Mai 20, 2013

Pessoas com Tuberculose Pulmonar, intervenções dos cuidados de enfermagem, na adesão ao regime terapêutico: Revisão Sistemática da LiteratuRa

Persons with Pulmonary Tuberculosis, nursing care interventions, adherence to therapy: A systematic literature review

PERSONAS CON TUBERCULOSIS PULMONAR, impacto de los cuidados de enfermeria en la adesión del régimen terapéutico: REVISIÓN SISTEMÁTICA DE LA LITERATURA

Autores: Fernandes R[1]; Ventura C[2]; Nunes C[3]; Ramos A[4]:

RESUMO

Objectivo: Identificar as intervenções de enfermagem, que influenciam a adesão ao regime terapêutico das pessoas com Tuberculose Pulmonar.

Metodologia: Efectuada pesquisa na EBSCO (CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text). Foram procurados artigos em texto integral, publicados entre 2000/01/01 e 2011/12/31. Foi utilizado o método de PI[C]O e identificados 254 artigos: texto completo (ano 2000-2011) – 182; Incluídos/14; Síntese Qualitativa/13; Meta análise/1.

Resultados: As intervenções de enfermagem que mais influenciam a adesão terapêutica são: o controlo de sintomas e de situações adversas, o apoio psicológico, a gestão do regime terapêutico com recurso a toma directa observada (TOD), a educação para auto-gestão da saúde, a gestão de casos e a existência de linha de apoio telefónico.

Conclusões: Os factores que influenciam a adesão ao regime terapêutico nas diferentes partes do mundo divergem na forma como os cuidados de saúde estão organizados e por condições sócio-económicas e culturais, no entanto, as intervenções de enfermagem são semelhantes. A adesão terapêutica é o pilar para o sucesso do tratamento da tuberculose.

Implicação na Prática profissional: É importante perceber quais as intervenções de enfermagem desenvolvidas para a promoção da adesão terapêutica realizada pela comunidade internacional, com a finalidade de cimentar a prática clínica, baseada na evidência científica.

Palavras-chave: Tuberculosis, Pulmonary, Nursing Care, Medication Adherence

PERSONS WITH PULMONARY TUBERCULOSIS, INTERVENTION OF NURSING CARE IN ADHERENCE TO THERAPEUTIC REGIMEN: A SYSTEMATIC REVIEW OF THE LITERATURE

ABSTRACT

Objective: To identify the nursing interventions that influence adherence to treatment of people with Pulmonary Tuberculosis.

Methodology: It was made a research in EBSCO (CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text). Articles in full text were searched, published between 2000/01/01 and 2011/12/31. The

PI[C]O method was used and  254 articles were identified: full text (year 2000-2011) – 182; Included/14; Qualitative summary/13; Meta-analysis/1.

Results: The nursing interventions that most influence therapeutic adherence are: symptoms and adverse circumstances control, psychological support, the therapeutic regimen management, the education for health self-management using DOTS (Directly Observed Therapy Short Course), case management and a telephone support line

 Conclusions: The factors that influence adherence to therapy regimen in different parts of the world differ in the way health care is organised and by socio-economical and cultural conditions; however, nursing interventions are similar. The therapeutic adherence is the pillar to the success of tuberculosis treatment.

Implication for the professional career: It is important to understand which are the nursing interventions developed to promoting therapeutic adherence made by the international community, for the purpose of entrenching clinical practice, based on the scientific evidence.

Key words: Tuberculosis, Pulmonary, Nursing Care, Medication Adherence

INTRODUÇÃO

A tuberculose (TB), é a principal causa de morte provocada por uma doença infecciosa curável, tornando-se num problema global cuja dimensão, em números absolutos, continua a crescer, com uma incidência de 9,4 milhões de casos em todo o mundo, ou seja, 139 novos casos por 100.000 habitantes, com uma mortalidade de 1,3 milhões de pessoas (20/100.000). A maior parte dos casos ocorreu na Ásia (50%) e Africa (30%). As mais elevadas taxas de incidência encontram-se nos países da Africa Subsariana, onde em alguns atinge os 1000 por 100.000 habitantes1.

A União Europeia apresentou uma incidência de 16.7/100.000 habitantes em 2008 e é considerada uma região de baixa incidência, sendo que 21 dos 27 países têm <20/100.0001.No entanto, Portugal encontra-se com taxa de incidência de 21/100.000, ficando no limiar da baixa incidência1,com 2388 casos de TB notificados em 2011, dos quais 2.231 se reportam a novos casos, o que corresponde a uma diminuição de 9,6% relativamente ao ano anterior2.

Todavia, a TB é causa de morte, quando a pessoa doente não recorre aos serviços de saúde competentes ou não procura o tratamento atempadamente. A situação de incorreta ou não adesão à terapêutica aumenta a probabilidade do surgimento de graves complicações, dado que possibilita o aparecimento da doença, por sua vez, resistente aos medicamentos usados para o tratamento e controlo da tuberculose3. A multirresistência é uma ameaça global e sem controlo. Estima-se que emergem 440.000 novos casos em cada ano, dos quais menos de 10% são diagnosticados e, ainda, uma menor percentagem é tratada adequadamente, o que conduz à morte de 150.000 pessoas por ano1. Um dos maiores constrangimentos ao controlo da Tuberculose Multirresistente (TBMR) é a capacidade laboratorial para a detectar, que é exígua na maior parte dos países afectados. Mais de metade dos 27 países de mais alta prevalência não tem meios para a diagnosticar. Da totalidade dos casos registados em todo o mundo, 70% são notificados na Europa e na Africa do Sul1.

Associado à TB existem vários factores, nomeadamente a co-infecção VIH que aumenta 20 a 30 vezes mais a possibilidade de desenvolver TB, o que lhes confere uma enorme vulnerabilidade. Em África, a região mais afectada, estima-se que tenham ocorrido 900 mil casos de TB/VIH, ou seja, 82% do total mundial1.

A adesão ao regime terapêutico é um foco de atenção e uma necessidade de cuidados de enfermagem. É um conceito que engloba não só o cumprimento da prescrição farmacológica, mas também os comportamentos promotores de saúde, pelo que o enfermeiro deve compreender como o regime terapêutico se relaciona com a vida do doente4. É a partir da tentativa de compreensão da gestão terapêutica individual, que inclui as vivências, experiências e condição social e económica, que se torna possível implementar intervenções de enfermagem, baseadas na evidência científica, na individualização de cuidados e nas necessidades da pessoa, sujeito ativo de cuidados4.

No mesmo sentido, a proximidade com as pessoas doentes, a natureza da relação de cuidados e a duração do tratamento, proporcionam aos enfermeiros uma excelente oportunidade de monitorizar a adesão, diagnosticar o incumprimento. Para deste modo, planear e implementar intervenções que efectivamente ajudem as pessoas a integrar o regime terapêutico nos seus hábitos diários, dotando-os de conhecimentos e capacidades, facilitando a adaptação à sua situação de doença2.

O interesse pela presente problemática é sustentado pelos números supra-apresentados, com o objetivo de identificar quais as ações de enfermagem que promovem a adesão ao regime terapêutico.

TUBERCULOSE

Tuberculose é uma doença causada pelo Mycobacterium Tuberculosis (MT), que é um bacilo (bacilo de Koch) não móvel e sem esporos. O MT é um organismo aeróbico obrigatório que cresce melhor em tecidos humanos, nomeadamente onde a pressão de oxigénio é mais elevada (ápices do pulmão), é ácido-álcool resistente e tem um crescimento lento. A infeção ocorre sobretudo por inalação de secreções respiratórias aerossolizadas pela tosse, espirro ou conversação. O pulmão é o órgão inicial e principal de infeção, contudo podem ser também envolvidas localizações extra-pulmonares, sendo as mais comuns: o sistema génito-urinário, músculo-esquelético e os nódulos linfáticos.5.

Na viragem para o século XXI, devido a prescrições inadequadas, deficiente qualidade dos fármacos e fraca adesão por parte dos doentes, ao longo dos anos, desenvolveu-se a maior ameaça de sempre da TB, a Tuberculose Multirresistente (TBMR). TBMR é uma forma de TB em que o bacilo é resistente a pelo menos dois dos medicamentos, considerados os mais importantes para o seu tratamento: a Isoniazida (H) e a Rifampicina (R)1. Entre os casos de TBMR, existe ainda a Tuberculose Extensivamente Resistente (TBXDR), isto é uma forma de tuberculose em que, além da resistência aos dois fármacos referidos anteriormente (H e R), se observa também resistência a qualquer fluroquinolona, mais um dos seguintes injetáveis: canamicina, amicacina ou capreomicina6.

ADESÃO AO REGIME TERAPÊUTICO E RESULTADOS SENSÍVEIS AOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM

Para a OMS (2001), o conceito de adesão expressa mais do que simplesmente seguir as instruções clínicas, depende da adopção e manutenção de comportamentos terapêuticos, assim como da autogestão de factores biológicos, comportamentais e sociais que influenciam a saúde e a doença, envolvendo todos os profissionais de saúde3. Adesão implica a conclusão do tratamento prescrito pela equipa multi-disciplinar que está a fazer o acompanhamento do doente com TB. A adesão também é referida como cumprimento ou concordância10.

