Fev 27, 2014

Lisboa, 2013

A (In)Capacidade dos Idosos para Gerir a Sua Medicação
ADVINHA, Ana Margarida1; LOPES, Manuel José2; OLIVEIRA-MARTINS Sofia1
1,2 Research Institute for Medicines and Pharmaceutical Sciences, Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa; 3 Escola Superior de Enfermagem de S. João de Deus, Universidade de Évora
Fundamento: Aproximadamente 45% dos idosos são incapazes de tomar os seus medicamentos tal como prescritos (1). Gerir o regime terapêutico constitui um comportamento complexo, que envolve tanto a intenção, como a capacidade para tomar medicamentos. Desta forma, importa distinguir a intenção de tomar a medicação e a capacidade para o fazer, a fim de promover a saúde do indivíduo e o seu envelhecimento ativo (2). A toma crónica de medicamentos representa um processo metódico, que conduz ao hábito quotidiano, e que pode ser afetada por diversos tipos de erros sistemáticos, associados não só ao desconhecimento e iliteracia do doente, mas também à progressiva perda de capacidade funcional (física, cognitiva e sensorial) para gerir a sua medicação (3,4). A diminuição das competências cognitivas (ex. aumento da dificuldade em processar novas informações, como a introdução de um novo medicamento no regime), a diminuição da acuidade visual (ex. dificuldade em ler os rótulos e folhetos informativos constantes nas embalagens) ou a diminuição da destreza manual (ex. dificuldade na abertura de embalagens e extração de medicamentos), repercutem-se significativamente em não adesão (não intencional) e/ou em problemas de saúde decorrentes da ausência ou incorreta administração de medicamentos (2,5,6).
Objetivo: Este estudo tem como principal objetivo avaliar a capacidade dos idosos para gerir a sua medicação, através da aplicação de instrumentos específicos, adaptados (linguística e culturalmente) e validados para a população Portuguesa.
Métodos: Revisões descritiva e sistemática da literatura para identificação dos instrumentos disponíveis a nível internacional e aferição dos resultados obtidos por outros autores; adaptação (linguística e cultural) e validação de três instrumentos de avaliação da capacidade funcional dos idosos para gerir a medicação; e futuramente, avaliação da capacidade da população idosa Portuguesa para gerir a sua medicação, com recurso à aplicação dos instrumentos adaptados e validados (método em delineamento).
Resultados Preliminares: De um total de quinze instrumentos específicos identificados na revisão descritiva da literatura, foram selecionados três, de acordo com as características psicométricas e de aplicação. Destes, um avalia com recurso à medicação real, outro com recurso a uma medicação fictícia e o terceiro engloba uma avaliação integrada recorrendo aos dois cenários. O declínio cognitivo e o aumento da idade surgem como fatores determinantes de incapacidade funcional na gestão da medicação, pelo que, diversos estudos revelam a importância da avaliação da capacidade funcional dos idosos para gerir a sua medicação, sobretudo por esta poder representar um indicador precoce da perda de independência e da necessidade de intervenção.
Considerações Finais e Perspetivas Futuras: O processo de gestão da medicação envolve várias fases, e embora as barreiras envolvidas não sejam facilmente modificáveis, existem estratégias facilitadoras, quer através da intervenção de um profissional de saúde, quer da introdução de dispositivos de apoio, que poderão promover a melhoria do desempenho do idoso nesta tarefa.
Atualmente encontra-se em fase de conclusão a adaptação linguística dos instrumentos a utilizar, à qual se seguirá a adaptação cultural e validação. Encontra-se também a ser delineada a fase de aplicação dos instrumentos para avaliação da capacidade funcional para gerir a medicação, a uma amostra de idosos Portugueses.
Referências Bibliográficas:
1. MacLaughlin EJ, Raehl CL, Treadway AK, Sterling TL, Zoller DP, Bond CA. Assessing medication adherence in the elderly – Which tools to use in clinical practice? Drugs Aging. 2005;22(3):231–55.
2. Lakey SL, Gray SL, Borson S. Assessment of Older Adults’ Knowledge of and Preferences for Medication Management Tools and Support Systems. Ann Pharmacother. 2009;43(6):1011–9.
3. Tordoff J, Simonsen K, Thomson WM, Norris PT. “It’s just routine.” A qualitative study of medicine-taking amongst older people in New Zealand. Pharm World Sci. 2010 Apr;32(2):154–61.
4. Hutchison LC, Jones SK, West DS, Wei JY. Assessment of medication management by community-living elderly persons with two standardized assessment tools: a cross-sectional study. Am J Geriatr Pharmacother. 2006/07/25 ed. 2006;4(2):144–53.
5. Beckman A, Bernsten C, Parker MG, Thorslund M, Fastbom J. The difficulty of opening medicine containers in old age: a population-based study. Pharm World Sci. 2005 Oct;27(5):393–8.
6. Windham BG, Griswold ME, Fried LP, Rubin GS, Xue Q-L, Carlson MC. Impaired vision and the ability to take medications. J Am Geriatr Soc. 2005 Jul;53(7):1179–90.

Acidente Vascular Cerebral e Doença Isquémica Cardíaca no contexto do Envelhecimento
Matilde Rosa; Paulo Nogueira; Andreia Costa
Introdução
O envelhecimento da população é já uma tendência de dimensão mundial, embora seja na Europa que se localiza a maior parte das populações mais envelhecidas do mundo. A este respeito, Portugal não é, assim, um país original, embora tenha envelhecido com uma rapidez assinalável. É certo que, pelo menos a médio prazo, a população de Portugal continuará a envelhecer, o que aliás por si, pode ser entendido como uma tendência desejável, pois os factores que estão na origem deste processo estão ligados, no essencial, a progressos significativos nas condições de vida e saúde da população. Contudo, socialmente, o envelhecimento lança também desafios novos. Entre estes está o aumento de patologias de algum modo associadas à idade, como as doenças cardiovasculares, muitas destas também agravadas por hábitos e estilos de vida das sociedades modernas, como o stresse, o tabagismo, sedentarismo ou até a poluição ambiental. As doenças cardiovasculares constituem a causa de morte mais relevante em toda a Europa, incluindo Portugal, e englobam um vasto conjunto de situações clinicas afetando o sistema circulatório. Apesar da elevada mortalidade associada às doenças cardiovasculares, tem-se verificado, nas últimas duas décadas, uma progressiva diminuição das taxas de mortalidade destas doenças. Inúmeros factores podem estar na causa desta diminuição mas podem realçar-se, por exemplo, a progressiva adoção de medidas preventivas, como a Lei de Cessação Tabágica, a Iniciativa legislativa de redução do conteúdo de sal no pão, ou as frequentes campanhas promovidas por sociedades científicas e outras organizações, visando a adoção hábitos de vida saudáveis.
São inúmeros os estudos que vão de encontro à temática envelhecimento e não menos os que referem as doenças cardiovasculares a ele associadas. Entre as doenças cardiovasculares mais preocupantes na temática envelhecimento, há-que destacar o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e a Doença Isquémica Cardíaca (DIC).
Material e Métodos
Neste artigo, foram analisados tanto a mortalidade como os padrões de morbilidade associados a certas doenças cardiovasculares, dada a importância do estudo de ambos no contexto do envelhecimento. Relativamente à mortalidade, a informação é proveniente do Instituto Nacional de Estatística (INE). Relativamente à morbilidade, os apuramentos para estas estatísticas são obtidos a partir da base de dados dos Grupos de Diagnóstico Homogéneos (GDH). Esta base de dados é anualmente posta à disposição da Direcção-Geral da Saúde (DGS) pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). Os GDH são um sistema de classificação de doentes, onde o conjunto de bens e serviços que cada doente recebe, em função da sua patologia, é registado. Esta base de dados agrupa as patologias de acordo com a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS). Assim, a classificação dos diagnósticos é feita tanto com base nos Grande Grupos da Classificação Internacional de Doenças- 9a Revisão- Modificação Clínica (CID 9 MC) como com base nas Grandes Categorias de Diagnóstico (GCD). É importante notar que a base de dados usada é referente apenas a episódios ocorridos nos hospitais do Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Portugal Continental, pelo que as conclusões tiradas não devem ser generalizadas a todos os doentes nacionais.
Neste trabalho, analisou-se retrospectivamente a morbilidade de certas doenças cardiovasculares, em Portugal Continental, entre 2007 e 2011. Em particular, foi dado ênfase ao Acidente Vascular Cerebral (AVC) e à Doença Isquémica Cardíaca (DIC), pela sua morbilidade e mortalidade associada, no sector idoso. Os indicadores considerados relevantes para este estudo foram a Taxa de Mortalidade Padronizada, o número de utentes saídos e o número de óbitos, por região e grupo etário, com especial foco no grupo etário dos 65 ou mais anos. As respectivas percentagens, de utentes saídos ou óbitos pertencentes ao grupo etário 65 ou mais anos no total dos grupos etários, também foram calculadas. Os indicadores acima referidos referem-se apenas a diagnósticos principais. Todos os cálculos presentes foram realizados utilizando o software estatístico R e a folha de cálculo do Microsoft Excel. No que diz respeito à codificação utilizada, as causas de morte são codificadas segundo a Classificação Internacional de Doenças CID10MC enquanto a morbilidade hospitalar é codificada com base na CID9MC. Em particular, os códigos utilizados para o AVC foram do I61 ao I64 (CID10MC) e do 430 ao 434 (CID9MC); para a DIC utilizaram-se os códigos do I20 ao I25 (CID10MC) e do 410 ao 414 (CID9MC).

Resultados
Relativamente ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), no que diz respeito à sua morbilidade hospitalar, destaca-se um número de utentes saídos com AVC como diagnóstico principal, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que aumentou ligeiramente entre 2007 e 2011. Relativamente a este grupo etário, verificou-se um aumento de 20067, em 2007, para 20513 utentes saídos, em 2011, o que corresponde a 77,1% e 77,4% do total de utentes saídos por AVC, respectivamente. É interessante observar que, enquanto o número de utentes com AVC entre os 65 e os 79 anos diminuiu no intervalo temporal considerado (de 11544 para 10931 utentes), o número de utentes com 80 ou mais anos aumentou de 8523 para 9582. Os óbitos também acompanham esta evolução: o número de óbitos de utentes com AVC entre os 65 e os 79 anos diminuiu ligeiramente no intervalo temporal considerado (de 1538 para 1375 utentes), enquanto que o número de óbitos de utentes com 80 ou mais anos aumentou ligeiramente de 1836 para 1922. Entre 2007 e 2011, os óbitos de utentes mais idosos (65 ou mais anos) com AVC constituíram aproximadamente 85% do total de óbitos de utentes com AVC. É aqui notório o peso que o envelhecimento tem na morbilidade e mortalidade por AVC, pelo que a análise, relativamente ao grupo etário mais idoso, da sua evolução temporal assim como das suas desigualdades inerentes, não só mas também a nível regional, é de extrema importância. A nível regional, os utentes saídos com AVC com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se a do Norte. No total dos 5 anos considerados neste trabalho, a região de Lisboa e Vale do Tejo apresenta aproximadamente 37% do total do Continente, no que se refere a utentes saídos com AVC com 65 ou mais anos. As correspondentes percentagens são 33% para o Norte, 23% para o Centro, sendo o restante distribuído pelas regiões Alentejo e Algarve.
Relativamente à Doença Isquémica Cardíaca (DIC), a sua Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, diminuiu a cada ano tendo o seu valor mais elevado em 2007 (324 por 100 000 habitantes) e o mais baixo em 2011 (247,5 por 100 000 habitantes). Estes números merecem especial atenção sobretudo quando se olha para a Taxa de Mortalidade Padronizada total: entre os 45,0 (2007) e os 34,9 (2011) por 100 000 habitantes. Analisando a morbilidade hospitalar, destaca-se uma evolução com alguns traços idênticos aos manifestados pelo AVC, relativamente a utentes com 65 ou mais anos. Assim, a Doença Isquémica Cardíaca apresenta um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário mais idoso, que diminuiu ligeiramente entre 2007 e 2011. Relativamente a este grupo etário, verificou-se uma diminuição de 19508, em 2007, para 19228 utentes saídos, em 2011, o que corresponde a aproximadamente 60% do total dos utentes saídos cujo diagnóstico principal foi a DIC. É interessante observar, mais uma vez, que enquanto o número de utentes com DIC entre os 65 e os 79 anos diminuiu no intervalo temporal considerado (de 14805 para 13936 utentes), o contrário acontece com os utentes com 80 ou mais anos cujos valores aumentaram de 4703 para 5292. No que diz respeito aos óbitos, os traços evolutivos apresentam-se um tanto diferentes. O número de óbitos de utentes com DIC diminuiu no intervalo temporal considerado, tanto nos utentes entre os 65 e os 79 anos (de 652 para 475 óbitos) como nos utentes com 80 ou mais anos (de 774 para 666 óbitos). Entre 2007 e 2011, em Portugal Continental, os óbitos de utentes mais idosos (65 ou mais anos) com DIC constituíram aproximadamente 88% do total de óbitos de utentes com DIC. É aqui notório o peso que o envelhecimento tem na morbilidade hospitalar de DIC, o que revela um interesse na análise, relativamente ao grupo etário mais idoso, da sua evolução temporal assim como das suas desigualdades inerentes, não só mas também a nível regional. A nível regional, os utentes saídos com DIC com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se a do Norte, tal como acontecera com os doentes cujo diagnóstico principal foi o AVC. No total dos 5 anos considerados neste trabalho, a região de Lisboa e Vale do Tejo apresenta aproximadamente 49% do total do Continente, no que se refere a utentes saídos com DIC com 65 ou mais anos. As correspondentes percentagens são 24% para o Norte, 18% para o Centro, sendo o restante distribuído pelas regiões Alentejo e Algarve.
Conclusões
As doenças cardiovasculares constituem a causa de morte mais relevante em toda a Europa, incluindo Portugal. E, atendendo a que um grande número de doenças cardiovasculares se relaciona com o envelhecimento da população, em particular quando falamos de AVC e DIC, é expectável que o número de pessoas com estas doenças venha a aumentar impondo ao sistema de saúde uma necessidade crescente de cuidados.
Relativamente ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), analisando a sua morbilidade hospitalar, destaca-se um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que aumentou de 20067, em 2007, para 20513, em 2011.Relativamente ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), analisando a sua morbilidade hospitalar, destaca-se um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que aumentou de 20067, em 2007, para 20513, em 2011. É interessante observar que, enquanto o número de utentes com AVC como diagnóstico principa,l entre os 65 e os 79 anos, diminuiu no intervalo temporal considerado, o número correspondente de utentes com 80 ou mais anos aumentou. O número de óbitos de utentes com AVC entre os 65 e os 79 anos diminuiu ligeiramente no intervalo temporal considerado enquanto que o número de óbitos de utentes com 80 ou mais anos aumentou ligeiramente. A nível regional, os utentes saídos com AVC com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se a do Norte. Relativamente à Doença Isquémica Cardíaca (DIC), a sua Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, diminuiu a cada ano atingindo o seu valor mais elevado em 2007 e o mais baixo em 2011. Analisando a morbilidade hospitalar, a Doença Isquémica Cardíaca apresenta um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário mais idoso, que diminuiu ligeiramente de 19508, em 2007, para 19228, em 2011. É ainda relevante referir, mais uma vez, que o número de utentes com DIC entre os 65 e os 79 anos diminuiu e o contrário acontece com os utentes com 80 ou mais anos. No que diz respeito aos óbitos, os traços evolutivos apresentam-se um tanto diferentes: o número de óbitos dos utentes mais idosos com DIC diminuiu no intervalo temporal considerado. A nível regional, os utentes saídos com DIC com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, tal como acontecera com o AVC. É notório o peso que o envelhecimento tem na morbilidade hospitalar das referidas doenças, em particular no AVC e DIC, pelo que é crucial uma análise, relativamente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, da sua evolução temporal assim como das suas desigualdades inerentes. Considera-se crucial adaptar-se o presente a fim de se ter um futuro que vai ao encontro da evolução das doenças cardiovasculares e ao crescente envelhecimento. Contudo, é também preciso olhar para o passado, sobretudo o mais recente, uma vez que, apesar da elevada mortalidade associada às doenças cardiovasculares, tem-se verificado, nas últimas duas décadas, uma progressiva diminuição das taxas de mortalidade destas doenças. Vários factores estão na causa desta diminuição destacando-se a progressiva adoção de estratégias organizativas do Sistema de Saúde para promover hábitos de vida mais saudáveis. Um possível desafio na temática das doenças cardiovasculares e do envelhecimento prende-se também com a existência de programas de incentivo à actividade física das pessoas idosas.
Referências
BARROS, Pedro Pita, 2013, Pela Sua Saúde, Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos ROSA, Maria João Valente, 1996, O Envelhecimento da População Portuguesa, Cadernos Público, no3, Lisboa, BPI
ROSA, Maria João Valente, 2012, O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa, Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos
Direção-Geral da Saúde, Portugal – Doenças Cérebro-Cardiovasculares em números – 2013

VULNERABILIDADES PSICOSSOCIAIS EM COMBATENTES: CONTRIBUIÇÕES PARA A GERONTOLOGIA E ENVELHECIMENTO ATIVO.

António Correia; José Rodrigues. Email: acorreia.ceamps.lc@gmail.com

Resumo
Ao longo dos últimos anos, vários estudos têm sido efetuados em relação ao impacto das experiências traumáticas em combatentes de guerra. A Guerra do Ultramar Português estendeu-se por um período de 13 anos, entre 1961 e 1974, em Angola, Guiné e Moçambique, na qual combateram mais de 800.000 portugueses, dos quais cerca de 9.000 perderam a vida, 30.000 foram evacuadas por ferimentos e mais de 100.000 ficaram doentes e/ou feridos, (cerca de 14.000 deficientes físicos e um número bastante significativo com perturbações psicológicas em consequência dos acontecimentos traumáticos da guerra).
O presente estudo teve como objetivo avaliar as vulnerabilidades psicossociais, numa amostra de antigos combatentes portugueses dos Açores, Ilha Terceira, constituída por 255 veteranos, com idades compreendidas entre 55 e 73 anos (M=63;Dp=4,18).
Na metodologia foram utilizados os seguintes instrumentos de avaliação: Questionário sociodemográfico; PCL-M (acontecimento traumático); ETC (estratégias de coping); SCL-90-R (desajustamento emocional) e Escala de Avaliação da Situação Sociofamiliar de Gijón.
Os resultados mostram a presença de sintomatologia de PSPT, de nível de gravidade ligeiro (53,5%), moderado (41,2%) e grave (5,5%), com uma tendência para os sintomas ligeiros passarem a moderados com o aumento da idade. Ao nível da relação entre a PSPT e as variáveis psicossociais, verificam-se associações estatisticamente significativas entre todas as dimensões da PCL-M (reexperimentação intrusiva, evitamento e embotamento e excitabilidade aumentada) e as dimensões psicopatológicas da ansiedade, depressão, hostilidade, somatização e obsessão e compulsão e com as estratégias de coping de retraimento, adictividade e mudança. O estudo identificou também uma percentagem significativa de 5,8% (n=15) de pessoas mais vulneráveis e em risco social.
Em conclusão, o presente estudo contribuiu para melhorar o conhecimento e a compreensão das vulnerabilidades psicossociais dos combatentes da Ilha Terceira e, face aos resultados, pretende-se encontrar respostas mais adequadas a este tipo de população e às problemáticas apresentadas, nomeadamente a criação de um centro de apoio médico, psicológico e social com respostas específicas para ajudar os combatentes a terem um envelhecimento ativo e com melhor qualidade de vida.
Palavras-chave: Combatentes da Guerra do Ultramar, Vulnerabilidades Psicossociais, Gerontologia, Envelhecimento Ativo

A AVALIAÇÃO FUNCIONAL MULTIDIMENSIONAL NA POPULAÇÃO IDOSA: A UTILIDADE NA DEFINIÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS DE INTERVENÇÃO.

Silva, Sílvia. Email: silviauccoaz@gmail.com. Otero, Gestal. Email: juan.gestal@usc.es. Rodrigues, Rogério. Email: rogerio@esenfc.pt

Objetivos: Identificar a(s) área(s) prioritária(s) para intervir na população idosa (idade igual ou superior a 65 anos) do concelho de São João da Madeira de modo a rentabilizar e coordenar serviços e respostas. Assim, recorreu-se à avaliação multidimensional (áreas funcionais de recursos sociais, recursos económicos, saúde física, saúde mental e actividades de vida diária (AVD)), da população com inscrita nos ficheiros clínicos do Centro de Saúde e residentes no concelho.

Metodologia: Num procedimento aprovado pela Comissão de Ética da Administração Regional de Saúde do Norte, recorreu-se a uma amostra de 269 idosos (N=3846 e n=7%), aleatória e estratificada por género e grupo etário, aos quais foi aplicado o questionário OARS (Older Americans Resources and Services) no domicílio do idosos por entrevistadores treinados. Os dados foram tratados segundo o modelo OARS.
Resultados: São pontuados com limitação grave ou total:
Área de saúde física – 43,1%; grupo etário pior pontuado: ≥ 85 (61,3%) – 50,0% dos homens e 66,7% das mulheres.
Área de saúde mental – 18,3% dos elementos da amostra; grupo etário pior pontuado: ≥ 85 (32,3%) – 38,1% dos homens e 20,0% das mulheres.
Área das AVD – 12,4% dos elementos da amostra; grupo etário pior pontuado: ≥ 85 (54,8%) – 50,0% dos homens e 57,1% das mulheres.
Área dos recursos sociais – 11,8% dos elementos da amostra; grupo etário pior pontuado: 75-84 anos (17,3%) – 20,9% dos homens e 14,5% das mulheres.
Área dos recursos económicos – 26,8% dos elementos da amostra; grupo etário pior pontuado: 75-84 anos (34,7%) – 32,6% dos homens e 36,4% das mulheres.

Conclusões: As áreas pior classificadas e com necessidade de intervenção prioritária são a saúde física e recursos económicos. Destaca-se o grupo etário como factor de distinção em que à medida que a idade aumenta, aumenta também a percentagem de idosos com maior dependência nestas áreas. Os muito idosos (≥ 85) apresentam pior classificação nas áreas de saúde física, saúde mental e AVD e os idosos de 75-84 anos apresentam pior classificação nas áreas de recursos sociais e económicos. Quanto ao género, são pior classificadas as mulheres nas áreas: saúde física, AVD e recursos económicos; estão piores os homens na área da saúde mental e recursos sociais. Definem-se assim as mulheres e as áreas de saúde física e económica como prioritárias para intervir.

A PREPARAÇÃO DO REGRESSO A CASA DA PESSOA IDOSA SUBMETIDA A GASTRECTOMIA E SUA FAMÍLIA – A PARCERIA COMO INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM

Lúcia Jerónimo. Idalina Gomes. Email: luciajeronimo@campus.esel.pt

Resumo
O regresso a casa do cliente hospitalizado requer um planeamento atempado para evitar complicações e readmissões. No cliente idoso submetido a gastrectomia, considerando a especificidade da sua situação, exige-se um envolvimento do próprio e seu cuidador familiar com as equipas de enfermagem, para uma atuação conjunta que permita identificar e responder às necessidades existentes. Baseado nas nas teorias das transições de Meleis e dos Cuidados em Parceria com a Pessoa Idosa de Gomes (2009), elaborou-se um projeto de intervenção com o objetivo de capacitar o cuidador familiar e o idoso gastrectomizado para a preparação do regresso a casa.
Este Projeto realizou-se num Hospital Central em Lisboa, entre Outubro/2012 e Fevereiro/2013. Envolveu 8 idosos submetidos a gastrectomia, e os seus respetivos cuidadores familiares e 39 enfermeiros da equipa de enfermagem. Desenvolveu-se em quatro fases distintas – Diagnóstico de Situação, Planificação, Execução e Avaliação. Os dados foram colhidos por análise documental, observação de práticas e entrevistas, e foram analisados por estatística descritiva e análise de conteúdo.
Como resultados destaca-se o conhecimento que a pessoa idosa e cuidador familiar adquiriram ao longo do internamento (adequação do plano alimentar, conhecimento do regime medicamentoso, conhecimento de sintomatologia associada, cuidados com a ferida operatória, e conhecimento dos possíveis recursos da comunidade). Salienta-se a introdução de novas práticas na equipa de enfermagem asseguradas a todos os clientes – avaliação nutricional, educação estruturada, inclusão do cuidador familiar nos cuidados, a articulação com a rede de cuidados domiciliares e registos de enfermagem individualizados, tendo favorecido a continuidade de intervenções ao longo deste processo.
Conclui-se que a intervenção em parceria é fundamental para um cuidar centrado no cliente, permitindo o conhecimento do cliente e o seu envolvimento na construção de uma ação conjunta que promove a continuidade de intervenções na preparação individualizada do regresso a casa da pessoa idosa e a capacitação do cuidador familiar, possibilitando a continuação do projeto de vida de cada idoso e cuidador familiar.
Sugere-se o desenvolvimento de intervenções de enfermagem pré e pós-operatórias centradas na pessoa idosa e seu cuidador familiar, bem como, a reavaliação nutricional periódica em articulação com o centro de saúde.
Palavras-chave: pessoa idosa/cuidador familiar; intervenções de enfermagem; parceria; regresso a casa.

A TRAJETÓRIA DOS ESTUDOS DA CIF NA ANCIANIDADE: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO

Ana Taborda; Rosa Silva. Email: anataborda@portugalmail.com

OBJETIVO: Descrever e quantificar o que se tem estudado tendo como objeto de estudo o idoso e a CIF
METODOLOGIA: Estudo bibliométrico, realizado nas bases de dados eletrónicas MEDLINE, CINAHL Plus, Science Direct e Tripdatabase, com texto integral, em português e inglês. Os descritores utilizados foram: international classification of functioning & elderly.
Tendo por base o modelo conceptual da CIF, categorizamos os estudos de acordo com os seguintes componentes:
• Funcionalidade e Incapacidade
• Estrutura e Função corporal
• Atividades de participação
• Fatores contextuais
• Fatores ambientais
• Fatores pessoais

RESULTADOS/CONCLUSÕES
Da pesquisa realizada obtivemos 92 artigos, e destes, 39 apresentavam texto integral, sendo estes o nosso corpo de análise.
Após uma primeira leitura verificamos que todos os componentes da CIF têm sido explorados, havendo, contudo, um predomínio de estudos relacionados com a estrutura e função corporal, como é o caso das quedas, mobilidade e desempenho físico, por exemplo.

ACESSIBILIDADE AOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS E QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS

Alexandrina de Jesus Serra Lobo (PhD). Email: damiaolobo@gmail.com

A acessibilidade aos cuidados de saúde é uma área prioritária das atuais politicas, um verdadeiro determinante da saúde e, consequentemente, um potenciador de redução de desigualdades, apresentando-se como um aspeto essencial para a melhoria da QV dos indivíduos (Campos et al., 2008; Campinho, 2005). Segundo Furtado e Pereira (2010), o acesso não pode ser visto apenas no sentido da oferta/disponibilidade de cuidados, devem também ser considerados outros condicionantes, eventuais barreiras que possam limitar o cidadão ao seu potencial de saúde, nomeadamente: geográficos; demográficos; económicos; sociais ou culturais. Importa assim, analisar-se a relação entre o acesso aos cuidados de saúde e a qualidade de vida (QV), tendo em conta que o processo de envelhecimento encerra inúmeras alterações na vida das pessoas, afectando-lhes a funcionalidade e mobilidade (Rodrigues et al., 2007). Objetivos: caracterizar a acessibilidade e a perceção de QV dos idosos do ACES ATB; verificar se existe relação entre a acessibilidade e a QV.
Metodologia: realizou-se um estudo transversal, descritivo-correlacional, numa amostra de intencional de 359 idosos dos cuidados de saúde primários, do ACES Alto Tâmega e Barroso (ACeS ATB). Na recolha de dados aplicou-se um inquérito sob a forma de entrevista, com 3 partes: caracterização sociodemográfica; avaliação do nível de acessibilidade (através de indicadores, tais como o tipo de transporte utilizado, o tempo e as despesas necessários à deslocação, os recursos de estacionamento e transportes públicos) e perceção da QV através do SF-36 (Ferreira, 1999). Para o tratamento de dados recorreu-se ao SPSS.
Resultados: a maioria dos sujeitos em estudo apresenta o 1º ciclo do ensino básico, são casados, têm um rendimento mensal médio de 200 a 450 euros, tendo trabalhado no sector primário, durante a actividade profissional. Recorrem ao centro de saúde entre 3 a 6 vezes por ano, principalmente pelo motivo de doença. Em média, demoram entre 15 a 30 minutos e gastam entre 5 a 10 euros na deslocação ao centro de saúde. As mulheres usam mais os transportes públicos (27,5% versus 24,7%) e os homens o transporte próprio (39,1% versus 20,7%). Pela análise das correlações verifica-se que existe uma correlação negativa e significativa da QV, com o tempo e o dinheiro gasto na deslocação.
Conclusão: os nossos resultados sustentam que a QV relacionada com a saúde não se reduz a uma evidência orgânica, está em grande parte relacionada com a acessibilidade aos cuidados de sáude, para além das características de cada contexto sociocultural, aos significados que cada indivíduo atribui à sua condição e processo de vida.

“ANTES DE MORRER, EU QUERO…”: O ENVELHECIMENTO COMO UM PROCESSO ATIVO, ONDE OS SUJEITOS ESCOLHEM E PARTICIPAM NAS POLÍTICAS QUE AFETAM O SEU BEM ESTAR.

Alexandra Neves.
Email: neves.xana@gmail.com

Resumo: Nas sociedades atuais, a institucionalização dos adultos idosos é a opção mais recorrente, quando os filhos deste grupo etário não têm condições de cuidar a tempo inteiro dos seus pais. Esta institucionalização nem sempre é feita por forma a envolver a vontade e o desejo do idoso, revestindo-se esta mudança de uma perda de identidade e de pertença que lança o idoso num processo doloroso.
O presente estudo propôs identificar, compreender e conhecer os desejos de um grupo de 11 idosos, utilizadores do Centro Social e Paroquial dos Pousos, sobre o que pretendiam realizar antes de morrerem.
Tratou-se de um estudo qualitativo, realizado a partir das narrativas dos idosos entrevistados.
Os resultados (desejos) são muito semelhantes dentro do grupo analisado, refletindo uma homogeneidade cuja explicação pode estar relacionada com o facto de todos partilharem os mesmos contextos e trajetórias de vida. Os desejos mais expressos encontraram-se relacionados com a família e a algumas visitas a determinados locais, apontando estes para atividades de lazer e atividades com a família.
Com este estudo identificou-se e quantificou-se atividades com base nas motivações de cada sujeito, tanto através de um Plano de Atividades como através de um Plano Ocupacional.

