Percepção do estado de saúde da pessoa idosa institucionalizada

Dez 28, 2011

Artigo Original

Percepção do estado de saúde da pessoa idosa institucionalizada

Perceived health status of institutionalized elderly

Autora: Zélia Ferreira

Zélia Ferreira: Licenciada em Enfermagem; Mestre em Saúde e Envelhecimento. Corresponding author: zeliapatricia@portugalmail.pt

RESUMO
Ao refletir sobre os fenómenos demográficos da população, emerge subtilmente a noção que a população tende a envelhecer, este fenómeno estende-se para além das fronteiras de um país (Portugal), e adquire uma dimensão europeia e mundial.
É perante esta realidade que todos os profissionais de saúde devem estar sensibilizados para prestar cuidados a pessoas neste estadio da vida, de tal modo que a sua intervenção seja global, humana e digna de resposta às necessidades destes indivíduos.
Neste artigo, é feita uma breve exposição de um estudo realizado com um grupo de idosos institucionalizados. Este estudo teve como principal objectivo: avaliar a percepção do estado de saúde da pessoa idosa institucionalizada. Foram recolhidos dados através de uma caracterização sócio-demográfica, através do Mini Mental State e através do Questionário de auto-avaliação da saúde e do bem-estar físico (de Fonseca e Paúl, 1999). Os dados obtidos foram trabalhados numa perspectiva de estatística descritiva e estatística inferencial.
A expetativa dos resultados alcançados num estudo, é o motor de motivação para quem o elabora, e neste trabalho foi uma constante. Os resultados obtidos permitem afirmar que: a maioria dos indivíduos que participaram no estudo designa a sua saúde em geral como “aceitável” ou “fraca” e relacionam a percepção do seu estado de saúde com a
saúde dos seus pares, nomeadamente quando se reportam aos itens relacionados com aspectos físicos.
Palavras-chave: percepção, saúde, idoso, institucionalização

INTRODUÇÃO

O investimento no estudo da “Saúde e Envelhecimento” faz todo o sentido quando, no início do século XXI, a sociedade se depara com uma população envelhecida.

O facto de um ser vivo envelhecer faz com que ocorram mudanças, ao longo do ciclo de vida e o ser humano não é excepção. Daí que ocorram alterações nas diversas dimensões que o compõem: biopsicossocioculturais.

Dada a caracterização actual da população mundial e nacional (portuguesa) e uma projecção, não muito longínqua, que indica um aumento considerável da população idosa, importa perceber a dinâmica e a concepção da pessoa idosa numa visão holística, onde a saúde ganha um lugar de destaque.

A saúde, não é só uma inquietude dos profissionais de saúde que trabalham com pessoas envelhecidas, mas é também um dos principais objectos de preocupação dos próprios idosos, uma vez que o aumento da sua fragilidade está marcado, existe uma diminuição da sua capacidade funcional e, por conseguinte, o aumento da sua dependência.

O cuidar ao ser humano fundamenta-se nos conhecimentos científicos sobre o processo de viver/envelhecer. Os conhecimentos que dão base ao cuidar das pessoas que envelhecem incluem o entendimento das necessidades, das adaptações e das mudanças que ocorrem ao longo do ciclo de vida. É importante e prioritário saber quais as necessidades sentidas em cuidados face à doença e às perdas de funcionalidade e autonomia, daí ser tão relevante escutar a palavra das próprias pessoas que possuem a vivência de estar institucionalizadas.

Na mesma linha de pensamento, é de extrema pertinência aprofundar os conhecimentos nesta área, uma vez que os profissionais de saúde têm um papel bastante importante para que as pessoas vivam a sua velhice de forma feliz, equilibrada e consistente. Isto não só nos momentos onde a doença está presente, mas também quando a prevenção é fundamental, independentemente do seu contexto ambiental. A percepção que a própria pessoa tem do seu estado de saúde, é um aspecto elementar a ter em conta na tomada de decisão no âmbito da intervenção em saúde. Isto quando se pretende ter uma melhoria da intervenção tendo em conta as características das pessoas, grupos, ou comunidade, não obstante os contextos onde estão inseridas e as suas necessidades.