Nesta linha de raciocínio torna-se crucial clarificar o conceito dos resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem, que se pretende estudar na questão da adesão ao regime terapêutico. Doran (2011) refere que, os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem desenvolvem-se na mesma estrutura de qualidade proposta por Donabedian (2003) e estão relacionados com duas variáveis: (1) cliente (idade, género, educação, tipo e adversidade da doença e co-morbilidades); (2) enfermeiro (nível de ensino, experiência, rácios, organização e carga de trabalho). Este processo engloba as acções independentes (intervenções de enfermagem) e acções interdependentes (comunicação em equipa, coordenação de casos e sua gestão)7,8

METODOLOGIA

De forma a delimitar um vasto campo de hipóteses inerentes à problemática em estudo e a responder ao objectivo delineado, elaborou-se a seguinte questão de partida, que atende aos critérios do formato PICO13: Em relação às pessoas com Tuberculose Pulmonar (População), quais as intervenções de enfermagem (Intervenção) que podem influenciar a adesão ao regime terapêutico (Outcomes)?

Por conseguinte, foi levada a cabo uma pesquisa no motor de busca EBSCO, com recurso a duas bases de dados: CINAHL Plus with Full Text e MEDLINE with Full Text, British Nursing Index). As palavras-chave orientadoras utilizadas foram previamente validadas pelos descritores da United States of National Liberary of National Institutes of Health, com a respetiva orientação: [(MM “Tuberculosis, Pulmonary” OR  Tuberculosis) AND (Nursing OR Nursing Care OR Nurse) AND (adherence OR patient-centered OR Medication Adherence], as palavras foram procuradas em texto integral (Dezembro/2011), retrospectivamente até 2000, resultando 254 artigos no total., consideram As revisões sistemáticas da literatura devem considerar a evidência dos últimos 5 anos, no entanto consideramos o período temporal de 10 anos pelo facto da maior abrangência face ao conhecimento existente sobre a matéria em análise9. Para avaliarmos os níveis de evidência utilizamos seis níveis de evidência: Nível I: revisões sistemáticas (meta análises/ linhas de orientação para a prática clínica com base em revisões sistemáticas), Nível II: estudos experimentais, Nível III: estudos quase experimentais, Nível IV: estudos não experimentais, Nível V: estudos qualitativos/ revisões sistemáticas da literatura sem meta análise, Nível VI: opiniões de autoridades respeitadas/ painéis de consenso9.

Como critérios de inclusão privilegiaram-se os artigos com cerne na problemática, que nos permitissem identificar as intervenções de enfermagem, que influenciam a adesão ao regime terapêutico das pessoas com Tuberculose Pulmonar e seus cuidadores, com recurso a metodologia qualitativa e/ou quantitativa ou revisão sistemática da literatura, que clarificassem as suas vantagens na aplicação da prática clínica e o seu impacto nos resultados em saúde. Nos critérios de exclusão inseriram-se todos os artigos com metodologia pouco clara, repetidos nas duas bases de dados, com data anterior a 2000 e todos aqueles sem co-relação com o objecto de estudo enunciado. O percurso metodológico levado a cabo encontra-se exemplificado na figura 1.

Protocolo – EXEMPLO

  Identificação:
  • MM “Tuberculosis, Pulmonary” OR  Tuberculosis – 202694
  • Nursing OR Nursing Care OR Nurse – 1041089
  • adherence OR patient-centered OR Medication Adherence – 104579
  • N º de registos identificados através de banco de dados de pesquisa (CINAHL, MEDELINE) – 254
  • N º de registos identificados em texto completo, ano 2000-2011 – 100
Triagem:
  • N º de registos duplicados e removidos – 3
  • Nº de registos seleccionados (titulo e resumo) – 14
  • Nº de registos excluídos (titulo e resumo) – 83
Critérios de Inclusão (leitura integral):
  • N º de artigos em texto completo incluídos – 14
  • N º de artigos em texto completo excluídos – 86
Artigos Incluídos (níveis de evidência):
Nível I – 1;Nível II – 1; Nível III – 2; Nível IV – 5; Nível V – 2; Nível VI – 3.

Figura 1: Processo de pesquisa e seleção de artigos para revisão sistemática de literatura

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Para tornar perceptível e transparente a metodologia utilizada explicita-se a listagem dos 14 artigos filtrados, que constituíram o substrato para a elaboração da discussão e respectivas conclusões da Síntese Qualitativa (Tabela 1).

Artigos incluídos / Metodologia / Participantes

Resultados

Autores: James, Watson (2010)10

Metodologia: Opiniões de autoridades respeitadas

Níveis de evidência: VI

Participantes: Stephanie James, Michael Watson

Os enfermeiros necessitam de mais conhecimentos sobre a tuberculose, para isso identifica 5 temas fundamentais: a importância do conhecimento no tratamento da TB, a adesão à terapêutica antibacilar, o recurso a TOD, o papel da enfermagem e a integração nas equipas multidisciplinares.
Autores: Cabrera, Grose (2011)11

Metodologia: Opiniões de autoridades respeitadas

Níveis de evidência: VI

Participantes: Cinahl Information Systems

A adesão ao tratamento é influenciada pela pobreza, necessidade de manter a actividade profissional, ausência de apoio familiar; custo do tratamento, quantidade de fármacos/ dia, duração do tratamento, efeitos colaterais da terapêutica, acessibilidade dos cuidados, a qualidade do relacionamento entre os prestadores de cuidados de saúde e o doente, a presença de sentimentos de solidão e desesperança, o estigma social e a negação; assim como a procura tardia dos serviços de saúde. O estudo sugere a TOD, incentivos ao doente e educação/aconselhamento/esclarecimento do doente, como intervenções que podem promover a adesão ao tratamento da TB
Autores: Berger, Bratu (2006)12

Metodologia: qualitativa e quantitativa

Níveis de evidência: IV

Participantes: 150 utentes com TB, 200 médicos e 107 enfermeiros na Roménia

O estudo revelou que os enfermeiros tinham falta de experiência e de recursos materiais para o ensino da TB, ao utente. Concluiu-se que quando o ensino se resume apenas ao internamento, após a alta regista-se um declínio significativo na adesão. Os prestadores necessitam de recursos e experiência para facilitar a comunicação com o utente, bem como formação na área da TB.
Autores: Xu et al (2009)13

Metodologia: quantitativa e qualitativa

Níveis de evidência: IV

Participantes: 780 utentes com baciloscopia positiva em 13 províncias da China

Cerca de 12.2% do total dos utentes não aderiu ao tratamento. Verificou-se a existência de um perfil semelhante: pessoas divorciadas/viúvas, analfabetas, sem seguro de saúde e emigrantes. Como fatores de não adesão foram identificados os encargos financeiros, os períodos da doença sem sintomatologia, o tratamento longo e com grande quantidade de medicamentos, as reações adversas aos mesmo e a falta de suporte social. Sugerem como medidas TOD, visitas domiciliárias e intervenções mais centradas no utente.
Autores: Sagbakken et al (2008)14

Metodologia: estudo qualitativo, com 50 entrevistas estruturadas e 2 focos grupo

Níveis de evidência: V

Participantes: 50 participantes: utentes em diferentes estádios de tratamento, familiares e profissionais de saúde

A não adesão ao tratamento resultou em infeções prolongadas, resistência aos medicamentos, recidiva e morte. Como fatores inibidores a adesão identificou-se a perda de emprego, tratamento diário prolongado e exigente do ponto vista físico, rotinas rígidas, familiares e amigos com poucos recursos, deficit de suporte social por exaustão dos cuidadores e diminuição do poder económico ao longo do tempo.
Autores: Dick et al (2004)15

Metodologia: Estudo quase experimental, de intervenção

Níveis de evidência: III

Participantes: 45% o número total de doentes com TB na África do Sul, durante o ano de 1999

As taxas de cura, na África do Sul, são baixas devido à não adesão ao tratamento. Foram identificados como factores de não adesão o relacionamento entre profissionais e doentes e cuidados pouco centrados nas necessidades dos utentes. O programa promoveu a reflexão crítica sobre o trabalho desenvolvido e aumentou a consciência da importância da comunicação com os doentes e os profissionais.
Autores: Sardar et al (2010)16

Metodologia: quantitativa, por questionário

Níveis de evidência: IV

Participantes: 111 utentes com TB.