OS MUITO IDOSOS: A METODOLOGIA OARS/QAFMI EM INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA

Rogério Manuel Clemente Rodrigues. Sílvia Manuela Dias Tavares da Silva. Sandrina Sofia da Silva Crespo. Cristiana Filipa Ribeiro da Silva. Email: rogerio@esenfc.pt

Objectivo:
Avaliar a funcionalidade e a utilização e necessidade sentida de serviços, de saúde e de apoio social, pelos muito idosos do concelho de Coimbra.
Metodologia:
Estudo quantitativo, descritivo-correlacional, com dimensão temporal do tipo transversal.
A população alvo (N≈16474) é constituída pelos indivíduos com idade ≥75 anos, residentes no Concelho de Coimbra (Sub-Região de Saúde de Coimbra).
A amostra, probabilística e estratificada (por idade e género), foi obtida a partir dos dados da população total fornecidos pelos Centros de Saúde/Extensões/Unidades de Saúde Familiar, procurando atingir 7% da população (n=1153).
O instrumento de recolha de dados é o Questionário de Avaliação Funcional Multidimensional para Idosos (QAFMI), versão portuguesa do Older Americans Resources and Services (OARS). É considerado um dos mais adequados instrumentos de avaliação multidimensional disponível para avaliar a capacidade funcional de idosos.
Resultados:
Esta metodologia foi desenvolvida para avaliar a capacidade funcional em cinco áreas centrais da qualidade de vida do idoso: recursos sociais, recursos económicos, saúde mental, saúde física e actividades de vida diária.
Centrando-nos no somatório das piores classificações (recursos fortemente e totalmente insatisfatórios), para o género, grupo etário e total da amostra, verificamos que:
– A pontuação segundo o modelo OARS/QAFMI para a área de recursos sociais revela quanto ao género, uma classificação de 6,4% para os homens e 16,1% para as mulheres. Por grupos etários encontramos 13,6% no grupo de 75-84 anos e 9,9% no grupo ≥85 anos. Para o total da amostra são 12,6%;
– Na área de recursos económicos, as mulheres são pior classificadas (16,6% contra 11,6% nos homens). No grupo ≥85 anos encontramos 22,0% e no de 75-84 anos 11,9%. No total são 14,8%;
– Na área de saúde mental as mulheres são pior classificadas com 19,6% (9,5% nos homens). O grupo ≥85 anos apresenta 23,7% e o de 75-84 anos 12,7%. No total são assim classificados 15,9%;
– A área de saúde física apresenta os valores percentuais mais elevados de incapacidade (40,5% nos homens e 48,4% nas mulheres). O grupo ≥85 anos 57,5% e o de 75-84 anos 40,7%. Globalmente são 45,5%.
– Quanto às atividades de vida diárias (AVD) são pior classificadas as mulheres (27,3% contra 17,1% dos homens). Os de ≥85 anos são pior classificados (46,1% contra 14,3% dos de 75-84 anos). Para o total da amostra encontramos 23,5% com esta classificação.
Conclusão:
Da aplicação desta metodologia emergem resultados que nos mostram a necessidade de intervenção, em todas as áreas, nomeadamente ao nível da saúde mental, saúde física e AVD. Particular atenção deve ser dirigida às mulheres. A informação recolhida e as possibilidades de cruzamento de dados poderão permitir o encontro, e a conjugação de esforços, de profissionais, e serviços, de saúde e sociais.

CICLOS DE RECUPERAÇÃO COMO PROPOSTA DE ATENÇÃO À POPULAÇÃO IDOSA ACOMETIDA POR AFEÇÕES NEUROLÓGICAS E FÍSICAS, NOMEADAMENTE, O AVC E FRATURAS/ARTROPLASTIAS.

Rafaela Almeida. Email: rafaela.almeida@geridade.com

OBJETIVO – Apresentar uma proposta de atendimento, definidos por ciclos de recuperação nas áreas neurológica e ortopédica, em residência especializada e direcionada à população idosa.
METODOLOGIA – A avaliação inicial do idoso é feita em conjunto pela equipa multidisciplinar, que depois de analisar cuidadosamente os dados recolhidos, propõe uma recuperação num horizonte temporal limitado. A alta dos nossos serviços será proposta quando a equipa considerar que se atingiu o limite máximo de recuperação.
A proposta centra-se no internamento durante um período mínimo de 30 dias, que visa, de maneira intensiva, a reabilitação das capacidades físicas e funcionais do idoso, num ambiente adaptado às suas necessidades.
Dispondo de uma equipa multidisciplinar composta por profissionais das áreas da Medicina, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Terapia da Fala, Enfermagem, Psicologia e Animação Sociocultural, pretende-se que cada utente tenha um plano específico e totalmente adaptado às suas necessidades físico-funcionais e ao seu potencial de recuperação.
Procuramos investir na aprendizagem e acreditamos que o esforço da equipa técnica poderá proporcionar um acompanhamento individualizado, com foco nas necessidades e especificidades de cada utente.
RESULTADOS – O ano de 2013 tem sido dedicado à realização de estudos que nos ajudem a comprovar a eficácia do projeto e que orientem as alterações necessárias de modo a irmos ao encontro das necessidades desta faixa etária.
CONCLUSÃO – O envelhecimento demográfico há muito que desperta nos profissionais e nas instituições a busca pelo desenvolvimento e o aprimoramento de iniciativas capazes de colmatar todas as necessidades da população que está a envelhecer. Tais necessidades são de naturezas variadas e exigem cada vez mais profissionais preparados e capazes de prestar serviços de qualidade e que estejam totalmente direcionados às especificidades desta faixa etária. A Casa Azul procura desenvolver de maneira individualizada um acompanhamento especializado à população em causa.
Prevê-se alcançar resultados que se revelem animadores, de modo a consolidarmos a proposta de oferta de um acompanhamento especializado e totalmente adaptado as necessidades e especificidades da população de mais idade.

DESENVOLVER COMPETÊNCIAS NO ÂMBITO GERONTOLÓGICO DIRECCIONADA A AUXILIARES DE ACÇÃO MÉDICA: – UMA EXPERIÊNCIA DA ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM S. FRANCISCO DAS MISERICÓRDIAS (ESESFM) E O LAR DR. VIRGÍLIO LOPES (LVL).
Maria de Jesus Costa. Email: marjecosta2010@gmail.com

Objetivo: Munir as auxiliares de acção médica deste Lar com competências que lhes permitam uma abordagem global na sua prática de cuidados à pessoa idosa.
Metodologia: A elaboração de um programa de formação deve sedimentar-se numa avaliação de diagnóstica prévia, com o objectivo de fazer o levantamento das necessidades, de forma a poder validar a importância da acção formativa para os destinatários. De acordo com as duas Instituições ESESFM e o LVL iniciou-se com um conjunto de reuniões devidamente planeadas que permitiram, ter um maior conhecimento da realidade vivida na instituição de idosos e realizar um diagnóstico da situação relativa à intervenção formativa a concretizar com o grupo profissional em causa, o que permitiu determinar as necessidades formativas das referidas auxiliares.
Deste encontro foi decidido:

• A formação seria realizada numa parceria entre as duas Instituições;
• Existiria uma docente da ESESFM com a responsabilidade da conceptualização e organização da intervenção formativa;
• As acções de formação seriam desenvolvidas por duas docentes da ESESFM e um elemento da direcção da instituição de idosos.

Após a administração dos conteúdos teóricos passamos aos aspetos relativos à avaliação da intervenção implementada.
Resultados: Através de uma grelha de observação ” avaliação de competências” e uma entrevista estruturada, previamente testadas que permitiu identificar se o conhecimento teórico tinha sido integrado e posto em prática, o que nos permitiu constatar uma mudança de comportamentos que se apoiava no conhecimento adquirido assim como a necessidade de colmatar algumas lacunas no que respeita à mobilização dos respectivos conhecimentos.
Conclusão: Enquanto profissionais e formadores na área da Saúde, é nossa preocupação conhecer as necessidades reais do país, no que respeita à formação destes cuidadores que prestam cuidados às pessoas idosas em particular, as que se encontram institucionalizadas e dotarmos este grupo de cuidadores com um corpo de conhecimentos específicos. Nesta sequência não podemos deixar de referir a nossa preocupação relativamente à iliteracia destes profissionais sobre o processo de envelhecimento e as principais dimensões da abordagem à pessoa idosa.
A formação contribui, ainda, para o desenvolvimento pessoal e profissional dos cuidadores, melhorando inevitavelmente o desempenho organizacional, o bem-estar da pessoa idosa que se espelha em qualidade de vida, em cuidados menos complexos e menor dispêndio económico para a instituição e para as próprias famílias.

EFEITOS DE UM PROGRAMA DE EXERCÍCIO MULTICOMPONENTE SOBRE AS FUNÇÕES FÍSICAS E COGNITIVAS DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS COM DOENÇA DE

ALZHEIMER

Arnaldina Sampaio. Elisa Marques. Joana Carvalho. Jorge Mota. Email: arnaldina@gmail.com

Resumo: À medida que a população mundial envelhece a uma velocidade quase exponencial e a prevalência de demências aumenta consequentemente, torna-se cada vez mais relevante encontrar estratégias e meios para atenuar o declínio das funções cognitivas e físicas dos idosos com Doença de Alzheimer (DA).
O objetivo deste estudo foi investigar o efeito de um programa de intervenção de exercício físico multicomponente na função cognitiva, variáveis antropométricas e de aptidão física, em idosos com DA.
A amostra foi constituída por 32 idosos institucionalizados com diagnóstico clínico de DA, com idades entre 84,34 ± 5,9 anos de idade, com demência leve e moderada, que foram divididos em dois grupos: o grupo experimental (GE, n=16) e o grupo controle (GC, n=16). O GE participou de um programa de exercício multicomponente supervisionado, (incluindo exercícios aeróbios, força e resistência muscular, flexibilidade e exercícios posturais) 1h/dia , duas vezes por semana, durante seis meses. Os participantes do GC mantiveram suas atividades diárias regulares durante o mesmo período. Função cognitiva (MMSE), variáveis antropométricas (IMC e perímetro de cintura) e de aptidão física (Fitness Senior Test), foram avaliadas antes (M1), após 3 meses (M2) e no final (M3) do programa de intervenção.
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, nos testes de aptidão física, variáveis antropométricas e na função cognitiva, entre os grupos, na avaliação inicial. A ANOVA de duas entradas (grupo e tempo), com medições repetidas de um fator (tempo), revelou interações significativas entre grupo e tempo nas funções cognitivas, no perímetro de cintura, força dos membros inferiores e membros superiores, agilidade, resistência aeróbia, flexibilidade dos membros inferiores e membros superiores. Assim, a diferença na resposta, entre os grupos, foi evidente ao longo do tempo para estas variáveis. Observou-se ainda, uma diminuição estatisticamente significativa do perímetro de cintura, uma melhoria nos testes de aptidão física entre M1 e M3, e um aumento significativo no MMSE entre M1 e M2 no GE. A função cognitiva e força de membros superiores diminuíram significativamente ao longo do tempo (M1 vs M3) no GC. Não foram observadas alterações do IMC em ambos os grupos. Não ocorreu nenhum efeito adverso devido à aplicação do programa de intervenção.
Estes resultados permitiram verificar que o exercício multicomponente pode ser um elemento importante na promoção e manutenção da saúde, permitindo melhores resultados na aptidão física e cognitiva, por parte do GE em comparação com indivíduos inativos. Este estudo sugere que os programas de exercícios multicomponentes podem ser uma estratégia não-farmacológica importante para atenuar o declínio das funções físicas e cognitivas em pacientes com DA institucionalizados.

ENVELHECIMENTO ACTIVO

Silvia Noruegas; Carla Calça; Susete Manguinhas; Marisa Afonso; Carina de Jesus; Florinda Recto. Email: silcrisnor@gmail.com

Objetivos: Manter/Melhorar a funcionalidade dos idosos; Manter/Melhorar a capacidade cognitiva dos idosos; Prevenir a ocorrência de quedas; Sensibilizar para a aquisição de estilos de vida saudáveis e participação ativa dos idosos nos cuidados de saúde e na sociedade em geral.
Metodologia: O projeto decorreu de Maio a Dezembro de 2012, tendo como grupo alvo neste projeto 60 idosos institucionalizados, auxiliares/técnicos/responsáveis em Lares de Idosos e/ou Centro de Dia de IPSS da cidade de Estremoz ( X; Y e Z).
Os idosos foram avaliados ao inicio e no final do projeto com várias escalas: índice de Katz (avaliar a capacidade física e funcional); Mini Mental State; Time get up; Chair stand test (avaliar a funcionalidade); SF12v2 (avaliar a perceção do seu estado de saúde).
Pretendeu-se realizar várias atividades, nomeadamente:
– Aplicar e avaliar resultado de escalas utilizadas;
– Atividades e estratégias de prevenção de doenças e de fatores comportamentais;
– Atividades que promovam desenvolvimento cognitivo, a relação comunicacional e a promoção da relação interpessoal;
– Atividades e estratégias que promovam a atividade física, a promoção da saúde oral e prevenção de problemas relacionados;
– Atividades de promoção de atividades intergeracionais ;
– Atividades de formação aos auxiliares, que lhes permitam adquirir conhecimentos e competências para promover envelhecimento ativo.
Resultados: Foram alvo deste projeto 60 idosos, sendo para a análise dos dados apenas contabilizados 36.
Cerca de 15 idosos pertenciam ao Lar X, 12 ao Lar Y e 9 ao Lar Z. A grande maioria é do género feminino (27). O maior número de idosos encontra-se na faixa etária dos 80 aos 89 anos (21).
Quanto ao Índice de Katz podemos referir que 14 idosos melhoraram; 12 idosos mantiveram e 10 idosos pioraram. Relacionando os valores do Mini Mental State á entrada e á saída, 16 idosos pioraram, 15 idosos melhoraram e 5 idosos mantiveram os mesmos valores.
Comparativamente aos resultados do Time get up and go, podemos concluir que 86% dos idosos mantiveram ou melhoram a sua funcionalidade.
Comparativamente aos resultados do Chair Stand test , podemos concluir que 89% dos idosos mantiveram ou melhoram a sua funcionalidade.
Relativamente á perceção da qualidade de vida relacionada com a saúde, podemos verificar o valor médio 34,3, tendo estes valores aumentado um pouco sendo o valor o valor médio á saída de 36,2.
Relativamente ao MCS á entrada o valor medio é de 49,2, tendo o valor medio á saída diminuído (48,7).
Relativamente às atividades desenvolvidas, estas incidiram sobre a apresentação do projeto, á aplicação de escalas á entrada e á saída; classe de gerontomobilidade; atividades cognitivas; atividades de promoção do auto estima; saúde oral; prevenção de quedas e alimentação saudável.
Conclusões: Relativamente aos indicadores e metas de execução, todos os indicadores foram atingidos.

ENVELHECIMENTO COGNITIVO USUAL VS PATOLÓGICO – O PAPEL DA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

Joana Barata Tavares, João Serras, Clara Loureiro, Joana Morgado, Carolina Maruta, Jorge Campos, Isabel Pavão Martins. Email: joanactavares@hotmail.com

Introdução: O envelhecimento cognitivo não é idêntico em todos os indivíduos e a distinção entre o envelhecimento considerado usual e aquele que é considerado patológico é bastante difícil de definir.
A neuroimagem é um campo da medicina que permite a avaliação estrutural do cérebro e o seu uso em projectos de investigação neuropsicológica tem assumido nos últimos anos cada vez mais importância.
Objectivo: Correlacionar performance cognitiva com a atrofia cerebral global e segmentar em imagens de ressonância magnética crânio-encefálica numa coorte de indivíduos idosos da comunidade.
Metodologia: Recrutamento prospetivo de 130 sujeitos dos Cuidados de Saúde Primários Portugueses com mais de 50 anos, sem história de patologia cerebral conhecida. A informação clínica foi obtida junto dos respectivos médicos e avaliações neuropsicológicas foram efectuadas.
Os sujeitos realizaram um estudo de ressonância magnética num aparelho 3Tesla, tendo posteriormente sido aplicadas escalas de avaliação neuroimagiológicas: atrofia global cortical (GCA), Koedam e atrofia mesial temporal (MTA).
Resultados: Mais de metade dos sujeitos avaliados (65%) apresentava algum grau de atrofia cerebral (avaliada por GCA), no entanto, esta apenas era severa (“knife-blade”) em 2,5%. Foi observada maior prevalência de atrofia parietal (20%), avaliada pela escala de Koedam, do que de atrofia mesial temporal (4%), avaliada por MTA, sendo maior a correlação da primeira com o resultado da avaliação de Mini Mental State Exam.
Conclusão: Classicamente a atrofia mesial temporal associa-se à doença de Alzheimer mas estudos recentes indicam a presença de atrofia do precuneus (parte do lobo parietal) em fases precoces de doentes de Alzheimer. O que este estudo vem demonstrar é que numa população comunitária, sem patologia cerebral conhecida, existe maior prevalência de atrofia parietal do que temporal e a primeira correlaciona-se mais com declínio cognitivo.
No futuro, a avaliação visual do cérebro, com focalização em áreas de atrofia segmentar, poderá tornar-se mais específica para predizer quais os sujeitos normais que irão evoluir para Alzheimer.

ENVELHECIMENTO, PSICOLOGIA POSITIVA E BOAS PRÁTICAS

Maria A. Veiga d’Araújo. Email: jardimmaria@gmail.com

O envelhecimento humano é um processo contínuo e comum a todo o indivíduo. Tem início na concepção e termina na morte (Vaillant, 2003). É um processo ao longo do qual perdas e ganhos decorrem e concorrem entre si (Baltes & Baltes, 1986). Em determinado momento, as primeiras tendem a superar os segundos. Baltes e Baltes (1986) propõem o Modelo da Selecção, Optimização e Compensação e sugerem que, até certo ponto, é possível compensar as perdas e manter bons níveis de satisfação com a vida. A Psicologia Positiva ajuda os indivíduos a manter o foco na superação das perdas, contribuindo para uma vida mais prazerosa. O contributo desta área do saber verifica-se através do estudo de conceitos como a Esperança, a Gratidão, o Flow, a Escuta Activa Construtiva, a Espiritualidade, as Emoções Positivas, as Relações Positivas, entre outros. Estes e outros modelos descritos nesta investigação apontam, assim, para factores diversos que poderão contribuir para um processo de envelhecimento positivo. Nessa linha, foi criado um programa de intervenção: o Chá das Quartas (CQ). Este programa tem vindo a decorrer nos últimos três anos, no Alentejo, para um grupo de mulheres com idades muito avançadas, em quem se fazia notar a solidão. O presente estudo sobre o CQ tem os seguintes objectivos: a) identificar factores de felicidade percebidos pelas participantes; e b) explicitar as boas práticas que parecem ter mais impacto na promoção do bem-estar das mulheres. Na presente comunicação procura-se partilhar os resultados referentes ao segundo objectivo. Nesta investigação, assente no método de estudo de caso, a recolha de dados foi feita através da aplicação de questionários e de cartas de gratidão redigidas pelas participantes. Para a análise dos dados, recorreu-se à análise de conteúdo e à estatística descritiva – usando, por isso, uma abordagem de métodos mistos. Os dados revelam um impacto positivo do CQ ao nível do bem-estar individual, relacional e colectivo, que se verifica no aumento dos índices de gratidão e felicidade das participantes ao longo do projecto, na valorização dos novos momentos de convívio por parte das idosas, e no maior envolvimento das mulheres na comunidade através da participação em eventos comunitários de relevo, entre outros resultados. Estes resultados foram possíveis de alcançar de forma continuada dadas as características estruturais e processuais deste projecto: as boas práticas que aqui se identificam e partilham.

ESTIMULACIÓN COGNITIVA Y CALIDAD DE VIDA: LOGROS EN EL ÁMBITO GERONTOLÓGICO DEL S.XXI

Sandra Fernández Prado, Mónica Antelo Martelo, Joaquim Parra Marujo, Manuel Gandoy Crego y J. Manuel Mayán Santos. Email: sandrafdezprado@gmail.com

Objetivos
Se pretende extraer resultados de un trabajo de estimulación cognitiva, que se desarrolla con personas mayores del entorno gallego. Además de poder recoger estas aportaciones de las funciones cognitivas, se ha querido observar la influencia en la percepción de la calidad de vida experimentada por los sujetos experimentales de este trabajo.
Metodología
Se ha llevado a cabo el diseño de un Programa de Estimulación Cognitiva, gracias al respaldo de Servicios Sociales del ayuntamiento de Caldas de Reis, en Pontevedra, que ha trabajado conjuntamente con el Programa de Doctorado en Gerontología de la Universidad de Santiago de Compostela.
Se ha procedido al conocimiento mediante administración de pruebas Pre-test de los sujetos experimentales con una batería de pruebas homologadas y estandarizadas (Mini Examen Cognoscitivo de Lobo, Test Conductual de Memoria de Rivermead (RBMT) y Escala CUBRECAVI de calidad de vida). Se ha implantado el citado programa y, a medida que ha evolucionado el mismo, se ha ido evaluando periódicamente a los sujetos. Este conocimiento longitudinal nos ha permitido conocer datos acerca de las aportaciones del trabajo cognitivo en el conjunto de las funcionalidades cognitivas y además, hemos podido conocer, cómo ha influido esta experiencia en la percepción expresada de su calidad de vida.
Resultados
Tras el análisis estadístico, mediante SPSS, hayamos aportaciones significativas de la estimulación cognitiva a las capacidades cognitivas de los sujetos, de la misma forma que la percepción de la calidad de vida se ha visto modificada en muchas de las variables que la componen.
Conclusiones
Los datos recogidos nos hacen pensar y afirmar que los programas de estimulación cognitiva no son solamente útiles herramientas de reforzamiento cognitivo para las personas mayores sino importantes mecanismos de refuerzo a tener en cuenta en la visión global de la calidad de vida en la fase de envejecimiento.
Mediante estas investigaciones esperamos responder a las necesidades de las personas mayores de ahora y del futuro, para conseguir mejoras en su funcionalidad cognitiva y mejorar también su calidad de vida, que es otro importante objetivo de las intervenciones gerontológicas: conseguir cantidad y calidad en el envejecimiento.

GRÃ-PARENTALIDADE E RELAÇÕES INTERGERACIONAIS NO CONTEXTO DAS SOCIEDADES OCIDENTAIS CONTEMPORÂNEAS: REVISÃO DA LITERATURA.

Isabel Margarida Marques Monteiro Dias Mendes. Rogério Manuel Clemente Rodrigues. Zaida de Aguiar Sá Azeredo. Email: isabelmendes@esenfc.pt

Resumo:
Introdução: Na actualidade a esfera familiar evidencia uma pluralidade de configurações, como as famílias de idosos e as famílias com idosos.
Outra característica marcante dessa diversidade é a família longeva, traduzindo-se como um fenómeno novo e apresentando a coexistência de várias gerações.
Face ao número cada vez maior de indivíduos a alcançar idades cada vez mais avançadas, origina-se por um lado, potencialmente, uma maior convivência intergeracional e acentua-se, por outro, a importância cada vez maior da solidariedade entre as gerações.
Nesse contexto, identificamos as relações intergeracionais como algo benéfico, que pode ser estimulado com a perspectiva de um enriquecimento mútuo, através da partilha de conhecimentos e da abertura para o diálogo entre as gerações.
Objectivo: Rever o conceito de grã-parentalidade nas sociedades ocidentais contemporâneas e o seu significado nas relações intergeracionais-
Método: Revisão da literatura com recurso a bases de dados B-On, Academic Google, e Pub-Med. A pesquisa foi limitada a artigos publicados entre 2000-2012 nas línguas Portuguesa, Espanhola, Inglesa e Francesa.
Resultados: 45 estudos foram selecionados a partir de 2710 artigos das bases de dados. Os principais temas comuns encontrados foram: o papel dos avós como um equilíbrio familiar entre gerações, com padrões de interação de proximidade, a proximidade emocional e apoio social; maior influência dos avós maternos no estabelecimento e manutenção dos laços intergeracionais. Por último, os avós trazem o sentido de identidade intergeracional no seio familiar, positivamente relacionada com o bem-estar de todos os membros.
Conclusão: Nas sociedades contemporâneas a grã-parentalidade surge como o elo de ligação sensível entre as diferentes gerações, sendo o relacionamento intergeracional uma oportunidade para a promoção de um envelhecimento saudável e um desenvolvimento saudável dos mais jovens, visando uma sociedade para todas as idades.

HABITAÇÃO PARA IDOSOS EM LISBOA: DE COLECTIVA A ASSISTIDA. O CASO DE ALVALADE

Antonio da Silva F. Carvalho. Email:a.carvalho@zonmail.pt

A população portuguesa (e mundial) está a envelhecer a um ritmo muito acelerado — Lisboa era já em 2001 a capital europeia da UE15 mais envelhecida, realidade que se agravou desde então.Esta tendência demográfica de quase inversão da pirâmide demográfica significa que é urgente encontrar uma solução habitacional para os idosos, que constituem o único grupo etário em crescimento. Significa também que as cidades serão progressivamente habitadas por mais idosos, pelo que o quotidiano urbano (em espaços públicos e privados, livres ou construídos) será cada vez mais condicionado pelas restrições dos mais velhos, em termos de acessibilidades ou outros aspectos funcionais.
Objectivo: Para evitar a panaceia da institucionalização em lares de idosos, é urgente propor um novo paradigma habitacional para as pessoas mais velhas: envelhecer em casa.
Metodologia: Sendo Lisboa maioritariamente constituída por edifícios de apartamentos, estudou-se o funcionamento e características das “residências assistidas” de diferentes iniciativas (privada, estatal, IPSS) e dimensões (grande, média e pequena).
Desse estudo retiraram-se ensinamentos que permitissem a sua aplicação aos edifícios normais de habitação colectiva, transformando-os desse modo em edifícios-residência, onde os moradores possam naturalmente envelhecer, em apartamento adaptados ou adaptáveis às diferentes etapas da vida.
Seguidamente estudaram-se edifícios de apartamentos cujas características permitissem encontrar soluções aplicáveis ou extrapoláveis para outros conjuntos habitacionais.
Para cada um dos edifícios existentes que foram seleccionados desenvolveu-se um projecto de adaptação do edifício e dos apartamentos de modo que, com intervenções e custos mínimos, permitisse a sua conversão em condomínio assistido.
Resultados: O Bairro de Alvalade, pela repetição sistemática dos seus edifícios-tipo, permitiu seleccionar seis casos concretos para aplicação de diferentes soluções, no sentido de que passem a funcionar como condomínios assistidos para os seus moradores envelhecidos, evitando (ou adiando) a sua institucionalização.
As soluções projectadas para estes seis edifícios têm a possibilidade inerente de replicação, podendo ser aplicadas a dezenas de edifícios, centenas de apartamentos e milhares de moradores, apenas no Bairro de Alvalade.
Conclusão: Com os modelos de intervenção propostos caso a caso, verificam-se vantagens habitacionais, humanas e urbanas: ganham-se apartamentos mais flexíveis, adaptáveis às diversas fases da vida; os moradores podem envelhecer em casa e no bairro, na companhia de vizinhos e comerciantes que conhecem e em quem confiam; torna-se mais fácil e cómodo para os familiares manterem as rotinas das visitas à casa de sempre; os espaços exteriores públicos tornam-se mais amigos dos idosos (e como tal amigos de todos), com acessibilidade universal; o convívio intergeracional é promovido, dentro de casa, no edifício e no bairro; a flexibilidade do novo modelo permite a renovação natural das gerações dos seus habitantes e novamente o seu envelhecimento em casa, sem segregação edificativa nem estigmatização social — a cidade envelhece e renova-se continuamente.

IDEAL SÉNIOR

Fernanda Oliveira: Email: fernanda.oliveira@misericordiagolega.pt

O projeto “Residencias Senior- Nossa Senhora das Misericórdias” foi criado tendo por base os objetivos/desenvolvimento da instituição, tanto a nível de infraestruturas como a nível de objetivos de intervenção que o Serviço Social sente a necessidade de intervir. O “Ideal Sénior”, foi projetado a fim de ser uma resposta social personalizada para uma população específica.
Há cerca de 13 anos, altura em que esta resposta foi criada, a realidade social em termos da problemática do envelhecimento ativo, nomeadamente no distrito de Santarém, mostra a necessidade sentida pela população em encontrar respostas de apoio alternativas às valências de internamento tradicionais. E, por isso, são procuradas por pessoas com idades menores (65 anos) com a motivação de querer poder assegurar segurança e conforto para um futuro próximo.
Esta resposta Social nasceu em 1999 designada por SENIOR RESIDENCE, inicialmente construídas apenas quatro moradias. Atualmente este complexo dispõe de 24 residências integradas numa ampla zona ajardinada e de lazer, sendo que as ultimas oito são de construção recente, em finais do ano 2012.
Para pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, portadoras de características pessoais, culturais e socioeconómicas é por vezes muito difícil encontrar locais com grande privacidade e estimuladoras de autonomia.
A Misericórdia passou assim a ter esta valência, criou espaços “confortáveis e seguros” para fazer face ás necessidades/expectativas da população/comunidade em que os utentes podem usufruir de “cuidados de um lar” na privacidade de uma residência, em plena Vila da Golegã.
As moradias deste complexo são compostas por um quarto, uma instalação sanitária com apoios técnicos, uma sala e uma cozinha, cada utente tem direito a um lugar no parque de estacionamento. Todas estas residências são decoradas pelo residente (ou seus familiares), para que a pessoa se sinta num espaço “seu”, único e confortável, e que reflita as características da sua própria identidade, hábitos e costumes.
A resposta projetada pretende proporcionar um espaço “ideal” com serviços permanentes e adequados às necessidades das pessoas seniores, contribuir para a estimulação de um processo de envelhecimento ativo com autonomia, assim foram criadas condições que permitam preservar e incentivar a estabilidade do suporte familiar quando existente, bem como potenciar a integração social. Este apoio é sempre prestado em regime de apoio domiciliário, isto é todos os serviços são prestados nas residências, por uma equipa preparada e especializada.
Tem como Princípios subjacentes á intervenção desta resposta social a Qualidade, eficiência, humanização e respeito pela singularidade de cada um, Interdisciplinaridade, Avaliação “holística” integral das necessidades dos residentes, Promoção e Manutenção da funcionalidade e da autonomia, Participação e co-responsabilização do residente ou seu familiar, na elaboração do plano de cuidados.

INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM EM IDOSOS EM RISCO OU VÍTIMAS DE ABUSO E NEGLIGÊNCIA

Flávia Danielli Martins Lima. Email: fdmlima@gmail.com

Objetivo:
Identificar intervenções de enfermagem essenciais na prevenção e detecção do abuso e negligência contra idosos.
Com a finalidade de atingir o objetivo proposto por esta revisão da literatura, formulou-se a seguinte questão de investigação: Em relação aos idosos em risco ou vítimas de abuso e negligência, quais intervenções de enfermagem são essenciais na prevenção e detecção desses maus-tratos?
Metodologia:
Desenvolveu-se de acordo com o método PICO, cuja questão estruturada e adaptada foi: P(population)- Idosos; I(Interventions)- Intervenções de Enfermagem; O (outcomes)- Detecção e prevenção do abuso e negligência.
A pesquisa foi efetuada nas bases de dados MEDLINE e CINAHL através de palavras-chave e sinônimos com base na questão PICO. Os estudos foram selecionados obedecendo critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos.
Os estudos foram selecionados de acordo com os critérios estabelecidos e, após o cruzamento das palavras-chave e obtenção dos registos nas bases de dados e eliminados os duplicados, triaram-se os mesmos por título e abstract, de forma a reduzir o número de artigos potencialmente elegíveis.
Resultados:
Utilizaram-se 8 artigos para análise dos dados. Todos foram realizados em países desenvolvidos e, relativamente aos níveis de evidência dos estudos obteve-se apenas níveis IV e V, impedindo que os resultados analisados e considerados atinjam o nível mais elevado de evidência científica, caracterizado pelos ensaios clínicos aleatorizados- randomized clinical trials (RCT). Os estudos focalizam principalmente na percepção dos enfermeiros relativamente ao abuso contra idosos. As intervenções de enfermagem são citadas como importantes, no entanto são limitadas pela falta de formação destes profissionais, dificultando, assim, a avaliação clínica dos idosos e possíveis intervenções.
Conclusão
As intervenções de enfermagem são citadas como importantes na prevenção e detecção do abuso e negligência dos idosos, no entanto, os estudos mostram que são pouco estruturadas e existe limitação destes profissionais devido à falta de formação na área.