Com a realização deste estudo espera-se contribuir para desmistificar o estereótipo de lar de idosos enquanto “gueto social” para pessoas idosas. Pretende-se também que os resultados deste estudo venham a contribuir para uma intervenção mais adequada dos profissionais de saúde que trabalham com as pessoas neste contexto, promovendo uma intervenção mais assertiva e congruente, no sentido de tornar a prestação de cuidados a pessoas idosas nas instituições mais individualizada e promotora da qualidade de vida.

É pertinente estudar os fenómenos relacionados com a saúde dentro deste tipo de instituições porque dada a expansão destes contextos sociais, em função das alterações demográficas e consequentes alterações sociais, é crucial reflectir e pensar nesta realidade como uma resposta aceitável e satisfatória para todos os intervenientes, quer para os próprios idosos, quer para a respectiva família e para a instituição.

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo descritivo de nível I, correlacional, analítico, transversal e com uma abordagem metodológica quantitativa.

Foram enunciadas as seguintes hipóteses:
1. Existe relação entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas e os dados sócio – demográficos?
2. Existe relação entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas e a saúde dos seus pares (outras pessoas do mesmo género e da mesma idade)?
3. Existe relação entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas e os hábitos de vida, nomeadamente, hábitos alcoólicos e hábitos tabágicos?
4. Existe relação entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas e a presença de determinados colaboradores numa instituição, nomeadamente, Director Técnico,
Assistentes Operacionais, Enfermeiro, Médico, Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Técnico de Nutrição e Animador Sócio–Cultural?

Tendo em conta o referencial teórico, e uma vez que estudou um fenómeno numa determinada população, com as suas características específicas, foram definidas as seguintes variáveis :
· Sócio – demográficas e profissionais: género; idade; estado civil; tempo de residência na instituição; habilitações literárias; actividade profissional (antes de situação de reforma) e motivo de institucionalização.
· Deterioração cognitiva – este parâmetro poderia ser utilizado como uma variável, no entanto foi unicamente utilizado para selecção mais precisa dos intervenientes do
estudo.
· Percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas: saúde física; actividade física e mental; condição física; sono; audição; visão; consumo de tabaco e consumo de álcool.

Foram recolhidos dados, utilizando os seguintes instrumentos:
· Caracterização da população – alvo: Com este instrumento, criado para o efeito, pretende-se conhecer as características sócio – demográficas de toda a população – alvo do estudo. Daqui obtêm-se informações relacionadas com a capacidade de lotação das instituições, a idade máxima e mínima dos residentes, divisão por género e por estado civil.
· Questionário de auto-avaliação da saúde e do bem-estar físico: A aplicação do Questionário de Auto-Avaliação da Saúde e do Bem-Estar Físico de Fonseca e Paul (1999) tem como objectivo avaliar os índices de saúde percebida em grupos de indivíduos com idade avançada, com competência associada ao processo de envelhecimento. Estudo piloto sobre envelhecimento, versando os seguintes indicadores relativos à saúde e ao estilo de vida: (i) Saúde física, (ii) Actividade física e mental, (iii) Condição física, (iv) Sono, (v) Audição, (vi) Visão, (vii) Consumo de tabaco, (viii) Consumo de álcool. (Fonseca e Paul, 2004).
O meio onde se desenvolverá este estudo será em instituições denominadas por “lares de idosos”, enquanto resposta social, em que os indivíduos idosos permanecem na instituição numa lógica de alojamento colectivo definitivo.

As instituições que deram alçadas a este estudo são aquelas que se enquadram nos seguintes requisitos:
· Conferir alojamento colectivo aos seus residentes, de cariz definitivo;
· Estar localizado no concelho de Santarém, independentemente do tipo de natureza jurídica. No concelho de Santarém existe uma instituição de carácter público, sete de carácter privado e três Institutos Privados de Solidariedade Social;
· Possuir alvará de funcionamento actualizado, segundo o Instituto da Segurança Social – Centro Distrital de Santarém.

A técnica de amostragem é inteiramente não probabílistica por conveniência.