Neste estudo cerca de 40,5% dos utentes apresentaram co-infecção com HIV. Identificou-se os factores que contribuem para a não adesão: ausência de orientação apropriada, falta de conhecimentos sobre a transmissão da TB, melhoria da sintomatologia, informação inadequada sobre a co-infecção HIV TB, estigma social, dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, reacções adversas e custo do tratamento inviável.
Autores: Volmink, Paul (2009)17

Metodologia: Revisão sistemática da literatura

Níveis de evidência: I

Participantes: 14 estudos randomizados e quase experimentais

Foram analisados 14 estudos que identificaram estratégias para promover a adesão ao tratamento: aconselhamento e educação para a saúde, incentivos e educação para a saúde, assistência através de “agentes comunitários de saúde”, contratos de saúde, acompanhamento permanente, TOD e supervisão intensiva
Autores: Mulenga et al (2010)18

Metodologia: estudo quase experimental

Níveis de evidência: III

Participantes: 105 utentes com Tuberculose Pulmonar entre 2006 e 2007 na Zâmbia

Apesar das pessoas apresentarem elevados conhecimentos sobre TB, que se reflecte na adesão ao tratamento de 77%, houve atraso na procura dos serviços de saúde. Foi considerado como factores determinantes para a adesão ao tratamento: o conhecimento do utente sobre a doença e o seu tratamento, adesão do cuidador às orientações de tratamento e o acesso aos cuidados.
Autores: Janmeja et al (2005)19

Metodologia: estudo randomizado

Níveis de evidência: II

Participantes: 200 utentes com TB pulmonar e extra-pulmonar, dividos igualmente pelo grupo de controlo e experimental no Departamento de Pneumologia, na Índia

Na avaliação do papel da psicoterapia na modificação do comportamento, para cumprimento do tratamento da tuberculose, foram identificados motivos para o abandono terapêutico: indisponibilidade de medicamentos, efeitos adversos, custo envolvido no tratamento, não compreensão da doença, motivação e consciência da doença diminuídas. Considera-se que a psicoterapia tem uma boa relação custo-benefício, é importante para que o doente compreenda o processo de doença e cumpra o regime terapêutico, bem como a existência de acompanhamento até ao final do tratamento
Autores: Gough, Kaufman (2011)20

Metodologia: opiniões de autoridades respeitadas

Níveis de evidência: VI

Participantes: Andrea Gough e Gerri Kaufman

Considera-se motivos para a não adesão: a ausência de estímulo e acompanhamento dos profissionais de saúde, os custos elevados, a dificuldade na compreensão da doença, duração do tratamento, efeitos adversos da medicação e o estigma social. Como estratégia para melhorar a adesão propõem o respeito pela autonomia do doente e a tomadas de decisão partilhada.
Autores: Lavigne et al (2006)21

Metodologia: quantitativo, por inquérito por questionário

Níveis de evidência: IV

Participantes: 320 utentes com TB latente e fumadores

Os homens fumadores necessitam de uma maior supervisão para garantir o cumprimento do tratamento da TB latente. Dado que são menos susceptíveis a aderir a comportamentos saudáveis como a cessação tabágica. Os homens podem ter uma menor adesão por razões económicas, pelo elevado tempo despendido nos serviços de saúde e absentismo laboral.
Autores: Armijos et al (2008)22

Metodologia: qualitativa e quantitativa

Níveis de evidência: IV

Participantes: 212 adultos com TB em Quito, Equador

Apresentam como medidas de adesão ao tratamento e mudanças de comportamento: a utilização de meios de comunicação ou pessoas conhecidas pela comunidade alertando para a importância da adesão ao tratamento, redução do estigma, abordagem a preocupações comuns, existência de serviços de saúde acessíveis à população, testemunho de doentes com experiência na doença, informação adaptada para pessoas com baixa formação/escolaridade, já que são mais propensos para dúvidas sobre tuberculose, com menores rendimentos e, consequentemente, com maior risco de doença.
Autores: Pevzner et al (2010)23

Metodologia: qualitativa

Níveis de evidência: V

Participantes: 10 utentes com TB em Washington

Como factores facilitadores para a adesão ao tratamento destaca-se o apoio no transporte para acesso aos serviços, a providência de habitação e alimentação, que resultou em altas taxas de adesão ao tratamento. Este estudo refere que os profissionais necessitam de ter mais experiência no caso dos comportamentos aditivos e sugerem a necessidade de desenvolver um programa organizado, que aborde o problema do uso de drogas e a tuberculose.

 

 

Tabela 1: Análise e síntese dos artigos incluídos na revisão sistemática de literatura

 

DISCUSÃO DOS RESULTADOS

Diminuir a incidência da TB em Portugal e no mundo é objetivo consensual, pelo que é fundamental o envolvimento de todos os cidadãos e profissionais de saúde das diferentes instituições de saúde e da comunidade. Os enfermeiros têm um papel essencial e preponderante na implementação de medidas necessárias que dêem resposta a este grave problema de saúde pública, devendo as mesmas ser dirigidas não só ao individuo doente, como também à sua família e comunidade, de forma a quebrar a cadeia epidemiológica desta patologia e contribuir para a melhoria da saúde da comunidade.

A análise crítica do conjunto de artigos seleccionados e apresentados na tabela acima contribuiu para fornecer resposta à pergunta de partida, uma vez que de forma explícita ou implícita abordam as intervenções de enfermagem que podem influenciar a adesão ao regime terapêutico.

A dificuldade encontrada pela pessoa com TB em seguir esquemas de tratamento realça a pertinência do investimento neste domínio. Os esforços para melhorar os resultados do tratamento exigem assim uma melhor compreensão das barreiras inibidoras e facilitadoras da adesão17 e envolve diversas e complexas intervenções que devem decorrer de forma continuada, ao longo de todo o tratamento.

O sucesso do tratamento depende da avaliação inicial que o enfermeiro faz ao doente, despistando fatores de risco, como a condição sócio-económica desfavorável (desemprego, recursos financeiros/materiais limitados), deficit de apoio familiar, estigma social, dependência de substâncias e co-infecções nomeadamente VIH. Da mesma forma, que factores intrínsecos e pessoais como o analfabetismo, o facto de ser divorciado/viúvo ou emigrante também influenciam a adesão11,13,14,16,19,20,22.

Os doentes com limitado acesso à ajuda financeira de familiares ou pessoas significativas, contribui para que os custos totais do tratamento excedam os seus recursos disponíveis, sendo esta uma barreira para a adesão logo nas fases iniciais do tratamento11,13,14. O apoio monetário a estes doentes, bem como o seu encaminhamento para outros profissionais de saúde, como a assistente social, para que tenha acesso aos recursos locais de apoio11,13 torna-se fundamental.

O tratamento da tuberculose tem a duração mínima de seis meses e a antibioterapia é fornecida de forma gratuita, no entanto, a estruturação dos serviços de saúde e a acessibilidade dos mesmos, nos diferentes países é muito díspar. Nesta linha de pensamento, deve-se proporcionar os recursos técnicos e humanos necessários para controlar esta doença a nível mundial, bem como linhas orientadores de boa prática comuns.

Deste modo, é enfatizada a necessidade de investimento na formação dos profissionais de saúde, dotando-os de mais conhecimentos sobre a doença e desenvolver intervenções mais eficazes para estimular a adesão ao tratamento10,11,15,23. As intervenções mais relevantes prendem-se com a educação/ensino e o aconselhamento, acompanhamento ao longo do tratamento quer através de visitas domiciliárias, quer através de contacto telefónico e, sobretudo, através da toma directa observada (TOD), tendo esta uma elevada relação custo-benefício e sendo uma das medidas mais simples, económicas e eficazes recomendadas pela OMS11,12,13,17,19,20,22,23.

Pelo facto de se se tratar de um tratamento longo, a motivação14,19,20 é algo que se vai desvanecendo, que quando associado ao alívio da sintomatologia clínica16,20 ou aos efeitos secundários da terapêutica13,14,16,19,20, podem contribuir para o abandono da terapêutica e tornar a pessoa mais susceptível ao aparecimento de multirresistência, ao prolongamento da infecciosidade e, consequentemente, ao aumento do risco de recidiva e morte. Assim, a celebração de um contrato terapêutico11,17 e, sempre que possível, ajustar e simplificar o regime terapêutico11, promovendo e respeitando a autonomia do utente20, são intervenções preponderantes na adesão ao regime terapêutico.

Na perspectiva de promover a TOD, mas na incapacidade da existência de recursos humanos para o efeito, é benéfico o envolvimento de familiares ou pessoas significativas 17,22,no acompanhamento ao longo do tratamento e na supervisão da TOD. Estes resultados são corroborados por James e Watson (2010). Neste processo, a comunicação é um instrumento básico das intervenções de enfermagem 11,22.

Durante o tratamento é frequente, os doentes apresentarem humor deprimido. Neste sentido, é importante intervir precocemente através do apoio emocional11 e da realização de psicoterapia19. Os enfermeiros são conhecidos por serem uma importante fonte de apoio psico-emocional para os doentes e seus familiares durante a doença10. Os enfermeiros são o grupo profissional mais habilitado, pois o seu foco de atenção está preparado para a pessoa com TB/ pessoas significativas e comunidade, onde a pessoa com doença se insere 10. Na análise dos artigos constatou-se ainda que, o tratamento da TB pode atingir um maior coeficiente de qualidade se os enfermeiros manifestarem interesse na compreensão da vivência de cada situação individual de doença 10,11.

As necessidades dos doentes e preferências individuais tendem a ser ignoradas, decorrentes de um padrão burocrático de gestão de cuidados15, pelo que uma abordagem centrada na pessoa e nas suas necessidades aumenta os ganhos em saúde13,15,20.

A Tuberculose Pulmonar é uma doença que se transmite por na aérea, podendo contagiar várias pessoas que frequentem o mesmo espaço, durante várias horas por dia. É devido à facilidade de contágio que se trata de uma doença que coloca em perigo a saúde pública e, em Portugal, tratar-se de uma doença de declaração obrigatória. Por estes motivos, o rastreio precoce é das estratégias mais eficazes para diminuir o número de pessoas com tuberculose, bem como, para diagnosticar a tuberculose latente.

O programa STOP TB existente a nível internacional deverá dirigir a sua atenção também no, combate à toxicodependência, fortemente relacionado com o surgimento de TB23.