MAIS MOVIMENTO, MAIS SAÚDE: PREVENÇÃO DE COMPORTAMENTOS SEDENTÁRIOS NA POPULAÇÃO IDOSA FRÁGIL – ESTUDO PILOTO

Roxo, S.; Araújo, N.; Nascimento, C. ; Gomes da Silva, M. Email: susanaroxo_570@hotmail.com

Introdução: Os estilos de vida sedentários representam um risco para a população idosa, pelo seu impacto no declínio funcional. Promover a atividade física parece ser uma estratégia efetiva na minimização dos efeitos negativos do sedentarismo, contudo a adesão a programas de exercícios estruturados é reduzida a longo prazo, particularmente neste grupo de pessoas. Objectivo: Prevenir estilos de vida sedentários e aumentar os níveis de atividade física de pessoas idosas frágeis, não institucionalizadas. Métodos: Cinco pessoas com idades compreendidas entre os 70 e os 80 anos participaram neste programa. Foram avaliadas a auto-percepção das barreiras à prática da atividade física, o conhecimento da importância da prática da atividade física, os padrões de atividade física e o conhecimento da família/cuidadores informais sobre a importância da atividade física. O programa teve a duração de 12 semanas e incluiu uma sessão educacional em grupo e outra sessão de acompanhamento individual no domicilio, semanalmente. Resultados: No final do programa, os participantes auto-percepcionavam menos barreiras à prática de atividade física, o seu conhecimento sobre a atividade e seus benefícios aumentou, assim como aumentou a frequência com que praticaram atividade física de intensidade moderada, nas suas rotinas diárias (numa base seminal). Discussão: Os resultados obtidos sugerem que o tempo despendido em atividades sedentárias diminuiu e aumentou o tempo utilizado em atividade física de intensidade moderada. Apesar das 12 semanas terem possibilitado o estabelecimento de uma relação de confiança entre o fisioterapeuta e os participantes, este tempo parece ter sido insuficiente para introduzir mudanças profundas nas rotinas diárias. Este grupo tem uma percepção singular das barreiras ao aumento da intensidade de determinadas atividades nas suas rotinas. Programas futuros devem ter em consideração o impacto sócio-cultural, social, económico assim como as características individuais.
Conclusão: Intervenções para prevenir comportamentos sedentários e promover a atividade física, baseadas nas rotinas das pessoas parecem ser benéficas. Contudo é necessário levar a cabo ouros projetos que permitam uma análise mais aprofundada das implicações e respectivos benefícios de saúde.
Este projeto foi implementado com o apoio do ”Centro Comunitário de São Sebastião – Setúbal.

MONTES ISOLADOS

Autores: Carla Calça. Email: carlamsrc@gmail.com

Objetivos: Caraterização de idosos frágeis e vulneráveis que vivem em montes isolados, no concelho de Estremoz, com dificuldade de acesso aos cuidados de saúde.
Metodologia: A amostra foi constituída por 158 indivíduos com idades superiores ou igual a 65 anos (dos quais 2 têm idades inferiores mas incluídos no estudo por necessidade de cuidados), que residem em lugares isolados no concelho de Estremoz.
A recolha de dados decorreu entre Setembro a Dezembro de 2011, sendo aplicado o Instrumento de Avaliação Integrada (IAI) da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e Documento de Colheita de Dados elaborado pela equipa.
Estabelecidos protocolos entre a UCC Estremoz e diversos parceiros da comunidade, nomeadamente Câmara Municipal de Estremoz, Guarda Nacional Republicana Estremoz, Instituto Segurança Social, IP – Centro Distrital Segurança Social Évora e ONG Médicos do Mundo.
Atividades: Reunião entre os parceiros para definir protocolo e assinar. Recolha dados pessoais, como nome, profissão, documentos identificativos, agregado familiar, existência de cuidador principal, necessidade de cuidados de terceiros, tipo de apoios recebidos, avaliação social, antecedentes pessoais, alergias, medicação atual. Aplicado o Instrumento de Avaliação Integrada. Avaliado sistema tegumentar (pele e mucosas). Verificado estado vacinal através do Boletim de Vacinas. Executados cuidados de enfermagem após diagnóstico das necessidades (promoção e prevenção, encaminhamento, informativos, curativos). Programadas novas visitas domiciliarias quando o idoso é considerado frágil ou vulnerável. Estabelecido o roteiro do UMS semanalmente, de acordo com as zonas geográficas a visitar e com os idosos vulneráveis, programados para nova visita domiciliária. Reunião no final do dia para discutir avaliações e ajustar critérios de continuidade. Apresentado na reunião da Rede Social do Concelho de Estremoz o projeto a todos os parceiros. Divulgado o projeto às restantes Unidades funcionais de Saúde de Estremoz, população e meios comunicação.
Resultados:
Os resultados adquiridos revelam que o grupo etário é representado maioritariamente por indivíduos dos 71 aos 80 anos, 58%.
As queixas de saúde identificadas pela população como sentidas e valorizadas, a principal são a Tensão Arterial Elevada, 33%, seguido do grupo de idosos que referem Sem Problemas de Saúde, 20%, não valoriza qualquer problema de saúde. Quanto ao estado nutricional 76% da população apresenta peso Adequado, relativamente à capacidade física (Autonomia Física) 89% dos indivíduos são totalmente independentes e na escala da funcionalidade (Autonomia Instrumental) 68% mantêm totalmente independentes.
As queixas emocionais (ansiedade, nervoso, triste e deprimido) prevalecem os indivíduos sem queixas, 56% e 53%.
Conclusões:
Podemos concluir que os idosos que vivem em lugares isolados são maioritariamente independentes, continuam com atividade física, não valorizam os problemas de saúde e consideram as alterações que ocorrem como normais do processo de envelhecimento

NÚCLEO DE INTERVENÇÃO AOS IDOSOS E FAMÍLIAS EM RISCO

Patrícia Maria Menezes Pinto. Email: patriciapinto123@hotmail.com

O envelhecimento da população é um proeminente fenómeno mundial. A intensidade do crescimento da população “mais idosa”, considerada de 80 anos e mais, tem-se elevado progressivamente e o aumento da expectativa de vida pode elevar a incidência de enfermidades crónicas não transmissíveis e incapacitantes no idoso, com possíveis alterações na dependência física, cognitiva e emocional, que podem comprometer sua autonomia, o que gera maior demanda de cuidados permanentes por parte do grupo familiar cuidador.
A globalização e industrialização levaram nos paises mais desenvolvidos a transformação da familia tradicional (horizontal) noutros tipos novos de familia (com redução dos seus membros-vertical), o que diminui os cuidados informais e demanda a necessidade de cuidadores informais.
Esta limitação das familias verticais leva a que haja um aumento de pressões no sistema nacional de saúde para aprovisionamento de cuidadores formais de cuidado a longo termo ou suporte suplemantar ou treino para cuidadores informais em famílias verticais (WHO).
No ambiente familiar, a função de cuidador tende a ser assumida por uma única pessoa, denominada “cuidador principal”, que assume a responsabilidade pelo cuidado, sem contar, na maioria das vezes, com a ajuda de outro membro da família ou de profissionais capacitados. O cuidador informal expõe-se a uma série de situações stressantes, como o peso das tarefas e as doenças advindas das exigências do trabalho e das características do idoso. Além disso, faltam-lhe informações, além de apoio físico, psicológico e financeiro para enfrentar o quotidiano do cuidar ( Rodrigues e outros, 2012). No exercício de papéis, a mudança é angustiante, em virtude do envolvimento afetivo entre o idoso e a família, a diminuição do tempo de relacionamento com amigos e com a vizinhança, a solidão, a sobrecarga do processo de cuidar e a frustração por não conseguir colocar em prática seus próprios projetos de vida fazem parte das perturbações que, em determinado momento, podem causar stresse no cuidador. Avaliar e identificar a sobrecarga do cuidador é um aspecto importante para o cuidado com o idoso, porquanto, o excesso de sobrecarga pode comprometer a qualidade do cuidado e interferir nas relações familiares, nomeadamente podendo levar a situações de violência contra o idoso. A violência contra o idoso pode ser classificada em violência física, sexual, psicológica, economica, institucional, abandono/negligência e autonegligência. A violência intrafamiliar é caracterizada pela ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física e psicológica, ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um integrante do núcleo familiar. Observa-se um aumento do número de idosos que vivenciam o processo de doença crónica e incapacitante, o que os torna mais vulneráveis a situação de maus-tratos.
Entretanto, muitas formas de violência não chegam oficialmente ao conhecimento institucional, o que configura a subnotificação e, consequentemente, prejudica a fidedignidade das informações a respeito dessa realidade. A escassez de informação quanto aos agredidos e agressores é uma situação delicada, principalmente porque os idosos, de modo geral, não denunciam abusos e agressões sofridas, em função do constrangimento e do medo de repressão por parte dos seus cuidadores, que são frequentemente os próprios agressores. Explicitar a violência intrafamiliar contra o idoso dentro ou fora do ambiente domiciliar suscita da atenção básica de saúde uma organização que permita identificar e propor ações que abarquem a resolução dessa problemática.

O IDOSO INSTITUCIONALIZADO NA COMUNIDADE

Zaida Azeredo. Email: zaida.azeredo@gmail.com

Com o envelhecimento da população e a diminuição do número de elementos por agregado, bem como o aumento das doenças cronico-degenerativas , nomeadamente das demências , as instituições na comunidade , como por exemplo lares, tornam-se indispensáveis á prestação de cuidados a idosos e grande idosos.
Reflectir sobre o idoso institucionalizado e oo ambiente social que o rodeia.
Um idoso institucionalizado vê, muitas vezes, o seu mundo restringido aos elementos da instituição, aos outros utentes e à rede social que mantém girando todas as suas emoções neste ambiente.
As autoras fazem uma reflexão sobre esta relação.

O PASSAR DOS ANOS NA PRISÃO: A RECLUSÃO VISTA POR MULHERES IDOSAS

Adriana Silva. Helena Machado. Email: rosa.adriana.dias.silva@gmail.com

Resumo: Portugal atravessa nos tempos de hoje um processo de envelhecimento da população. Os Censos realizados em 2011 vieram evidenciar essa mesma realidade, uma vez que 2 milhões dos portugueses contam com mais de 65 anos, representando já cerca de 19% do total da população. A população prisional não é imune a este fenómeno: nas últimas duas décadas, a literatura internacional no domínio dos estudos prisionais, mas também em áreas como a saúde pública e a administração da justiça, tem vindo a evidenciar questões específicas relacionadas com o progressivo aumento do encarceramento de reclusos mais velhos. Em Portugal, nos últimos tempos, algumas notícias veiculadas na Imprensa têm conferir alguma visibilidade a esta realidade. Contudo, são ainda escassos os estudos científicos sobre esta matéria e inexistentes as políticas institucionais direcionadas para as necessidades e características específicas deste grupo social.
Esta comunicação enquadra-se numa investigação realizada no âmbito do Doutoramento em Sociologia, da Universidade do Minho, que tem como principal finalidade perceber os impactos do envelhecimento durante o cumprimento de penas privativas de liberdade, a partir das narrativas construídas em contexto de entrevista, por mulheres com mais de 50 anos de idade.
Partindo de um conjunto de entrevistas realizadas com mulheres no Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo, nesta comunicação almeja-se compreender de que forma a idade pode condicionar a forma como vivem o tempo de reclusão assim como as suas expectativas futuras de reinserção na sociedade. Os resultados mostram-nos que o cumprimento da pena é encarado como um tempo perdido e irrecuperável. De igual forma, a idade condiciona a maneira como as reclusas veem o seu futuro, sendo este minado pelo medo de morrer na prisão e pelas incertezas projetadas para a vida no exterior.

QUALIDADE DE VIDA APÓS ARTROPLASTIAS EM DOENTE SÉNIOR

Carlos José Martinez Evangelista. Email: ce.cortopedica@gmail.com

Sumário Executivo: A qualidade de vida não deves estar dependente da idade, esta, por si só não deve ser limitante ou impeditiva.

O autor com a realização de artroplastia, anca ou joelho,permitiu a liberdade, independência, e a reintrudução social de pessoas que até aqui estavam condenadas pela sociedade, pelas suas artrose e pela sua limitação funcional.

Hoje são membros efectivos da família,e da sociedade, pela simples razão que alguém se preocupou com o seu bem estar.

QUALIDADE DE VIDA E UTILIZAÇÃO DA INTERNET PELA POPULAÇÃO IDOSA

Mafalda da Silva Oliveira & Jean Martin Rabot. Email: mafaldasilvoliveira@gmail.com

Resumo: O aumento exponencial do envelhecimento demográfico, em Portugal, é bem real. Este facto social tem evidenciado diversas consequências do processo de envelhecimento: desde casos de exclusão social, isolamento social até casos de estados depressivos e consequentemente de qualidade de vida em decréscimo. No entanto, temos assistido a algumas mudanças no estilo de vida dos idosos, bastante voltado para uma vida equilibrada e saudável. Uma aposta para este efeito é o recurso às novas tecnologias, particularmente à Internet, que permite que os idosos mantenham um elevado grau de independência e dignidade, para além de poderem manter contacto com amigos e familiares mais distantes.
Assim sendo, no âmbito do nosso doutoramento em Ciências da Comunicação, encontramo-nos a desenvolver uma investigação que pretende averiguar se a Internet pode ser um meio que beneficie o processo de envelhecimento, ao melhorar a qualidade de vida do idoso durante este mesmo processo.
Para tentar alcançar este mesmo objetivo, teremos duas grandes fases no que concerne à componente empírica: numa primeira fase, será aplicado um inquérito por questionário online, de caracter exploratório e descritivo, em que se tentará identificar características dos seniornautas, através dos seus usos e gratificações, bem como da sua qualidade de vida; e numa segunda fase, para perceber se a qualidade vida é afetada pelo uso da Internet ou não, irão ser inquiridos não utilizadores da Internet sobre a sua qualidade de vida, para assim se obter um estudo de carácter comparativo. Porque o nosso estudo se caracteriza por ser um estudo com uma metodologia mista, quantitativo e qualitativo, irão também ser realizadas entrevistas semi-estruturadas a idosos utilizadores da Internet, de forma a aprofundar algumas questões abordadas no inquérito por questionário.
No final da investigação, e como ainda está numa fase de aplicação dos instrumentos de recolha de dados, não tendo ainda resultados concretos, é expectável vir a mostrar a importância da utilização da Internet na melhoria da qualidade da população idosa, nomeadamente no que diz respeito ao incremento de relações sociais e à consequente diminuição do isolamento social; à luta contra a exclusão social; à adoção de uma vida mais saudável e ativa, com a aquisição e à atualização constante de conhecimentos, evitando uma vida rotineira. Para além destes mesmos resultados, será ainda expectável obter dados que possam levar a assumir que o número de “seniornautas” em Portugal se encontra em plena expansão. Por fim, é nosso intuito que os resultados desta investigação sejam benéficos para a implementação de boas práticas de qualidade de vida para a população idosa, e como tal, optaremos por apresentar, de forma dinâmica, os resultados da mesma em várias situações, tanto em lares de terceira idade, colóquios e workshops relacionados com a temática em estudo, bem como em Universidades de Terceira Idade.

REATIVA: UM PROJETO DE PROMOÇÃO DE UM ENVELHECIMENTO ATIVO

Helena Loureiro. Aida Mendes. Ana Fernandes. Ana Camarneiro. António Fonseca. Manuel Teixeira Veríssimo. Maria Madalena Carvalho. Margarida Silva. Rogério Rodrigues. Ana Pedreiro. Email: hloureiro@esenfc.pt

Introdução
O crescente envelhecimento populacional coloca um dos maiores desafios de sempre às sociedades contemporâneas: proporcionar aos cidadãos a oportunidade de vivência de um envelhecimento ativo (WHO, 2002). Este desafio é influenciado por diversos determinantes, bem como pela vivência de diferentes acontecimentos transicionais que ocorrem na meia-idade. A aposentação constitui um desses acontecimentos que, constituindo-se como um processo contínuo de adaptação à mudança (Fonseca, 2011), expõe os indivíduos e famílias a um particular estado de vulnerabilidade (Loureiro, Fonseca e Veríssimo; 2012). Na inexistência de um programa de intervenção especificamente construído para a minimização deste efeito, urge a sua construção num dos contextos de cuidados de saúde onde a sua implementação poderá ser maximizada: o contexto dos Cuidados de Saúde Primários.
Objetivos
O projeto ‘REATIVA’ tem como objetivo: a construção de um programa de intervenção em saúde, a ser implementado em contexto de cuidados de saúde primários, que vise preservar o mais elevado nível de saúde biopsicossocial em indivíduos e famílias que se encontram numa fase do ciclo vital da meia-idade e que vivenciam um processo de adaptação à reforma, com vista a promover um envelhecimento ativo.
Metodologia
O projeto terá a duração de 2 anos.
O primeiro ano envolverá quatro momentos complementares que visam aceder a um amplo conhecimento do fenómeno em estudo, por forma a construir um protótipo de um programa, promotor de um envelhecimento saudável, a ser aplicado em indivíduos e famílias de meia-idade: 1º) Realização de Focus Group, constituídos por indivíduos reformados há menos de 5 anos; 2º) Realização de Entrevistas semiestruturadas a indivíduos que percecionaram dificuldades na adaptação à reforma e aos seus cônjuges; 3º) Execução de um Painel de Peritos para discussão dos resultados (obtidos nos momentos anteriores); 4º) Elaboração do protótipo do programa.
O segundo ano corresponderá à implementação do programa, efetuada em três momentos: 1º) Ensaio do protótipo, 2º) Aferição da estrutura em grupo teste; 3º) Medição da eficiência do programa (GC1xGC2xGE).
Conclusões
Este projeto destaca-se pelo seu carácter inovador no contexto dos Cuidados de Saúde Primários, não apenas pela multidisciplinariedade da equipa que o integra (e.g. Medicina, Enfermagem, Psicologia, Sociologia) mas também por ter como objetivo central a construção de um programa de intervenção em saúde comunitária, assente numa filosofia de promoção da sistémica familiar, que até ao momento é inexistente. Preconiza-se que este programa venha a ser responsável por um incremento da qualidade de envelhecimento nas comunidades, onde venha a ser implementado.

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE VIDA

Paula Cristina C. Marques de Azevedo; Claudia Ribeiro da Cunha. Email: paulacazevedo@gmail.com

Objetivo: Perceber se as abordagens narrativas têm um impacto positivo na qualidade de vida do sénior, nomeadamente no que diz respeito à estimulação cognitiva, autoestima, autoconhecimento, identidade (identidade para si, identidade para os outros), valores próprios e compreensão multifacetada sobre si próprio, bem como da sua relação com os diferentes contextos em que se insere.
Metodologia: Abordagens narrativas (centram a atenção na pessoa, na sua experiência e percurso de vida e, desta forma, esta toma consciência dos seus próprios projetos) com grupo experimental a decorrer na Universidade Sénior Contemporânea do Porto.
Resultados esperados:
– promover uma vida ativa e saudável na idade maior;
– potenciar o aumento da qualidade de vida na idade maior;
– potenciar a transmissão de conhecimentos em diferentes áreas do saber para as gerações mais novas e o aumento do seu sentido de responsabilização (intergeracionalidade);
– valorizar e fortalecer histórias de vida, laços, relações e referências que se vão constituindo como pilares essenciais no âmbito cultural;
– ao recordar a história de vida, o sénior estará a estimular, ativamente, a sua memória e as suas emoções e fica com um trabalho escrito que também pode partilhar e/ou oferecer a familiares e amigos;
Conclusão:
Uma vez que o trabalho no âmbito das histórias de vida ainda está a decorrer, não podemos avançar já com as conclusões.
No entanto, pelo tempo já decorrido, podemos adiantar que tem um impacto significativo na autoestima e autoconhecimento.

A PESSOA IDOSA HOSPITALIZADA: QUAL O CONHECIMENTO E ATITUDES DOS/AS ENFERMEIROS/AS PORTUGUESES?

João Tavares. Email: enf.joaotavares@hotmail.com

Introdução: Em Portugal as últimas décadas têm sido marcadas por um rápido envelhecimento demográfico. Este fenómeno implica uma maior procura de cuidados de saúde para satisfazer as necessidades das pessoas idosas (PI). As projecções demográficas prevêem um aumento significativo de PI que irão necessitar de internamento hospitalar. No entanto, a formação dos/as enfermeiros/as sobre o cuidado geriátrico tem-se mostrado insuficiente. Esta lacuna formativa tem um impacto considerável no conhecimento e atitudes destes profissionais, afetando a qualidade do cuidado às PI hospitalizadas.
Objectivos: Objectivou-se: i) explorar o conhecimento e as atitudes dos/as enfermeiros/as em relação a quatro síndromes geriátricas (úlceras de pressão, incontinência urinária, uso de contenções e distúrbios do sono) em hospitais portugueses, e ii) avaliar a influência das características sócio-demográficas, profissionais e dos hospitais no conhecimento e nas atitudes geriátricas dos/as enfermeiros/as.
Metodologia: Estudo de abordagem quantitativa, do tipo exploratória-descritiva, transversal, prospectivo e correlacional. A amostra foi constituída por 1068 enfermeiros/as de cinco hospitais (da região norte e centro do país). Na análise dos dados utilizou-se a ANOVA unilateral e o teste de Tukey HSD (nas comparações múltiplas). O nível de significância considerado foi de 5%.
Resultados: A média em relação ao conhecimento e às atitudes foi de 0,41 ± 0,15 e 0,40 ± 0,21, respectivamente (variando de 0 a 1). Considerando as síndromes geriáticas em estudo, os/as enfermeiros/as demonstraram conhecimento insuficiente e atitudes negativas em relação ao cuidado às PI hospitalizas. Os/as enfermeiros/as a trabalhar em hospitais universitários demonstraram um nível de conhecimento significativamente superior relativamente aos colegas dos centros hospitalares. Encontraram-se diferenças estatisticamente significativas entre as atitudes dos/as enfermeiros/as e o tipo de hospital e unidade, região do país, suporte formativo dos hospitais, auto-avaliação do conhecimento e percepção da sobrecarga no cuidado às pessoas idosas hospitalizadas. As atitudes mais positivas foram reportadas por enfermeiros/as: dos centros hospitalares, nos serviços de medicina e cirurgia, da região norte do país, em instituições que suportem a sua formação, que auto-avaliam o seu conhecimento como elevado e com menor percepção de sobrecarga no cuidado às PI hospitalizadas.
Conclusão: Os resultados deste estudo reforçam a necessidade de promover, aumentar e melhorar o conhecimento e as atitudes dos/as enfermeiros/as no cuidado às PI hospitalizadas e a implementação de guidelines baseadas nos dados na sua prática profissional.

Sexualidade na Terceira idade: Estudo de caso. O uso do biograma.

Ana Catarina dos Santos Gabadinho. Email: ana.catarinagabadinho@gmail.com

Resumo: Esta comunicação tem como principal objetivo partilhar um conjunto de reflexões sobre o envelhecimento e a temática da sexualidade, atribuindo especial enfoque à Terceira idade e, a partir daí, contribuir para alterar a visão de que a vida sexual ativa é uma prerrogativa dos jovens. Quem se encontra nesta fase da vida, Terceira idade, precisa viver a sua vida e a sua sexualidade livremente e com dignidade. Reconhecendo a necessidade de melhor conhecer e esclarecer as questões da sexualidade na Terceira idade desenvolveu-se o estudo aprofundado de dois casos, a Maria e o Manuel com 71 e 72 anos respetivamente. Neste âmbito tenta-se dar resposta às seguintes questões: (i) Como é que a Maria e o Manuel percecionam a sua sexualidade? (ii) Como a vivenciam? (iii) Quais os fatores que interferem na vivência da sua sexualidade?. Para aceder à informação recorreu-se a diversos instrumentos, tais como: entrevistas exploratórias, conversas informais e diário de campo. Relativamente à apresentação dos resultados e análise dos mesmos procedeu-se a uma análise de conteúdo das entrevistas, tendo em conta as 5 dimensões da sexualidade, biológica, psicológica, sensual, erótica e cultural, à elaboração de quadros cronológicos de eventos e respetivos biogramas, individuais e outro em que se apresentam uma simultaneidade de eventos entre os biogramas dos dois casos, e narrativas biográficas. Particularmente, neste estudo de investigação destacam-se os biogramas (Tinoco & Pinto, 2001; Sá & Almeida, 2004), por constituírem uma representação visual dos diversos eventos ocorridos ao longo da vida da Maria e do Manuel, e por se apresentarem como instrumentos de excelência para mapear as suas trajetórias de vida. Um dos eventos comum a ambos os casos corresponde à intimidade entre ambos. Independentemente dos dois possuírem condicionantes físicos e biológicos, fibromialgia, no caso da Maria, e disfunção erétil, no caso do Manuel, que lhes impedem de usufruírem de uma relação sexual, ambos reconstruiram a sua sexualidade. O facto de recorrem à masturbação mútua como forma de colmatar a ausência de relação coital é um sinal revelador não só de à-vontade um para com o outro, mas também de não quererem comprometer a realização e necessidade fisiológica de cada um. A Maria e o Manuel trazem até nós a visão que é possível repensar e redescobrir a sexualidade na “idade madura”, mesmo quando existem limitações como as decorrentes do aparecimento da fibromialgia e da disfunção erétil.

SOFRIMENTO NA DOENÇA CRÓNICA – REVISÃO DA LITERATURA

Susana Batista; Rosa Martins. Email: supais@hotmail.com

Introdução: De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, estima-se que até ao ano de 2050, o número de idosos irá quadruplicar, tal como a necessidade de prestação de cuidados a longo prazo. Podemos prever assim uma maior afluência de população idosa aos hospitais portugueses portadores de doença crónica, o que nos traz novos desafios. No contexto de doença crónica, parece-nos consensual afirmar que o sofrimento é uma realidade vivida e compete ao enfermeiro facilitar a adaptação do doente e família à nova condição. Que formas de sofrimento são experienciadas pelas pessoas portadoras de patologia crónica?
Objetivo: Conhecer os resultados dos estudos que foram produzidos nos últimos 5 anos sobre a temática do sofrimento e a ajuda prestada pelos Enfermeiros.
Material e métodos: Para a concretização do nosso objetivo efetuámos uma revisão da literatura em bases dados referenciais. Os artigos foram analisados tendo em conta os objetivos, participantes, momentos de recolha de dados, instrumentos utilizados, resultados obtidos considerando as variáveis que possam integrar a vivência do sofrimento na doença crónica.
Resultados: Observou-se no que se reporta ao sofrimento na doença crónica, uma produção limitada, tendo sido analisados 11 artigos de periódicos e dissertações de mestrado em língua portuguesa 5 artigos de periódicos internacionais em língua inglesa. As metodologias utilizadas são do tipo qualitativo e quantitativo.
Conclusão: Os resultados dos estudos incluídos abordam a temática do sofrimento em várias perspetivas: sofrimento físico relacionado com a dimensão biológica da doença; sofrimento psicológico que se confronta com as possibilidades de cura; sofrimento sócio relacional manifestado essencialmente pela ausência de apoio familiar/social, problemas económicos e solidão; sofrimento existencial com a procura de sentido de vida, espiritualidade e prática religiosa; experiências positivas de sofrimento; estratégias de adaptação e expectativas futuras. Mostram ainda que a ajuda dos Enfermeiros é fundamental uma vez que a doença crónica implica mudança de estilo de vida que pode conduzir a uma luta interior silenciosa. É necessário que a intervenção de enfermagem vá ao encontro das necessidades espirituais de modo a facilitar a procura de equilíbrio e significado de experiências de vida, no entanto é identificada falta de investimento nesta área. É também salientada a necessidade de cuidar com compaixão e de integrar os cuidados paliativos no cuidado ao idoso com doença crónica com vista na melhoria da sua qualidade de vida. Em conclusão, torna-se fundamental para a prática de enfermagem a compreensão desta problemática uma vez que pode permitir potenciar ganhos em saúde, garantindo à pessoa com doença crónica um processo de transição saudável.

SOFRIMENTO NA DOENÇA CRÓNICA – REVISÃO DA LITERATURA

Susana Batista; Rosa Martins. Email: supais@hotmail.com

Introdução: De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, estima-se que até ao ano de 2050, o número de idosos irá quadruplicar, tal como a necessidade de prestação de cuidados a longo prazo. Podemos prever assim uma maior afluência de população idosa aos hospitais portugueses portadores de doença crónica, o que nos traz novos desafios. No contexto de doença crónica, parece-nos consensual afirmar que o sofrimento é uma realidade vivida e compete ao enfermeiro facilitar a adaptação do doente e família à nova condição. Que formas de sofrimento são experienciadas pelas pessoas portadoras de patologia crónica?
Objetivo: Conhecer os resultados dos estudos que foram produzidos nos últimos 5 anos sobre a temática do sofrimento e a ajuda prestada pelos Enfermeiros.
Material e métodos: Para a concretização do nosso objetivo efetuámos uma revisão da literatura em bases dados referenciais. Os artigos foram analisados tendo em conta os objetivos, participantes, momentos de recolha de dados, instrumentos utilizados, resultados obtidos considerando as variáveis que possam integrar a vivência do sofrimento na doença crónica.
Resultados: Observou-se no que se reporta ao sofrimento na doença crónica, uma produção limitada, tendo sido analisados 11 artigos de periódicos e dissertações de mestrado em língua portuguesa 5 artigos de periódicos internacionais em língua inglesa. As metodologias utilizadas são do tipo qualitativo e quantitativo.
Conclusão: Os resultados dos estudos incluídos abordam a temática do sofrimento em várias perspetivas: sofrimento físico relacionado com a dimensão biológica da doença; sofrimento psicológico que se confronta com as possibilidades de cura; sofrimento sócio relacional manifestado essencialmente pela ausência de apoio familiar/social, problemas económicos e solidão; sofrimento existencial com a procura de sentido de vida, espiritualidade e prática religiosa; experiências positivas de sofrimento; estratégias de adaptação e expectativas futuras. Mostram ainda que a ajuda dos Enfermeiros é fundamental uma vez que a doença crónica implica mudança de estilo de vida que pode conduzir a uma luta interior silenciosa. É necessário que a intervenção de enfermagem vá ao encontro das necessidades espirituais de modo a facilitar a procura de equilíbrio e significado de experiências de vida, no entanto é identificada falta de investimento nesta área. É também salientada a necessidade de cuidar com compaixão e de integrar os cuidados paliativos no cuidado ao idoso com doença crónica com vista na melhoria da sua qualidade de vida. Em conclusão, torna-se fundamental para a prática de enfermagem a compreensão desta problemática uma vez que pode permitir potenciar ganhos em saúde, garantindo à pessoa com doença crónica um processo de transição saudável.

UMA VIDA, MUITAS VOLTAS, MUITAS HISTÓRIAS: OS SABERES DA PESSOA IDOSA NA PROMOÇÃO DO SEU BEM ESTAR E DA LITERACIA CIENTÍFICA DAS CRIANÇAS

Dolores Estrela Alveirinho, Helena Margarida Tomás, Margarida Afonso, Paula Esteves e Raquel Correia. Email: helenatomas@ipcb.pt

OBJETIVO: Defendendo-se a ideia de que “Nunca é tarde para aprender, nunca é tarde para ensinar” pretende-se com esta comunicação dar a conhecer e analisar o impacto de uma prática educativa desenvolvida a partir dos saberes de pessoas idosas no âmbito das atividades do Ciência, Tradição e Cultura – Centro de Recursos de Ideias e Materiais da Escola Superior de Educação de Castelo Branco (CT&C do IPCB/ESE).
METODOLOGIA: Predominantemente qualitativa, decorreu em duas fases: 1ª) Recolha de histórias de vida de pessoas idosas, por um estudante do curso de Serviço Social; 2ª) Planificação de ateliês com base na informação recolhida sobre tradições e sua implementação com crianças, por estudantes do curso de Educação Básica, para exploração científica dessas tradições.
Foram selecionadas 6 pessoas idosas do género feminino, institucionalizadas e provenientes do meio rural, cujas histórias de vida, recolhidas ao longo de 3 entrevistas, revelaram aspetos profissionais ligados a tradições que foram objeto de análise de conteúdo. A avaliação dos ateliês implementados foi realizada através de dados recolhidos da análise de conteúdo de desenhos e de grelhas de observação das crianças e das reflexões dos estudantes.
Participaram cerca de 120 crianças do pré-escolar e do 1º CEB, 1 futuro assistente social e 12 futuros educadores de infância/professores.
RESULTADOS: O trabalho de reminiscência permitiu às pessoas idosas reativar episódios do passado pessoal, relembrando conhecimentos e vivências ligados às tradições, e contribuiu para as ajudar a manter a sua própria identidade e aumentar a sua autoestima. Quanto às crianças, à futura assistente social e aos futuros educadores de infância/professores o ganho foi também muito positivo. Ficaram a conhecer mais e melhor sobre saberes ancestrais, os quais contribuem de forma muito determinante para a preservação e valorização da sua identidade cultural. Ao CT&C coube o papel de “movimentar a engrenagem” entre os saberes dos seniores, as práticas dos estudantes e o fazer ciência com crianças.
CONCLUSÃO: A prática, desenvolvida a partir do reconhecimento do importante papel educativo que as narrativas de pessoas idosas têm, permitiu a aproximação de gerações e o estabelecimento de um diálogo entre os saberes das pessoas idosas e os da escola, contribuindo para promover o bem-estar das pessoas idosas, a literacia científica das crianças e o desenvolvimento de boas práticas dos futuros profissionais, numa lógica de efetiva complementaridade.