A população passível de ser estudada pertence a 9 instituições distintas, deste conjunto 62 indivíduos fazem parte da instituição de cariz público, 155 indivíduos das instituições de cariz privado e 120 indivíduos de Instituições Privadas de Solidariedade Social.

No seu total esta população é constituída por 337 indivíduos, 234 são do sexo feminino e 103 são do sexo masculino.

A constituição da amostra passou por incluir as pessoas que residam em lares de idosos (anteriormente descritos) e que:
· Tenham mais de 65 anos;
· Aceitem participar no estudo deliberadamente (consentimento assinado);
· Residam na instituição há mais de 6 meses;
· Sem defeito cognitivo;

RESULTADOS

A amostra foi constituída por 75 indivíduos, com média de idades a rondar os 83,2 anos, em que 36% são do género masculino, 57,3% são viúvos e 25,3% são casados. Deste conjunto, 60% tem instrução primária. Da amostra 12,6% das pessoas estão institucionalizadas há 6 meses e a “dificuldade em auto-cuidar-se” é o principal motivo pelo qual foram para a instituição, e na sua maioria, foram para a instituição por iniciativa própria.

O tratamento dos dados foi feito através da análise dos dados obtidos pela estatística descritiva utilizando como suporte informático o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 17.0 para o Windows.

Uma vez que seria demasiado extensa toda a informação obtida, aqui apenas se faz alusão aos dados obtidos no Questionário de auto-avaliação da saúde e do bem-estar físico (Fonseca e Paúl, 1999), referente ao item “saúde física”, embora este tratamento tenha sido feito para todos os itens que a compõem. (Tabela nº 1)

Neste estudo, as hipóteses foram testadas por correlação bivariada (com o recurso ao coeficiente de correlação de Spearman).

A tabela nº 2 expõe as variáveis que se correlacionam entre si.

DISCUSSÃO

Em investigação nem sempre os resultados que são esperados são os que se obtêm efectivamente, porém há que perceber a realidade com base nos valores estatísticos obtidos, sustentada pelo referencial teórico.

O objectivo deste estudo foi avaliar a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas, tendo em conta os objectivos específicos é possível apresentar as seguintes conclusões:
· A grande maioria da amostra designa como “aceitável” ou “fraca” a sua percepção da saúde, em geral;
· Neste caso, os dados sócio–demográficos não têm relação com a percepção do estado de saúde destas pessoas, ao contrário do que nos é dito pelos autores, possivelmente este facto dever-se à homogeneidade que caracteriza a amostra, devido à institucionalização destas pessoas;
· Existe relação significativa entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas institucionalizadas e a saúde dos seus pares, essencialmente quando se abordam itens relacionados com aspectos físicos. Há que referir que os intervenientes do estudo quando se pronunciam sobre a própria saúde os resultados tendem para uma dimensão mais negativa, mas quando se compraram com outros (da mesma idade e do mesmo sexo) percepcionam-se numa medida mais positiva;
· No que concerne aos hábitos de vida, não existe relação entre a percepção do estado de saúde das pessoas idosas e os hábitos alcoólicos e os hábitos tabágicos;
· Não existe relação entre as instituições que participaram no estudo e a percepção da saúde das pessoas idosas institucionalizadas.

CONSIDERAÇÃO FINAL

É importante ter em conta que os idosos de hoje são diferentes dos idosos das gerações anteriores e os futuros idosos terão outras especificidades em comparação com os idosos actuais, e é com base neste raciocínio que faz sentido investigar e investir no conhecimento directamente relacionado com a Gerontologia.

REFERÊNCIAS

GUERREIRO et al – Avaliação breve do estado mental in Guerreiro, Garcia & Mendonça, Escalas e testes na demência. Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demência (2003);
FONSECA e PAUL – “Saúde percebida e passagem à reforma” in Psicologia, Saúde & Doenças, Vol. 5, Nº 1 (2004);
PAUL et al – “EXCELSA – Estudo piloto sobre o envelhecimento humano em Portugal” in Psicologia: Teoria, Investigação e Prática, Vol. 2, Centro de Estudos em Educação e Psicologia, Universidade do Minho (2001);

TABELAS

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