Existe comummente a crença de que a TB é uma doença do passado, esses mitos precisam ser quebrados para que a TB possa ser identificada mais precocemente e para que os profissionais de saúde estejam mais envolvidos nos cuidados. As equipas de saúde precisam de estar despertos para os sinais e sintomas da doença, conhecer quais os serviços locais de tratamento da TB e vias de encaminhamento10.

Nesta perspectiva, saber desenvolver competências para resolver problemas e criar um ambiente de apoio, onde os prestadores de cuidados de saúde sejam encorajados a reflectir criticamente sobre o seu trabalho, a planear/introduzir mudanças15 é fundamental para a melhoria da qualidade dos cuidados prestados à pessoa com TB. No quadro 2, resumem-se as principais dimensões encontradas para o fenómeno de adesão terapêutica e as intervenções de enfermagem associadas para o seu sucesso.

Tabela 2 – Dimensões da adesão terapêutica e intervenções dos cuidados de enfermagem sugeridas pela revisão de literatura

CONCLUSÃO Em jeito de conclusão é possível inferir que, existem fatores que constituem obstáculo à adesão terapêutica como, o baixo nível sócio-económico, associado a desemprego e estigma, o

Dimensões

Intervenções

Gestão do risco Rastreio aos grupos de risco e em contato com a pessoa com TB

Presença do enfermeiro como gestor de caso

Facilitar o acesso aos serviços de saúde 23

Satisfação do Cliente Respeitar a autonomia do doente

Partilha de poder na relação enfermeiro/ pessoa com TB20

Acompanhamento de enfermagem permanente, por consulta, visita domiciliária

Individualização de cuidados11,19,23

Educação para a auto-gestão da saúde (aconselhamento, instruções e material)

 

Desenvolver programas de controlo da TB e combate á toxicodependência23

Fornecer materiais de apoio /comunicação 11,22

Educação e aconselhamento11,12,17,19,22 risco e beneficio da terapêutica

Avaliar necessidade de educação11,12

Gestão de casos (diagnóstico, planeamento e coordenação de cuidados individualizados)

 

Psicoterapia 19

Fornecer apoio psico-emocional e relação de ajuda11

Avaliar fatores de risco para a adesão

Promover a literacia para a saúde, para otimizar o processo de compreensão da doença e controlo de sintomatologia

Promover a TOD

Empoderamento da pessoa, para a transformar num agente ativo do seu processo terapêutico11

Assinatura de contrato escrito para adesão ao regime de tratamento

Providenciar apoio social, dirigido para a satisfação das necessidades humanas fundamentais11,17

Ajustar e simplificar o regime terapêutico (auto-administração)

Testemunho de pacientes com experiência na doença 22

Centrar a abordagem dos profissionais nas necessidades dos doentes13,15,20

Auto-avaliação e reflexão crítica da prática15

Aquisição de mais conhecimentos (enfermeiros) sobre TB11

Desencadear apoio monetário11,23

Implementar uma linha de apoio telefônico permanente/ Tele-assistência11,17,24

 

elevado tempo de tratamento, os efeitos secundários dos antibióticos e melhoria da sintomatologia. Por outro lado, a falta de acompanhamento profissional e familiar e a ausência de motivação contribuem para o abandono terapêutico.

Na perspectiva de melhorar e incentivar a adesão terapêutica foram identificadas intervenções de enfermagem associadas ao controlo de sintomas, segurança das pessoas próximas na comunidade, à satisfação do doente, à necessidade de apoio psicológico, de gestão do regime terapêutico e gestão de cada caso de forma individualizada. A capacidade da pessoa para gerir o tratamento da TB é um produto de processos dinâmicos, entre os custos sociais e económicos e outras mudanças que ocorrem ao longo do tratamento. As intervenções que facilitam a adesão ao tratamento da TB precisam ter em conta o tempo específico do tratamento e os factores locais14.

Implicações na Prática Profissional

Com base nos resultados obtidos através desta revisão sistemática pode-se observar que existem diferentes factores que promovem ou inibem a adesão ao regime terapêutico. Existem um conjunto de intervenções que podem ser integradas ou aperfeiçoar a prática clínica, nomeadamente, as que se reportam aos cuidados centrados nas necessidades dos doentes, o respeito pela autonomia e a colaboração no ajustamento e simplificação do regime terapêutico, da mesma forma que se deve apostar na educação/ensino da pessoa com TB e pessoas significativas e dotar os profissionais cada vez mais de conhecimentos, contribuindo para a melhoria dos cuidados e do bem-estar da pessoa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS até ao máximo de 30

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[1] Enfermeiro do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Especialista em enfermagem de reabilitação (ESEL), Mestre em Ciências da Dor (Faculdade de Medicina da Universidade Lisboa)

[2] Carla Ventura, enfermeira do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Especialista em enfermagem de Saúde mental e Psiquiatria, Mestrado de natureza profissional, em Saúde Mental e Psiquiatria (Instituto Ciências da Saúde – Universidade Católica Lisboa)

[3] Enfermeira do Centro Hospitalar Lisboa Norte.

[4] Enfermeira, Centro Hospitalar Lisboa Norte. Lisboa. Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Enfermagem. Lisboa. Portugal. E-mail: ramos.anafilipa@gmail.com.com

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Mar 11, 2013

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NURSING OUTCOME IN THE PERSON WITH NONINVASIVE VENTILATION AT HOME

RESULTADOS SENSIBLES EN LA ATENCIÓN DE ENFERMERÍA EN LA PERSONA SOMETIDA A VENTILACIÓN NO INVASIVA EN CASA

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AUTORES: Ana Correia, Clara Freitas, Cláudia Pereira, Fátima Ferreira

RESUMO

Objetivo: Demonstrar os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem à pessoa com VNI no domicílio.

Metodologia: Efetuada pesquisa na EBSCO (na CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, British Nursing Index). Foram procurados artigos em texto integral (Janeiro / 2012), publicados entre 2002 e 2011. Foi utilizado o método de PI[C]O e selecionados 10 artigos do total de 98 encontrados.

Resultados: Foram identificados indicadores de necessidades de cuidados que poderão condicionar a adesão à VNI no domicílio a que foram associados variáveis de resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem como: controle de sintomas, segurança / ocorrências adversas, apoio psicológico, utilização dos serviços de saúde, gestão do regime terapêutico e qualidade de vida.

Conclusões: O doente submetido a VNI devidamente apoiado pelos enfermeiros, resolve melhor as complicações inerentes ao tratamento refletindo-se na redução de internamentos hospitalares assim como uma maior estabilização clínica e melhor qualidade de vida no domicílio.

Implicações na prática profissional: Necessidade de formação inicial e contínua dos enfermeiros.

Palavras-chave: Ventilação mecânica não Invasiva (VNI), Resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem, Cuidados de Enfermagem.

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ABSTRACT

Objective: To demonstrate the results sensitive to nursing care to people with NIV at home.

Methodology: The research was carried out in EBSCO (CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, British Nursing Index). Articles were searched in full text (January/2012), published between 2002 and 2011. We used the method of PI [C]O and selected 10 items of total 98.

Results: Indicators of care needs that may restrict the adherence to the NIV at home were identified and associated with nursing outcome variables such as symptom management, adverse patient outcomes, psychological support, healthcare utilization, management of therapeutic regimen and quality of life.

Conclusions: The patient receiving NIV duly supported by nurses, best solves adverse outcomes of the treatment being reflected in reduced hospital admissions and greater clinical stability and better quality of life at home.

 Implications for practice: The need for initial and continuing training of nurses.

 Keywords: Noninvasive mechanical ventilation (NIV), Nursing Outcome and Nursing Care.

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INTRODUÇÃO

A ventilação não invasiva tem um papel cada vez mais importante quer em patologia aguda, quer na doença respiratória crónica (Ferreira, 2009). Evita a entubação endotraqueal e consequentemente os riscos associados, como por exemplo lesões da via aérea e pneumonias (Prado, 2008).

 Por ser fácil de instituir e de retirar, pode ser efetuada fora de uma unidade de cuidados intensivos, levando assim a uma diminuição do tempo de internamento hospitalar, da mortalidade e uma diminuição dos custos (Ferreira, 2009). O seu uso em doentes crónicos demonstrou benefícios fisiológicos que levaram à diminuição de necessidade de hospitalização e aumento da sobrevivência (Chang, 2010).

De acordo com a Canadian Thoracic Society (2011) os cuidados de saúde continuam a evoluir, sendo mais sofisticados, permitindo utilizar a tecnologia médica fora do ambiente hospitalar tradicional. Fatores como as preferências do doente e família, tecnologia de fácil manuseamento, escassez de camas a nível de internamento e a pressão económica sobre orçamentos hospitalares têm influenciado a transição de cuidados hospitalares para os cuidados na comunidade.

Em Portugal, o Relatório de Situação de Cuidados de Saúde Respiratórios Domiciliários publicado em 2010 refere que as doenças respiratórias crónicas graves, as perturbações respiratórias do sono e as doenças neuromusculares afetam mais de um milhão de doentes, sendo que no controlo clínico destas doenças estão indicadas a oxigenoterapia e ventiloterapia domiciliárias. A despesa do Sistema Nacional de Saúde com os Cuidados Respiratórios Domiciliários é da ordem dos 55,5 milhões de euros anuais, sendo que mais de 50% deste valor é referente à ventiloterapia. Os estudos disponíveis indicam claramente que a adesão dos doentes é muito baixa em virtude da falta de esclarecimento e supervisão. São vários os fatores descritos associados à tolerância e consequente adesão à VNI (Schneider et al, 2006) e por isso, tal como no doente agudo tratado em meio hospitalar, o doente com VNI no domicílio necessita de monitorização de parâmetros clínicos, supervisão por parte de profissionais e formação contínua (Prado, 2008).