UNIDADE ORTOPEDIA GERIÁTRICA

Carlos José Martinez evangelista. Email: ce.cortopedica@gmail.com

Sumário Executivo: O autor apresenta o seu trabalho nos últimos 4 anos relativo à 1 unidade de ortopedia geriatrica em Portugal no Hospital de Santana, onde se privilegia a qualidade de bem servir quem de nós precisa, falamos dos doentes de grande idade, seniores, que com um projecto multidisciplinar, lhes permite reintegrar a sociedade depois de um acidente , queda , do qual resultou uma fractura , e que a decisão terapêutica foi e é fundamental para a sua reinserção social. Plena de valores , plena de funcionalidade e de apoio ao grupo familiar. Assim uma fractura do colo fémur não implica , degradação, letargia,internamento num lar. Uma fractura pode ser o continuar de vida com mais querer, com mais bem estar. Tudo depende da decisão e da equipa ,que vocacionada para o efeito, presta cuidados muitidisciplinares e de primeira linha.
O projecto sendo inédito, merecia divulgação e alargamento a todas as unidades hospitalares.

O TOQUE

Maria Aucineia Ferreira. Email: mariaaucineia@gmail.com

Quero em primeiro lugar agradecer esta oportunidade para transmitir as minhas ideias e experiências de vida com os mais idosos.
Iniciei minha carreira profissional através da licenciatura em Educação Física e, posteriormente, a especialização em Gerontologia-Clínica, Saúde Mental, Aperfeiçoamento em Atividade Física para Pessoas Especiais e atualmente Cuidados Paliativos.
Ao longo deste percurso, a partir do meu trabalho de voluntariado e estágio com pessoas na faixa etária acima dos 75 anos, aprimorei meus conhecimentos e enriqueci minha condição humana, pois aprendi muito com os idosos.
Percebi nessas pessoas – que na sua maioria vivem sozinhas – que carregam consigo uma vida cheia de histórias, cheia de silêncio, onde o passado não é notado e a sua imagem é ignorada… Acabam por se tornar frios por querer ser ouvidos e não ter com quem falar…
Existe na sociedade um sentimento de incapacidade de resposta e simplesmente um não saber “estar” com eles, fazer-se presente por alguns instantes, por alguns momentos preciosos.
A minha resposta a este dilema é simples: AMAR! Simplesmente amar…
Ao longo dos anos estudei o Envelhecimento desde o nascer até o processo da Retrogénese, mas na maioria das vezes esta intervenção destinava-se a população da 3ª idade, esquecendo-se dos mais necessitados, aqueles que valentemente passaram dos 75, 80 anos.
A partir daí passei a dedicar o meu trabalho e coração a estas pessoas e espero poder passar um bom exemplo para que os mais jovens e adultos, nas suas diferentes áreas profissionais ou de interesse possam também contribuir com o que sabem, porque para fazer um idoso feliz, não é preciso palavras; basta um pequeno “TOQUE” que o fará sentir o calor do seu amor através da sua pele.
Certa vez, numa instituição na região de Oeiras, havia um idoso cadeirante que já não falava e não tinha mais vontade de viver. Estava constantemente de cabeça inclinada a pensar… em “nada”? Fui ao encontro dele e toquei o seu rosto com o dorso das minhas mãos. Ele levantou a cabeça muito lentamente, olhou para mim e sorriu com os olhos cheios de lágrimas…
O que importa é a nossa persistência em buscar dia melhor para aquele que esta distante. Aprendendo com a dor e com as lágrimas, aprendemos a felicidade, pois são elas que fortalecem nosso espírito e nos mostram o quanto sorrir e viver em paz é importante.
No fundo, toda a sociedade pode ajudar mais os idosos, com um simples “TOQUE”, é capaz de transmitir carinho, dedicação e amor pelo outro.

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL E DOENÇA ISQUÉMICA CARDÍACA NO CONTEXTO DO ENVELHECIMENTO
Matilde Rosa; Paulo Nogueira; Andreia Costa matilderosa@dgs.pt; paulo.nogueira@dgs.pt; andreiasilva@dgs.pt

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS NO CONTEXTO DO ENVELHECIMENTO
Matilde Rosa; Andreia Costa; Cristina Bárbara; Elisabete Gomes; Paulo Nogueira. matilderosa@dgs.pt; paulo.nogueira@dgs.pt; andreiasilva@dgs.pt

TERAPIA VIRTUAL PARA TRATAMENTO DE NOMEAÇÃO DE PALAVRAS
Alberto Abad; AnnaPompili; Pedro Fialho; Isabel Trancoso. alberto.abad@l2f.inesc-id.pt

QUALIDADE DE VIDA E (IN)CAPACIDADE FUNCIONAL DE ADULTOS IDOSOS PORTUGUESES
Catarina Isabel Mendes Portela cimportela@gmail.com

ESTADO NUTRICIONAL E AVALIAÇÃO GERIÁTRICA GLOBAL INTEGRADA

Marisa Cebola; Amália Botelho marisa.cebola@estesl.ipl.pt

A (IN)CAPACIDADE DOS IDOSOS PARA GERIR A SUA MEDICAÇÃO
Ana Margarida Advinha; Manuel José Lopes; Sofia de Oliveira Martins ana.advinha@gmail.com

Terapia Virtual para Tratamento de Nomeação de Palavras

Alberto Abad, Anna Pompili, Pedro Fialho e Isabel Trancoso L2F – Laboratório de sistemas de Língua Falada, INESC-ID Lisboa Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
José Fonseca, Gabriela Leal, Luisa Farrajota e Isabel Pavão Martins Laboratório de Estudos de Linguagem, Fac. de Medicina da Univ. Lisboa

A afasia é uma perturbação de linguagem resultante de uma lesão cerebral que compromete vários aspectos da comunicação, nomeadamente a expressão oral, a compreensão de linguagem, a leitura e a escrita. Uma das causas mais frequentes são os Acidentes Vasculares Cerebrais que atingem predominantemente idosos com mais de 65 anos, sendo que apenas um terço dos episódios ocorre antes dos 55 anos. De facto, o número de pessoas que sofrem acidentes vasculares cerebrais aumentou nas últimas décadas, estimando que em cada ano existam na EU 500.000 novos casos e 100.000 recorrências, das quais um terço apresentam alterações de linguagem. Um sintoma comum aos vários tipos de afasia é a dificuldade dos pacientes em se recordarem do nome dos objectos ou acções, apesar de saberem o que são e para que servem. Normalmente, a recuperação pode ser feita através de terapia da fala, fazendo exercícios de nomeação. No entanto, a frequência e a intensidade da terapia são factores chave na recuperação das funcionalidades de comunicação. O desenvolvimento de métodos automáticos de terapia surge assim como resposta a este problema, no qual as tecnologias da língua podem desempenhar um papel fundamental.
A VITHEA é uma plataforma on-line projectada para agir como um “terapeuta virtual” para o tratamento de pacientes afásicos. Concretamente, o sistema integra a tecnologia de reconhecimento automático de fala para proporcionar exercícios de nomeação para pacientes cuja capacidade de nomeação se perdeu ou ficou bastante reduzida. A solução adoptada é baseada numa abordagem que detecta a palavra-chave, de modo a validar a correcção do que foi dito pelo paciente. O programa fornece um feedback tanto escrito como oral, através de mensagens de voz produzidas por um agente animado usando um sintetizador de fala. A aplicação permite a fácil adição de novos exercícios de terapia, e fornece ferramentas para os terapeutas monitorizarem remotamente a recuperação dos pacientes. Esta flexibilidade permite a adaptação dos exercícios a vários perfis de pacientes, de forma a aumentar a sua motivação.
A plataforma VITHEA é o resultado do esforço conjunto do Laboratório de sistemas de Língua Falada do INESC-ID (L2F) e do Laboratório de Estudos de Linguagem da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (LEL), no contexto das actividades de um projecto financiado pela FCT, concluído no início de 2013. A expansão para plataformas móveis (Android) e para adaptar a outras doenças que afectam os idosos é um dos objectivos desta equipa multidisciplinar em futuros projectos. Mais informações estão disponíveis em http://www.vithea.org.

Qualidade de Vida e (In)Capacidade Funcional de Adultos Idosos Portugueses

Catarina Isabel Mendes Portela
Resumo: O presente estudo teve como principal objectivo a determinação das relações existentes entre a qualidade de vida (QdV) e a (in)capacidade funcional, numa amostra de adultos idosos portugueses (N = 51). Adicionalmente, pretendeu-se analisar o impacto de outras variáveis na QdV e na funcionalidade dos sujeitos idosos, tais como a situação de vida, o funcionamento cognitivo, a sintomatologia depressiva, a percepção subjectiva de saúde e a idade. Os resultados desta investigação confirmaram a relação entre QdV e funcionalidade, sendo estatisticamente significativa a relação entre a faceta Participação Social do WHOQOL-OLD e o resultado global do IAFAI; assim como na faceta Autonomia, a qual manifestou alguma relação com a capacidade funcional, apesar de não ser significativa. Deste modo, concluímos que uma capacidade funcional comprometida manifesta-se negativamente na QdV, através do impacto na capacidade dos sujeitos para participarem em actividades de vida diária (AVD), especialmente na comunidade (Participação Social) e, também, de viverem de forma autónoma e tomarem decisões (Autonomia). Ainda, o presente estudo permitiu constatar que: a situação de vida permite diferenciar os sujeitos, em termos de QdV e de capacidade funcional (com os sujeitos institucionalizados a apresentar menor qualidade de vida e maior comprometimento da funcionalidade, comparativamente aos da comunidade); a presença de sintomatologia depressiva, um funcionamento cognitivo empobrecido e a percepção subjectiva de saúde (dimensão Doente), estão associados a uma capacidade funcional comprometida; por fim, não se observou um maior comprometimento funcional significativo associado ao avançar da idade, ao contrário do que é observado na literatura.
Palavras – chave: Qualidade de vida, adultos idosos, (in)capacidade funcional.

Abstract: The main aim of this study was to determine the relation between quality of life (QoL) and functional (in)capacity in a sample of old adults (N = 51). Additionally, it was intended to define the impact of other variables in QoL and functionality of old adults, such as situation of life, cognitive functioning, depressive symptomatology, subjective perception of health and age. The results of this investigation confirm the relation between QoL and functionality, namely, with a statistically significative correlation between the WHOQOL-OLD’s Social Participation facet and the global result in IAFAI, with a statistically significant correlation; as well as on the facet Autonomy, which manifested some relation with functional capacity, even though it was not significant. Thus, we deduce that an impaired functional capacity manifests in a negative way in QoL, through the impact on the subjects’ capacity to participate in activities of daily living (ADL), especially in community (Social Participation) as well as through their capacity to live in a autonomous way and taking decisions (Autonomy). Further, this study enabled to explore that: the situation of life variable differentiated subjects in terms of QoL and functional capacity (with institutionalizated ones presenting lower QoL and lower functional capacity); depressive symptomatology, poor cognitive functioning and subjective perception of health (dimension Ill) are associated with disability; lastly, we perceived that functionality does not decrease significantly with aging, contrary to what is reported in the literature.
Key Words: Quality of life, elderly, functional (in)capacity.

Estado Nutricional e Avaliação Geriátrica Global Integrada – uma abordagem de deteção de vulnerabilidade na pessoa idosa

Marisa Baeta Cebola1, Amália Botelho2
1
2
– Faculdade de Ciências Médicas – Área de Ensino e Investigação de Medicina Clínica – Universidade Nova de Lisboa
Correspondência: Marisa Cebola –– Av. D. João II Lote 4.69.01, 1990-096 Lisboa –
marisa.cebola@estesl.ipl.pt
O processo de senescência, origina alterações a nível dos sistemas e órgãos, nomeadamente, sistema visual, sensorial,1 gastrointestinal2 e musculo esquelético que condicionam não só a selecção e preparação dos alimentos, bem como paladar, digestão e absorção, e aquisição dos alimentos, contribuindo para a prática de um padrão alimentar monótono e aporte desequilibrado de nutrientes fundamentais ao organismo.
O processo de senescência deve ser encarado como uma síndrome geriátrico, em que há diminuição da massa isenta de gordura – sarcopénia3 e aumento da massa gorda – sarcobesidade,4 nas quais o papel da dietética e nutrição é fundamental. A perda progressiva da massa magra corporal, da função muscular5 e redução da densidade óssea,6,7 é responsável, entre outras, pelo aumento de quedas8 enquanto que o aumento e redistribuição de massa gorda, predispõe para o aumento do risco de desenvolvimento ou agravamento de doenças crónicas, nomeadamente hipertensão arterial doença cardio e cerebrovascular, diabetes mellitus e hiperlipidémias.9
Os profissionais de saúde não estão ainda devidamente alertados para a deteção atempada de situações de risco nutricional/desnutrição na pessoa idosa e para o síndrome geriátrico, sendo imprescindível criar estratégias para a diminuição da prevalência da desnutrição a nível das instituições e promoção da avaliação geriátrica global integrada.
Desde 2005 que a European Nutrition for Health Alliance (ENHA)10 adverte que a desnutrição na pessoa idosa é considerada um problema de saúde pública, que permanece em grande parte por diagnosticar e por tratar. Está descrito que a sua
– Área Científica de Dietética – Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa

prevalência ronda os 40% a nível de instituições hospitalares, 40% em unidades residenciais e cerca de 5 a 10% na pessoa idosa que reside no próprio domicílio ou com os familiares.11,12 A desnutrição, quando associada a situações de doença é frequentemente responsabilizada pelo aumento da morbilidade, aumento dos gastos em saúde, diminuição da qualidade de vida e aumento da mortalidade na população em geral e com maior relevância na população idosa.13 As situações de desnutrição na pessoa idosa, podem ser responsáveis por alterações a nível da composição corporal e da função, nomeadamente: 1) perda ponderal; 2) diminuição da massa magra com consequente deterioração da função respiratória e aumento do risco de desenvolvimento de infeções respiratórias, aumento de quedas; 3) alteração da função cardíaca; 4) diminuição da resposta imunitária, com aumento da prevalência de infeção; 5) diminuição do poder de cicatrização, com consequente aumento do risco de desenvolvimento de úlceras de pressão; 6) sensação de cansaço generalizado, com diminuição do apetite; alterações psicossociais, que podem conduzir a estados de depressão e de isolamento social.14-19 Podem também estar na origem do aumento da necessidade de cuidados de saúde e sociais, e pela diminuição dos resultados clínicos espetáveis, com consequente aumento do tempo de internamento e da mortalidade.20,21 Mundialmente, têm sido propostas guidelines para a identificação do risco/ avaliação nutricional, bem como medidas para a sua prevenção e tratamento. A nível europeu a ENHA, está a unir esforços para que sejam implementadas políticas a nível europeu em relação à desnutrição.22 Estas entidades acreditam que uma intervenção nutricional adequada e devidamente planeada deve ser parte integrante das políticas de saúde e da prestação de cuidados de saúde.23
Avaliação Geriátrica Global Integrada, surge como uma forma de responder à necessidade de definição de estratégias com foco na deteção de situações de doença aguda/ crónica mais prevalentes, e deve integrar um conjunto diverso de valências profissionais, com o objetivo de promover a saúde, autonomia, independência e qualidade de vida.24 Constitui desejavelmente uma prática multidimensional, sistemática, de caracterização do estado clínico, nutricional, funcional, qualidade de vida e aspetos sociais, na pessoa idosa.25
A nível internacional, Avaliação Geriátrica Global Integrada não é uma temática nova, ela já foi relatada por vários autores em diversos estudos científicos, reveladores da sua consistência como abordagem estruturada e aplicada, das quais ilustramos alguns dos que são marcantes.
Entre os pioneiros destaca-se Rubenstein e colaboradores, 26 1979, ao publicaram um estudo em que relataram a realidade de uma unidade de avaliação geriátrica de ambulatório, no Sepulveda VA Medical Center em Los Angeles USA. Ao utilizarem
uma abordagem multidisciplinar verificaram que conseguiam detetar atempadamente complicações da doença, administravam menos fármacos, e melhoravam a independência, diminuindo a exigência dos cuidados de saúde. Os autores concluíram sobre a importância da avaliação geriátrica global e apontaram a necessidade da elaboração de mais estudos desta natureza.26
Epstein e colaboradores,27 1987 os resultados de um estudo também pioneiro, efetuado em 104 unidades geriátricas, numa amostra de 542 doentes. Os autores consideraram a abordagem multiprofissional teve um benéfico para os doentes, no entanto, consideraram ser necessário a realização de mais estudos, em que fosse que avaliado o binómio custo-eficácia.28
Stuck e colaboradores,29 1993, publicaram uma meta-análise de 28 estudos com uma amostra total de 4.959 indivíduos. Os autores concluíram que a Avaliação Geriátrica Global Integrada teve um efeito positivo significativo na mortalidade, na autonomia e nas funções física e cognitiva dos indivíduos, realçando-se a sua importância e aplicabilidade.29
Ellis e colaboradores,30 2011 publicaram uma meta-análise de 20 estudos controlados randomizados com um n total de 10.427 idosos hospitalizados, em que ficou demonstrada a vantagem da sua utilização na prática clínica ou em outras unidades próprias para a pessoa idosa. Ficou também patente a noção do benefício em relação à mortalidade a curto prazo e à função física e cognitiva, e evidenciada a sobrevida de média duração e com residência no domicílio. Os autores concluem que, perante a evidência da utilidade destas equipas, o desafio para o futuro será a sua implementação e a publicação de mais estudos sobre a sua eficiência.30
Em Portugal, nas estruturas da Rede Nacional de Cuidados Continuados, é aplicado um instrumento padronizado de avaliação que contempla a Avaliação Geriátrica Global Integrada. A sua utilização na caracterização dos indivíduos em trabalhos de tese de mestrado e doutoramento é uma realidade.31-33 Aguardamos que esta sua aplicação sistemática a nível assistencial, seja alvo de uma análise de natureza investigacional.34 O Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, desenvolveu um documento em que frisa a importância da Avaliação Geriátrica Global, qual a população alvo e quais os instrumentos a serem utilizados para a avaliação das dimensões em que as pessoas idosas tendem a ser deficitárias, nomeadamente a nível físico, mental, funcional e social.35 São eles: Estado Funcional: Actividades Básicas de Vida Diária36 (Escala de Katz) e Atividades Instrumentais de Vida Diária37 (Escala de Lawton & Brody); Marcha: Classificação Funcional da Marcha de Holden;38 Estado Afectivo: Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage – versão 15 itens39;
Estado Cognitivo: Mini-Mental State Examination (MMSE) de Folstein;40 Estado Nutricinonal: Mini-Nutritional Assessment.41,42 A primeira Consulta de Geriatria portuguesa a utilizar a avaliação geriátrica global foi da responsabilidade do Professor Doutor Gorjão Clara, em que a sua equipa era constituída por um médico, enfermeiro, psicólogo, dietista/nutricionista, fisioterapeuta, farmacêutico e assistente social, na perspetiva de responder às necessidades dos utentes da área de influência do Centro Hospitalar Lisboa Norte, incluindo a eventualidade de apoio domiciliário.
Em 2013, a Professora Doutora Amália Botelho, introduziu uma unidade curricular opcional na licenciatura em medicina da Faculdade de Ciências Médicas de Universidade Nova de Lisboa, em que delineou o ensino e aprendizagem da Avaliação Geriátrica Global Integrada em pessoas idosas institucionalizadas em unidades hospitalares, cuidados continuados, e lares, bem como a sua aplicabilidade em centros de saúde.
A realidade relatada por todos os profissionais de saúde envolvidos na Avaliação Geriátrica Global Integrada traduz que a sua prática constitui um método eficaz na redução da morbilidade e mortalidade da pessoa idosa. A sua prática é formalmente recomendável, devendo ser aplicada por equipas multiprofissionais, de acordo com a diversidade de competências necessárias e disponíveis.
A nível das unidades hospitalares, cuidados continuados, lares e centros de saúde, recomenda-se que a Avaliação Geriátrica Global Integrada seja protocolada como rotina para a prática assistencial, sob registo único. Esta avaliação deveria ser realizada idealmente na admissão, ou o mais precoce possível (24 horas, 48 horas ou até às 72 horas) uma vez que a precocidade da avaliação e intervenção potencia os resultados favoráveis.10

Referências Bibliográficas
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4Chung JY, Kang HT, Lee DC, Lee HR, Lee YJ. Body composition and its association with cardiometabolic risk factors in the elderly: A focus on sarcopenic obesity Archives of Gerontology and Geriatrics 56 (2013) 270–278.)
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9Hughes VA. Malnutrition and ageing. Postgrad Med J 2006;82:2–8.
10http://www.european-nutrition.org/index.php/malnutrition – acedido a 10 de outubro de 2013.
11Visvanathan R. Under-Nutrition in Older People: A Serious and Growing Global Problem. J Postgrad Med 2003; 49: 352-60.

12Compan B, di Castri A, Plaze JM, Arnaud-Battandier F. Epidemiological study of malnutrition in elderly patients in acute, sub-acute and long-term care using the MNA. J Nutr Health Aging 1999;3:146-51.
13Beck AM, Balkna SUN, Fuerst P, Hasunen K, Jones L, Keller U, Melchior J-C, Mikkelsen BE, Schauder P, Sivonen L, Zinck O, ÒIEN H, Ovesen L. Food and nutritional care in hospitals: how to prevent undernutrition report and guidelines from the Council of Europe. Clinical Nutrition (2001) 20(5): 455±460.
14Kelly IE, Tessier S, Cahill A, Morris SE, Crumley A, MacLaughlin D, Mckee RF, Lean MEJ. Stil Hungry in hospital: Identifying malnutrition in acute hospital admissions. Q J Med 2000; 93:93-98.
15Hrnciarikova D, Juraskova B, Zadak Z, Hronek M. Present State of Evaluating Malnutrition in the Elderly – Analysing Indicators. Biomed Pap Med Fac Univ Palacky Olomouc Czech Repub. 2006, 150(2):217–221.
16Villareal DT, Apovian CM, Kushner RF, Klein S. Obesity in older adults: technical review and position statement of the American Society of Nutrition and NAASO, The Obesity Society. Am J Clin Nutr 2005 Nov; 82:923-34.
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18Elia M. Obesity in the elderly. Obes Res 2001 Nov; 9 Suppl 4: 244S-8S.
19Hughes VA, Frontera WR, Roubeoff R, Evans WJ, Singh MAF. Longitudinal changes in body composition in older men and women: role of body weight change and physical activity. Am J Clin Nutr 2002 Aug; 76:473-81.
20Elia M. Guidelines for detection and manegement of Malnutrition. Malnutrition Advisory Group (MAG), Standing Committee of BAPEN, Maidenhead. 2000.
21Meijers MMJ, Hlfens JGR, Wilson L, Schols MGAJ. Estimating the costs associated with malnutrition in Dutch nursing homes. Am J Clin Nutr. 2012;31:65-68.
22http://www.european-nutrition.org/index.php/about – 24 de novembro de 2013.

23 http://www.european- nutrition.org/images/uploads/Nutrition_is_a_basic_need_flyer.pdf – acedido a 24 novembro de 2012.
24Stuck AE, Siu AL, Wieland GD, Adams J, Rubenstein LZ. Comprehensive geriatric assessment: a meta-analysis of controlled trials. Lancet 1993;342:1032-6.
25Stuck AE, Siu AL, Wieland GD, Adams J, Rubenstein LZ. Comprehensive geriatric assessment: a meta-analysis of controlled trials. Lancet 1993;342:1032-6.
26Rubenstein LZ, Abrass IB, Kane RL. Improved care for patients on a new geriatric evaluation unit. J Am Geriatric Soc 1981. 29(11):531-6.
27Epstein AM, Hall JA, Besdine R, et al. The emergence of geriatric assessment units. The “new technology of geriatrics”. Ann Intern Med 1987, 106:299-303.
28Epstein AM, Hall JA, Besdine R, et al. The emergence of geriatric assessment units. The “new technology of geriatrics”. Ann Intern Med 1987, 106:299-303.
29Stuck AE, Siu AL, Wieland GD, Adams J, Rubenstein LZ. Comprehensive geriatric assessment: a meta-analysis of controlled trials. Lancet 1993;342:1032-6.
30Ellis G, Whitehead MA, Robinson D, O’Neill D, Langhorne P. Comprehensive geriatric assessment for older adults admitted to hospital: meta-analysis of randomised controlled trials. BMJ 2011;343:d6553.
31Henriques A. Adesão ao regime medicamentoso em idosos na comunidade. Eficácia das intervenções de enfermagem. Curso doutoral de Enfermagem, Universidade de Lisboa, Julho 2011.
32Costa, A. A família cuidadora perante a dependência do seu familiar idoso. Mestrado em Saúde e Envelhecimento, Setembro de 2012.
33Fontes AP. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, um Modelo Multidimensional e Multideterminado da Funcionalidade em Idosos Assistidos na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Tese de doutoramento, no 3o ano de trabalhos, Faculdade de Ciências Médicas.
34Botelho A. (2011) Fernandes L, Pereira MG, Pinto LC, Firmino H, Leuschner A. (Eds.) Jornadas de Gerontopsiquiatria. “Método de Avaliação Biopsicossocial – um instrumento de deteção em saúde”. 1aEdição. Pp. 87-89. Águeda. Editora Associação de Psico Geriatria.
35 http://www.spmi.pt/docs_nucleos/GERMI_36.pdf – acedido 24 de novembro de 2013.
36Katz S, Ford AB, Moskowitz RW, et al. Studies of illness in the aged. The index of ADL A standardized measure of biological and psychosocial function. JAMA 1963, 185:914-9.
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39Yesavage JA, Sheikh JI. Geriatric Depression Scale (GDS): Recent evidence and development of a shorter version. Clinical Gerontologist 1986, 5:165-73.
40Folstein MF, Folstein SE, McHugh PR. Mini-mental state. A practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. Journal of psychiatric research. 1975, 12:189–98.
41Rubenstein LZ, Harker JO, Salva A, et al. Screening for Undernutrition in Geriatric Practice: Developing the Short-Form Mini Nutritional Assessment (MNA®-SF). J. Geront 2001, 56:M366-72.
42Kaiser MJ, Bauer JM, Ramsch C, et al. Validation of the Mini Nutritional Assessment Short-Form (MNA®-SF): A practical tool for identification of nutritional status. J Nutr Health Aging 2009, 13:782-8.

Doenças Respiratórias no contexto do Envelhecimento

Matilde Rosa; Andreia Costa; Cristina Bárbara; Elisabete Gomes; Paulo Nogueira

Introdução
Vivemos actualmente, em média, mais tempo que os nossos avós, mas também há cada vez menos nascimentos. Daqui resulta o envelhecimento da população. O envelhecimento da população é já uma tendência de dimensão mundial, embora seja na Europa que se localiza a maior parte das populações mais envelhecidas do mundo. A este respeito, Portugal não é, assim, um país original, embora tenha envelhecido com uma rapidez assinalável. É certo que, pelo menos a médio prazo, a população de Portugal continuará a envelhecer, o que aliás por si, pode ser entendido como uma tendência desejável, pois os factores que estão na origem deste processo estão ligados, no essencial, a progressos significativos nas condições de vida e saúde da população. Contudo, socialmente, o envelhecimento lança também desafios novos. Entre estes está o aumento de patologias de algum modo associadas à idade, como as doenças respiratórias, muitas destas também agravadas por hábitos e estilos de vida das sociedades modernas, como o stresse, o tabagismo, sedentarismo ou até a poluição ambiental.
São inúmeros os estudos que vão de encontro à temática envelhecimento. Mas são menos aqueles que focam o sector idoso na área das doenças respiratórias. O estudo das doenças respiratórias é essencial uma vez que Portugal está a confrontar-se, nos últimos anos, com um aumento do número destas doenças, situação que impõe uma necessidade crescente de cuidados. Não só o seu crescente número é preocupante como a respectiva mortalidade também o é, pois estas doenças constituem a terceira principal causa de morte em Portugal. No que diz respeito à mortalidade hospitalar, estas doenças ocupam o primeiro lugar.
Atendendo a que um grande número de doenças respiratórias se relaciona com o envelhecimento da população é expectável que o número de pessoas com doença respiratória venha a aumentar impondo ao sistema de saúde uma necessidade crescente de cuidados respiratórios. Uma análise geral da morbilidade hospitalar revela que as doenças Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), pneumonias bacterianas e fibrose pulmonar merecem especial destaque para análise, sobretudo a nível do grupo etário idoso, devido ao seu número elevado de casos.

