avaliação de resultados ao fim de um ano após o início do projecto.

DISCUSSÃO

As características sociodemográficas dos residentes do estudo, nomeadamente o facto de a maioria ser do género feminino e com idade igual ou superior a 75 anos é compatível com o que é encontrado na literatura referente aos idosos residentes em lares (Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, 2005; Rodrigues, 2006).

A implementação da avaliação de risco de queda sistematizada a todos os residentes pela Escala de Morse obedece ao que é recomendado na literatura por ser o instrumento mais utilizado internacionalmente e ser considerada válida para avaliação de risco de queda (NCPS, 2004). Pode ser utilizada em qualquer contexto porque não tem variáveis de contexto, tendo uma sensibilidade de 84% (Morse, 2009).

Os momentos estabelecidos para a aplicação da escala no projecto coincidem com o que é preconizado pelo NCPS (2004) que afirma que a avaliaçãodeve ser efectuada não só aquando a admissão à instituição, mas também na transferência de uma unidade para outra na instituição, em situação de alteração no estado de saúde, após uma queda e em intervalos regulares.

Os resultados obtidos na avaliação de risco neste estudo revelaram valores mais baixos de risco de queda comparativamente aos resultados apresentados por Morse (2009) para as instituições de longa duração (tabela 3). As escalas preditivas de risco de queda, como a escala de Morse, indicam o risco de queda, mas não as causas ou o que fazer para as prevenir (Morse, 2009). A Pessoa Idosa identificada como estando em risco de cair, deve ser alvo de estratégias de intervenção individualizadas, multifactoriais e multidisciplinares (NICE, 2004; Gillespie et al., 2008; ACSQHC, 2009; AGS, 2010).

Na avaliação multifactorial deve incluir-se: história de quedas, avaliação da marcha e equilíbrio, mobilidade e fraqueza muscular, risco de osteoporose, capacidade funcional percebida e medo relacionado com quedas, avaliação de défice visual, défice cognitivo e avaliação neurológica, incontinência urinária, riscos no ambiente, avaliação cardiovascular e revisão terapêutica (NICE,
2004; Morse, 2009).

Um dos instrumentos que pode contribuir para a avaliação mais detalhada do indivíduo considerado de alto risco de queda e planeamento de áreas intervenção é o teste Get Up and Go, na medida em que permite a avaliação da marcha, equilíbrio, despistar hipotensão ortostática, alterações visuais entre outros (Wall et al, 2000; Kimbell, 2001).

O envolvimento de toda a equipa, a nomeação de um enfermeiro de referência e a criação de uma comissão multidisciplinar permitiu obedecer a uma das premissas comuns aos diferentes autores no que respeita à prevenção e controlo de quedas, a necessidade de envolver toda a equipa multidisciplinar, devendo a tomada de decisão acerca das estratégias adoptadas ser feita em conjunto
e articulação pelos diferentes elementos (NICE, 2004; NCPS, 2004; ACSQHC, 2009; Morse, 2009).

CONCLUSÃO

Concluiu-se que as características sociodemográficas dos residentes foram concordantes com o que é descrito na literatura. O grau de risco de queda nos residentes avaliados foi globalmente mais baixo que o descrito por Morse (2009) para as instituições de longa duração.

Através da realização do projecto concluiu-se que a avaliação de risco de quedas nos residentes, acompanhada de intervenções dirigidas a cada indivíduo e tendo em conta os diferentes tipos de quedas, constitui uma abordagem sistematizada e diferenciada na prevenção e controlo de quedas na Pessoa Idosa institucionalizada em lar.

REFERENCIAS

American Geriatrics Society. AGS/BGS Clinical Practice Guideline: Prevention of Falls in Older Persons; 2010.
Australian Commission on Safety and Quality of Healthcare. Preventing Falls and Harm From Falls in Older People. Best Practice Guidelines for Australian Residential Aged Care Facilities; 2009.
Direcção-Geral da Saúde. Plano Nacional de Saúde 2004-2010. Disponível em www.dgsaude.minsaude. pt/pns.
Gillespie L D, Gillespie W J, Robertson M C, et al. Interventions for Preventing Falls in Elderly People (Review). The Cochrane Library, Issue 4; 2008.
Kimbell S. Before the fall. Keeping your patient on His feet. Nursing 2001; volume 31, number 8: pp 44-47.
Ministério do Trabalho e da Solidariedade. Carta Social – Rede de serviços e Equipamentos. Departamento de Estudos, Prospectiva e Planeamento; 2000.
Ministério do Trabalho e Solidariedade. Intervenção do Secretário de Estado na abertura do I Congresso em Avaliação e Intervenção em Gerontologia Social, Inovação e Futuro dos Lares de Idosos: Porto; 2005. Disponível em: www.mtss.gov.pt.
Morse J. Preventing Patient Falls – Establishing a Fall Intervention Program. Second edition. New York: Springer Publishing Company; 2009.
National Center Patient Safety. VHA NCPS Falls Toolkit; 2004.
National Institute for Clinical Excellence. Clinical practice guideline for the assessment and prevention of falls in older people. Royal College of Nursing; 2004.
Rantz MJ, Zwygart-Tauffacher M. Back to the Fundamentals of Care: A Roadmap to Improve Nursing Home Care Quality. Journal Nurse Care Qual 2004; 19(2): 92-94.
Rodrigues S. Solidão é um dos principais motivos de internamentos de idosos em lares: Público; 08.05.2005. Disponível em: www.publico.pt.
Rubenstein LZ. Preventing falls in the nursing home. Journal of the American Medical Association 1997; 278: 6p.
Rubenstein R Falls in older people: epidemiology, risk factors and strategies for prevention. Age and Ageing 2006; 37-4.
Sorenson S, Lissovoy D, Kunaprayoon D, Resnick B, Rupnow M, Studenski S. A taxonomy and Economic Consequences of Nursing Home Falls. Drugs Aging 2006; 23 (3): 251-262.
Wall J, Bell C, Campbell S, Davis J. The timed Get-upand-go Test Revisited: Measurement of the Component Tasks. Journal of Rehabilitation Research and Development 2000; Vol.37 No.1: 109-114.
Wiener JM, Freiman MP, Brown D. Nursing Home Care Quality: Twenty Years After The Omnibus Budget Reconciliation Act of 1987. Washington, DC:Headquarters, 2007.
Zimmerman DR. Improving Nursing Home Quality of Care Through Outcomes Data: the MDS quality indicators. International Journal of Geriatric Psychiatry 2003; 18: 250–257.

Tabelas

Read More