Quando se iniciou o uso da VNI, a sua implementação era realizada exclusivamente por médicos. No entanto, mais recentemente a Enfermagem tem vindo a assumir um papel de grande responsabilidade na gestão deste tratamento (Rose e Gerdtz, 2009). Considera-se primordial que os enfermeiros que cuidam destes doentes tenham conhecimento sobre como implementar o tratamento, avaliar a monitorização e sucesso da intervenção (Jarvis, 2006). Transmitir competência, empatia e cuidado com profissionalismo facilita a adesão à terapêutica através da diminuição do stresse, do aumento da cooperação e motivação do doente (Pertab, 2009).

De acordo com Prado (2008), o doente crónico com VNI apresenta menos exacerbações agudas e menos internamentos, tem maior capacidade de resposta a exacerbações e melhor qualidade de vida. O Relatório de Situação (2010) supracitado acrescenta que estes doentes têm melhor integração familiar e social, e ao mesmo tempo permite uma importante redução de custos hospitalares. A Canadian Thoracic Society (2011) acrescenta ainda que o uso da VNI no domicílio tem aumentado a qualidade de vida destes doentes.

Neste contexto consideramos primordial a realização desta Revisão Sistemática de Literatura de forma a permitir uma reflexão sobre esta problemática. A nossa experiência profissional tem-nos mostrado que muitos dos doentes com VNI domiciliária de longa duração quando são internados apresentam várias dificuldades que condicionam a adesão e o uso correto do tratamento, dificuldades estas que se prendem com condições socioeconómicas dos doentes e familiares, como por exemplo as condições habitacionais, apoio de familiares, dificuldade de acesso aos cuidados de saúde quer primários, quer diferenciados. Existe também por parte das empresas fornecedoras dos equipamentos uma escassez de informação e de manutenção dos mesmos, apesar de todas facultarem um acesso telefónico gratuito no sentido de esclarecimento de dúvidas. Durante a nossa experiência de visita domiciliária de enfermagem deparámo-nos com uma elevada taxa de analfabetismo e idades superiores a 65 anos o que condicionava a exposição de dúvidas tanto aos técnicos como aos enfermeiros (enfermeiro da visita domiciliária respiratória e enfermeiro do Centro de Saúde da área de residência do doente). Estas dúvidas consistiam essencialmente no manuseamento do equipamento, higiene e manutenção do mesmo e complicações inerentes à VNI, pelo que se verificava a necessidade de realizar ensinos à pessoa e cuidador.

Face ao exposto pretendemos com esta Revisão Sistemática da Literatura demonstrar os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem à pessoa com VNI no domicílio.

CONCEITOS

Segundo Esquinas (2011, p.47),

“Ventilação mecânica não invasiva (VMNI) corresponde à aplicação de suporte ventilatório através de máscara ou de outra interface sem recurso a via aérea artificial invasiva, nomeadamente tubo endotraqueal ou de traqueostomia”.

Segundo Doran (2011),

Resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem são definidos como cuidados de enfermagem direcionados para as necessidades das pessoas ou grupo, nos seus determinantes da saúde, que têm por base fatores organizacionais, de experiência, e o nível de conhecimento elevado, com impacto direto no estado funcional, auto cuidado, controle de sintomas, segurança/ocorrência adversas e satisfação do cliente. Desenvolvem-se na mesma estrutura de qualidade proposta por Donabedian (2003) e está relacionada com variáveis do cliente (idade, género, educação, tipo e adversidade da doença e co morbilidades) variáveis dos enfermeiros (nível de ensino, experiencia, rácios, organização e carga de trabalho). Este processo engloba as ações independentes (intervenções de enfermagem) e ações interdependentes (comunicação em equipa, coordenação de casos e sua gestão).

Segundo Dalpezzo (2009),

Cuidados de Enfermagem consistem na prestação de cuidados com segurança, qualidade, ética e colaboração através de um processo individualizado, o qual é planeado e concebido com base nas melhores evidências disponíveis, cujos resultados nos doentes se revelam positivos, em relação à otimização da saúde, redução dos sintomas ou na preparação de uma morte pacífica.

METODOLOGIA

Para delimitar um vasto campo de hipóteses inerentes à problemática da VNI e a responder ao objetivo delineado, elaborou-se a seguinte questão de partida, que atende aos critérios do formato PICO (Melny e Fineout-Overholt, 2005): Em relação à pessoa submetida a VNI (Population), quais as variáveis de resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem (Outcomes), com a visitação domiciliária (Intervention)?

Por conseguinte, ao se definir o objeto alvo de estudo e ao se pretender uma compreensão mais ampla deste fenómeno foi levada a cabo uma pesquisa em base de dados eletrónica, na EBSCO em geral e, em particular na CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, British Nursing Index). As palavras-chave orientadoras utilizadas foram (Positive Pressure Ventilation OR Continuous Positive Airway Pressure OR noninvasive ventilation) AND (nursing intervention OR nursing OR nurse) AND (HOME care services OR HOME care services OR NURSING care facilities).

Guyatt e Rennie (2002), consideram que as revisões sistemáticas da literatura devem considerar a evidência dos últimos 5 anos, no entanto consideramos o período temporal de 10 anos pelo facto da maior abrangência face ao conhecimento existente sobre a matéria em análise. Para avaliarmos os níveis de evidência utilizamos seis níveis de evidência: Nível I: revisões sistemáticas (meta análises/ linhas de orientação para a prática clínica com base em revisões sistemáticas), Nível II: estudo experimental, Nível III: estudos quasi experimentais, Nível IV: estudos não experimentais, Nível V: estudo qualitativo/ revisões sistemáticas da literatura sem meta análise, Nível VI: opiniões de autoridades respeitadas/ painéis de consenso (Capezuti, 2008; Guyatt, e Rennie, 2002).

Como critérios de inclusão privilegiaram-se os artigos com base na problemática das pessoas submetidas a VNI, com recurso a metodologia qualitativa e/ou quantitativa ou revisão sistemática da literatura, que clarificassem quais os resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem. Nos critérios de exclusão inseriram-se todos os artigos repetidos nas bases de dados, com data anterior a 2002 e todos aqueles sem correlação com o objeto de estudo. O percurso metodológico levado a cabo encontra-se exemplificado na seguinte figura.

Fig.1

De seguida são apresentados os 10 artigos selecionados que constituíram o substrato para a elaboração da discussão e respetivas conclusões.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Q.1

DISCUSÃO DOS RESULTADOS

Como resultado da análise dos artigos anteriormente referenciados é possível denotar que os doentes submetidos a VNI apresentam necessidades de cuidados que poderão condicionar a sua adesão no domicílio e que consideramos passíveis de associar a seis das variáveis identificadas por Doran (2011): controle de sintomas, segurança / ocorrências adversas, apoio psicológico, utilização dos serviços de saúde, gestão do regime terapêutico e qualidade de vida.

Na gestão do regime terapêutico, a seleção do interface utilizado na VNI é considerada por Schneider et al (2006) num estudo prospectivo e randomizado, um dos fatores mais importantes associados à adesão ao tratamento, sua tolerância e eficácia. O mesmo autor salienta que a interação entre enfermeiro e doente é um fator determinante no sucesso da VNI. Stoltzfus (2006) acrescenta que o enfermeiro, em colaboração com a equipa multidisciplinar deve avaliar o tipo de máscara que o doente poderá tolerar melhor. De Silva (2009) baseado em Shee e Green (2003) afirma que a máscara facial é geralmente a mais utilizada. No entanto os doentes reportam sentir desconforto e claustrofobia, que segundo Pertab (2009) pode levar a angústia, o que não acontece com a máscara nasal, permitindo um maior controle pessoal. Segundo Stoltzfus (2006) a máscara nasal permite falar ou vomitar sem risco de aspiração. Maciel, Silva e Teixeira (2009) citando Gonçalves e Pinto (2008) acrescenta que a máscara nasal é mais confortável permitindo expelir secreções, implicando a necessidade de colaboração do doente.

De Silva (2009) citando Hore (2002) refere que a máscara nasal é mais adequada a doentes com barba ou bigode, característica que pode aumentar a probabilidade de fuga de ar no uso da máscara facial. Contudo o seu uso é limitado em doentes com obstrução nasal (Antonelli e Conti, 2000 citado por De Silva, 2009).

A secura nasal e oral e a congestão nasal são complicações também mencionadas por Pertab (2009) e Rose e Gerdtz et al (2009), que podem ser solucionadas através de descongestionantes nasais e humidificação no ventilador. No entanto, Pertab (2009) considera que o uso da humidificação pode aumentar as fugas de ar tornando a VNI menos eficiente. Ainda a British Thoracic Society sugere que a humidificação deve ser usada com precaução porque interfere com os parâmetros do ventilador (De Silva, 2009).

Independentemente do interface usado, o ajuste da máscara deve considerar o conforto do doente, a redução de complicações, como a necrose da pele e controle de outros sintomas (De Silva, 2009 citando Hill, 2004).