Material e Métodos

Neste artigo, foram analisados tanto a mortalidade como os padrões de morbilidade associados a certas doenças respiratórias, dada a importância do estudo de ambos no contexto do envelhecimento. Relativamente à mortalidade, a informação é proveniente do Instituto Nacional de Estatística (INE). Relativamente à morbilidade, os apuramentos para estas estatísticas são obtidos a partir da base de dados dos Grupos de Diagnóstico Homogéneos (GDH). Esta base de dados é anualmente posta à disposição da Direcção-Geral da Saúde (DGS) pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS). Os GDH são um sistema de classificação de doentes, onde o conjunto de bens e serviços que cada doente recebe, em função da sua patologia, é registado. Esta base de dados agrupa as patologias de acordo com a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS). Assim, a classificação dos diagnósticos é feita tanto com base nos Grande Grupos da Classificação Internacional de Doenças- 9a Revisão-Modificação Clínica (CID 9 MC) como com base nas Grandes Categorias de Diagnóstico (GCD). É importante notar que a base de dados usada é referente apenas a episódios ocorridos nos hospitais do Sistema Nacional de Saúde (SNS) de Portugal Continental, pelo que as conclusões tiradas não devem ser generalizadas a todos os doentes nacionais. Refere-se, para este trabalho, a publicação da DGS “Portugal – Doenças Respiratórias em números – 2013”, de onde foram extraídos os dados e algumas reflexões. Neste trabalho, analisou-se retrospectivamente a morbilidade de certas doenças respiratórias, em Portugal Continental, entre 2007 e 2011. Em particular, foi dado ênfase às doenças DPOC, pneumonias bacterianas e fibrose pulmonar, devido ao seu número elevado de casos, sobretudo a nível do grupo etário idoso.
Os indicadores considerados relevantes para este estudo foram a Taxa de Mortalidade Padronizada, o número de utentes saídos e o número de óbitos, por região e grupo etário, com especial foco no grupo etário dos 65 ou mais anos. As respectivas percentagens, de utentes saídos ou óbitos pertencentes ao grupo etário 65 ou mais anos no total dos grupos etários, também foram calculadas. Os indicadores acima referidos referem-se apenas a diagnósticos principais.
Todos os cálculos presentes foram realizados utilizando o software estatístico R e a folha de cálculo do Microsoft Excel. No que diz respeito à codificação utilizada, as causas de morte são codificadas segundo a Classificação Internacional de Doenças CID10MC enquanto a morbilidade hospitalar é codificada com base na CID9MC. Em particular, os códigos utilizados para a DPOC foram 491.2 a 492.8 e 496 (CID9MC); para a fibrose pulmonar foram J60-J70; J84.1; J84.8; J84.9 (CID10MC) e 495, 500 a 508 e 515 a 516 (CID9MC); para a pneumonia foram J12-J18 (CID10MC); para as pneumonias bacterianas foram 481 a 486 e 513.0 (CID9MC).
Resultados
Relativamente à fibrose pulmonar, a sua Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, aumentou consideravelmente de 25,9, em 2007, para 30,2, em 2010. Estes números merecem especial atenção sobretudo quando se olha para a Taxa de Mortalidade Padronizada total: que se situa nos 4 por 100 000 habitantes. Analisando a morbilidade hospitalar, destaca-se um número de utentes saídos por fibrose pulmonar, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, a aumentar de 2007 para 2011. Relativamente a este grupo etário, verificou-se um aumento de 1492, em 2007, para 2465 utentes saídos, em 2011, o que corresponde a 72% e 77% do total de utentes saídos por fibrose pulmonar, respectivamente. O número de óbitos de utentes com 65 ou mais anos também aumentou consideravelmente neste intervalo temporal, de 499, em 2007, para 869, em 2011, correspondendo a 88% e 90% do total de óbitos por fibrose pulmonar. Estes valores, tanto relativamente aos utentes saídos como aos respectivos óbitos, são mais elevados no grupo etário dos 80 ou mais anos do que no dos 65 aos 79 anos. É aqui notório o peso que o envelhecimento tem na morbilidade hospitalar da fibrose pulmonar, pelo que a análise, relativamente ao grupo etário mais idoso, da sua evolução temporal assim como das suas desigualdades inerentes, não só mas também a nível regional, é de extrema importância. A nível regional, os utentes saídos por fibrose pulmonar com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde do Norte, seguindo-se Lisboa e Vale do Tejo. No total dos 5 anos considerados neste trabalho, a região do Norte apresenta aproximadamente 35% do total do Continente, no que se refere a utentes saídos por fibrose pulmonar com 65 ou mais anos. As correspondentes percentagens são 34% para Lisboa e Vale do Tejo, 24% para o Centro, sendo o restante distribuído pelas regiões Alentejo e Algarve.
No que diz respeito à DPOC, observa-se um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que diminuiu de 2007 para 2011. Relativamente a este grupo etário, verificou-se uma diminuição de 7112, em 2007, para 6687 utentes saídos, em 2011, o que corresponde a 80% e 78% do total de utentes saídos por DPOC, respectivamente. O número de óbitos dos utentes mais idosos aumentou de 2007 a 2009 (de 578 para 643, respectivamente) sendo que começou a diminuir a partir deste ano, atingindo os 549 óbitos em 2011. Comparando-se os sub-grupos etários dentro do grupo dos 65 ou mais anos, pode ver-se que o grupo dos 65 aos 79 anos apresenta mais utentes saídos por DPOC que o dos 80 ou mais anos. Este facto inverte-se quando se fala do indicador óbitos. A nível regional, tanto os utentes saídos por DPOC com 65 ou mais anos como os correspondentes óbitos são mais comuns na Região de Saúde Norte, seguindo-se Lisboa e Vale do Tejo. Entre 2007 e 2011, a região do Norte apresenta aproximadamente 38% do total do Continente, no que se refere a utentes saídos por DPOC com 65 ou mais anos. As correspondentes percentagens são 30% para Lisboa e Vale do Tejo, 26% para o Centro, sendo o restante distribuído pelas regiões Alentejo e Algarve. Relativamente à pneumonia, a sua Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, é extremamente elevada apesar de ter diminuído entre 2009 e 2010 (de 202,4 para 192,9, respectivamente). Estes números revelam- se preocupantes sobretudo quando se olha para a Taxa de Mortalidade Padronizada total: entre os 23,5 e os 25,5 por 100 000 habitantes.
. Analisando a morbilidade hospitalar, verifica- se que as pneumonias bacterianas são mais comuns do que as virais no que diz respeito ao grupo etário mais idoso. Assim, só este tipo de pneumonias é merecedor de destaque no contexto da análise da morbilidade hospitalar, em particular no contexto do envelhecimento. Esta doença apresenta valores consideravelmente mais elevados que as outras consideradas neste trabalho. E, preocupantemente, estes valores, relativos a utentes com 65 ou mais anos, aumentaram consideravelmente de 2007 a 2011: passando 25140 utentes para 31935. Estes valores correspondem a aproximadamente 69% e 74% do total de utentes saídos por pneumonias bacterianas, respectivamente. Paralelamente, o número de óbitos relativos a utentes com 65 ou mais anos também aumentou neste intervalo temporal, de 6192, em 2007, para 7833, em 2011. Estes valores, tanto relativamente aos utentes saídos como aos respectivos óbitos, são mais elevados no grupo etário dos 80 ou mais anos do que no dos 65 aos 79 anos. Mais uma vez se nota o peso que o envelhecimento tem na morbilidade hospitalar das doenças respiratórias, em particular na de pneumonias bacterianas. A nível regional, ao contrário do verificado para as doenças anteriormente descritas, tanto os utentes saídos com 65 ou mais anos como os correspondentes óbitos são mais comuns na Região de Saúde Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se a Região de Saúde do Norte. Entre 2007 e 2011, a região Lisboa e Vale do Tejo apresenta uma percentagem de utentes saídos (com 65 ou mais anos por pneumonias bacterianas) em relação ao total do continente de 34%. As correspondentes percentagens são 30% para o Norte, 29% para o Centro, sendo o restante distribuído pelas regiões Alentejo e Algarve.

Conclusões
O trabalho apresentado permite caracterizar a patologia respiratória a par com o aumento do número de pessoas com 65 ou mais anos, em particular de 80 ou mais anos, que se tem verificado em Portugal. Paralelamente, no nosso país, a mortalidade por doenças respiratórias constitui a terceira principal causa de morte, não evidenciando uma tendência decrescente nos últimos anos. Atendendo a que um grande número de doenças respiratórias se relaciona com o envelhecimento da população é expectável que o número de pessoas com doença respiratória venha a aumentar impondo ao sistema de saúde uma necessidade crescente de cuidados respiratórios. Algumas doenças respiratórias merecem especial reflexão, sobretudo na área do envelhecimento, dado os seus elevados valores. Entre elas está a fibrose pulmonar, cuja Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, aumentou consideravelmente de 25,9, em 2007, para 30,2, em 2010. Estes números merecem especial atenção sobretudo quando se olha para a Taxa de Mortalidade Padronizada total. No contexto da morbilidade hospitalar, deparamo-nos com um número de utentes saídos por fibrose pulmonar, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que aumentou de 2007 para 2011. Paralelamente, o número de óbitos também aumentou consideravelmente neste intervalo temporal.. A nível regional, os utentes saídos por fibrose pulmonar com 65 ou mais anos são mais comuns na Região de Saúde Norte, seguindo-se Lisboa e Vale do Tejo. O mesmo facto se verifica quando se analisa a distribuição geográfica dos casos de DPOC. Quando se analisa esta última doença, depara-se com um número de utentes saídos, pertencente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, que diminuiu de 2007 para 2011. Por último, a pneumonia apresenta uma Taxa de Mortalidade Padronizada (TMP) por 100 000 habitantes, para o grupo etário dos 65 e mais anos, extremamente elevada apesar de ter diminuído entre 2009 e 2010. Estes números revelam-se preocupantes sobretudo quando se olha para a Taxa de Mortalidade Padronizada total. A nível da morbilidade hospitalar, verifica-se que as pneumonias bacterianas são mais comuns do que as virais no que diz respeito ao grupo etário mais idoso. Assim, só este tipo de pneumonias irá ser destacado no contexto da análise da morbilidade hospitalar, reforçado na temática envelhecimento. Esta doença apresenta valores consideravelmente mais elevados que as outras consideradas neste trabalho. E, preocupantemente, estes valores, relativos a utentes com 65 ou mais anos, aumentaram consideravelmente de 2007 a 2011. Paralelamente, o número de óbitos de utentes com 65 ou mais anos também aumentou notavelmente neste intervalo temporal. A
nível regional, ao contrário do verificado para as doenças anteriormente descritas, tanto os utentes saídos com 65 ou mais anos como os correspondentes óbitos são mais comuns na Região de Saúde Lisboa e Vale do Tejo, seguindo-se a Região de Saúde do Norte. É notório o peso que o envelhecimento tem na morbilidade hospitalar das referidas doenças, em particular nas pneumonias bacterianas, pelo que a análise, relativamente ao grupo etário dos 65 ou mais anos, da sua evolução temporal assim como das suas desigualdades inerentes, não só mas também a nível regional, é de extrema importância.
Em suma, é sabido que as pessoas vivem mais tempo, mas é importante que o façam com qualidade. Sabemos hoje muito mais que no passado em relação a comportamentos de risco, pelo que o nosso quotidiano deve passar por adoptar estilos de vida saudáveis. Mas seria importante irmos um pouco mais longe no nosso raciocínio crítico, nomeadamente poderá equacionar-se, perante novos desafios como o aumento de patologias respiratórias, outras respostas de organização menos centralizadas de oferta de cuidados orientadas para problemas de saúde que afectam de modo cada vez mais expressivo o quotidiano da vida de cada um.
Referências
BARROS, Pedro Pita, 2013, Pela Sua Saúde, Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos
ROSA, Maria João Valente, 1996, O Envelhecimento da População Portuguesa, Cadernos Público, no3, Lisboa, BPI
ROSA, Maria João Valente, 2012, O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa, Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos
Direção-Geral da Saúde, Portugal – Doenças Respiratórias em números – 2013

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Fev 26, 2014

CASE STUDY: PERSON WITH ALZHEIMER’S DISEASE
ESTUDIO DE CASO: PERSONA CON LA ENFERMEDAD DE ALZHEIMER

Autora
Simone Saraiva 1
1 Enfermeira, Lar Monterey – Lisboa
Corresponding Author: simone_raquel@hotmail.com

Resumo
Demência é a definição usada para descrever um conjunto de sintomas (perda de memória, inteligência, racionalidade, competências sociais e funcionamento físico) de um grande grupo de doenças que causam um declínio progressivo do funcionamento de uma pessoa. A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência, representando entre 50 – 70% dos casos de demência. Objetivo: Com a elaboração deste trabalho é pretendido a aquisição de conhecimentos científicos baseados na evidência para conhecer melhor esta doença e tudo o que nela está implícito. Este conhecimento vai levar também a criar intervenções de enfermagem mais apropriadas a este tipo de doentes, baseadas nos problemas encontrados neste estudo de caso.
Metodologia: Para a elaboração deste trabalho os recursos utilizados foram a consulta bibliográfica relacionada com o tema em estudo e à consulta webliográfica recorrendo à pesquisa eletrónica no motor de busca Google.
Conclusão: Com a informação recolhida sobre a Doença de Alzheimer, foram elaboradas intervenções de enfermagem ao individuo que apresenta esta doença, tendo por base a mais recente evidência científica.

PALAVRAS-CHAVE: Doença de Alzheimer, Diagnóstico, Tratamento, Intervenções de Enfermagem

Abstract

Dementia is the definition used to describe a set of symptoms (loss of memory, intelligence, rationality, social skills and physical functioning) of a large group of diseases that cause a progressive decline in the functioning of a person. Alzheimer’s disease is the most common form of dementia, accounting for between 50 – 70% of cases of dementia.
Objective: With the preparation of this work is intended to acquire scientific knowledge based on evidence to better understand this disease and all that therein is implicit. This knowledge will also lead to create nursing interventions most appropriate to this type of patients, based on the problems encountered in this case study.
Methodology: For the elaboration of this work the resources used were the bibliographic consultation related to the topic under study and consultation webliografica using electronic searches in the search engine Google.
Conclusion: With the information gathered on the Alzheimer’s Disease, were drawn up nursing interventions to individual who presents this disease, based on the most recent scientific evidence.

KEYWORDS: Alzheimer’s Disease, Diagnosis, Treatment, Nursing Interventions

Introdução

O estudo de caso trata-se de uma abordagem metodológica de investigação especialmente adequada quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos factores. Yin (1994) afirma que esta abordagem se adapta à investigação em educação, quando o investigador é confrontado com situações complexas, de tal forma que dificulta a identificação das variáveis consideradas importantes, quando o investigador procura respostas para o “como?” e o “porquê?”, quando o investigador procura encontrar interacções entre factores relevantes próprios dessa entidade, quando o objectivo é descrever ou analisar o fenómeno, a que se acede directamente, de uma forma profunda e global, e quando o investigador pretende apreender a dinâmica do fenómeno, do programa ou do processo.6
Assim, Yin (1994, p.13) define “estudo de caso” com base nas características do fenómeno em estudo e com base num conjunto de características associadas ao processo de recolha de dados e às estratégias de análise dos mesmos.6
A elaboração deste estudo de caso tem como objetivo principal a elaboração de um quadro de intervenções de enfermagem à pessoa com doença de Alzheimer, tendo em conta os diagnósticos mais frequentes que vão sendo apresentados neste tipo de doentes.
Estou ciente da importância da realização deste estudo na minha formação profissional e pessoal, pois compreendo a dimensão que a prática baseada na evidência constitui o garantir de cuidados de enfermagem. Cuidados que devem ser fundamentados em evidência científica válida, relevante, e resultante de pesquisa e avaliação credível, tendo em vista a qualidade dos cuidados prestados.

Estudo de Caso

No estudo de caso ir-se-á expor a Doença de Alzheimer e tudo o que nela está englobado (o que é, diagnóstico, impacto social e tratamento) e o caso clínico em estudo neste trabalho.

Doença de Alzheimer (DA)

A doença de Alzheimer é uma doença na qual as células do sistema nervoso central sofrem um processo de morte mais acelerado que o que existe normalmente, provocando uma perda de função relacionada com os locais onde essa perda é maior. Na grande maioria dos casos esta perda de células atinge, nas fases mais iniciais da doença, locais essenciais a um certo tipo de memória, aquela que nos permite recordar acontecimentos recentes e aprender novas informações. Estas áreas usam a acetilcolina como mediador, ou seja, os neurónios dessas áreas libertam esse composto para activar os neurónios com os quais fazem contacto. A perda deste mediador faz com que esses neurónios não sejam activados e não cumpram a sua função, dando origem a sintomas, neste caso, perda de memória.
É na sua grande maioria uma doença não-hereditária, ou seja, esporádica, relacionada com o envelhecimento. Embora possa manifestar-se em idades mais precoces, a sua prevalência aumenta de uma forma exponencial a partir dos 65 anos de idade, duplicando a cada 5 anos.5

Apesar dos distúrbios de memória serem os sintomas comuns apresentados, os problemas de memória raramente existem isoladamente; a maioria dos pacientes está debilitada em duas ou mais áreas cognitivas:
1) Memória: Os erros mais comuns de memória ocorrem nos testes de memória recente (secundária).
2) Linguagem: As circunlocações, paráfases semânticas e o uso de palavras “vazias” são evidentes. A diminuição da fluência verbal é também evidente e pode ser prontamente detectada em tarefas que exigem do paciente nomear membros de uma categoria durante um minuto.
3) Função visuoespacial: Desorientação geográfica, inicialmente em ambientes novos, mas também nos arredores familiares conforme a doença progride.
Muitos pacientes demonstram uma exacerbação das características de sua personalidade, outros podem experimentar uma inversão na personalidade. Em alguns casos há desinteresse, apatia, despego e inibição. Desconfiança e paranóia também podem ocorrer.

Esta doença é dividida em quatro fases: inicial, intermediária, final e terminal. A fase inicial é caracterizada por alterações na afetividade e déficit de memória recente. Na fase intermediária, os déficits cognitivos (orientação, linguagem, memória, raciocínio e julgamento) estão altamente prejudicados, afetando as atividades instrumentais e operativas.
Além disso, outra característica que marca a fase intermediária é o início das dificuldades motoras. A marcha pode estar prejudicada, com lentidão global dos movimentos, aumento do tônus muscular e, muitas vezes, apraxias (incapacidade de executar os movimentos apropriados para determinados fins). Na fase final, a capacidade intelectual e a iniciativa estão deterioradas. Os estados de apatia e prostração serão responsáveis pelo confinamento ao leito ou à poltrona, as alterações neurológicas se agravam: a rigidez aumenta consideravelmente e os movimentos estarão lentificados e por vezes estereotipados.
A fase terminal é caracterizada por restrição ao leito, praticamente durante o tempo todo, acabando por adotar a posição fetal. As contraturas dos membros inferiores tornam-se inextensíveis e irrecuperáveis. Os membros superiores adotam posição fletida junto ao tórax e a cabeça pende em direção ao peito; podem surgir lesões nas palmas das mãos, por compressão destas pelos dedos flexionados, e grandes úlceras de pressão, incontinência urinária e fecal, problemas pulmonares, total indiferença ao meio externo, mutismo e estado vegetativo.1

Etiologia
As alterações descritas por Alois Alzheimer no cérebro de doentes têm sido a base da investigação da causa na doença de Alzheimer. Os estudos, bioquímicos e estruturais, das placas neuríticas e das tranças neurofibrilares realizados até à data sugerem que um dos principais factores da morte dos neurónios tem a ver com o processamento de uma proteína chamada Proténa Percursora de Amilóide, a APP. Apesar de os casos hereditários de doença de Alzheimer serem os mais raros, a identificação dos genes que provocam doença de Alzheimer foi muito importante, já que todos têm a ver com esta proteína. As alterações do gene da APP ou das presenelinas 1 e 2 provocam um desvio do processamento da APP no sentido da formação dos oligómeros insolúveis e tóxicos e provocam doença de Alzheimer.
Em relação à proteína tau, o facto de ser única alteração em algumas doenças neurológicas faz com que o seu papel na morte dos neurónios seja indiscutível. Mas o que provoca esta alteração não é tão bem compreendido, assim como a sua relação com a patologia β-amilóide.
Seja qual for o factor desencadeante da doença, vários factores acontecem no cérebro dos doentes com doença de Alzheimer que são passíveis de participar na morte dos neurónios. A inflamação, o aumento de radicais livres, etc.
Sendo assim, a doença de Alzheimer continua a ser uma doença sem causa conhecida, mas tudo parece indicar que vários factores, tanto genéticos como provenientes do ambiente, possam, no seu conjunto, ser os responsáveis pela doença.5
Os fatores de risco nesta doença são a idade, a baixa escolaridade, o estilo de vida sedentário, algumas situações patológicas (traumatismo craniano, diabetes mellitus e a depressão) e, do ponto de vista genético, serem portadores de três genes identificados como responsáveis por esta doença (o gene da APP, da presenilina 1 e da presenilina 2), influenciados pelo alelo ε4. Estes genes são autossómicos dominantes contudo, nem todos os portadores destes três genes irão ter a manifestação da doença.

Diagnóstico
O diagnóstico clínico da DA se baseia na observação de quadro clínico compatível e na exclusão de outras causas de demência por meio de exames laboratoriais e de neuroimagem estrutural. A tomografia computadorizada e, particularmente, a ressonância magnética revelam atrofia da formação hipocampal e do córtex cerebral, de distribuição difusa ou de predomínio em regiões posteriores. Esses pacientes preenchem os critérios diagnósticos da denominada DA provável. Outra possibilidade é o diagnóstico de DA possível, em que os pacientes apresentam variações na forma de apresentação ou evolução clínica e também nos casos em que outras condições passíveis de produzir demência estejam presentes, porém sem serem consideradas, com base em juízo e experiência clínica, responsáveis pelo quadro demencial. O diagnóstico definitivo só é possível por exame anatomopatológico.
A acurácia diagnóstica quando da presença de perfil clínico característico e de exames complementares normais ou inespecíficos (quadro compatível com DA provável), segundo os estudos com confirmação anatomopatológica, é de, em média, 81%, taxa que se eleva com o seguimento dos pacientes.2
Contudo, importa referir que ainda são muito utilizados os critérios do diagnóstico clássico da doença e que este requer dois passos.
O primeiro passo é determinar se o doente tem uma demência, ou seja, determinar se o doente tem uma alteração de memória para factos recentes e pelo menos alteração de um outro domínio cognitivo que sejam suficientes para interferir na capacidade de o doente realizar as suas tarefas da vida diária e para manter a sua relação social com os outros com a com a qualidade que era habitual para essa pessoa.
O segundo passo tem por função determinar se a causa da demência é uma doença de Alzheimer, o que exige que se afastem outras hipóteses que possam justificar a perda apresentada pelo doente.5
O diagnóstico passa então por se verificar a existência de uma demência e exclusão de outras causas o que permite que em 90% dos casos o diagnóstico seja feito corretamente embora haja casos de pessoas com doença de Alzheimer não detetados por estas ainda não cumprirem os critérios para terem uma demência. Vários autores discordam desta visão e têm elaborado os seus conceitos baseando-se num diagnóstico mais precoce contudo, o diagnóstico da doença de Alzheimer mantém-se um diagnóstico que se baseia nas características dos sintomas que o doente apresenta e na exclusão de outras doenças.5

Tratamento
O tratamento da doença de Alzheimer deve ser encarado em diversas frentes (figura 1).5 Uma forma de prevenção da doença de Alzheimer passa por medidas que previnem o enfarte do miocárdio e cerebral, tais como o tratamento precoce da hipertensão arterial, do aumento do colesterol e dos triglicerídeos e da obesidade, entre outras.5
O tratamento farmacológico da DA pode ser definido em quatro níveis: (1) terapêutica específica, que tem como objetivo reverter processos patofisiológicos que conduzem à morte neuronal e à demência; (2) abordagem profilática, que visa a retardar o início da demência ou prevenir declínio cognitivo adicional, uma vez deflagrado processo; (3) tratamento sintomático, que visa restaurar, ainda que parcial ou provisoriamente, as capacidades cognitivas, as habilidades funcionais e o comportamento dos pacientes portadores de demência; e (4) terapêutica complementar, que busca o tratamento das manifestações não-cognitivas da demência, tais como depressão, psicose, agitação psicomotora, agressividade e distúrbio do sono.
O tratamento da DA envolve estratégias farmacológicas e intervenções psicossociais para o paciente e seus familiares… No campo do tratamento farmacológico, inúmeras substâncias psicoativas têm sido propostas para preservar ou restabelecer a cognição, o comportamento e as habilidades funcionais do paciente com demência. Contudo, os efeitos das drogas hoje aprovadas para o tratamento da DA limitam-se ao retardo na evolução natural da doença, permitindo apenas uma melhora temporária do estado funcional do paciente.
Os inibidores das colinesterases (I-ChE) são as principais drogas hoje licenciadas para o tratamento específico da DA. Estes são a Tacrina, o Donepezilo, a Rivastigmina e a Galantamina.
Devido à Tacrina necessitar de 4 tomas diárias e ao seu elevado risco de hepatotoxicidade, fez com que este fármaco caísse em desuso.
Mais recentemente, embora tenha surgido nos anos 90, passou a ser usada a memantina que atua na neurotransmissão glutamatérgica que, assim como a colinérgica, encontra-se alterada nessa doença.4

Para além destes fármacos, específicos no tratamento da doença de Alzheimer, outros são necessários para tratamento de sintomas que vão surgindo, como a insónia, a agitação, a agressividade.
O tratamento destes aspectos deverá ser cauteloso, já que os fármacos disponíveis têm outros efeitos que podem prejudicar a saúde do doente e agravar a sua perda de capacidade intelectual. O papel do cuidador é aqui muito importante, pois pode, para além de estimular o doente, fazendo uma reabilitação cognitiva caseira, evitar estes sintomas.5

Caso Clínico
Neste capítulo irá ser descrito o caso clínico em estudo expondo os dois episódios de internamento, da doente em causa, que se sucederam no mês de Fevereiro e Março de 2013. A doente de acordo com a escala Fast proposta por Reisberg encontra-se no nível 6d pois, para além de ser dependente total nas atividades de vida diária, já apresenta incontinência urinária.

Primeiro Internamento
AP, doente do sexo feminino, de 82 anos, com doença de Alzheimer, deu entrada no hospital, no dia 17 de Fevereiro de 2013, por diminuição do volume de urina e a filha refere ainda maior prostração que a habitual e hipotermia. Nega tosse ou expetoração ou queixas gastrointestinais (Segundo Informação Colhida (SIC)). Doente acamada há cerca de um ano e só faz levante para o cadeirão com ajuda total. É mãe de sete filhos vivos pois, teve um filho do sexo masculino que morreu com 11 meses de idade (ver Anexo 1). A doente, segundo a filha, é comunicativa, pouco colaborante e dependente total para todas as atividades de vida diárias. Quando chegou ao hospital vinha consciente, prostrada e não reativa a estímulos dolorosos.

1. MOTIVO DE ADMISSÃO
Houve vários motivos para a admissão desta doente no Serviço de Urgência cujos diagnósticos foram:
– Diagnóstico de admissão: Rabdomiolise;
– Diagnóstico principal: Pneumonia;
– Diagnóstico secundário: Insuficiência Renal Crónica;
– Diagnóstico secundário: Infecção do trato urinário;
– Diagnóstico secundário: Hipotermia;
– Diagnóstico secundário: Fibrilhação Auricular com resposta ventricular lenta.

2. HISTÓRIA CLÍNICA
Antecedentes:
– Acamada há cerca de 1ano, alterna cama/cadeirão;
– Demência de Alzheimer;
– Insuficiência Cardíaca Congestiva;
– Fibrilhação Auricular crónica não hipocoagulada.

EVOLUÇÃO DURANTE O INTERNAMENTO E ESTADO CLÍNICO DO DOENTE NA ALTA
Doente com evolução favorável.

TERAPÊUTICA PROPOSTA
– Triflusal Generis 1cp de 12/12h;
– Lisinopril GP 20mg ½ cp às 9h;
– Donepezilo Alter 5mg 1cp/dia

INSTRUÇÕES DE FOLLOW UP
Alta para o domicílio, no dia 28 de Fevereiro de 2013.
– Foi suspensa lanoxin MD por bradicardia. No dia de alta FC: 64pm.
– Foi suspenso lasix por desidratação.
– A medicação neuropsiquiátrica (bromazepam, trazodone, lamotrigina) foi suspensa pela prostração apresentada. Deve ser reintroduzida gradualmente e segundo a necessidade da doente, a reavaliar pelo médico de família e neurologista/psiquiatra.

Segundo Internamento

AP, doente do sexo feminino, de 82 anos, com doença de Alzheimer, deu entrada no hospital, no dia 14 de Março de 2013, por Sépsis com ponto de partida provável urinário com disfunção multiorgânica. Quando chegou ao hospital vinha em estado comatoso, com hipotermia de 30ºC, não reactiva a estímulos dolorosos nem verbais. Durante o internamento, subida da troponina, sem alterações electrocardiográficas até valores de 0,592, com posterior normalização e foi identificada uma falência multiorgânica (cardiovascular, renal, neurológica).
MOTIVO DE ADMISSÃO
O motivo para a admissão desta doente no Serviço de Urgência foi Sépsis e cujos diagnósticos identificados foram:
– Diagnóstico principal: Coque Séptico, com ponto de partida urinário;
– Diagnóstico secundário: Insuficiência Renal Aguda;
– Diagnóstico secundário: Insuficiência Cardíaca Congestiva;
– Diagnóstico secundário: Doença de Alzheimer;
– Diagnóstico secundário: Cistite Aguda;
– Diagnóstico secundário: Fibrilhação Auricular.

HISTÓRIA CLÍNICA

Antecedentes:
– Doença de Alzheimer, acamada há mais de 1ano, totalmente dependente nas AVDs;
– Insuficiência Cardíaca;
– Fibrilhação Auricular permanente;
– Internamentos anteriores:
» Outubro de 2011: Infecção do trato urinário por Escherichia coli multissensível e desidratação;
» Fevereiro de 2013: Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) direita (ceftriaxone + azitromicina); terá suspenso digoxina por bradicardia.

INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS
– Promovido o aquecimento corporal;
– Iniciada antibioterapia empírica com piperacilina/tazobactam;
– Colocada de sonda vesical;
– Diurese mantida ao longo de todo o internamento;
– Proposta aos familiares de institucionalização da doente num lar com condições para doentes com doença de Alzheimer;
– Ajuda total em todas as AVDs.

TERAPÊUTICA PROPOSTA
– Ácido acetilsalicílico 100mg 1cp após almoço;
– Trifusal Mylan 300mg 1cp/dia;
– Carvedilol Sandoz 6,25mg ½ cp de 12/12h;
– Nitroglicerina (Nitradisc) 5mg 1 das 8h às 22h;
– Risperidona Cinfa 1mg 1cp ao deitar;
– Ramipril + Hidroclorotiazida Mylan 2,5mg + 12,5mg 1cp/dia;
– Donepezilo Labesfal 5mg 1cp/dia.

INSTRUÇÕES DE FOLLOW UP
Alta para o domicílio, no dia 27 de Março de 2013.
– Dieta meio sal.
Na descrição do caso clínico a informação aqui exposta foi feita através da informação obtida nas notas de alta e através de questões colocadas a uma das irmãs da doente, por esta ser a pessoa que mais acompanhou a doente durante os internamentos e, consequentemente, ser a pessoa da família que tem mais informação sobre os internamentos que possa facultar para a realização deste trabalho.

Conclusão
Com o desenrolar deste trabalho de Estudo de Caso, foram identificados vários aspetos a ter em conta na intervenção do enfermeiro, no que respeita às necessidades da pessoa com demência, neste caso particular com doença de Alzheimer, de modo a maximizar a qualidade de vida, conforto, dignidade e autonomia, conforme a fase da doença em que o doente se encontra. As intervenções identificadas incluem o uso de antibioterapia, bem como outros aspetos relevantes, apesar de a doente já estar numa das fases mais avançadas da doença, sendo já uma doente para cuidados paliativos. Assim, torna-se pertinente a elaboração de um plano com as intervenções de enfermagem segundo as necessidades que a doente apresentou, fazendo também referência às intervenções que lhe foram prestadas.
Parti da evidência científica existente e atual da informação que recolhi durante as pesquisas que efetuei para a elaboração do quadro de intervenções no âmbito de enfermagem para doente com doença de Alzheimer. O objetivo principal deste estudo de caso era a criação do quadro de intervenções de enfermagem à pessoa com doença de Alzheimer, para que a prática de cuidados de enfermagem e, consequentemente, de saúde seja cada vez mais baseada na evidência científica. Este trabalho de prática baseada na evidência, e muitos outros que têm vindo a ser feitos, vêm contribuir para este aspeto importante de procurar basear as nossas intervenções em evidência comprovada cientificamente, caminhando progressivamente para uma prática com mais qualidade.
Assim concluí que se trata de informação importante para o contexto de trabalho, na medida em que contactamos frequentemente com este tipo de situações clínicas. Tal permite uma abordagem mais segura e eficaz deste desafio com melhores cuidados ao utente e de forma a maximizar a qualidade de vida, o conforto e a promoção da dignidade do doente.

Referências Bibliográficas

1. Caldeira, Ana Paula S. & Ribeiro, Rita de Cássia H.M. (2004). O enfrentamento do cuidador do idoso com Alzheimer. Arq Ciênc Saúde, p. 3.
2. Caramelli, Paulo & Barbosa, Maira Tonidandel (2002). Como diagnosticar as quatro causas mais frequentes de demência?. Rev Bras Psiquiatr, p. 8.
3. Engelhardt, Eliasz, et al. (2005). TRATAMENTO DA DOENÇA DE ALZHEIMER. Recomendações e sugestões do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. Arq Neuropsiquiatr, p. 1106.
4. Forlenza, Orestes V. (2005). Tratamento farmacológico da doença de Alzheimer. Rev. Psiq. Clín. 32 (3), p. 139, 140.
5. Garrett, Carolina (2007). ALZHEIMER. Lisboa: Quidnovi, p. 33, 34, 36, 37, 40, 45, 48, 77, 78, 85, 86, 91, 92.
6. http://grupo4te.com.sapo.pt/mie2.html, consultado a 15/05/13.

