A edição do primeiro número da Revista Envelhecimento e Inovação, é um marco histórico na vida da Associação Amigos da Grande Idade – Inovação e Desenvolvimento, da qual tenho a honra de ser Presidente.
Nascida em meados de 2008 a Associação tem vindo a percorrer um caminho de grande pragmatismo e de enorme visibilidade, conseguindo nestes últimos anos, transmitir em centenas de eventos, iniciativas e reuniões cientificas uma visão algo diferente do envelhecimento, das pessoas idosas e dos equipamentos destinados a estas pessoas, utilizando sempre um discurso de desconstrução dos conservadores preconceitos que a sociedade mantém em relação às questões das pessoas mais velhas.
Defendemos, como Kofi Annan, que o envelhecimento não é uma desgraça mas uma vitória de todas as sociedades e, ao mesmo tempo, uma oportunidade. Desconstruímos a ideia de que o envelhecimento tem a ver exclusivamente com o aumento da esperança de vida e julgamos que uma das razões mais graves é a
diminuição da taxa de natalidade, apresentando uma visão global do fenómeno e não nos deixando cair na tentação de parcelizar os problemas actuais. Apoiamos uma reforma estrutural da legislação que implica novos modelos de equipamentos e serviços destinados às pessoas idosas. Formamos técnicos, abrindo-lhes as perspectivas e dando-lhes novas ferramentas para melhor desempenharem as suas funções e fazemos, como ninguém, uma ligação permanente do trabalho científico à prática do trabalho diário no terreno.
A revista que agora nasce pretende ser uma mediatização de todo o trabalho que já desenvolvemos e que vamos desenvolvendo e que é espelhado por dezenas de técnicos que têm a obrigação de publicar os seus trabalhos, partilhar as suas ideias e propostas e dar a conhecer a sua investigação de forma a ser aplicada para melhorar os cuidados e serviços a Pessoas idosas.
Ao longo da minha curta mas preenchida carreira de gestor de uma unidade de cuidados e serviços para pessoas idosas fui realizando muito trabalho ao qual faltava a contextualização teórica e o acompanhamento científico. Foi com a integração de pessoas da área académica que esse trabalho começou a fazer sentido e a poder ser discutido, partilhado e, agora, copiado. Foi nessa altura que começamos a entender que a investigação científica tem que mudar alguns dos seus paradigmas e não pode ficar dentro dos gabinetes das escolas e universidades nem pode ser feito em função de interesses que não sejam os do mercado de trabalho e do desempenho prático no terreno.
A investigação científica tem que encontrar novos caminhos mas deve ser feita em função das necessidades do trabalho que os técnicos desenvolvem no dia-a-dia. É normal ouvirem-me dizer que antes de se escolher um tema para um trabalho de investigação deve falar-se com os técnicos dessa área e responder não a questões puramente académicas mas às necessidades que esses técnicos sentem no desempenho das suas funções. Sair da escola o mais possivel, ultrapassar os portões da universidade e acima de tudo perder a arrogância académica tão brilhantemente desenvolvida no nosso pequenino País e cujos resultados são lamentáveis em função da produção técnico-científica que temos, especialmente na área do envelhecimento.
Área do envelhecimento a que temos que dar cada vez mais importância, tanto do ponto de vista de respondermos às necessidades das pessoas como do ponto de vista da sustentabilidade de uma sociedade onde cada vez nascem menos crianças e cada vez se vive mais tempo. Também do ponto de vista de viver mais tempo com mais saúde.
Sabemos hoje pouco sobre os cuidados e serviços mais adequados às pessoas idosas. Continuamos a trabalhar nesta área baseados em modelos que nos forma
sendo passados e que assentam no chamado conhecimento do “olhómetro”: vimos, logo copiamos. Não existem modelos sustentáveis e de qualidade para serviços de
cuidados domiciliários, para centros de dia, temos lares que mantem ofertas que tinham há praticamente um século, não criamos evidencia na área da ocupação, lazer e recreação, não estudamos quaisquer indicadores nestes equipamentos, não temos princípios de organização de trabalho, de gestão, de planeamento, de estratégia, de comunicação, etc. A área do envelhecimento e todas as suas questões práticas não estão na ordem do dia e o trabalho que se desenvolve estuda aparentemente um idoso que não existe e que faz parte do imaginário de muitos e muitos académicos.
A Revista que agora se edita pretende ser um espaço de livre opinião com critérios técnico-científicos mas não impeditivos de publicação do que se entender importante para todos os interessados nas questões do envelhecimento.
A manutenção da Revista e a garantia da sua periodicidade semestral é o principal objectivo, tendo também a pretensão de uma edição em formato papel para maior divulgação. Mas estamos habituados a ser pacientes e a fazer o caminho certo pelo que não teremos quaisquer precipitações. A Revista representa uma das áreas de desenvolvimento da Associação e será com esta modéstia que percorreremos o caminho necessário a impô-la na comunidade académica e no sector operacional, contando com muitos amigos e algumas personalidades de relevância nacional que acreditam em nós. É uma publicação que vai sair sem qualquer patrocínio, sem qualquer subsidio ou outro financiamento que não seja o trabalho de cidadania exercido pelos elementos da Associação e seus colaboradores.
Esperamos pelo apoio de mais e mais amigos e pelos seus artigos, trabalhos ou mesmo, simplesmente, informação relevante que julguem ser interessante partilhar.
É meu desejo, ocupando estas funções na Associação ou não, que este número da Revista, modesto é certo, mas convicto do caminho a percorrer, seja um passo
decisivo para mais uma iniciativa preenchida de êxito.
Bem-vindo Revista On-line Envelhecimento e Inovação.
Rui Fontes – Presidente da Associação Amigos da Grande Idade – Inovação e Desenvolvimento.