De facto, a complicação mais referenciada pelos autores consultados prende-se com a possibilidade de ocorrer ulceração nasal (Pertab, 2009; De Silva, 2009;Rose e Gerdtz, 2009; Stoltzfus, 2006). Barbosa e Marques (2003) numa revisão sistemática de literatura, refere que esta é a complicação mais séria ocorrendo em aproximadamente 8 a 10% dos doentes. A maioria destes autores refere que esta complicação pode ser prevenida/tratada com apósito hidrocolóide, sendo que alguns também referem a importância da alternância dos pontos de pressão da máscara. Uma das causas referenciadas por Rose e Gerdtz (2009) para a ocorrência de ulceração nasal é a necessidade de apertar as tiras de fixação da máscara para que o ajuste seja eficiente com redução de fugas de ar. O facto de esta não ser corrigida está associado à ocorrência de conjuntivite e irritação ocular também descrita por Stoltzfus (2006).

Para Pertab (2009), numa revisão sistemática da literatura a distensão gástrica surge como uma das complicações associadas ao uso da VNI. Stoltzfus (2006) no seu estudo atribui a distensão gástrica e vómitos a elevadas pressões, podendo conduzir à broncoaspiração também referida por Barbosa e Marques (2003). Segundo Jarvis (2006), é importante informar os doentes como retirar rapidamente a máscara em caso de necessidade de vomitar. O mesmo autor refere ainda a possibilidade de recorrer ao uso de antieméticos na presença de náuseas.

Na sua revisão sistemática de literatura, Jarvis (2006) citando Sawkins (2001) alerta para outras complicações que incluem a desidratação e desnutrição. O mesmo autor refere um estudo de 1993 em que 25% dos pacientes com DPOC sofriam de desnutrição atribuída a numerosos fatores. A nutrição dos pacientes é considerada por este autor uma área fundamental dos cuidados de enfermagem que incluem intervenções como encorajar o paciente a comer às horas da refeição e remover a máscara nestes períodos, e se necessário, utilizar oxigénio por sonda nasal.

Sundling et al (2009) num estudo qualitativo alerta para a necessidade de o doente e cuidador terem conhecimentos técnicos sobre o manuseamento do ventilador, uma vez que situações não previstas podem levar a momentos de stresse. Maciel, Silva e Teixeira (2009) e Barbosa e Marques (2003) referem a importância de promover a correta manutenção e higiene do equipamento.

De acordo com Eng (2006) o envolvimento do doente nas decisões sobre o tratamento é considerado um fator importante na adesão ao mesmo. A informação e apoio psicológico ao doente e cuidador são considerados primordiais para reduzir a ansiedade e conseguir a autonomia do doente (Pertab, 2009), melhorando a sua qualidade de vida.

O sucesso da VNI depende de uma equipa treinada e experiente (Maciel, Silva e Teixeira, 2009), contribuindo para a redução do número de internamentos hospitalares (Eng, 2006), diminuição de mortalidade e morbilidade (Rose e Gerdtz, 2009) e diminuição de gastos hospitalares (Stoltzfus, 2006; Barbosa e Marques, 2003). Pertab (2009) considera essencial a relação e comunicação entre enfermeiro e doente e Barbosa e Marques (2003) acrescenta que o enfermeiro desempenha um papel importante na prevenção e resolução de complicações.

Tendo por base as variáveis definidas por Doran (2011) e considerando as necessidades de cuidados identificadas anteriormente, podemos inferir os resultados identificados no seguinte quadro:

Fig.2

CONCLUSÃO

Tendo por base o nosso objeto de estudo, realizámos uma análise dos artigos selecionados que nos remetem para os indicadores de necessidades, sendo resolvidos através de intervenções que se traduzem em resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem.

Os artigos selecionados dão relevo à intervenção de enfermagem, associando o sucesso da VNI ao treino, experiencia e formação destes profissionais de saúde, pelo que a estes se exige uma prática profissional baseada na evidência e em linhas de orientação que elevem os cuidados prestados ao doente a um nível de excelência.

Como vimos anteriormente, o enfermeiro desempenha um papel importante na prevenção e resolução de complicações associadas à VNI, ação que no domicílio só é possível através de ensinos adequados e envolvimento do doente na gestão do seu tratamento. Tendo em conta que os doentes do foro respiratório são muito ansiosos e receiam sempre o pior, é importante que o enfermeiro estabeleça uma relação de empatia e demonstre competência no que diz respeito ao tratamento com VNI. Conseguindo a cooperação e motivação do doente, mais facilmente o sucesso da VNI será atingido.

Face ao exposto, um doente submetido a VNI devidamente apoiado pelos enfermeiros, resolve melhor as complicações inerentes ao tratamento refletindo-se na redução de internamentos hospitalares assim como uma maior estabilização clínica e melhor qualidade de vida no domicílio.

Implicações na Prática Profissional

Tendo em conta o crescente número de doentes com doenças respiratórias crónicas, o recurso à VNI fazendo parte do seu tratamento também tenderá a aumentar.

Consideramos ser importante a realização de novos estudos que evidenciem a necessidade de apoio destes doentes no domicílio, por enfermeiros e ainda a formação específica destes profissionais nesta área.

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Fev 26, 2013

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NURSING PRACTICE BASED ON EVIDENCE: THE CASE OF WOUNDS

PRÁCTICA DE ENFERMERÍA BASADA EN LA EVIDENCIA: EL CASO DE LAS HERIDAS

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AUTORES: César Fonseca, Ana Ramos, Dora Santos, Liliana Gaspar, Marta Ferreira

Resumo

As Feridas crónicas são um problema e um desafio sempre presente na prática da enfermagem a nível da sua etiologia, evolução, tratamento e reabilitação, particularmente na grande idade, onde a incidência e a prevalência é elevada, perdurando situações de alta complexidade e dificil resolução. A prática baseada na evidência deve estar presente a todos os níveis do cuidar em Enfermagem, mas por motivos sócio-económicos, que cada vez mais pesam no sistema de saúde, é urgente uma séria integração desta filosofia no tratamento de feridas.

Palavras-chave: Feridas Crónicas; Prática Baseada na Evidência; Enfermagem.

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Abstract

Chronic wounds are a problem that always present a challenge in nursing practice in terms of its etiology, progression, treatment and rehabilitation, particularly in the aged persons where the incidence and prevalence is higher, with situations of high complexity and difficult resolution. The evidence-based practice should be present at all levels of nursing care, but for socio-economic reasons, which increasingly weigh on the health system, it is seriously urgent the integration of this philosophy in wound care.

Keywords: Chronic Wounds; Evidence Based Practice; Nursing

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INTRODUÇÃO

A Prática de enfermagem baseada na evidência emerge como um eixo estruturante da sistematização do saber produzido, em que o objectivo consiste em planear e implementar cuidados de enfermagem que integrem a melhor evidência científica. Este conceito engloba, portanto, o conhecimento da fisio-patologia, o conhecimento de questões psicossociais, as preferências e valores dos clientes em relação à tomada de decisão dos seus processos terapêuticos (Bullock et al, 2010). A evidência científica pode incluir a investigação fundamentada, linhas de orientações das práticas e estudos de caso (Fineout-Overholt et al, 2010; Melnyk  et al, 2010).

A sua transposição para o contexto clínico é essencial para que a pessoa, sujeito activo de cuidados de saúde, receba os melhores cuidados possíveis, individualizados de acordo com a sua situação no contínuo saúde/ doença, com elevado nível de qualidade e proficiência (Heater et al. 1988).

A implementação deste processo, a prática baseada na evidência (PBE), constitui a última e quarta etapa, na medida em que primeiramente é fundamental delinear um foco de atenção, que habitualmente surge no contexto de trabalho, onde se pretenda incrementar os ganhos e resultados em saúde. Peritos nas questões epistemológicas, no domínio da enfermagem, advogam a existência de outras três etapas orientadoras do processo (Melnyk e Davidson, 2009): (1) definição de uma pergunta de partida pertinente, (2) pesquisar a melhor evidência e (3) realizar uma apreciação crítica do conhecimento e sintetizá-lo (Melnyk et al, 2009). Assim, este artigo tem como objectivo clarificar as suas vantagens, bem como potenciar a sua implementação estrutural em Portugal, por parte de várias sectores como no ensino, na gestão, na prática e na investigação, na área dos cuidados de enfermagem em relação ao tratamento de feridas (Lloyd-Vossen, 2009; Pieper, 2009; Robson, 2009; Zuelzer, 2009).

CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA

É consensual que a transferência dos contributos da PBE para a prática pode demorar em média 17 anos  (Stillwell et al, 2010). Grande parte deste atraso da integração da investigação nas práticas relaciona-se com o sentimento de exterioridade que os enfermeiros demonstram face aos resultados científicos e, consequentemente, não os consideram como um elemento chave da sua perícia técnico-científica diária (Pravikoff et al. 2005), como é o caso particular do tratamento de feridas (Gwynne e Newton, 2006; Harrison, 2006; Healey e Oliver, 2009). Um dos outros factores apontados está associado à pedagogia tradicional utilizada no ensino da investigação, como por exemplo, trabalhos académicos sem relevância clínica, um processo centrado no fazer pesquisa em vez de utilizar a pesquisa, contribuiu para o desenvolvimento de anti-corpos, que funcionam como entrave na sua mobilização para os contextos reais (Melnyk et al, 2009; Stillwell et al, 2010). Deste modo, uma nova concepção do que é a pesquisa e da sua utilidade é crucial, onde as próprias organizações de ensino devem valorizar os espaços onde os estudantes são actores e repensar as metodologias utilizadas, que possibilite descobrir a emancipação/ a autonomia oferecida pelo conhecimento das melhores evidências científicas (Melnyk et al, 2009). Neste sentido, é necessário ultrapassar o discurso, frequentemente, referenciado nas conclusões de trabalhos de investigação, onde se recomenda mais estudos sobre a mesma problemática. Considera-se indispensável uma mutação de paradigma, com o abandono de uma postura de passividade perante os ganhos da investigação para a adopção de uma atitude de utilização e transformação na prática, desse mesmo saber válido acumulado ao longo de anos pela prática dos enfermeiros na prevenção e tratamento de úlceras (Gethin, 2009; Gray, 2008; Griggs, 2009). Para conseguir este envolvimento na tradução dos resultados de investigação para a prática, torna-se fulcral vencer alguns dos obstáculos apontados: a falta de conhecimento e habilidade, o seu acesso nos espaços de acção e o reduzido número de especialistas na PBE (Fineout-Overholt et al, 2010; Melnyk  et al, 2010). Como forma de abordagem e desenvolvimento da temática PBE, aplicada ao tratamento de feridas de diversas etiologias (Dick, 2008; Eisert et al, 2010; Ellis, 2009)  a literatura recomenda uma discussão, particularmente, baseada na capacidade de reflexão (Melnyk  et al, 2010). A aplicação desta pesquisa para a prática exige uma cuidadosa análise sobre as condições para a sua implementação, tais como: a actual filosofia orientadora da prática, os recursos disponíveis, a confiança nas evidências disponíveis, assim como a identificação dos membros interessados que irão influenciar todo este processo (Stillwell et al, 2010). Nas organizações educativas recomenda-se uma clara definição do quadro teórico que norteia os procedimentos inerentes à PBE, de forma a facilitar a sua exequibilidade e eficácia na melhoria do cuidado prestado ao outro.

No nosso país existe ainda um longo caminho, observando-se uma clara dicotomia entre a teoria e a prática clínica, sendo esta abordagem da PBE, uma oportunidade de aproximar estas vertentes a partir da conceptualização das reais necessidades dos contextos clínicos (Bullock et al, 2010). No momento actual, observamos um grupo de enfermeiros que prestam cuidados e um grupo de enfermeiros que ensina cuidados de enfermagem, numa clara dicotomia nada abonatória do desenvolvimento da disciplina e da profissão (Stillwell et al, 2010). A legislação sobre a carreira de enfermagem negociada com organizações sindicais representativas da profissão e o Ministério da Saúde, deixa do lado de fora dos organismos públicos o conhecimento produzido pelos vários cursos de Mestrado e Doutoramentos experienciados por vários enfermeiros clínicos, ao invés de outros grupos profissionais (fisioterapeutas, médicos, terapeutas ocupacionais, entre outros) que têm alicerçado a evolução nas respectivas carreiras com base no desenvolvimento cientifico dos seus membros. Este fulgor legislativo não vem facilitar a utilização do conhecimento e o desenvolvimento dos enfermeiros com base na introdução do melhor conhecimento científico, nas suas práticas clínicas, na gestão e não cria em nossa opinião as melhores condições à PBE em relação ao tratamento de feridas.

PRÁTICA BASEADA NA EVIDÊNCIA O PAPEL DO EDUCADOR

Quando os educadores utilizam uma estrutura (suporte, sistema) conceptual de Prática Baseada na Evidência, permitem aos estudantes compreender como os conceitos se relacionam entre si, a fim de conseguirem melhores resultados junto dos doentes e, consequentemente,compreender a sua utilidade (Melnyk e Davidson, 2009; Melnyk et al, 2009).

Figura 1

Saber como o conceito pode ser utilizado, aprendendo sobre o mesmo em contexto de sala de aula ou em contexto prático, é essencial para que este seja valorizado no futuro. Por exemplo, quando um educador explica que os padrões de conhecimento são importantes para o processo de prática baseada na evidência (Feinstein, 2008; Melnyk, 2006), a relação desses padrões com o processo em si deveria ser demonstrada, estabelecendo uma ligação entre o conteúdo dos padrões de conhecimento (ex. empírico, estético, pessoal, étnico e sociopolítico) e os aspectos da estrutura conceptual da Figura 1.

Mais especificamente, poderiam ser estabelecidas ligações simples entre os aspectos do conhecimento empírico e a vertente da investigação (Cornforth, 2009; Day e Boynton, 2008). O conhecimento pessoal e estético poderia ser relacionado com a forma como é desenvolvida a experiência clínica; o conhecimento sociopolítico e a sua influência no processo de tomada de decisão clínica e na forma como os recursos de saúde são utilizados (pelos enfermeiros); o conhecimento ético e a sua influência no processo de tomada de conhecimento, valorização e incorporação das preferências dos doentes por parte dos enfermeiros; e, consequentemente, seria abordada a forma como padrões de conhecimento interagem com todos os aspectos do processo Prática Baseada na Evidência (Melnyk e Davidson, 2009; Melnyk et al, 2009). Reflectir sobre o que é ensinado acerca da implementação e porque é que tem sido ensinado faculta aos alunos os alicerces para que os conceitos teóricos sejam aplicados na prática. Assim, a aprendizagem com a finalidade prática de melhorar os cuidados ao cliente será facilitada, ao invés de ser apenas um exercício intelectual, este é o modelo que descrevemos como profícuo aplicado nas Pós Graduações da Formasau, em especial na Pós Graduação em Gestão de Feridas Crónicas.

O Modelo Transteórico de Mudança Organizacional é uma abordagem que pode ser utilizada pelos educadores para orientar a sua prática pedagógica (Day e Boynton, 2008). Este modelo inclui cinco estádios, nomeadamente a pré-contemplação, contemplação, preparação, acção e manutenção (Melnyk et al, 2009). São descritos dez processos que podem produzir mudança, três dos quais são (a) considerar que a mudança é importante para o sucesso pessoal (auto-reavaliação); (b) acreditar que uma mudança pode ter sucesso e fazer um compromisso firme para com a mudança (auto-libertação); (c) considerar que a mudança terá um impacto positivo no ambiente de trabalho (reavaliação ambiental) (Melnyk et al, 2009). Este modelo tem vindo a ser utilizado no campo da mudança organizacional, o que, se empiricamente suportado, poderia comprovar a eficácia pragmática da teoria.

A Teoria de Controlo é outra abordagem que pode orientar os educadores (Melnyk  et al, 2010). Esta teoria defende que a discrepância entre um objectivo ou meta individual (prática baseada na evidência) e o seu estado actual (prática não-baseada na evidência) deverá motivar comportamentos para alcançar esse objectivo ou meta (Feinstein, 2008; Melnyk, 2006). No entanto, existem determinadas barreira que podem condicionar o início dos comportamentos que permitirão alcançar esses objectivos ou metas individuais. Exemplos dessas condicionantes são: incerteza sobre como alcançar o objectivo ou meta; défice de conhecimentos ou capacidades; elevado número de doentes ou sobrecarga de trabalho e fracas expectativas em relação aos possíveis resultados (Melnyk, 2006). O educador tem a responsabilidade de eliminar essas condicionantes promovendo a aprendizagem individual através de momentos de ensino, que são interpretados como uma oportunidade educacional onde o estudante é direccionado e sensibilizado para aprender sobre algo (Day e Boynton, 2008). Assim sendo, questões sobre que condicionantes existem e como contorná-las para alcançar os referidos objectivos ou metas deveriam ser tópicos de discussão abordados em sala de aula, em qualquer nível de formação (Stillwell et al, 2010).

As duas teorias apresentadas sustentam o Modelo de Colaboração entre a Investigação e Prática Clínica (Fineout-Overholt et al, 2010; Melnyk  et al, 2010)). O elemento-chave deste modelo é o mentor da Prática Baseada na Evidência – uma pessoa com conhecimentos profundos sobre a PBE e com grande motivação para influenciar o desempenho com base na evidência – incluindo a sua experiência na tomada de decisão, as preferências da pessoa e outros dados concretos (Fineout-Overholt et al, 2010). Para preparar os alunos para o actual ambiente de trabalho, as escolas podem ser consideradas como mentoras da PBE no que à educação diz respeito.

O papel do mentor da PBE passa por facilitar a aprendizagem e o desenvolvimento de capacidades sobre a mesma, conduzindo os estudantes a ir para além do pré-estabelecido. As evidências apontam para o facto de que os enfermeiros e educadores que mais acreditam na PBE influenciam os seus pares (Melnyk et al. 2010).

O sector de ensino em Portugal e do ponto de vista da utilização do melhor conhecimento científico no ensino é ainda incipiente, ensina-se nalguns casos o que se ensinava nas duas últimas décadas do século passado, numa claro desajustamento entre o conhecimento e a docência. A pouca percentagem de Docentes das escolas superiores de enfermagem, com o Grau de Doutor, tem atrasado o reconhecimento do ensino da profissão ao nível universitário, o que só comprova a falta de estratégia científica.

O actual fulgor de cursos de Mestrados Profissionais virá atrasar ainda mais o desenvolvimento de planos de intervenção ao nível dos cuidados de enfermagem prestados segundo estruturações a partir do conhecimento científico internacional. Relatórios de estágio medíocres do ponto da produção científica serão às centenas nos próximos anos em Portugal, numa clara sugestão do desconhecimento científico publicitado no ensino politécnico para obtenção de graus de mestrado.