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Out 3, 2013

Doença de Alzheimer, conhecer melhor para melhor intervir

Alzheimer’s Disease, better known for better intervene

Enfermedad de Alzheimer, más conocido por intervenir mejor

Simone Raquel Pinto Saraiva (Enfermeira no Lar Monterey – Lisboa)

 

Resumo

A doença de Alzheimer é uma doença degenerativa atualmente incurável mas que possui tratamento. O tratamento permite melhorar a saúde, atrasar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar as alterações de comportamento e proporcionar conforto e qualidade de vida à pessoa que a possui e sua família.

Objetivo: Com este trabalho, pretende-se, sobretudo, conhecer melhor esta doença e tudo o que nela está implícito. Este conhecimento vai levar também a criar intervenções de enfermagem mais apropriadas a este tipo de doentes.

Metodologia: Para a elaboração deste trabalho os recursos utilizados foram a consulta bibliográfica relacionada com o tema em estudo e à consulta webliográfica recorrendo à pesquisa eletrónica no motor de busca Google.

Conclusão: Com a informação recolhida sobre a Doença de Alzheimer, foram elaboradas intervenções de enfermagem ao individuo que apresenta esta, tendo por base a mais recente evidência científica.

PALAVRAS-CHAVE: Doença de Alzheimer, Diagnóstico, Tratamento, Intervenções de Enfermagem

Abstract

Alzheimer’s disease is a degenerative disease currently incurable but who has treatment. The treatment allows improving health, delaying the cognitive decline, treating the symptoms, controlling changes of behavior and provide comfort and quality of life the person that owns it and his family.

Objective: With this work, it is, above all, know this disease better and everything in it is implicit. This knowledge will also lead to create nursing interventions most appropriate to this type of patients.

Methodology: For the elaboration of this work the resources used were the bibliographic consultation related to the topic under study and consultation webliografica using electronic searches in the search engine Google.

Conclusion: With the information gathered on the Alzheimer’s Disease, were drawn up nursing interventions to individual who presents this, based on the most recent scientific evidence.

KEYWORDS: Alzheimer’s Disease, Diagnosis, Treatment, Nursing Interventions

Introdução

O aumento da esperança média de vida e o acréscimo das doenças crónicas progressivas e incuráveis na população adulta e idosa, aliados à busca incessante da melhoria da qualidade de vida, estão intimamente relacionados com o progresso dos cuidados de saúde. Um dos problemas de saúde atuais é as demências, como a doença de Alzheimer, que representam um grande custo económico para as intuições de saúde e são causa de sofrimento e diminuição da qualidade de vida para as pessoas que as possuem, como também para as suas respetivas famílias. Para além destes problemas, o facto de estes doentes serem tratados como os doentes agudos, leva a que as intervenções por parte dos profissionais de saúde não sejam as mais corretas e por vezes exista mesmo obstinação terapêutica. Estas situações levam-nos a pensar que, na área da saúde, deve existir outro tipo de intervenções terapêuticas, o que nos remete para os cuidados ao individuo conforme as suas necessidades, aceitando a sua incurabilidade, ou seja, as intervenções realizadas à pessoa com doença devem ser paliativas.

Isto remete-nos para a prestação de cuidados paliativos que, segundo a Organização Mundial de Saúde (2002), citado pela Associação Nacional de Cuidados Paliativos (2006, p. 2, 3)1 são uma abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos doentes que enfrentam problemas decorrentes de uma doença incurável com prognóstico limitado, e/ou doença grave (que ameaça a vida), e suas famílias, através da prevenção e alívio do sofrimento, com recurso à identificação precoce, avaliação adequada tratamento rigoroso dos problemas não só físicos, como a dor, mas também dos psicossociais e espirituais.

Apesar de atualmente, a maioria da população pensar que os cuidados paliativos são só para os doentes oncológicos, em fase terminal, já se começa a mudar esse pensamento tão restritivo e segundo António Barbosa e Isabel Galriça Neto (2010, p. 247)3, “os cuidados paliativos devem, pois, ser oferecidos com base num conjunto de necessidades e não com base nos diagnósticos. É preciso garantir a justiça e a equidade no acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente paliativos, para este numeroso grupo de doentes incuráveis, dentre os quais queremos destacar os doentes com demência avançada”. Isto leva a que a dicotomia entre cuidados curativos e cuidados paliativos esteja a esbater-se pois, o ideal é existirem ações paliativas nos doentes agudos que posteriormente necessitaram de cuidados paliativos, como os doentes com alzheimer e ações curativas nos doentes paliativos, como por exemplo uma cirurgia ortopédica por fratura do colo do fémur, num doente oncológico. Ou seja existir o modelo integrado em vez do modelo separado que é o modelo que ainda persiste na maioria das nossas instituições.

A doença de Alzheimer é uma demência. Segundo Letícia Lessa Mansur et al (2005, p. 300)6 pelos critérios do DSM IV (APA, 1994), considera-se dementes os indivíduos que evidenciam deterioração cognitiva particularmente da memória, a qual afeta as atividades da vida cotidiana. A DA se insere entre os quadros progressivos irreversíveis, cujo declínio cognitivo tem bases estruturais, com tempo de evolução variável, sendo a sobrevida, em média, de 8 anos após o início dos sintomas.

Já António Barbosa e Isabel Galriça Neto (2010, p. 248)3 dizem que a demência pode definir-se como uma síndrome de instalação progressiva em que ocorre deterioração cognitiva e intelectual, que depois persiste, acompanhada por um progressivo declínio funcional e da autonomia da pessoa doente, com implicações claras na sua sobrevida, já que eventualmente virá a falecer devido a essa mesma patologia ou às limitações que a mesma determina (imobilismo, alterações da deglutição e infecções associadas). Este quadro demencial tem na sua origem diferentes etiologias possíveis, sendo a demência de Alzheimer responsável pela maioria dos casos, …em cada 10 doentes com demência, 6 terão a doença de alzheimer … no entanto há uma pequena percentagem de doentes que pode apresentar demência de múltiplas causas.

A fase evolutiva e prognóstico no caso da demência de Alzheimer, segundo António Barbosa e Isabel Galriça Neto (2010, p. 250)3, de acordo com a escala Fast proposta por Reisberg para avaliação e estadiamento funcional, existem 7 estadios, …O estadio 5 corresponde a doença moderada (o doente requer assistência nas tarefas complicadas, como escolher a roupa adequada, e na higiene pessoal), o 6 o de doença moderadamente severa (para além do anterior, surgem problemas de incontinência urinária e/ou fecal) e no 7, doença severa, ocorre redução acentuada do vocabulário que se limita a meia dúzia de palavras inteligíveis ao longo do dia, perda mímica facial, incapacidade de andar e perda de equilíbrio da cabeça. A fase avançada da doença caracteriza-se claramente por problemas de mobilidade, dificuldade na alimentação (disfagia ou recusa alimentar), incontinência e infecções de repetição (respiratórias, urinárias e/ou de feridas).

Nos doentes com demência avançada, como perdem a capacidade de se expressarem bem verbalmente, a avaliação do sofrimento e o controlo de sintomas estão dificultadas, contudo António Barbosa e Isabel Galriça Neto (2010, p. 250)3 afirmam que os sintomas mais frequentes serão as alterações comportamentais, a dor abdominal (atenção à obstipação, à retenção urinária e aos fecalomas), as dificuldades na alimentação, a febre e as infecções, e a retenção de secreções respiratórias, também o delirium e a agitação, assim como o apoio aos prestadores de cuidados merecem destaque nas intervenções terapêuticas.

Por tanto, uma boa avaliação prognóstica é fundamental para se fazer corretamente os diagnósticos de intervenção no doente e consequentemente as intervenções mais adequadas a utilizar.

Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é uma doença degenerativa que, lenta e progressivamente, destrói as células cerebrais. Chama-se assim porque foi Alois Alzheimer, um médico psiquiatra, e neuropatologista, alemão, quem em 1906 descreveu pela primeira vez os sintomas e as características neuropatológicas da doença de Alzheimer, tais como placas e tranças neurofibrilhares no cérebro. A doença afecta a memória e o funcionamento mental (por exemplo o pensamento e a fala, etc), mas pode igualmente levar a outros problemas, tais como confusão, alterações de humor e desorientação no tempo e no espaço2.

Nesta doença a perda de memória e de faculdades intelectuais é ligeira no início, sendo mesmo impercetível por parte do indivíduo e dos familiares, contudo ao longo da sua progressão vai-se tornando percetível de tal modo que começa a afetar as atividades de vida diárias do indivíduo o que leva a que este passe a ser dependente para estas mesmas atividades. Por exemplo, uma mulher, quando se encontra numa fase intermédia da doença, perde a capacidade de controlo dos esfíncteres o que leva à incontinência urinária e, tendo o autocuidado da higiene diminuído, leva a que esteja dependente de um cuidador para que este autocuidado lhe seja prestado. Isto impede que outras doenças oportunistas se manifestem, como por exemplo a infecção urinária. Por tanto, a doença de Alzheimer é uma doença não infeciosa nem contagiosa mas sim uma doença terminal que causa uma deterioração geral na saúde do indivíduo que a possui2.

Na doença de Alzheimer a causa mais comum de morte é a pneumonia, porque à medida que a doença avança, o sistema imunitário vai deteriorando com progressiva perda de peso, o que aumenta o risco de infeções da garganta e dos pulmões2.

Esta doença no passado era considerada uma forma de demência pré-senil, contudo na atualidade sabe-se que esta doença afeta também pessoas com idade inferior a 65 anos e é designada quer de demência pré-senil, quer de demência senil do tipo Alzheimer, dependendo da idade da pessoa que a possui.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz-nos que a doença de Alzheimer deve ser considerada uma prioridade mundial pois, ao longo dos anos e a nível mundial, o seu aumento está a ser exponencial, sobretudo nos países de baixo e médio desenvolvimento.

O diagnóstico desta doença não é linear pois não existe um teste especial para determinar se alguém tem doença de Alzheimer. O diagnóstico é feito por um processo de exclusão, bem como por uma observação cuidadosa do estado físico e mental da pessoa, mais do que por a doença parecer ser evidente no momento2.

 Há de facto três diagnósticos possíveis: doença de Alzheimer possível, provável ou certa. Um diagnóstico de possível doença de Alzheimer baseia-se na observação dos sintomas clínicos e na deterioração de duas ou mais funções cognitivas (por ex. a memória, a linguagem ou o pensamento), sempre que uma segunda doença está presente, que não se considera ser a causa de demência, mas faz com que o diagnóstico de doença de Alzheimer seja menos certo. O diagnóstico é classificado como provável, com base nos critérios acima mencionados, na ausência de uma segunda doença. A única maneira de confirmar com certeza o diagnóstico de doença de Alzheimer, é a identificação das características placas e tranças no cérebro. Por esta razão, o terceiro diagnóstico, o da doença de Alzheimer de certeza, só pode ser feito por biópsia cerebral ou depois de se ter efectuado uma autópsia2.

O diagnóstico precoce, por tudo o que foi acima referido acerca desta doença é importante para que a prestação dos cuidados prestados, à pessoa com a doença de Alzheimer, sejam os mais adequados possível de modo a que a qualidade de vida esteja garantida.

Nos cuidados de enfermagem, a promoção de uma melhor qualidade de vida à pessoa tem um especial relevo, e tem como objetivo ideal promover a recuperação da qualidade de vida da pessoa antes de requerer cuidados. No caso dos cuidados paliativos como nem sempre é possível atingir este patamar mas, é possível proporcionar uma qualidade de vida baseada nas necessidades apresentadas pelo doente. Isto só é possível com a aquisição do conhecimento científico por parte dos enfermeiros e restantes profissionais de saúde, onde a prática baseada na evidência se torna um ótimo recurso. Para além de melhorar a qualidade de vida das pessoas, a prática baseada na evidência implicará menos gastos económicos, fazendo com que os cuidados de enfermagem passem a ser eficientes. Tal, significa menos custos diretos e indiretos à instituição e também ao próprio utente, família do utente e todas as entidades intervenientes no processo de tratamento deste.

Aqui, a investigação tem um papel fundamental para o constante desenvolvimento tecnológico e científico dos cuidados de enfermagem, promovendo a qualidade dos mesmos. Sobre isto, é importante referir que os enfermeiros contribuem no exercício da sua atividade para a área de gestão, investigação e formação com o intuito de melhorar e evoluir a prestação dos cuidados de enfermagem: os enfermeiros concebem, realizam, promovem e participam em trabalhos de investigação que visem o progresso da enfermagem, em particular, e da saúde, em geral8.

Para que tudo isto seja alcançado, subsiste então a necessidade de haver um trabalho de pesquisa por parte dos profissionais de saúde em realizar estudos de caso, promovendo também a pesquisa científica pois, só assim irão alcançar a informação necessária para a prestação de cuidados de enfermagem centrados nas necessidades da pessoa com doença de Alzheimer, promovendo acima de tudo a qualidade de vida nos estadios em que a pessoa se encontra perante a mesma doença.

É preciso não esquecer que este tipo de doentes se encontra em todos os serviços de saúde e, por isso, há necessidade de que todos os profissionais de saúde estejam despertos para tais necessidades e, de saber quais as intervenções a realizar à pessoa com doença de Alzheimer para que a qualidade de vida seja proporcionada ao máximo nível de que esta necessita.

Então as necessidades da pessoa com doença de Alzheimer deve ser uma prioridade com que os enfermeiros se devem preocupar, quando tratam da pessoa com esta doença, a qualidade de vida e as suas necessidades devem ter a maior atenção por parte dos enfermeiros e de toda a equipa multidisciplinar.

Intervenções de Enfermagem

Como já foi referido, a doença de Alzheimer nas fases mais avançadas da doença tem indicação para cuidados paliativos pois, é uma doença progressiva e incurável. Como tal, as intervenções de enfermagem centram-se não só na comunicação, no trabalho da equipa multidisciplinar e da pessoa e família, como também no controlo de sintomas.

O tratamento desta doença passa, não só pela prevenção e tratamento desta, mas também pelo tratamento dos sintomas proporcionando assim uma melhor qualidade de vida e indo de encontro às necessidades que o doente vai apresentando. Por isso, ir-se-á abordar as intervenções aos sintomas mais comuns da doença de Alzheimer.

Existe evidência de que a dor é genericamente subavaliada e subtratada nestes doentes. Deverão ser sempre valorizadas a linguagem não verbal – postura, fácies -, as mudanças nas vocalizações, padrão respiratório, e as mudanças no padrão habitual de interacções interpessoais… Dentre as várias escalas de avaliação da dor para não comunicantes, queremos aqui destacar a escala DS-DAT (Disconfort Scale for Dementia of Alzheime’s Type), proposta por Hurley e que avalia 9 categorias de comportamentos (da expressão facial, aos vocalizos, à tensão e linguagem corporal), cada uma de 0 a 4, sendo as pontuações totais mais baixas as relacionadas com maior conforto… Os princípios preconizados pela OMS e largamente difundidos para o tratamento da dor crónica – “tratamento pela escala analgésica, pela boca e pelo relógio, em função da intensidade da dor” – aplicam-se também a estes doentes. A utilização de opióides não deve ser negligenciada, no caso de se tratar de dor moderada a severa, considerando que estes doentes já têm normalmente tendência, pelo imobilismo, a desenvolver obstipação, pelo que a introdução de laxantes pode ser imprescindível. No caso do doente não deglutir, preconiza-se o recurso a vias de administração alternativas à via oral, como a subcutânea e a transdérmica3.

Importa sublinhar que a dor não tratada é muitas vezes o factor que está na base de alterações do comportamento e de agitação3.

A existência de demência torna os indivíduos mais susceptíveis à ocorrência de delirium, bem como à ocorrência de efeitos secundários de vários fármacos (anticolinérgicos, opióides, neurolépticos, por exemplo). Não se devem usar doses subterapêuticas ou invocar os efeitos secundários dos fármacos – ainda mais sendo eles tratáveis – para não recorrer a um acertado controlo sintomático da agitação, pilar central da promoção da dignidade e qualidade de vida destes doentes e seus familiares… Por outro lado, não é demais sublinhar a necessidade de o regime terapêutico contemplar medicação pautada (“a horas certas”) e depois sempre com um SOS disponível3.

No caso de agitação psicomotora convém sempre descartar a presença de dor não tratada, de fecalomas e/ou retenção urinária3.

Os antipsicóticos neurolépticos, sobretudo os atípicos (risperidona, olanzapina, clozapina…), desprovidos de efeitos extra-piramidais, são a base para o tratamento correcto destes sintomas perturbadores, e devem ser progressivamente titulados3.

Nestes doentes é inevitável que surjam problemas alimentares, associados à dificuldade de deglutição (para sólidos e líquidos) e à recusa alimentar. Convém insistir em medidas não invasivas, como o alimentar o doente lenta e pacientemente à mão, em quantidades bem menores que as habituais, mas suficientes para as suas necessidade reduzidas, recorrer aos pequenos snacks, aos espessantes para líquidos e às gelatinas… A alimentação por sonda nunca deverá ser vista como substituta da alimentação oral, mesmo e, sobretudo, quando esta se torna uma tarefa muito demorada que exige muita paciência3.

A evidência existente demonstrada claramente que a alimentação por sonda, longe trazer bem-estar para o doente, aumenta a mortalidade e não traz outros benefícios esperados, como, por exemplo a prevenção da aspiração de secreções, a diminuição das infecções respiratórias ou a cicatrização de úlceras de pressão3.

Os mesmos autores referem que nas fases mais iniciais das demências a colocação da gastrostomia percutânea (PEG) é preferível à sonda nasogástrica (SNG) por ser menos invasiva, mas este procedimento deve ser afastado, nas fases mais avançadas, por risco de arritmias fatais e morte peri-operatória3.

No caso de o doente manifestar diminuição de apetite, deve-se descartar algumas causas reversíveis como a obstipação, alterações das preferências alimentares, má higiene oral (a sua ausência provoca desconforto e o não prazer no saborear dos alimentos) ou dor não tratada3.

Nos doentes com demência terminal existem vários factores que dispõem a ocorrência de febre e de infecções associadas: o imobilismo e as alterações da integridade cutânea associadas, à incontinência, à diminuição das defesas imunitárias e as dificuldades de deglutição. As infecções respiratórias, urinárias e de feridas são as que nestes doentes se verificam com maior frequência3.

Define-se “tratamento da pneumonia com intuito curatico “ e “tratamento paliativo”: o primeiro diz respeito a um tratamento que tem a cura de infecção como objectivo primário (o que se torna cada vez mais o tópico com a reincidência das infecções), e no segundo a cura não é só objectivo mas sim o tratamento dos sintomas resultantes da pneumonia, pelo desconforto que possam causar. Neste último caso, os antibióticos também poderão ser utilizados, preferencialmente em concomitância com medidas como a oxigenoterapira, os antipiréticos e os opióides3.

A antibioterapia em cuidados paliativos deve ser ponderada segundo os vários aspetos clínicos e éticos, apesar de ser uma medida invasiva. Esta será justificada se os benefícios ultrapassarem os malefícios e deverá ter sempre em conta a origem das infeções e a irreversibilidade dos fatores que as predispõem, assim como a ausência de melhorias significativas para o conforto do doente.

Como a doente apresentou infeções de variadas origens, nos dois episódios de internamento, a utilização de antibioterapia foi essencial para que a qualidade de vida e conforto lhe fossem proporcionados.

Já a hipotermia ocorre quando a temperatura normal do corpo, que é 37ºC. desce para menos de 35ºC (95ºF). A hipotermia é normalmente causada pela longa permanência num ambiente frio. A hipotermia é muitas vezes desencadeada pela exposição prolongada à chuva, ao vento, à neve ou a imersão em água fria5.

Durante uma exposição prolongada ao frio, o mecanismo de defesa do organismo tenta evitar a continuação da perda de calor. A pessoa começa a tremer para tentar manter os órgãos principais a uma temperatura normal. O fluxo sanguíneo para a pele é restringido e são libertadas hormonas para produção de calor5.

Sem tratamento, as pessoas que tenham hipotermia podem ficar bastante mal de repente, perder os sentidos e morrer.

Se estiver no exterior, tente abrigar-se e proteger-se do ambiente. Tire a roupa molhada e cubra os pés e as mãos para evitar mais perda de calor.

Para proteger os órgãos principais do organismo, aqueça primeiro o centro do corpo. Utilize um saco cama, um cobertor de emergência, contacto pele com pele ou camadas secas de cobertores, roupa, toalhas ou lençóis5.

Na insuficiência cardíaca principal causa é a isquemia cardíaca ou o enfarte do miocárdio. Enfarte significa morte tecidual, que no caso do coração se refere a parte do músculo cardíaco. Logo, quanto mais extenso for o enfarte, mais músculo morrerá, consequentemente, mais fraco fica o coração. Se o infarto necrosar uma grande área, o paciente morre por falência da bomba cardíaca10.

O tratamento é feito com restrição de sal e água, diuréticos, anti-hipertensivos (…Captopril, Enalapril, Losartan, etc.) e medicamentos que aumentam a força cardíaca como a digoxina. Os obesos devem emagrecer, os fumadores têm que largar o cigarro, álcool deve ser evitado e exercícios supervisionados para reabilitação cardíaca são indicados. A pressão arterial deve ser controlada com rigor10.

A fibrilhação auricular é a disritmia auricular mais rápida. É criada, e mantida, por um ou mais focos ectópicos de disparo rápido. As aurículas despolarizam caoticamente a frequências de 350 a 600 pulsações/minutos… Entre os fármacos usados…contam-se o diltiazem, a digoxina, e os beta-bloqueadores… Na fibrilhação auricular com resposta ventricular lenta, pode ser necessária a atropina para aumentar a frequência cardíaca e o débito cardíaco7.

A insuficiência renal é a incapacidade parcial ou total do(s) rin(s) desempenhar(em) a(s) sua(s) função(ões).

A insuficiência renal pode ser classificada em aguda ou crónica. Na aguda a insuficiência renal aparece em poucos dias e tem cura enquanto que na crónica a doença vai-se desenvolvendo e quando é detectada já é irreversível. Na segunda situação o doente tem que fazer hemodiálise (tratamento realizado pelo filtro de uma máquina ao sangue 3 vezes por semana no hospital), diálise peritoneal (tratamento feito em casa diariamente por uma máquina através de um cateter colocado no abdómen) ou transplante do rim11.

Hemodiálise na maioria das vezes representa uma esperança de vida, já que a doença é um processo irreversível. Contudo, observa-se que geralmente as dificuldades de adesão ao tratamento estão relacionadas à não aceitação da doença, à percepção de si próprio e ao relacionamento interpessoal com familiares e ao convívio social9.

O enfermeiro como coordenador da equipe deve coordenar a assistência prestada, identificando as necessidades individuais de cada cliente, proporcionando meios de atendimento que visem uma melhor adequação do tratamento, garantindo assim uma qualidade de vida melhor, aproveitando todos os momentos para criar condições de mudanças quando necessário9.

Com este processo de análise e extração de evidência relevante, foi encontrada informação importante que suporta as intervenções do enfermeiro ao doente com doença de Alzheimer. Como é referido no tratamento da infeção, por vezes a utilização de antibioterapia não é um tratamento agressivo face aos benefícios em contraste com os malefícios.

Assim com a evidência obtida, verifica-se que a delineação das intervenções de enfermagem segundo as intervenções terapêuticas e paliativas são onde o papel do enfermeiro ganha destaque como elemento ativo na atualização dos seus conhecimentos e prestação de cuidados. Desta forma é garantida a qualidade de vida e conforto ao doente, sem esquecer a dignidade que se mantém intacta. 

Conclusão

Com o desenrolar deste trabalho foram identificados vários aspetos a ter em conta na intervenção do enfermeiro, no que respeita às necessidades da pessoa com demência, neste caso particular com doença de Alzheimer, de modo a maximizar a qualidade de vida, conforto, dignidade e autonomia, conforme a fase da doença em que o doente se encontra. As intervenções identificadas incluem o uso de antibioterapia, bem como outros aspetos relevantes, apesar de a doente já estar numa das fases mais avançadas da doença, sendo já uma doente para cuidados paliativos.

Foi a partir da evidência cientifica existente e atual que foi recolhida a informação para a elaboração das intervenções no âmbito de enfermagem para doente com doença de Alzheimer.

A prática baseada na evidência, “tem sido descrita, como fazer bem as coisas certas” (Muir Gray, 1997; citado por Craig & Smyth, 2004, p.4)4, o que nos alerta para a importância de fazer as coisas não só de uma forma eficaz, mas sempre com a melhor qualidade possível. Este trabalho de prática, e muitos outros que tem vindo a ser feitos, vêm contribuir para este aspeto importante de procurar basear as nossas intervenções em evidência comprovada cientificamente, caminhando no sentido de uma prática com progressivamente mais qualidade.

Tal permite uma abordagem mais segura e eficaz deste desafio com melhores cuidados ao utente e de forma a maximizar a qualidade de vida, o conforto e a promoção da dignidade do doente.

Referências Bibliográficas/Webliográficas

  1. Associação Nacional de Cuidados Paliativos (2006). Organização de Serviços em Cuidados Paliativos. Recomendações da ANCP. p. 2, 3.
  2. Associação Portuguesa dos Familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer (2006). Manual do Cuidador. Lisboa: Ponticor – Realizações Gráficas, Lda., p. 18, 21, 22.
  3. Barbosa, António & Neto, Isabel Galriça (2010). Manual de Cuidados Paliativos. Lisboa: Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, p. 247, 248, 250, 251, 252, 253, 254, 255, 256.
  4. Conselho Internacional de Enfermeiros (2006). Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem CIPE. Versão 1.0. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros.
  5. Hipotermia. (2008). Queen’s Printer and Controller of HMSO, p. 1, 2.
  6. Mansur, Letícia Lessa, et al. (2005). Linguagem e Cognição  na Doença de Alzheimer. Psicologia: Reflexão e Crítica, p. 300.
  7. Marek, Phipps & Sands (2003). Enfermagem Médico-Cirúrgica. Loures: Lusociência, p.759.
  8. Ordem dos Enfermeiros (2003). Competências do enfermeiro de cuidados gerais. Divulgar, artigo 9.º, n.º4, p. 7, 8.
  9. Souza, Emilia Ferreira, et al. (2007). Diagnósticos de enfermagem em pacientes com tratamento hemodialítico utilizando o modelo teórico de Imogene King. Rev Esc Enferm USP, p. 630.
  10. http://www.mdsaude.com/2009/02/insuficiencia-cardiaca.html, consultado a 27/05/13.
  11. http://www.conhecersaude.com/adultos/3055-insuficiencia-renal-aguda-cronica.html, consultado a 27/05/13.
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Mar 11, 2013

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NURSING OUTCOME IN THE PERSON WITH NONINVASIVE VENTILATION AT HOME

RESULTADOS SENSIBLES EN LA ATENCIÓN DE ENFERMERÍA EN LA PERSONA SOMETIDA A VENTILACIÓN NO INVASIVA EN CASA

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AUTORES: Ana Correia, Clara Freitas, Cláudia Pereira, Fátima Ferreira

RESUMO

Objetivo: Demonstrar os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem à pessoa com VNI no domicílio.

Metodologia: Efetuada pesquisa na EBSCO (na CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, British Nursing Index). Foram procurados artigos em texto integral (Janeiro / 2012), publicados entre 2002 e 2011. Foi utilizado o método de PI[C]O e selecionados 10 artigos do total de 98 encontrados.

Resultados: Foram identificados indicadores de necessidades de cuidados que poderão condicionar a adesão à VNI no domicílio a que foram associados variáveis de resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem como: controle de sintomas, segurança / ocorrências adversas, apoio psicológico, utilização dos serviços de saúde, gestão do regime terapêutico e qualidade de vida.

Conclusões: O doente submetido a VNI devidamente apoiado pelos enfermeiros, resolve melhor as complicações inerentes ao tratamento refletindo-se na redução de internamentos hospitalares assim como uma maior estabilização clínica e melhor qualidade de vida no domicílio.

Implicações na prática profissional: Necessidade de formação inicial e contínua dos enfermeiros.

Palavras-chave: Ventilação mecânica não Invasiva (VNI), Resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem, Cuidados de Enfermagem.

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ABSTRACT

Objective: To demonstrate the results sensitive to nursing care to people with NIV at home.

Methodology: The research was carried out in EBSCO (CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, British Nursing Index). Articles were searched in full text (January/2012), published between 2002 and 2011. We used the method of PI [C]O and selected 10 items of total 98.

Results: Indicators of care needs that may restrict the adherence to the NIV at home were identified and associated with nursing outcome variables such as symptom management, adverse patient outcomes, psychological support, healthcare utilization, management of therapeutic regimen and quality of life.

Conclusions: The patient receiving NIV duly supported by nurses, best solves adverse outcomes of the treatment being reflected in reduced hospital admissions and greater clinical stability and better quality of life at home.

 Implications for practice: The need for initial and continuing training of nurses.

 Keywords: Noninvasive mechanical ventilation (NIV), Nursing Outcome and Nursing Care.

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INTRODUÇÃO

A ventilação não invasiva tem um papel cada vez mais importante quer em patologia aguda, quer na doença respiratória crónica (Ferreira, 2009). Evita a entubação endotraqueal e consequentemente os riscos associados, como por exemplo lesões da via aérea e pneumonias (Prado, 2008).

 Por ser fácil de instituir e de retirar, pode ser efetuada fora de uma unidade de cuidados intensivos, levando assim a uma diminuição do tempo de internamento hospitalar, da mortalidade e uma diminuição dos custos (Ferreira, 2009). O seu uso em doentes crónicos demonstrou benefícios fisiológicos que levaram à diminuição de necessidade de hospitalização e aumento da sobrevivência (Chang, 2010).

De acordo com a Canadian Thoracic Society (2011) os cuidados de saúde continuam a evoluir, sendo mais sofisticados, permitindo utilizar a tecnologia médica fora do ambiente hospitalar tradicional. Fatores como as preferências do doente e família, tecnologia de fácil manuseamento, escassez de camas a nível de internamento e a pressão económica sobre orçamentos hospitalares têm influenciado a transição de cuidados hospitalares para os cuidados na comunidade.

Em Portugal, o Relatório de Situação de Cuidados de Saúde Respiratórios Domiciliários publicado em 2010 refere que as doenças respiratórias crónicas graves, as perturbações respiratórias do sono e as doenças neuromusculares afetam mais de um milhão de doentes, sendo que no controlo clínico destas doenças estão indicadas a oxigenoterapia e ventiloterapia domiciliárias. A despesa do Sistema Nacional de Saúde com os Cuidados Respiratórios Domiciliários é da ordem dos 55,5 milhões de euros anuais, sendo que mais de 50% deste valor é referente à ventiloterapia. Os estudos disponíveis indicam claramente que a adesão dos doentes é muito baixa em virtude da falta de esclarecimento e supervisão. São vários os fatores descritos associados à tolerância e consequente adesão à VNI (Schneider et al, 2006) e por isso, tal como no doente agudo tratado em meio hospitalar, o doente com VNI no domicílio necessita de monitorização de parâmetros clínicos, supervisão por parte de profissionais e formação contínua (Prado, 2008).

Quando se iniciou o uso da VNI, a sua implementação era realizada exclusivamente por médicos. No entanto, mais recentemente a Enfermagem tem vindo a assumir um papel de grande responsabilidade na gestão deste tratamento (Rose e Gerdtz, 2009). Considera-se primordial que os enfermeiros que cuidam destes doentes tenham conhecimento sobre como implementar o tratamento, avaliar a monitorização e sucesso da intervenção (Jarvis, 2006). Transmitir competência, empatia e cuidado com profissionalismo facilita a adesão à terapêutica através da diminuição do stresse, do aumento da cooperação e motivação do doente (Pertab, 2009).

De acordo com Prado (2008), o doente crónico com VNI apresenta menos exacerbações agudas e menos internamentos, tem maior capacidade de resposta a exacerbações e melhor qualidade de vida. O Relatório de Situação (2010) supracitado acrescenta que estes doentes têm melhor integração familiar e social, e ao mesmo tempo permite uma importante redução de custos hospitalares. A Canadian Thoracic Society (2011) acrescenta ainda que o uso da VNI no domicílio tem aumentado a qualidade de vida destes doentes.

Neste contexto consideramos primordial a realização desta Revisão Sistemática de Literatura de forma a permitir uma reflexão sobre esta problemática. A nossa experiência profissional tem-nos mostrado que muitos dos doentes com VNI domiciliária de longa duração quando são internados apresentam várias dificuldades que condicionam a adesão e o uso correto do tratamento, dificuldades estas que se prendem com condições socioeconómicas dos doentes e familiares, como por exemplo as condições habitacionais, apoio de familiares, dificuldade de acesso aos cuidados de saúde quer primários, quer diferenciados. Existe também por parte das empresas fornecedoras dos equipamentos uma escassez de informação e de manutenção dos mesmos, apesar de todas facultarem um acesso telefónico gratuito no sentido de esclarecimento de dúvidas. Durante a nossa experiência de visita domiciliária de enfermagem deparámo-nos com uma elevada taxa de analfabetismo e idades superiores a 65 anos o que condicionava a exposição de dúvidas tanto aos técnicos como aos enfermeiros (enfermeiro da visita domiciliária respiratória e enfermeiro do Centro de Saúde da área de residência do doente). Estas dúvidas consistiam essencialmente no manuseamento do equipamento, higiene e manutenção do mesmo e complicações inerentes à VNI, pelo que se verificava a necessidade de realizar ensinos à pessoa e cuidador.

Face ao exposto pretendemos com esta Revisão Sistemática da Literatura demonstrar os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem à pessoa com VNI no domicílio.

CONCEITOS

Segundo Esquinas (2011, p.47),

“Ventilação mecânica não invasiva (VMNI) corresponde à aplicação de suporte ventilatório através de máscara ou de outra interface sem recurso a via aérea artificial invasiva, nomeadamente tubo endotraqueal ou de traqueostomia”.

Segundo Doran (2011),

Resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem são definidos como cuidados de enfermagem direcionados para as necessidades das pessoas ou grupo, nos seus determinantes da saúde, que têm por base fatores organizacionais, de experiência, e o nível de conhecimento elevado, com impacto direto no estado funcional, auto cuidado, controle de sintomas, segurança/ocorrência adversas e satisfação do cliente. Desenvolvem-se na mesma estrutura de qualidade proposta por Donabedian (2003) e está relacionada com variáveis do cliente (idade, género, educação, tipo e adversidade da doença e co morbilidades) variáveis dos enfermeiros (nível de ensino, experiencia, rácios, organização e carga de trabalho). Este processo engloba as ações independentes (intervenções de enfermagem) e ações interdependentes (comunicação em equipa, coordenação de casos e sua gestão).

Segundo Dalpezzo (2009),

Cuidados de Enfermagem consistem na prestação de cuidados com segurança, qualidade, ética e colaboração através de um processo individualizado, o qual é planeado e concebido com base nas melhores evidências disponíveis, cujos resultados nos doentes se revelam positivos, em relação à otimização da saúde, redução dos sintomas ou na preparação de uma morte pacífica.

METODOLOGIA

Para delimitar um vasto campo de hipóteses inerentes à problemática da VNI e a responder ao objetivo delineado, elaborou-se a seguinte questão de partida, que atende aos critérios do formato PICO (Melny e Fineout-Overholt, 2005): Em relação à pessoa submetida a VNI (Population), quais as variáveis de resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem (Outcomes), com a visitação domiciliária (Intervention)?

Por conseguinte, ao se definir o objeto alvo de estudo e ao se pretender uma compreensão mais ampla deste fenómeno foi levada a cabo uma pesquisa em base de dados eletrónica, na EBSCO em geral e, em particular na CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, British Nursing Index). As palavras-chave orientadoras utilizadas foram (Positive Pressure Ventilation OR Continuous Positive Airway Pressure OR noninvasive ventilation) AND (nursing intervention OR nursing OR nurse) AND (HOME care services OR HOME care services OR NURSING care facilities).

Guyatt e Rennie (2002), consideram que as revisões sistemáticas da literatura devem considerar a evidência dos últimos 5 anos, no entanto consideramos o período temporal de 10 anos pelo facto da maior abrangência face ao conhecimento existente sobre a matéria em análise. Para avaliarmos os níveis de evidência utilizamos seis níveis de evidência: Nível I: revisões sistemáticas (meta análises/ linhas de orientação para a prática clínica com base em revisões sistemáticas), Nível II: estudo experimental, Nível III: estudos quasi experimentais, Nível IV: estudos não experimentais, Nível V: estudo qualitativo/ revisões sistemáticas da literatura sem meta análise, Nível VI: opiniões de autoridades respeitadas/ painéis de consenso (Capezuti, 2008; Guyatt, e Rennie, 2002).

Como critérios de inclusão privilegiaram-se os artigos com base na problemática das pessoas submetidas a VNI, com recurso a metodologia qualitativa e/ou quantitativa ou revisão sistemática da literatura, que clarificassem quais os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem. Nos critérios de exclusão inseriram-se todos os artigos repetidos nas bases de dados, com data anterior a 2002 e todos aqueles sem correlação com o objeto de estudo. O percurso metodológico levado a cabo encontra-se exemplificado na seguinte figura.

Fig.1

De seguida são apresentados os 10 artigos selecionados que constituíram o substrato para a elaboração da discussão e respetivas conclusões.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Q.1

DISCUSÃO DOS RESULTADOS

Como resultado da análise dos artigos anteriormente referenciados é possível denotar que os doentes submetidos a VNI apresentam necessidades de cuidados que poderão condicionar a sua adesão no domicílio e que consideramos passíveis de associar a seis das variáveis identificadas por Doran (2011): controle de sintomas, segurança / ocorrências adversas, apoio psicológico, utilização dos serviços de saúde, gestão do regime terapêutico e qualidade de vida.

Na gestão do regime terapêutico, a seleção do interface utilizado na VNI é considerada por Schneider et al (2006) num estudo prospectivo e randomizado, um dos fatores mais importantes associados à adesão ao tratamento, sua tolerância e eficácia. O mesmo autor salienta que a interação entre enfermeiro e doente é um fator determinante no sucesso da VNI. Stoltzfus (2006) acrescenta que o enfermeiro, em colaboração com a equipa multidisciplinar deve avaliar o tipo de máscara que o doente poderá tolerar melhor. De Silva (2009) baseado em Shee e Green (2003) afirma que a máscara facial é geralmente a mais utilizada. No entanto os doentes reportam sentir desconforto e claustrofobia, que segundo Pertab (2009) pode levar a angústia, o que não acontece com a máscara nasal, permitindo um maior controle pessoal. Segundo Stoltzfus (2006) a máscara nasal permite falar ou vomitar sem risco de aspiração. Maciel, Silva e Teixeira (2009) citando Gonçalves e Pinto (2008) acrescenta que a máscara nasal é mais confortável permitindo expelir secreções, implicando a necessidade de colaboração do doente.

De Silva (2009) citando Hore (2002) refere que a máscara nasal é mais adequada a doentes com barba ou bigode, característica que pode aumentar a probabilidade de fuga de ar no uso da máscara facial. Contudo o seu uso é limitado em doentes com obstrução nasal (Antonelli e Conti, 2000 citado por De Silva, 2009).

A secura nasal e oral e a congestão nasal são complicações também mencionadas por Pertab (2009) e Rose e Gerdtz et al (2009), que podem ser solucionadas através de descongestionantes nasais e humidificação no ventilador. No entanto, Pertab (2009) considera que o uso da humidificação pode aumentar as fugas de ar tornando a VNI menos eficiente. Ainda a British Thoracic Society sugere que a humidificação deve ser usada com precaução porque interfere com os parâmetros do ventilador (De Silva, 2009).

Independentemente do interface usado, o ajuste da máscara deve considerar o conforto do doente, a redução de complicações, como a necrose da pele e controle de outros sintomas (De Silva, 2009 citando Hill, 2004).

De facto, a complicação mais referenciada pelos autores consultados prende-se com a possibilidade de ocorrer ulceração nasal (Pertab, 2009; De Silva, 2009;Rose e Gerdtz, 2009; Stoltzfus, 2006). Barbosa e Marques (2003) numa revisão sistemática de literatura, refere que esta é a complicação mais séria ocorrendo em aproximadamente 8 a 10% dos doentes. A maioria destes autores refere que esta complicação pode ser prevenida/tratada com apósito hidrocolóide, sendo que alguns também referem a importância da alternância dos pontos de pressão da máscara. Uma das causas referenciadas por Rose e Gerdtz (2009) para a ocorrência de ulceração nasal é a necessidade de apertar as tiras de fixação da máscara para que o ajuste seja eficiente com redução de fugas de ar. O facto de esta não ser corrigida está associado à ocorrência de conjuntivite e irritação ocular também descrita por Stoltzfus (2006).

Para Pertab (2009), numa revisão sistemática da literatura a distensão gástrica surge como uma das complicações associadas ao uso da VNI. Stoltzfus (2006) no seu estudo atribui a distensão gástrica e vómitos a elevadas pressões, podendo conduzir à broncoaspiração também referida por Barbosa e Marques (2003). Segundo Jarvis (2006), é importante informar os doentes como retirar rapidamente a máscara em caso de necessidade de vomitar. O mesmo autor refere ainda a possibilidade de recorrer ao uso de antieméticos na presença de náuseas.

Na sua revisão sistemática de literatura, Jarvis (2006) citando Sawkins (2001) alerta para outras complicações que incluem a desidratação e desnutrição. O mesmo autor refere um estudo de 1993 em que 25% dos pacientes com DPOC sofriam de desnutrição atribuída a numerosos fatores. A nutrição dos pacientes é considerada por este autor uma área fundamental dos cuidados de enfermagem que incluem intervenções como encorajar o paciente a comer às horas da refeição e remover a máscara nestes períodos, e se necessário, utilizar oxigénio por sonda nasal.

Sundling et al (2009) num estudo qualitativo alerta para a necessidade de o doente e cuidador terem conhecimentos técnicos sobre o manuseamento do ventilador, uma vez que situações não previstas podem levar a momentos de stresse. Maciel, Silva e Teixeira (2009) e Barbosa e Marques (2003) referem a importância de promover a correta manutenção e higiene do equipamento.

De acordo com Eng (2006) o envolvimento do doente nas decisões sobre o tratamento é considerado um fator importante na adesão ao mesmo. A informação e apoio psicológico ao doente e cuidador são considerados primordiais para reduzir a ansiedade e conseguir a autonomia do doente (Pertab, 2009), melhorando a sua qualidade de vida.

O sucesso da VNI depende de uma equipa treinada e experiente (Maciel, Silva e Teixeira, 2009), contribuindo para a redução do número de internamentos hospitalares (Eng, 2006), diminuição de mortalidade e morbilidade (Rose e Gerdtz, 2009) e diminuição de gastos hospitalares (Stoltzfus, 2006; Barbosa e Marques, 2003). Pertab (2009) considera essencial a relação e comunicação entre enfermeiro e doente e Barbosa e Marques (2003) acrescenta que o enfermeiro desempenha um papel importante na prevenção e resolução de complicações.

Tendo por base as variáveis definidas por Doran (2011) e considerando as necessidades de cuidados identificadas anteriormente, podemos inferir os resultados identificados no seguinte quadro:

Fig.2

CONCLUSÃO

Tendo por base o nosso objeto de estudo, realizámos uma análise dos artigos selecionados que nos remetem para os indicadores de necessidades, sendo resolvidos através de intervenções que se traduzem em resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem.

Os artigos selecionados dão relevo à intervenção de enfermagem, associando o sucesso da VNI ao treino, experiencia e formação destes profissionais de saúde, pelo que a estes se exige uma prática profissional baseada na evidência e em linhas de orientação que elevem os cuidados prestados ao doente a um nível de excelência.

Como vimos anteriormente, o enfermeiro desempenha um papel importante na prevenção e resolução de complicações associadas à VNI, ação que no domicílio só é possível através de ensinos adequados e envolvimento do doente na gestão do seu tratamento. Tendo em conta que os doentes do foro respiratório são muito ansiosos e receiam sempre o pior, é importante que o enfermeiro estabeleça uma relação de empatia e demonstre competência no que diz respeito ao tratamento com VNI. Conseguindo a cooperação e motivação do doente, mais facilmente o sucesso da VNI será atingido.

Face ao exposto, um doente submetido a VNI devidamente apoiado pelos enfermeiros, resolve melhor as complicações inerentes ao tratamento refletindo-se na redução de internamentos hospitalares assim como uma maior estabilização clínica e melhor qualidade de vida no domicílio.

Implicações na Prática Profissional

Tendo em conta o crescente número de doentes com doenças respiratórias crónicas, o recurso à VNI fazendo parte do seu tratamento também tenderá a aumentar.

Consideramos ser importante a realização de novos estudos que evidenciem a necessidade de apoio destes doentes no domicílio, por enfermeiros e ainda a formação específica destes profissionais nesta área.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Mar 5, 2013

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NURSING INTERVENTION FOR BIOFILM MANAGEMENT IN COMPLEX WOUNDS

INTERVENCIÓNS DE ENFERMERÍA EN EL TRATAMIENTO DE HERIDAS EN COMPLEJAS CON BIOFILMS

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AUTORES: Inês Pedro, Simone Saraiva

Resumo

A deposição de microrganismos numa superfície, normalmente resulta na formação de biofilme sendo também estratégias desenvolvidas pelos microrganismos para se protegerem de fatores agressivos externos.

Atualmente sabe-se que numa ferida complexa existem vários biofilmes que vivem em completos agregados, e que a sua composição é diferente de biofilme para biofilme.

Objetivo: Com este trabalho, pretende-se criar, sobretudo, um algoritmo de atuação para controle dos biofilmes. Este algoritmo vai consistir em intervenções de enfermagem pois, é a área que nos interessa estudar.

Metodologia: Foi executada uma pesquisa na EBSCO, abrangendo todas as bases de dados disponíveis. Foram procurados artigos científicos publicados em Texto Integral (data da pesq.), publicados entre 2005 e 2011, usando as seguintes palavras-chave: Ferida (Full Text) AND Biofilmes (Full Text) AND Gestao (Full Text). Foram ainda usadas as seguintes palavras chave: Wound (Full Text) AND Biofilms (Full Text) AND Cuidar (Full Text). Foi utilizado a metodologia de PI(C)OD e selecionados 14 artigos, do total de 71.

Conclusão: Com as intervenções identificadas, foi elaborado um algoritmo de intervenções de enfermagem para gestão de biofilmes, tendo por base a mais recente evidência científica.

PALAVRAS-CHAVE: Feridas crónicas, Biofilmes, Gestão, Intervenções

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Abstract

Deposition of microorganisms on a surface, usually results in the formation of biofilm, but also microorganism’s strategies to protect themselves from external toxic factors.

Currently it is known that there are several complex wound in biofilms because they live in complete aggregates and that the composition is different for biofilm to biofilm.

Objective: This study is intended to create, above all, an algorithm for controlling actuation of biofilms. This algorithm will consist of nursing interventions because the area is interested in the study.

Methodology: Research was carried out in EBSCO (all databases). Were searched scientific articles published in full text (…), published between 2005 and 2011, using the following keywords: Wound (Full Text) AND Biofilmes (Full Text) AND Management (Full Text). Also using the following keywords: Wound (Full Text) AND Biofilmes (Full Text) AND Care (Full Text). We used the method of PI(C)OD and selected 14 articles of a total of 71.

Conclusion: With the interventions identified, we organized an algorithm nursing interventions for the management of biofilms, based upon the most recent evidence about this theme.

KEYWORDS: Chronic wound, Biofilms, Management, Interventions

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Introdução

O aumento da esperança média de vida e o acréscimo da co-morbilidade das doenças crónicas na população adulta e idosa, aliada à busca incessante da melhoria da qualidade de vida, estão intimamente relacionados com o progresso dos cuidados de saúde. A elevada prevalência das feridas crónicas no contexto atual e o seu impacto tanto a nível individual como económico, dado os elevados custos associados ao seu tratamento, tornam este aspeto da saúde um assunto relevante em saúde pública e consequentemente remete para a reflexão critica sobre a qualidade dos cuidados de saúde.

Nesse sentido, o tratamento de feridas crónicas representa um grande desafio para os profissionais de saúde, de onde se destacam os enfermeiros pela natureza da sua profissão. Sobre isto, relembramos uma das competências do enfermeiro de cuidados gerais referidas pela Ordem dos Enfermeiros, “em conformidade com o diagnóstico de enfermagem, os enfermeiros (…) utilizam técnicas próprias da profissão de enfermagem, com vista à manutenção e recuperação das funções vitais, nomeadamente, (…) circulação, comunicação, integridade cutânea e mobilidade.” (Ordem dos Enfermeiros: Competências do enfermeiro de cuidados gerais; artigo 9.º, n.º4; 2003).

Neste contexto, tem havido um aumento exponencial da investigação científica na área de tratamento de feridas, cujo conhecimento produzido é fundamental na tomada de decisão clínica dos enfermeiros. A existência de informação é um dos aspetos essenciais para a tomada de decisão.

O tratamento de feridas é uma área complexa que requer uma intervenção avançada, centrada numa abordagem holística da pessoa, para isso há necessidade de haver por parte dos enfermeiros uma prática baseada na evidência, uma a gestão clínica integrada da ferida e um trabalho entre uma equipe multidisciplinar, quando a situação assim o exige. Cientes desta necessidade têm-se como objetivo centrar esta revisão da literatura na gestão de biofilmes em feridas crónicas/complexas, fazendo-se uma breve abordagem sobre a fisiopatologia das feridas crónicas e o impacto dos biofilmes na cicatrização das mesmas.

Sabe-se que as feridas são ruturas estruturais ou fisiológicas no tegumento que incitam respostas de reparação complexa e baseada na interação entre células inflamatórias e mediadores. A cicatrização de feridas é, assim, um processo fisiológico, através da qual o corpo substitui e recupera o tecido danificado, restabelecendo a integridade da pele com a maior brevidade de tempo possível. As feridas agudas seguem progressivamente e de forma atempada as fases de cicatrização: hemóstase, inflamação, proliferação e regeneração ou maturação. Já as feridas crónicas, pela sua natureza complexa, permanecem estagnadas numa das fases, geralmente inflamatória. Segundo Amstrong e Jude (2002) e Yager e Nwomeh (1999), citados por Wolcott et al (2009)23, o estado inflamatório é marcado pelo aumento de citoquinas pro-inflamatórias (Interleucina-1, Fator Necrose Tumoral-α, Interferão-gama), elevação dos níveis de metaloproteinases (MMP2, MMP8, MMP9) e quantidade excessiva de neutrófilos; sendo estes fatores que prolongam o tempo de cicatrização para além do normalmente esperado.

Existe uma série de barreiras para a cicatrização e fatores que aumentam o risco de infeção numa ferida, como por exemplo a idade, doenças sistémicas (diabetes mellitus, alterações hematológicas, doenças cardiovasculares…), nutrição pobre, desidratação, baixa resposta imunitária, baixa perfusão tecidular de oxigénio, etc. Infelizmente, mesmo quando estas barreiras são bem geridas, os resultados nem sempre parecem ser significativamente melhorados (Cutting, 2010; Percival e Cutting, 2009; Wolcott e Rhoads, 2008).2,16,24

Na ferida crónica há várias abordagens a ter para que esta evolua de uma forma positiva até à sua completa cicatrização. Por conseguinte, têm sido feitos vários estudos para detetar as causas que inibem a sua cura, levando a ferida a ficar estagnada.

É inevitável que feridas crónicas sejam colonizadas por microrganismos, mas o sistema imunitário quando inato, geralmente elimina a carga microbiana no decurso da cicatrização de feridas. No entanto, quando este está comprometido, a proliferação da carga microbiana sobrecarrega a resposta do sistema imunológico podendo levar à colonização crítica e até à infeção (Steinberg e Siddiqui, 2011)19.

Os microrganismos multiplicam-se e proliferam na forma planctónica ou séssil. Na forma planctónica os microrganismos apresentam-se em suspensão e dispersos num líquido aquoso; enquanto em formato de biofilme, estes apresentam-se na sua forma séssil aderidos a superfícies sólidas.

Os biofilmes têm sido associados a infeções crónicas em feridas, porque estes organismos geralmente resistem aos mecanismos de defesa do hospedeiro e às intervenções dos antimicrobianos, aproveitando-se das condições da ferida para ganhar vantagem e proliferar. Pensa-se que 65% a 80% das feridas devam a sua cronicidade e complicações infeciosas adjacentes, à formação de biofilmes (James et al, 2008; citados por Lenselink e Andriessen, 2011)10. Ainda a acrescentar que segundo James et al (2008) citados por Steinberg e Siddiqui (2011)19, a evidência direta da presença de biofilmes em feridas foi comprovada em 2008, quando biópsias de feridas agudas e crónicas foram recolhidas e analisadas por microscopia eletrónica. A mesma fonte refere que 60% das feridas crónicas mostrou biofilme, em comparação com apenas 6% das feridas agudas.

Os biofilmes são comunidades geralmente polimicrobianas em constante mudança que estão fixas a superfícies bióticas ou abióticas. Este forma-se e fixa-se numa ferida segundo três estadios principais: adesão reversível, adesão irreversível e maturação da substância polimérica extracelular (EPS). Tal como refere Phillips et al (2010), no primeiro estadio, os microrganismos encontram-se na forma planctónica, e pela sua natureza, tendem a fixar-se numa superfície e, eventualmente, tornar-se-ão num biofilme; contudo nesta fase a adesão ainda é reversível. No segundo estadio, a adesão passa a ser irreversível pois, os microrganismos multiplicam-se, diferenciam a sua expressão genética e aderem mais firmemente à superfície, no intuito de sobreviverem. No último estadio, os microrganismos sintetizam e excretam uma substância polimérica extracelular protetora que adere firmemente a uma superfície viva ou inanimada, constituindo-se assim o biofilme. Depois de fixos e maduros, os biofilmes também têm a capacidade de dispersar para outras localizações e estabelecer novos biofilmes (Steinberg e Siddiqui, 2011).19

De acordo com Phillips PL et al (2010)18, em Biofilms: made easy da Wounds International, um biofilme pode ser descrito como conjunto de bactérias incorporados numa camada espessa e viscosa – substância polimérica extracelular (EPS), que protege os microrganismos contra ameaças externas. A composição da EPS está de acordo com o microrganismo presente, mas geralmente é constituída por polissacarídeos, proteínas, glicolípidos e ADN bacteriano (Stoodley, 2009; Flemming, 2007; e Sutherland, 2001; citados por Phillips et al, 2010)18.

Os microrganismos que constituem o biofilme podem atuar sinergicamente, utilizando moléculas de Quorum Sensing para comunicarem uns com os outros e assim garantir a sua sobrevivência. Isto leva a que algumas espécies prosperem juntas e formem comunidades polimicrobiana que, por sua vez, têm maior virulência e patogenicidade. Tal, leva a que se verifique uma reduzida suscetibilidade aos antimicrobianos e se reforce a formação de novos biofilmes (Percival e Wolcott, 2011).17

Como é mais difícil suprimi-lo, os microrganismos e seus componentes extracelulares, que incorporam o biofilme, vão prolongar a fase inflamatória da ferida indefinidamente, atrasando o processo de cicatrização (Percival e Cutting, 2009)16. Como a resposta inflamatória crónica nem sempre é bem-sucedida na remoção do biofilme, o próprio biofilme ao proteger-se aumenta a produção de exsudado, o que proporciona uma fonte de nutrição que o ajuda a perpetuar-se.

Como se pode perceber, os biofilmes são estruturas microscópicas, sendo considerados por vários autores como uma entidade invisível, pois atualmente o método mais fiável para confirmar a presença de biofilme microbiano é a microscopia especializada (Phillips et al, 2010)18.

Então o biofilme passa a ser uma entidade com que os enfermeiros se devem preocupar, quando tratam da pessoa com ferida, para que esta evolua até à sua cicatrização total. Para que isto seja possível, torna-se pertinente fazer uma revisão da literatura das intervenções e estratégias de enfermagem na gestão de biofilmes que estão presentes em grande parte das feridas complexas/crónicas. Tal, garante a eficácia dos cuidados de enfermagem, ultrapassando as limitações e barreiras causadas pelos biofilmes na cicatrização da ferida e consequentemente contribuiu para a melhoria da qualidade de vida da pessoa com ferida crónica e sua família.

Metodologia

No processo da Prática Baseada na Evidência, recorre-se ao formato “PI(C)O”, para a formulação da pergunta de investigação, que será a seguinte: “Na ferida crónica ou complexa (P), quais os cuidados de enfermagem a ter (I) para a gestão de biofilmes (O)?”. Onde o problema/participantes são as feridas crónicas ou complexas sem evolução cicatricial. Como é uma revisão bibliográfica não se realizaram intervenções e os outcomes são as intervenções de enfermagem para gestão de biofilmes.

Foi consultado o motor de busca EBSCO, com acesso às bases de dados: Business Source Complete, CINAHL (Plus with Full Text), MEDLINE (Plus with Full Text), Cochrane Database of Systematic Reviews, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Library, Information Science & Technology Abstracts, Nursing & Allied Health Collection: Comprehensive, MedicLatina, Health Technology Assessments, Academic Search Complete e ERIC; tendo sido procurados artigos científicos publicados em Texto Integral (25 a 28 de Maio de 2012), publicados entre 2000 e 2012, usando os seguintes descritores (palavras-chave): Biofilm (Full Text) AND Wound (Full Text) AND Management (Full Text); Biofilm (Full Text) AND Wound (Full Text) AND Chronic (Full Text); Biofilm (Full Text) AND Wound (Full Text) AND Intervention (Full Text); e  Biofilm (Full Text) AND Wound (Full Text) AND Nurs* (Full Text).

Obteve-se um total de 71 artigos, tendo sidos selecionados 14 artigos através de um conjunto de critérios de inclusão e exclusão.

Considerou-se um período temporal de 12 anos, de modo a beneficiar de uma maior abrangência face ao conhecimento existente sobre a matéria em análise.

No problema/participantes os critérios de inclusão foram artigos que abordem feridas crónicas ou complexa com suspeita ou certeza da presença de biofilme e os critérios de exclusão foram artigos que abordem ferida aguda exclusivamente, artigos com repetição de guidelines e artigos que falem exclusivamente do diagnóstico de biofilmes.

Nas intervenções os critérios de inclusão foram as intervenções de enfermagem a pessoa com ferida com suspeita ou mesmo presença de biofilme e os critérios de exclusão foram as intervenções dirigidas à pessoa com ferida aguda e as intervenções à pessoa com ferida sem presença de biofilme.

No desenho os critérios de inclusão foram todo o tipo de artigos e os critérios de exclusão foram todos os resultados da pesquisa que não apresentem o tipo de estudos dos critérios de inclusão.

Para conhecer e organizar os diferentes tipos de produção de conhecimento e metodologias científicas patentes nos artigos filtrados, utilizou-se a escala de seis níveis de evidência de Guyatt & Rennie (2002)6.

Resultados

O desbridamento é essencial, rentável e eficaz na indução da cicatrização de feridas estagnadas. 2,5,17,18,19,20,23,24 Este facilita uma oportunidade para intervenção de antibiótico e antimicrobianos, e é rentável pois diminuí custos com antibióticos, amputação, hospitalização e morte.23

Remover o biofilme e prevenir a sua reconstituição pelo desbridamento é necessário para inverter desequilíbrios moleculares e iniciar a cura.19 No entanto, nenhuma forma de desbridamento ou limpeza é suscetível de remover a totalidade de um biofilme, e todas as bactérias remanescentes tem o potencial de regenerar o formar biofilme maduro em poucos dias.18 Pois, por si só, não garante que o biofilme se reconstitua, sendo necessária a utilização de antimicrobianos.5

Existem vários tipos de desbridamento contudo, os mais eficazes para a gestão do biofilme são o desbridamento cortante conservador (slice), o desbridamento mecânico (fibra de monofilamentos e lavagem pulsátil), o desbridamento cirúrgico e o desbridamento biológico (larvaterapia).

Vários autores defendem que a técnica de desbridamento cortante é a mais eficaz porque minimiza o stress, infeção, inflamação, exsudado e tecido necrótico causado pelo biofilme.23 Pois remove células senescentes, promove o equilíbrio dos materiais biológicos, melhora a microcirculação e normaliza a nível bioquímico.23

Os princípios do desbridamento cortante são: primeiro alterar a anatomia do leito da ferida, removendo locas, sinus tractus e tunelizações; segundo remover fibrina e tecido desvitalizado (incluindo a EPS do biofilme); e terceiro remover ossos descorados, fazendo o diagnóstico de osteomielite.24

Já o desbridamento mecânico, fibra de monofilamentos artificial remove bactérias, exsudado sero-purulento e biofilme bacteriano. Demonstra maior potência na remoção microbiana quando usado com um líquido de limpeza detergente e é fácil de utilizar. Por isso, é eficiente e rentável face a outros métodos de desbridamento mecânico.7

A larvaterapia ou terapia larval é outra forma de desbridamento eficaz porque as secreções e excreções das larvas inibem a formação de biofilme, reduzindo os fatores de degradação envolvidos na acumulação de biofilme.19,23

No entanto, nenhuma forma de desbridamento ou limpeza é suscetível de remover a totalidade de um biofilme, e todas as bactérias remanescentes tem o potencial de regenerar o formar biofilme maduro em poucos dias.18 Pois por si só não garante que o biofilme se reconstitua, sendo necessária a utilização de antimicrobianos tópicos como a prata.5 A prata tem um efeito letal sobre os microrganismos, mas em concentrações elevadas de biofilme, a quantidade necessária pode ser 10-100 vezes superior à concentração necessária para matar os microrganismos em forma planctónica 19, quantidade que não é aconselhada a existir nos pensos tópicos atuais para o tratamento de feridas pelo risco de toxicidade. Vários estudos in vitro têm indicado que aplicação tópica de prata e iodopovidona, por si só, têm pouco efeito sobre os biofilmes.10

Os princípios envolvidos na prevenção da reconstituição do biofilme incluem a utilização de pensos e de agentes antimicrobianos de largo espectro como: prata, iodo, mel e PHMB que existem em diversas formulações.18

O cadexomero de iodo é um agente eficaz anti-séptico para feridas cronicamente exsudativas que atua contra a produção de glicocálix ou material polimérico, destruindo diretamente a estrutura do biofilme.19 Este pode ser usado na supressão de biofilmes sem causar dano significativo nas células do hospedeiro.16

A polihexanida é uma solução eficaz e segura na limpeza de feridas crónicas, principalmente quando há suspeita de presença de biofilme.2,8 Tem atividade biocida de amplo espectro e não há relatos de bactérias resistentes. Provoca lise celular, induzindo na membrana um stress osmótico.2 A irrigação com a solução de polihexanida com o surfactante (betaína) é adequada para preparação do leito de feridas para remover biofilmes antes de um tratamento posterior e para a absorção de odores da ferida.8 Para feridas cavitárias existe a polihexanida com betaína em gel.