ESTRATÉGIAS POTENCIADORAS DA FUSÃO DOS RESULTADOS DA INVESTIGAÇÃO NA PRÁTICA CLÍNICA

A tentativa para acelerar a investigação sobre a prática exige (a) verdadeira parceria entre enfermeiros investigadores e os enfermeiros na prestação directa de cuidados, parceria essa baseada nas necessidades dos clientes e com base nas melhores evidências disponíveis, e (b) uma melhor utilização da ciência actual sobre o desenvolvimento organizacional e a mudança relacionados a PBE em relação ao tratamento das feridas (Charbonneau et al, 2009; Cornforth, 2009). Há uma necessidade de reforçar a institucionalização da PBE, para atingir esta meta, toda a estrutura da saúde deve ser sensibilizada sobre como criar e lidar com uma infra-estrutura e cultura para apoiar PBE.

Não existem métodos infalíveis disponíveis para assegurar a adopção de melhores práticas individuais com base em investigação em qualquer ambiente clínico. As evidências das investigações actuais sobre a implementação das melhores práticas, bem como as conclusões gerais sobre as mudanças organizacionais sugerem que elementos contextuais são susceptíveis de influenciar o sucesso ou o fracasso dos esforços da PBE (Feinstein, 2008; Melnyk, 2006). Esses elementos incluem a liderança, cultura organizacional, e presença de estruturas organizacionais e sistemas que suportam o uso rotineiro da PBE. Os enfermeiros e outros profissionais de saúde para conseguir a aprovação de rotina da PBE, devem entender a natureza das evidências, o processo de implementação, mudança organizacional e os principais elementos contextuais (Ashton e Price, 2006; Ayello et al, 2006). Tal exige a disponibilização de programas específicos ou mentores PBE, bem como uma estruturação e mudança nos planos curriculares. Os enfermeiros podem então aplicar esse conhecimento para criar um ambiente que é encorajador, solidário e sustentável da PBE, que inclui um foco na utilização da investigação (Melnyk, 2006).

A disponibilidade de um perito de PBE (Bullock et al, 2010), um corrector de conhecimento ou um facilitador da sua aplicação no ambiente para a prática é recomendada. Esta função sugere a prática de educação avançada, esse especialista é preparado no sentido de desempenhar um papel de advocacia e proporcionar um ambiente rico de aprendizagem em torno da PBE.

TRÊS PRIORIDADES DE CONVERGÊNCIA NACIONAL PARA A PBE

Descrevem-se as principais prioridades para o avanço da PBE traçadas nos Estados Unidos, com as respectivas estratégias de implementação (Feinstein, 2008; Melnyk et al, 2009):

  1. Formar uma estratégia de PBE nacional de investigação ou uma rede de instituições com uma política que facilite a realização de estudos de eficácia e efectividade.
  • Publicar um documento conceptual que descreva a estratégia para desenvolver e designar uma rede nacional;
  • Prosseguir para com a estratégia de PBE nacional de investigação, com contactos com a Agência de Investigação de Saúde e Qualidade (AHRQ-US) e com Organizações de Saúde. Criar um Instituto Nacional de Pesquisa em Enfermagem, para discutir estratégias de financiamento possíveis e examinar as prioridades actuais para as oportunidades de financiamento específicas.

2. Implementar um programa de orientação nacional da PBE

  • Estabelecer um consórcio nacional, parceria entre os centros de excelência estabelecidos na PBE e organizações nacionais;
  • Desenvolver uma lista de mentores peritos PBE;
  • Construir os critérios para as aplicações;
  • Planear a experiência de tutória PBE;
  • Definir os resultados do programa de formação em PBE.

3. Elaborar normas para os planos curriculares a fim de integrar a PBE

  • Parceria com o Ministério da Saúde, Ordem dos Enfermeiros, Escolas Superiores de Enfermagem, Universidades e outros intervenientes no processo de formação para desenvolver novos padrões;
  • Propor que as normas da PBE passem a ser uma parte integrante da acreditação de escolas, entidades formadoras e organizações de profissionais de saúde;
  • Publicar um guia curricular da PBE para todos os níveis da educação;
  • Não permitir curso pós graduados sem docentes responsáveis com o Grau de Doutor.

 

CONCLUSÃO

O desenvolvimento da Investigação em Enfermagem é fundamental, e em particular no tratamento e prevenção de feridas, permite a construção de um corpo de conhecimento próprio, o aperfeiçoamento dos cuidados prestados ao cliente, baseados em conhecimento científico e o enriquecimento do profissional e da sua prática (Ashton e Price, 2006; Ayello et al, 2006). Actualmente, começa-se a compreender esta necessidade de transição do modelo de pensar nas práticas dos cuidados de saúde, onde se revela imprescindível uma decisão clínica baseada em evidências, em detrimento de uma decisão exclusivamente regida pelas opiniões e experiência do profissional de saúde isoladamente (Melnyk e Davidson,  2009). Deste modo, a pesquisa e a acção complementam-se, recriam-se num fluxo bi-lateral, numa lógica contínua de auto-aprendizagem partilhada em equipa, que minimiza a adopção de condutas e intervenções que rapidamente se desactualizam e perdem o seu valor terapêutico (Eisert et al, 2010; Ellis, 2009). A enfermagem baseada na evidência propõe a (re)construção de novas competências, que conduzem a uma avaliação crítica sistemática das informações disponíveis, para a tomada de decisão. Este é um processo que ao exigir novas habilidades, abre espaço para definir critérios com a eficácia, a efectividade e a eficiência para avaliar a qualidade e incorporar nos contextos de trabalho as conclusões válidas e consolidadas da pesquisa (Melnyk e Davidson,  2009). A utilização prudente da experiência clínica individual em parceria com a evidência clínica externa deve, portanto, ser encarada como um recurso que possibilita propor a intervenção mais adequada e segura para responder às necessidades individuais da pessoa.

Observamos que do ponto de vista das instituições de cuidados, de ensino e representativas da profissão uma cisão ao nível dos vários arquétipos que compõe este desenvolvimento. Sendo necessário o empenhamento de todos na construção de programas que promovam a PBE como estratégia de desenvolvimento dos cuidados de enfermagem, com base na introdução do melhor conhecimento cientifico, com base no conhecimento da fisopatologia, nas preferências dos cliente e na experiencia clínica dos enfermeiros. Deste modo o futuro papel do Grupo Feridasau, será congregar um conjunto do melhor conhecimento científico e da prática profissional é exemplo disso o vasto dinanciamento que actualmente experiencia em formação e implementação de linhas de orientação para a prática clínica internacionais. Por certo será um longo percurso, num terreno que se encontra desfragmentado e com necessidade de alterações profundas na legislação de desenvolvimento profissional dos enfermeiros, com base no conhecimento científico produzindo e nos melhores resultados dos cuidados de enfermagem.

 

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Jul 30, 2012

CONSULTA DE ENFERMAGEM DE SAÚDE INFANTIL NO CENTRO ASSISTENCIAL CRUZ DE MALTA: EXPERIÊNCIA COM MÃES ADOLESCENTES 

CONSULTA DE ENFERMERÍA EN SALUD INFANTIL EN EL CENTRO CRUZ DE MALTA: EXPERIENCIA CON MADRES ADOLESCENTES

AUTORES: Paula Rosenberg de Andrade, Mariana da Rocha Almeida, Conceição Vieira da Silva Ohara, Circea Amália Ribeiro

KEYWORDS: Nursing care; nursings pediatric; Adolescent Pregnancy; prevention; self esteem.

Purpose: The purpose of this research study was understanding and describing the importance of the health professionals to give support to care of their child at Nursing Consultation in Child Health.

Background: The study was conducted at the at the Nursing Consultation in Child Health of Centro Assistencial Cruz de Malta, Sao Paulo-Brazil, philanthropic non governmental institution that maintains a Teaching Care Integration Program with the Nursing School from University Federal São Paulo (UNIFESP) 1.

Methods: Qualitative research used Symbolic Interactionism as the theoretical framework and the Grounded Theory as methodological framework. Eight adolescent mother aged between 15 and 19 years old who lived the experience of take care their children took part in this study. Data collection tool were observant participation and semi-structured interviews which intends allowing the construction of theoretical model: Overcoming difficulties with the power of love. This process led to the emergence of various representative categories of different aspects of the investigated experience, among which we will highlight: Having support to care of the child at Nursing Consultation in Child Health 2.

Results: It was found that adolescent mothers value the Nursing Consultation in order to provide support to care for their child. Therefore, it plays an important role to promote significant nursing assistance regarding their baby, family and network support in the sense of providing conditions that not only take care of the child but also in shaping her identity like adolescent and mother. Our experience reflected in qualification and satisfaction in their performance like mother and valuation of their esteem as well as providing conditions to return to school and continue their life projects that still exists 2-3

Final Consideration/ Conclusion: The full understanding of the importance of our practice as being a humanized nursing care shows us how it has been important to maintain a channel permanently trusted and opened with the adolescent mother including the whole context which will provide conditions to establish a health bound and increase their sense of security. Finally, the importance of implementing the Nursing Consultation in Child Health should be emphasized in different levels of healthcare.

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