Lenselink e Andriessen (2011)10 dizem que penso de polihexanida contendo biocelulose permite o tratamento antimicrobiano contínuo. Este promove com a limpeza das feridas, a redução do biofilme em feridas estagnadas, sendo a sua aplicação segura, confortável e com dor reduzida para os pacientes. 10

O mel é bactericida contra todas as estirpes de bactérias19, atuando inclusive em estirpes bacterianas, como o Staphylococus aureus resistente à vancomicina.16 Contém substâncias bactericidas que penetram no biofilme.19 Verificou-se que o mel tem propriedade biocida, provocando efeitos sobre o ciclo celular, pois é inibidor da mitose celular.13 Atua nos vários estadios do biofilme e em diferentes estirpes de bactérias e, uma vantagem dos múltiplos modos de ação do mel é que o risco de desenvolvimento de resistência bacteriana é diminuído sendo, por isso, uma alternativa aos antibióticos.13 A sua ação biocida prende-se com o aumento da osmolaridade e teor de glucose, que estimula a ação dos macrófagos e, com habilidade para diminuir o aporte de água às bactérias e o pH.13

Wolcott e Rhoads (2008)24 defendem que com o desbridamento, o ideal é a utilização de agentes antibiofilme que rompam a estrutura do biofilme. O uso simultâneo de antibiofilmes com antimicrobianos tradicionais provavelmente terá um efeito sinérgico sobre o tratamento de infeções de biofilme. Também referem que a lactoferrina, xilitol e prata podem ser aplicados em simultâneo e que têm um poder sinérgico no combate aos biofilmes. Inclusivamente afirmam a existência de pensos impregnados com prata ou cadexómoro de iodo, combinados com a Lactoferrina ou o Xilitol. Os mesmos autores referem que agentes antibiofilme como:

  • RIP (RNA-III inhibiting peptide) e Furanona C30, que inibe o Quorum Sensing;
  • Dispersin B, alginase e depolimerases fago são agentes que degradam a substância polimérica extracelular (EPS);
  • EDTA (Ácido Etilenodiamino Tetra-Acético), deferoxamina e transferrinas são catadores de ferro;
  • Gallium e açúcares em álcool são metabólitos falsos.

No tratamento de feridas crónicas com biofilme, se deve incluir o desbridamento, agentes antibiofilme (lactoferrina, xilitol, farnesol) e antissépticos tópicos, como o iodo e a prata iônica. 17

Já Fonseca (2011)5 e Percival e Cutting (2009)16  completam e complementam a informação sobre agentes anti-biofilme, nomeadamente:

  • Lactoferrina, proteína presente nos fluidos gengivais e na saliva, que tem propriedades de ligação do ferro, bloqueando a fixação de bactérias planctónicas a uma superfície e inibindo o primeiro passo na formação de biofilme; 5,16
  • Gallium, este perturba processos dependentes do ferro pois, muitos sistemas biológicos não conseguem distinguir Ga3+ de Fe3+; 5,16
  • Xylitol, este interfere com a formação do biofilme; 5,16
  • Dispersin B, este atinge a substância polimérica extracelular, degradando a estrutura do biofilme; 5,16
  • Mel, este possui atividade antibacteriana e modula a atividade da célula monocítica. 16

Fonseca (2011)5 ainda menciona que foi descrita, recentemente, a aplicação de gel de EDTA numa ferida e que esta pode ter alguma eficácia contra biofilmes de pseudomona aeruginosa.

Os agentes antibiofilme têm demonstrado ser menos tóxicos que os antimicrobianos tradicionais.16

O uso simultâneo do desbridamento cortante e ultra-sons são os mais eficazes. 5,18 Outra estratégia é perturbar o biofilme em feridas por meio da ultrassonografia e estimulação elétrica.5 A ultrassonografia é utilizada para remover tecido não viável e interromper o Quorum-Sensing (QS), diminuindo a virulência coordenada; e a estimulação elétrica é utilizada para promover a penetração de agentes tópicos.5,19

Em alguns casos, os autores recorrem ainda a tecnologias avançadas, como: derivados de plaquetas, fator de crescimento das células beta e oxigenoterapia hiperbárica.24

A utilização de substâncias naturais que estimulam o crescimento celular pode promover a melhoria do processo de regeneração, como é o caso do uso de células derivadas da medula óssea ou células estaminais. A utilização de fagos, que particularmente os biofilmes jovens parecem ser mais suscetíveis.5

Além de desbridamento e antibiofilmes ainda se pode utilizar antibioterapia sistémica adequada. Os antibióticos foram considerados por alguns autores um adjuvante nesta questão, mas sempre de forma cautelosa. Pois a preocupação crescente em relação ao aumento de resistências bacterianas com antibióticos, encoraja a examinar alternativas, possivelmente melhores.24

Conclusão

Pelo difícil diagnóstico e irradicação do biofilme em feridas estagnadas, o biofilme e considerado por muitos autores como a entidade mais preocupante no tratamento da ferida. No tratamento de feridas para a gestão do biofilme, devem ser utilizadas concomitantemente estratégias para a eliminação de microrganismos em forma planctónica e forma séssil.17

Atualmente, e no âmbito do tratamento de feridas, faz todo o sentido explorar-se cientificamente intervenções de gestão do biofilme em feridas crónicas, de forma a atingir a excelência e inovação dos cuidados de enfermagem. A prática baseada na evidência é o caminho para a promoção da qualidade de vida dos doentes e o equilíbrio entre custo-eficácia nas instituições de saúde.

Por isso, foi criado um algoritmo (figura.1), centrando na área de enfermagem, de atuação para a gestão de biofimes em feridas estagnadas, que será exposto a seguir.

Fig.1

Referências Bibliográficas

1. Craig, J.; Smyth, R. (2004). Prática Baseada na Evidência. Loures: Lusociência. pp.4 [1]

2.Cutting, K. F. (2010). Adressing the challenge of wound cleansing in the modern era. British Journal of Nursing, Vol. 19, No11. [2]

3.European Wound Management Association. (2005). Identifying criteria for wound infection. London: MEP Ltd. [3]

4.European Wound Management Association. (2006). Management of wound infection. London: MEP Ltd. [4]

5.Fonseca, António P. (2011). Biofilms in wound: an unsolved problem?. European Wound Management Association Journal, Vol. 11, No2. [5]

6.Guyatt G, Rennie D. (2002). Users guides: essentials of evidence-based clinical practice. Chicago, IL: American Medical Association. [6]

7.Haemmerle, G. et al. (2011). The wound debrider: a new monofilament fibre technology. British Journal of Nursing (Tissue Viability Supplement), Vol. 20, No6. [7]

8.Horrocks, Ann (2006). Prontosan wound irrigation and gel: management of chronic wounds. British Journal of Nursing, Vol. 15, No 22. [8]

9.James, Garth; et al (2008). Biofilms in chronic wounds. Wound Repair and Regeneration, 16, pp. 37-44. [9]

10.Lenselink, E.; Andriessen, A. (2011). A cohort study on the efficacy of polyhexanide-containing biocellulose dressing in the treatment of biofilms in wounds. Journal of Wound Care, Vol. 20, No11. [10]

11.Machado, Sílvia M. O. (2005). Avaliação do efeito antimicrobiano do surfactante cloreto de benzalcónio no controlo da formação de biofilmes indesejáveis. Tese de Mestrado: Universidade do Minho. [11]

12.Menoita, E., Santos, V., Testas, C., Gomes, C., Santos, A. (2012). Biofilms: Knowing the entity. Journal of Aging & Innovation, 1 (2): 23-32. [12]

13.Merckoll, Patricia; et al. (2009). Bacteria, biofilm and honey: A study of the effects of honey on ‘planktonic’ and biofilm-embedded chronic wound bacteria. Scandinavian Journal of Infectious Diseases, 41, pp. 341 – 347. [13]

14.Ordem dos Enfermeiros (2003). Competências do enfermeiro de cuidados gerais. Divulgar, artigo 9.º, n.º4, pp.7-8. [14]

15.Plano Nacional de Saúde (2004/2010). Orientações Estratégicas. Lisboa: Ministério da Saúde, Vol. 2, pp. 132-133. [15]

16.Percival, S. L.; Cutting, K. F. (2009). Biofilms: possible strategies for suppression in chronic wounds. Nursing Standart, Vol. 23, No32. [16]

17.Percival, S. L.; Wolcott, R. D. (2011). Biofilms and their management: from concept to clinical reality. Journal of Wound Care, Vol. 20, No5. [17]

18.Phillips, P. L.; et al. (2010). Biofilms made easy. Wounds International. Vol. 1, Issue3. [18]

19.Steinberg, John; Siddinqui, Farah (2011). The Chronic Wound and the role of biofilme. Podiatry Management. [19]

20.Thomson, Collete H. (2011). Biofilms: do they affect wound healing?. International Wound Journal, Vol. 8, No1. [20]

21.Westgate, Samantha; Cutting, Keith (2011). The role of microbial biofilms in chronic and acute wounds. Nursing & Residentlai Care, Vol. 13, No 11. [21]

22.Wolcott, R. D.; et al. (2010). Chronic wounds and the medical biofilme paradigm. Journal of Wound Care, Vol. 19, No2. [22]

23.Wolcott, R. D.; et al. (2009). Regular debridement is the main tool for maintaining a healthy wound bed in most chronic. Journal of Wound Care, Vol. 18, No2. [23]

24.Wolcott, R. D.; Rhoads D. D. (2008). A study of biofilme-based wound management in subjects with critical limb ischaemia. Journal of Wound Care, Vol. 17, No 4. [24]

 

 



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Comunicação Enfermeiro-doente

Dez 26, 2011

Artigo de Revisão

A Comunicação Enfermeiro-doente como Estratégia para Alívio do Sofrimento na Fase Terminal da Vida: Uma Revisão da Literatura

The nurse-patient Communication as a Strategy for the Relief of Suffering in Terminal Phase of Life: A Literature Review

Autores: Almeida Ana, Ferreira Carmen, Lança Margarida, Rodrigues Mariana (Licenciadas em Enfermagem)
Corresponding author: aninhax_pp@portugalmail.pt

RESUMO
O presente artigo consiste numa revisão sistemática da literatura, centrada na temática das necessidades de comunicação dos doentes em fim de vida e seus familiares como forma de diminuir o sofrimento dos mesmos.
Objectivo: Identificar as principais necessidades de comunicação dos doentes em fase terminal e seus familiares, bem como compreender de que forma a comunicação pode ser uma estratégia para o alívio do sofrimento.
Metodologia: Para a elaboração do presente trabalho utilizámos a metodologia PI[C]OD e foram seleccionados 8 artigos de investigação, de uma amostra inicial de 110, retirados da ProQuest e EBSCO.
Resultados: As necessidades principais do doente terminal e da sua família são a gestão da dor e do sofrimento, bem como a necessidade da comunicação, como sendo um contributo para o alívio do sofrimento. Porém, a necessidade de comunicação nem sempre é valorizada ou satisfeita correctamente, visto que muitos enfermeiros sentem dificuldades em comunicar com os doentes e suas famílias nesta fase do ciclo de vida.
Conclusões: Através da realização desta revisão sistemática da literatura foi-nos possível perceber que os enfermeiros deveriam desenvolver e aprofundar as suas competências comunicacionais, de forma a responder às necessidades dos doentes e suas famílias. Concluímos ainda que a comunicação no âmbito dos cuidados paliativos deve ser a base da relação enfermeiro-doente, de forma a promover o alívio do sofrimento e uma morte digna.

PALAVRAS-CHAVE

Cuidados paliativos, Enfermagem, Comunicação e Intervenções autónomas.

ABSTRACT

The present article consists in a systematic review of the literature, centred on the needs of communication with end-of-life patients/their relatives and the use of communication strategies as a form of relief the suffering.
Objectives:We intend to identify the main communication needs of end-oflife patients and their relatives, and understand how communication can be a strategy to relief the suffering.
Methods: For the present article we used the PI[C]OD method and selected eight articles of investigation, from a sample of one hundred and ten, from ProQuest and EBSCO.
Results: The main needs of the end-of-life patient and his family are the management of pain and suffering, as well as the need of communication as a contribute to relief the suffering. On the other hand, the need of communication is not always considered or correctly satisfied because nurses have difficulties in communicating with terminal patients and their families in this stage of life.
Conclusions: The main conclusions of this systematic review of the literature reveal that nurses should develop and increase their communication skills to answer to the patients and their families’ needs. We also concluded that communication in palliative care should be the foundation between nursepatient as a way to promote suffering relief and a dignifying death.

KEYWORDS

Palliative Care, Nursing, Communication, Autonomous Interventions.

INTRODUÇÃO

O tema que pretendemos abordar surgiu no âmbito da nossa Monografia e intitula-se de “A comunicação como estratégia para alívio do sofrimento do doente terminal”. Pretendemos então explorar a que nível se situa a investigação internacional relativamente a este tema, pelo que sintetizámos e reflectimos a informação obtida.

O cuidar na fase final da vida é uma das preocupações na Enfermagem, tendo vindo a exigir uma maior reflexão por parte dos profissionais, pois a esperança média de vida aumentou, bem como os avanços na medicina, o que faz com que um número maior de pessoas necessitem durante mais tempo de cuidados de enfermagem (DGS, 2004). Portugal é também um dos países que é afectado por esta questão, e por isso é necessário pensar que impacto tem na nossa sociedade, e como é que podemos intervir enquanto enfermeiros nesta problemática do nosso século (DGS, 2004).

Deste modo, revelou ser importante aprofundar esta temática, pelo que, através do método PI[C]OD(Participantes; Intervenções; Comparações; Outcomes; Desenho do estudo) surgiu uma pergunta de partida: “Em relação à pessoa em fim de vida e sua família (P), quais as competências dos enfermeiros ao nível da comunicação (I) que influenciam o alivio do sofrimento (O)?”.

De forma a orientarmos o nosso trabalho numa lógica de investigação, delineámos como objectivos: identificar a necessidade de comunicação no doente em fim de vida e sua família, e compreender de que forma
a comunicação pode ser uma estratégia para o alívio do sofrimento.

Assim, tendo em conta estes objectivos determinámos os aspectos a ter em conta de forma a estabelecer uma comunicação eficaz com o doente em fase terminal, planear e implementar intervenções de enfermagem dando resposta às suas necessidades.

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Os enfermeiros são profissionais de saúde com o compromisso de ajudar as pessoas saudáveis a manter a sua saúde, os doentes a recuperar a saúde, os que não podem ser curados a maximizar os seus potenciais e os que estão a morrer, a viver tão plenamente quanto possível até à morte, promovendo a qualidade de vida daqueles a quem prestam cuidados (Basto, 1998; ICN, 2003; Código Deontológico de Enfermeiro, 2005; Nunes, 2008).

Assim, tendo em conta que a esperança média de vida está cada vez mais a prolongar-se e o aumento de doenças crónicas também, é necessário que a qualidade de vida das pessoas seja uma prioridade dos profissionais de saúde. Emerge, assim, o conceito de cuidados paliativos, os quais têm sido descritos como a filosofia, a disciplina e a prática, cuja abordagem melhora a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias que enfrentam problemas associados à doença aguda potencialmente fatal, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meio da identificação e avaliação, bem como tratamento da dor e outros problemas, físico, psicossocial e espiritual (Organização Mundial de Saúde, 2002). Deste modo, os cuidados de enfermagem no fim de vida assumem uma importância enorme, visto que nesta fase a pessoa carece de intervenções que promovam o alivio da dor e sofrimento, a nível físico e espiritual, de forma a que a pessoa veja as suas necessidades satisfeitas a todos os níveis (Green, 2006; McIflarick, 2007). Assim, torna-se imprescindível avaliar as necessidades dos doentes paliativos e sua família, porém esta avaliação é um processo complexo que apresenta um elevado potencial para influenciar a qualidade dos cuidados (Clarke & Wheeler, 1992).

Vários estudos revelam que a principal necessidade dos doentes terminais, assim como das suas famílias, é a gestão da dor e sofrimento nesta fase do ciclo de vida. Por outro lado, a necessidade da comunicação também foi apontada em diversos estudos (Morrison, 1991; Clarke & Wheeler, 1992; Fosbinder, 1994; Hanson e Cullihall, 1995; McCance et al, 1997; Long, 1999) como sendo importante na prestação de cuidados, pois a comunicação com o
doente terminal é um pilar básico do cuidar, que se baseia em princípios muito específicos que a tornam mais assertiva e terapêutica (Garcia, 2002).

Por isso, o enfermeiro deve por isso possuir “boas competências na área da comunicação” (Buckman, 2002 citado por Magalhães, 2005:220 e Johnston, 2006) a fim de prestar cuidados mais completos e humanos (Clarke & Wheeler, 1992; Fosbinder, 1994; McCance et al, 1997). Dado o tema desta revisão sistemática de literatura reportar-se a questões de comunicação, salientamos de entre as várias intervenções de enfermagem, a de comunicar com os demais, expressando emoções, necessidades, temores e opiniões, como é referido por Henderson (King, 2001; Costa, 2004).

Nesta linha de pensamento, são vários os autores e teóricas de enfermagem que incluem a comunicação e a relação interpessoal nos seus modelos e teorias. Podemos fornecer exemplos como Virgínia Henderson (1996), pertencente à Escola das Necessidades, a qual refere ser importante que a pessoa em situação de doença mantenha o seu equilíbrio físico e emocional, sendo que o corpo e a mente são inseparáveis, por conseguinte, as
necessidades (14 pressupostos da Enfermagem) do doente são necessariamente do foro físico e psicológico, o que vai incluir as necessidades a nível comunicacional e relacional. Também as teóricas Peplau (1997), Orlando (1961) e King (1995) (Escola da Interacção), são um contributo importante para a compreensão deste tema, dado que abordam a comunicação e a relação interpessoal nos cuidados de Enfermagem, explorando e definindo estes
conceitos. Por outro lado, Betty Neuman (1995), inserida na Escola dos Efeitos Desejados, através do seu modelo de sistemas forneceu uma guideline que auxilia o enfermeiro a compreender de forma coerente os fenómenos de saúde, permitindo percepcionar o doente e sua família do ponto de vista holístico, numa perspectiva de sistema aberto, em constante interacção com o ambiente, cuja interacção vai interferir na estabilidade do seu sistema. Por fim, na Escola do Caring, Jean Watson (2002), foca a sua teoria no cuidado humano e no encontro entre o cuidador e o cliente e dá maior ênfase à relação transpessoal do cuidado de enfermagem.

Por conseguinte, como cuidar implica uma interacção entre o profissional e as pessoas alvo de cuidados, é necessário que a mesma seja estabelecida através da comunicação. Portanto, considera-se uma intervenção autónoma de enfermagem a capacidade/competência de comunicar de forma terapêutica com o doente terminal e sua família, de modo a satisfazer as necessidades dos mesmos (Dunne, 2005), pois o enfermeiro é um profissional de saúde dotado de conhecimentos teóricos e experiênciais que fazem dele o profissional mais habilitado para satisfazer as necessidades comunicacionais do doente e sua família.

Por conseguinte, é necessário reflectir e investigar sobre comunicação em enfermagem, nomeadamente nos cuidados paliativos, visto ser uma área em que o enfermeiro estabelece um contacto mais próximo com a pessoa, dado ser uma etapa da vida que carece de um cuidado mais direccionado para a relação interpessoal e não para a cura e tratamentos.

METODOLOGIA

A fim de nos apropriarmos do conhecimento actual existente sobre as necessidades de comunicação do doente terminal e sua família, bem como a sua importância para o alívio do sofrimento dos mesmos, efectuámos uma revisão
sistemática da literatura. Segundo Fortin (2000), uma revisão sistemática da literatura consiste em realizar um exame crítico a um conjunto de publicações pertinentes para o domínio da investigação. Desta forma, será possível integrar as informações explicitadas num conjunto de estudos já realizados, nos quais podemos identificar elementos semelhantes e divergentes e reflectir sobre os mesmos.

A nossa revisão de literatura permitiu-nos responder à seguinte questão central: “Em relação à pessoa em fim de vida e sua família (P), quais as competências dos enfermeiros ao nível da comunicação (I) que influenciam o alivio do sofrimento (O)?”.

Como objectivo principal estabelecemos: identificar, no contexto actual do conhecimento de enfermagem, quais as necessidades de comunicação do doente em fase terminal e sua família e como é que a satisfação das mesmas pode ser uma intervenção autónoma da enfermagem que promove o alivio do sofrimento dos mesmos. Assim, dada a questão enunciada, associámos as seguintes palavras-chave como descritores da pesquisa, sendo elas Nursing, palliative care, communication, interventions autonomous, como podemos observar no Quadro 1.

De forma a reunirmos a literatura científica relevante para a nossa investigação consultámos apenas bases de dados informatizadas, como:

Código S1 – Base de dados electrónica observada: EBSCO (CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text; British Nursing Index; Nursing & Allied Health Collection: Comprehensive; Cochrane Database of Systematic Reviews; Cochrane Methodology Register). Foram consultadas tendo em conta o intervalo temporal entre 2003 e 2008, usando as seguintes palavras-chave: Palliative care AND Nursing AND Communication, as palavras-chaves foram procuradas no Texto integral. Resultado: 3 Artigos.

Código S2 – Base de dados electrónica observada: Nursing & Allied Health Source, ProQuest Health and Medical Complete. Foram consultadas tendo em conta o intervalo temporal entre 1998 e 2008, usando as seguintes palavras-chave: Palliative care AND Nursing AND Communication Needs, as palavras-chaves foram procuradas no Texto integral. Resultado: 5 Artigos.

De forma a realizarmos a pesquisa e obtermos os artigos adequados à questão de investigação e aos objectivos do estudo, estabelecemos um conjunto de critérios de inclusão e exclusão que estão presentes no Quadro 2.

Na primeira fase (Outubro de 2008), de um total 50 artigos de investigação da base dados PROQUEST, analisámos 3, pois iam ao encontro dos nossos critérios de inclusão. Procedemos então à leitura integral de cada artigo e respectiva análise crítica, através de fichas de leitura efectuadas por todos os investigadores, uma vez que, consideramos que aumentará a credibilidade da nossa revisão sistemática da literatura.

Depois (em Novembro de 2008), pesquisámos na base de dados PROQUEST e escolhemos 60 artigos, dos quais, 5 correspondiam aos critérios de inclusão. Posteriormente, realizámos fichas de leituras destes artigos e elaborámos
uma lista de conceitos (check list) referentes à necessidade de comunicação do doente em fim de vida e da sua família: cuidados paliativos, a importância da comunicação para o doente em fim de vida e sua família, a importância da relação terapêutica na comunicação (e vice-versa) e ainda o apoio à família.

Deste modo, a nossa revisão sistemática da literatura inclui um total de 8 artigos de investigação.

RESULTADOS

Do total dos artigos seleccionados, analisámos e reflectimos sobre os mesmos, tendo em conta a nossa questão de partida e os objectivos do estudo. Assim, as informações provenientes dos artigos que analisámos foram reunidas em tabelas retiradas da Cochrane Database of Systematic Reviews(Henderson, C. (2008). Patient held clinical information for people with psychotic illnesses. Cochrane Database of Systematic Reviews,
Retrieved February 5, 2009, from Cochrane Database of Systematic Reviews database.)
, uma vez que estas são facilitadoras para a sistematização da informação e para a apresentação desta, de um modo objectivo, permitindo também uma triagem de toda a informação.

Em termos metodológicos foram analisados 8 artigos de natureza qualitativa, revisões da literatura e um estudo de caso.

DISCUSSÃO

A comunicação é o meio através do qual as interacções interpessoais têm lugar, sendo necessária no dia-a-dia de quase todos os seres humanos, nos cuidados paliativos, a singularidade da situação para os
indivíduos na família nunca pode ser esquecida, destacando-se a necessidade de uma boa comunicação entre eles e os profissionais de saúde. No entanto, o processo de comunicação é complexo. Por isso, reconhecemos que a comunicação é o centro da relação enfermeiro-doente, mas na prática existe uma evidência significativa que muitos enfermeiros sentem dificuldades quando cuidam do doente em fase terminal e sua família (Dunne, 2005).

Muitos estudos empíricos sobre o conceito de cuidados de enfermagem identificaram a comunicação como um dos seus atributos. Fosbinder (1994) e McCance et al (1997), concluíram que cuidar em enfermagem
envolvia conhecer o doente, traduzindo, informando, explicando, ensinando o doente, estabelecendo com ele uma relação de confiança. Estudos qualitativos identificaram que falar, ouvir, tocar e informar eram aspectos centrais do cuidado de enfermagem (Forrest, 1989; Morrison, 1991; Clarke & Wheeler, 1992, referenciados por Dunne, 2005). Assim, Hanson e Cullihall (1995), referidos pelo o mesmo autor concluíram que os cuidados paliativos de enfermagem subscrevem uma abordagem humanística na qual a relação de ajuda entre o enfermeiro e o doente representa o papel principal, sendo que a enfermagem e a comunicação são simbióticas: “Seria muito exigente para os enfermeiros demonstrar que efectivamente «cuidam» de outro ser humano sem comunicação. Da mesma forma, seria muito difícil de se comunicar de forma eficaz e verdadeira sem «cuidar»” (Long, 1999, citado por Dunne, 2005:59). O mesmo autor conclui ainda que “se acreditamos que isso é verdade, então a forma como os enfermeiros comunicam com as pessoas tem um impacto positivo ou negativo sobre a qualidade dos cuidados e, consequentemente, sobre o sucesso ou o fracasso deste processo. No âmbito da enfermagem em cuidados paliativos, uma grande dose de tranquilidade (paz interior), ou seja, serenidade e calma, tem de ter lugar para as fases finais de uma doença”.

Segundo diversos estudos, muitos doentes e suas famílias experienciaram dificuldades ao comunicarem com os profissionais de saúde. A Audit Commission (1993) e a National Cancer Alliance (1996), referenciados por Dunne (2005) identificaram falhas nas competências de comunicação dos profissionais de saúde com os doentes com cancro, enfatizando a necessidade de uma melhor comunicação entre os doentes, familiares e profissionais de saúde.

Como a comunicação não envolve apenas a partilha de informação, mas também o suporte emocional dos cuidados, foram identificados alguns medos que os profissionais de saúde experienciavam na comunicação com os doentes em fase terminal, como por exemplo, o medo de serem culpados pelo doente, o medo da reacção do doente, o medo de dizer “eu não lhe consigo responder”, medo de expressar emoções, medo e ansiedade acerca da sua própria morte. Há um aparente pressuposto que estes medos formam uma barreira significativa à comunicação eficaz (Wilkinson, 1991; Dunne, 2005).

Muitos doentes sentem medo e ansiedade, relacionados com a morte, e têm problemas em falar sobre isso, não só com os profissionais, mas também com os seus entes queridos. O nível de consciência da família sobre o diagnóstico e prognóstico do seu familiar tem sido destacado como uma variável importante no processo de comunicação, porém tem sido demonstrado que mesmo quando existe um contexto de
sensibilização aberta, as dificuldades de comunicação eram sentidas pelos doentes e suas famílias (Dunne, 2005).

Jarrett e Payne (1995), numa revisão da literatura sobre a comunicação enfermeirodoente, concluíram que a maior parte das investigações recaem sobre as competências de comunicação do enfermeiro na relação enfermeiro-doente. Identificaram também que tem havido relutância em considerar a percepção dos doentes em relação aos enfermeiros, o que eles desejariam dizer aos mesmos, e como os factores contextuais e ambientais, como
por exemplo, as relações de poder, o controlo do conhecimento e o carácter cultural e social do enfermeiro, podem influenciar o doente. Estas conclusões são interessantes, na medida em que os enfermeiros devem analisar cada situação de forma individual, de modo a considerarem as necessidades de informação individuais de cada doente (Fosbinder, 1994; Green, 2006; Johnston e Smith, 2006).

As evidências demonstram então que as necessidades dos enfermeiros e de outros profissionais de saúde de desenvolverem a sua comunicação e competências interpessoais, de modo a facilitar o processo de comunicação com o doente, em vez de utilizar mecanismos de defesa e distanciamento que impedem uma comunicação eficaz. As competências da escuta activa, questionamento aberto e reflexão, promovem uma melhor comunicação e incentivam a empatia. Quando estas competências são utilizadas, o processo de comunicação melhora, e ajuda a garantir que os acontecimentos que levaram à morte foram bem geridos (Dunne, 2005).

Nesta linha de pensamento, McIntosh (1977), Bond (1978) referidos por Jarrett e Payne (1995) e Johnston e Smith (2006), examinaram a comunicação entre enfermeiro-doente com doença grave e progressiva e enfatizaram que as equipas de saúde necessitam de um ter um conjunto de competências comunicacionais para poder responder de forma positiva às necessidades dos doentes e suas famílias, visto que a comunicação é um instrumento essencial na construção da relação terapêutica. É de salientar ainda que um dos problemas que a família enfrenta nesta fase é a comunicação ineficaz: a comunicação é essencial para o funcionamento saudável da família, e as famílias com competências limitadas em comunicação, estão menos aptas a lidar com situações de stress5 (Kristjanso & Aoun, 2004:362).

Por outro lado, estudos desenvolvidos por Sibbald et al (2007), permitiram concluir que a maioria dos enfermeiros reconhecem que estão mal preparados para comunicar com o doente terminal e que têm falta de conhecimento das técnicas específicas, valorizando que os aspectos da comunicação devem ser tidos em consideração no âmbito da prestação de cuidados paliativos para doentes em fim de vida.

Uma das barreiras à comunicação identificadas neste estudo é a procura e o acesso à informação, pois os doentes terminais e as suas famílias referem ter dificuldades quando tentam obter determinada informação, principalmente devido ao jargão médico, às barreiras da linguagem (como a língua) e às diferenças do nível de educação entre si e os profissionais de saúde. Os membros da família referem ainda que hesitam em incomodar os tão ocupados profissionais de saúde com questões sobre os cuidados ao seu familiar, porque acreditam que os prestadores de cuidados de saúde são os principais responsáveis pelo doente e que as suas necessidades e preocupações são superficiais. No entanto os profissionais de saúde podem também limitar a informação que partilham com os doentes e famílias, em parte pela sua agenda muito preenchida em trabalho, porque eles próprios assumem que os doentes e famílias compreenderam a informação transmitida, e também porque sentem dificuldades em comunicar com os doentes, e não se sentem confortáveis e à vontade para comunicar más notícias (Kristjanso & Aoun, 2004:362). Atendendo a estes factores que limitam uma comunicação eficaz entre os membros da família do doente e os prestadores de cuidados de saúde, pode auxiliar as famílias a preencher este vácuo de informação e se sentir mais confiantes sobre como lidar com a doença do seu familiar doente.

CONCLUSÃO

Através deste artigo pretendemos realizar uma revisão sistemática da literatura sobre o tema “a comunicação enfermeiro-doente como estratégia para alívio do sofrimento na fase terminal da vida”.

Após estabelecermos a questão de partida, através do método PI[C]OD, formulámos os objectivos, recorremos a bases bibliográficas informatizadas e, seleccionámos 110 artigos no total. Posteriormente, foi realizada uma análise crítica do conjunto de artigos, bem como a elaboração de fichas de leitura, tendo sido escolhidos 8 artigos por corresponderem aos critérios de inclusão por nós estabelecidos.

Ao analisarmos estes artigos, verificámos que todos referem que a comunicação é uma das necessidades do doente em fase terminal e sua família, a qual é uma intervenção autónoma de enfermagem que deve ser utilizada como estratégia promotora do alívio do sofrimento. Contudo, estas necessidades muitas vezes não são valorizadas ou não são correctamente identificadas/trabalhadas pelos enfermeiros, de forma satisfatória. Os doentes e suas famílias e também os profissionais reconhecem esta dificuldade e que a mesma influencia a qualidade dos cuidados prestados.

Para concluir, consideramos que esta revisão é de extrema importância para o nosso desenvolvimento enquanto estudantes e futuras enfermeiras, visto que é uma temática com a qual nos confrontámos durante o nosso percurso e que nos fez questionar a nossa prática. Assim, através da análise de artigos de investigação e discussão a ela inerente, foi-nos possível reflectir sobre esta temática integrada nos cuidados paliativos, de modo a repensar as nossas práticas. Como resultado desta revisão sistemática, vamos ao longo do Ensino Clínico IX, de Integração à Vida Profissional, desenvolver um trabalho de investigação, de modo a reflectirmos sobre os pressupostos enunciados no alívio do sofrimento, através do Process of Critical Reflective Inquiry (Roy & Jones, 2007).

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